Avaliação de comportamentos alimentares disfuncionais

O questionário de 3 fatores ou Three-Factor Eating Questionnaire (TFEQ), desenvolvido por Stunkard e Messick em 1985, é um instrumento clássico para avaliar três dimensões de comportamentos alimentares disfuncionais, que podem estar associados à compulsão alimentar:

  1. Restrição Cognitiva (Restritivo)

  2. Comer Emocional (Emocional)

  3. Comer Externo (Externo)

O questionário original contém 51 itens (TFEQ-51), mas há versões reduzidas, como o TFEQ-R18 e TFEQ-R21. Abaixo, apresento uma versão simplificada com exemplos representativos de cada fator (usada para fins educativos, triagem ou estudo preliminar):

Mini TFEQ – Versão Simplificada por Fatores

Instruções: Responda cada item com Verdadeiro (V) ou Falso (F).

🔹 FATOR 1 – Restrição Cognitiva (Controle do que come para manter ou perder peso)

  1. Eu conscientemente evito certos alimentos para não ganhar peso.

  2. Tento não comer entre as refeições para controlar meu peso.

  3. Recuso comida mesmo quando estou com fome para manter minha dieta.

  4. Planejo com antecedência o que vou comer para evitar exageros.

  5. Me sinto culpado(a) quando como algo que considero “proibido”.

🔹 FATOR 2 – Comer Emocional (Comer em resposta a emoções negativas)

  1. Quando me sinto ansioso(a), tenho vontade de comer.

  2. Como mais do que o normal quando estou estressado(a) ou deprimido(a).

  3. A comida me conforta quando estou triste ou solitário(a).

  4. Em situações emocionais difíceis, comer me ajuda a lidar melhor.

  5. Frequentemente como para aliviar sentimentos ruins.

🔹 FATOR 3 – Comer Externo (Comer em resposta a estímulos ambientais, não à fome)

  1. Sinto vontade de comer quando vejo outras pessoas comendo.

  2. Tenho dificuldade em resistir à comida quando ela está visível.

  3. A presença de comida saborosa me faz comer mesmo sem fome.

  4. Quando sinto cheiro de comida, tenho vontade de comer imediatamente.

  5. Costumo comer mais quando estou assistindo TV ou distraído(a).

📊 Interpretação (simplificada):

  • Para cada fator, conte o número de respostas "Verdadeiro".

  • Quanto maior a pontuação, maior a tendência ao comportamento disfuncional correspondente.

Além deste questionário é feita uma avaliação profissional, por meio de entrevista. O questionário serve apenas como ferramenta educativa ou preliminar para pesquisa/compreensão pessoal. Se os resultados indicarem comportamentos frequentes em qualquer fator, pode ser útil conversar com um psicólogo ou nutricionista especializado. Aprenda mais no curso psiconutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Entrevista motivacional no tratamento dos transtornos alimentares

A entrevista motivacional (EM) é uma abordagem centrada no paciente que visa aumentar a motivação interna para a mudança de comportamento. No contexto do tratamento dos transtornos alimentares — como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica — a EM tem se mostrado uma ferramenta eficaz, especialmente nas fases iniciais do tratamento, quando a resistência à mudança costuma ser elevada.

O que é a Entrevista Motivacional?

Desenvolvida por William Miller e Stephen Rollnick, a entrevista motivacional é uma abordagem colaborativa, empática e orientada por objetivos. O foco é ajudar a pessoa a explorar e resolver sua ambivalência em relação à mudança.

Aplicações nos Transtornos Alimentares

1. Redução da resistência

Pessoas com transtornos alimentares muitas vezes não reconhecem o problema ou não querem mudar. A EM cria um espaço seguro para explorar esses sentimentos sem julgamento.

2. Promoção da motivação intrínseca

Ao invés de impor mudanças, a EM ajuda o paciente a descobrir razões pessoais para mudar, o que é crucial para adesão ao tratamento.

3. Fases do comportamento alimentar

Pode ser adaptada às diferentes fases do transtorno:

  • Pré-contemplação: quando o paciente ainda não reconhece o problema.

  • Contemplação: começa a considerar a mudança.

  • Preparação, ação e manutenção: EM ajuda a fortalecer e sustentar a decisão de mudar.

Técnicas fundamentais da EM (resumidas pelo acrônimo OARS)

  • OPerguntas abertas: “O que te preocupa em relação ao seu comportamento alimentar?”

  • AAfirmações: “É admirável que você esteja aqui procurando ajuda.”

  • RReflexões: “Você se sente dividida entre querer manter o controle e cuidar da sua saúde.”

  • SResumos: Integra o que foi discutido e reforça o progresso.

Evidências de eficácia

Pesquisas indicam que a EM pode:

  • Melhorar o engajamento no tratamento.

  • Reduzir comportamentos alimentares desordenados.

  • Aumentar a aceitação de abordagens nutricionais e psicoterapêuticas subsequentes.

É particularmente útil antes ou em paralelo com terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou terapia familiar.

Exemplo prático (diálogo simplificado)

Terapeuta: “O que te trouxe até aqui hoje?”
Paciente: “Minha família acha que estou muito magra, mas eu me sinto bem assim.”
Terapeuta: “Você está aqui porque se importa com a opinião deles, mas ainda sente que sua forma atual está certa para você.”
Paciente: “Sim… parte de mim sabe que algo está errado, mas mudar me assusta.”

Aprenda mais no curso de psiconutrição

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Você come por fome ou hábito?

A Default Mode Network (DMN), ou Rede em Modo Padrão, é um conjunto de regiões do cérebro que ficam ativamente conectadas quando a pessoa está em repouso — isto é, sem realizar tarefas externas específicas, como resolver problemas ou prestar atenção ativa ao ambiente. Essa rede está associada a processos internos, como:

- Devaneios (mind-wandering)
- Planejamento automático (vulgo, viajando na maionese)
- Recordações autobiográficas
- Processamento do self (autorreferência)
- Regulação emocional

Principais regiões da DMN:

1) Córtex pré-frontal medial
2) Cingulado posterior
3) Precuneus
4) Córtex parietal lateral
5) Hipocampo

Como a DMN influencia o comportamento alimentar?

A DMN afeta o comportamento alimentar principalmente de maneira indireta, através de processos mentais automáticos e introspectivos, como:

1. Desejo e antecipação de comida (food craving) - A DMN é ativada quando pensamos em comida, especialmente em contextos de jejum ou restrição. Essa rede pode sustentar pensamentos repetitivos sobre comida, mesmo quando não há fome fisiológica.

2. Tomada de decisão baseada no self - Como a DMN está envolvida na autorreferência, ela pode influenciar como nos vemos em relação à alimentação:

"Eu mereço essa sobremesa."

"Eu não consigo resistir a doces."

3. Comer emocional ou automático - A ativação da DMN durante estados emocionais negativos pode levar a um comportamento alimentar impulsivo como forma de compensação. Também está relacionada ao "mindless eating" (comer sem atenção plena), já que o cérebro está envolvido em devaneios.

4. Obesidade e desregulação da DMN - Estudos de neuroimagem mostram que pessoas com obesidade frequentemente têm uma hiperconectividade na DMN, o que pode reforçar padrões automáticos de comer por prazer ou hábito, não por necessidade.

Aplicações práticas:

Mindfulness, yoga e práticas contemplativas ajudam a desativar a DMN e promovem atenção plena, reduzindo o comer automático. A psicoterapia pode ajudar a reestruturar os pensamentos autorreferenciais negativos mediados pela DMN.

Consulta de nutrição: www.andreiatorres.com.br/consultoria

Consulta de psicologia: www.juliamaciel.com

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/