A entrevista motivacional (EM) é uma abordagem centrada no paciente que visa aumentar a motivação interna para a mudança de comportamento. No contexto do tratamento dos transtornos alimentares — como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica — a EM tem se mostrado uma ferramenta eficaz, especialmente nas fases iniciais do tratamento, quando a resistência à mudança costuma ser elevada.
O que é a Entrevista Motivacional?
Desenvolvida por William Miller e Stephen Rollnick, a entrevista motivacional é uma abordagem colaborativa, empática e orientada por objetivos. O foco é ajudar a pessoa a explorar e resolver sua ambivalência em relação à mudança.
Aplicações nos Transtornos Alimentares
1. Redução da resistência
Pessoas com transtornos alimentares muitas vezes não reconhecem o problema ou não querem mudar. A EM cria um espaço seguro para explorar esses sentimentos sem julgamento.
2. Promoção da motivação intrínseca
Ao invés de impor mudanças, a EM ajuda o paciente a descobrir razões pessoais para mudar, o que é crucial para adesão ao tratamento.
3. Fases do comportamento alimentar
Pode ser adaptada às diferentes fases do transtorno:
Pré-contemplação: quando o paciente ainda não reconhece o problema.
Contemplação: começa a considerar a mudança.
Preparação, ação e manutenção: EM ajuda a fortalecer e sustentar a decisão de mudar.
Técnicas fundamentais da EM (resumidas pelo acrônimo OARS)
O – Perguntas abertas: “O que te preocupa em relação ao seu comportamento alimentar?”
A – Afirmações: “É admirável que você esteja aqui procurando ajuda.”
R – Reflexões: “Você se sente dividida entre querer manter o controle e cuidar da sua saúde.”
S – Resumos: Integra o que foi discutido e reforça o progresso.
Evidências de eficácia
Pesquisas indicam que a EM pode:
Melhorar o engajamento no tratamento.
Reduzir comportamentos alimentares desordenados.
Aumentar a aceitação de abordagens nutricionais e psicoterapêuticas subsequentes.
É particularmente útil antes ou em paralelo com terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ou terapia familiar.
Exemplo prático (diálogo simplificado)
Terapeuta: “O que te trouxe até aqui hoje?”
Paciente: “Minha família acha que estou muito magra, mas eu me sinto bem assim.”
Terapeuta: “Você está aqui porque se importa com a opinião deles, mas ainda sente que sua forma atual está certa para você.”
Paciente: “Sim… parte de mim sabe que algo está errado, mas mudar me assusta.”