Metabolômica: glicólise

O metabolismo é uma atividade celular altamente coordenada, em que muitos sistemas enzimáticos cooperam para obter energia, transformar as moléculas dos nutrientes em outras moléculas necessárias ao corpo. A glicose ocupa posição central no metabolismo.

Os quatro destinos principais da glicose são: (1) usada na síntese de pollissacarídeos complexos, (2) armazenada nas células, (3) oxidada a compostos de três carbonos (piruvato) por meio da glicólise, para fornecer ATP e outros intermediários, (4) oxidada pela via das pentoses-fosfato produzindo ribose 5-fosfato para a síntese de ácidos nucleicos e NADH para processos biossintéticos redutores.

Na glicólise uma molécula de glicose é degradada em uma série de reações, gerando duas moléculas de piruvato. Parte da energia livre é conservada na forma de ATP e NADH. As 5 primeiras fases da glicólise são preparatórias, como o consumo de duas moléculas de ATP.

Fonte: Lehninger, 6a ed.

Na fase de pagamento há a síntese de quatro moléculas de ATP, com um lucro final de 2 moléculas + 2NADH.

Fonte: Lehninger, 6a ed.

A metabolômica da glicólise estuda os metabólitos envolvidos nessa via metabólica essencial para o metabolismo energético, especialmente em células com alta demanda de energia, como neurônios e células musculares. Alterações na glicólise estão associadas a câncer, resistência insulínica e neurodegeneração.

🔬 Metabólitos Principais estudados

Resultado do teste de paciente A

1. Glucose (fornece energia para a célula)

  • ↑ Alta: Resistência à insulina, diabetes, estresse metabólico.

  • ↓ Baixa: Hipoglicemia, má absorção, desnutrição.

2. Piruvato (produto final da glicólise)

  • Origem: Conversão de PEP pela piruvato quinase

  • Destino: Pode seguir para o ciclo de Krebs (condições aeróbicas) ou ser convertido em lactato (anaerobiose) ou alanina.

    • ↑ Alta: Falta de cofatores (vitaminas B1, B2, B3, B5), metabolismo anaeróbico aumentado.

    • ↓ Baixa: Baixa conversão de glicose em energia.

3. Lactato (produto de conversão anaeróbica do piruvato)

  • ↑ Alta: Falta de cofatores (vitaminas B1, B2, B3, B5), metabolismo anaeróbico aumentado.

  • ↓ Baixa: Baixa conversão de glicose em energia.

4. Alanina

  • Origem: Conversão de piruvato em alanina pela alanina aminotransferase (ALT)

  • Destino: Este processo acontece principalmente no músculo, onde o piruvato recebe um grupo amino do glutamato, formando alanina.

    • ↑ Alta: Catabolismo muscular elevado, metabolismo desregulado da glicose.

    • ↓ Baixa: Baixa síntese proteica, deficiência de B6.

Os exames metabolômicos detectam alterações precoces no metabolismo glicolítico, mesmo antes de alterações plasmáticas nos exames convencionais.

🏥 Aplicações Clínicas da Metabolômica da Glicólise

A análise dos metabólitos glicolíticos tem grande valor diagnóstico e terapêutico em diversas condições:

1️⃣ Câncer: "Efeito Warburg"

  • Células cancerígenas podem aumentar a glicólise mesmo na presença de oxigênio (efeito Warburg)

  • Alta captação de glicose → Detectada por PET scan com FDG (Fluorodeoxiglicose)

  • Inibição da PKM2 (piruvato quinase M2) pode bloquear o crescimento tumoral

Fonte: Lehninger, 6a ed.

2️⃣ Diabetes e Resistência à Insulina

  • Acúmulo de glicose-6-fosfato e frutose-6-fosfato indicam resistência à insulina

  • Aumento da conversão de glicose em sorbitol pode levar a complicações diabéticas

3️⃣ Doenças Neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson)

  • Baixa atividade glicolítica no cérebro está associada a declínio cognitivo e Alzheimer

  • Déficits na piruvato desidrogenase podem comprometer o metabolismo energético

4️⃣ Hipóxia e Distúrbios Metabólicos

  • Em condições de baixa oxigenação (ex.: sepse, AVC), a glicólise anaeróbica aumenta a produção de lactato

  • Acúmulo excessivo de lactato leva a acidose lática

A depender do caso, além da suplementação vitamínica, a dieta cetogênica pode ser recomendada. Aprenda mais na plataforma t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Envelhecimento aumenta danos metabólicos e o risco de transtornos mentais

O envelhecimento afeta o metabolismo de diversas formas, levando a um declínio na eficiência energética, aumento do estresse oxidativo, resistência à insulina e inflamação crônica. Esses fatores contribuem para o surgimento de doenças como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

Principais mecanismos pelos quais o envelhecimento impacta o metabolismo

1. Disfunção Mitocondrial e Redução da Produção Energética

As mitocôndrias são as "usinas de energia" da célula, e seu funcionamento se deteriora com o tempo:

  • Redução da biogênese mitocondrial → Ocorre uma menor produção de novas mitocôndrias devido à diminuição da atividade do PGC-1α (regulador da biogênese mitocondrial).

  • Danos ao DNA mitocondrial (mtDNA) → A exposição ao estresse oxidativo pode causar mutações no mtDNA, reduzindo a eficiência da produção de ATP.

  • Menor eficiência na cadeia respiratória → A produção de ATP torna-se menos eficiente, aumentando a geração de radicais livres.

🔹 Consequência: Redução da capacidade de gerar energia, fadiga, menor desempenho físico e aumento do risco de doenças metabólicas.

2. Acúmulo de Radicais Livres e Estresse Oxidativo

Com o envelhecimento, há um desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade do organismo de neutralizá-los:

  • A produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (ROS) danifica lipídios, proteínas e DNA.

  • A atividade de enzimas antioxidantes como SOD (superóxido dismutase), CAT (catalase) e GPx (glutationa peroxidase) diminui, aumentando o estresse oxidativo.

🔹 Consequência: Maior degradação celular, mutações no DNA, inflamação e desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e cardiovasculares.

3. Inflamação Crônica de Baixo Grau ("Inflammaging")

O envelhecimento leva a um estado de inflamação crônica sistêmica sem infecção aparente, conhecido como "inflammaging":

  • Maior produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α, IL-1β).

  • Ativação persistente do NF-κB, um regulador da resposta inflamatória.

  • Disfunção do sistema imunológico inato e adaptativo, aumentando a susceptibilidade a infecções e doenças autoimunes.

🔹 Consequência: Maior risco de resistência à insulina, aterosclerose, sarcopenia e doenças neurodegenerativas como Alzheimer.

4. Resistência à Insulina e Alterações no Metabolismo da Glicose

O envelhecimento compromete a capacidade do corpo de regular a glicose e responder à insulina, levando a:

  • Redução da sensibilidade dos receptores de insulina, especialmente nos músculos e fígado.

  • Aumento da produção hepática de glicose, mesmo em estado alimentado.

  • Acúmulo de gordura visceral, que libera citocinas inflamatórias que pioram a resistência à insulina.

🔹 Consequência: Aumento do risco de diabetes tipo 2, obesidade e síndrome metabólica.

5. Declínio na Autofagia e Acúmulo de Proteínas Mal Dobradas

A autofagia, mecanismo celular de reciclagem e remoção de componentes danificados, diminui com a idade:

  • Menor ativação do AMPK e do gene FOXO3, que regulam a autofagia.

  • Acúmulo de proteínas mal dobradas e organelas disfuncionais.

🔹 Consequência: Maior risco de neurodegeneração, como Alzheimer e Parkinson, além de envelhecimento celular acelerado.

6. Alterações na Regulação Epigenética e Metilação do DNA

O envelhecimento leva a mudanças na expressão gênica por meio de alterações epigenéticas:

  • Hipometilação global do DNA, levando à ativação de genes inflamatórios e ao aumento da instabilidade genômica.

  • Hipermetilação localizada pode silenciar genes protetores contra o envelhecimento.

🔹 Consequência: Disfunção celular progressiva e aumento do risco de câncer e doenças metabólicas.

7. Alterações na Composição da Microbiota Intestinal

A microbiota intestinal muda com a idade, afetando a absorção de nutrientes e a inflamação:

  • Redução da diversidade de bactérias benéficas (ex: Bifidobacterium).

  • Aumento de bactérias pró-inflamatórias, que produzem endotoxinas e ativam a inflamação sistêmica.

🔹 Consequência: Piora da digestão, aumento da inflamação e impacto na saúde metabólica e imunológica.

Alterações metabólicas e transtornos mentais

Os fatores metabólicos associados ao envelhecimento podem aumentar o risco de transtornos mentais como depressão, ansiedade, transtornos neurodegenerativos (Alzheimer, Parkinson) e até esquizofrenia. A conexão entre metabolismo e saúde mental envolve múltiplos mecanismos, incluindo disfunção mitocondrial, inflamação crônica, resistência à insulina e alterações epigenéticas.

1. Disfunção Mitocondrial e Déficit Energético no Cérebro

O cérebro é altamente dependente de energia para manter a função neuronal e a neurotransmissão. Com o envelhecimento, a capacidade das mitocôndrias de gerar ATP diminui, levando a:

  • Redução da produção de ATP → Menos energia para a manutenção da plasticidade sináptica e cognição.

  • Aumento do estresse oxidativo → Danos aos neurônios, contribuindo para depressão e doenças neurodegenerativas.

  • Alteração na neurotransmissão → A baixa produção de energia afeta a síntese de dopamina e serotonina, neurotransmissores essenciais para o humor.

🔹 Consequência: Maior risco de fadiga mental, depressão, ansiedade e neurodegeneração.

2. Inflamação Crônica ("Inflammaging") e Neuroinflamação

A inflamação sistêmica de baixo grau no envelhecimento pode atravessar a barreira hematoencefálica e afetar o cérebro:

  • Aumento de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α, IL-1β) prejudica a função neuronal e reduz a neurogênese no hipocampo.

  • A ativação crônica da microglia (células imunológicas do cérebro) leva à neuroinflamação, contribuindo para ansiedade, depressão e doenças como Alzheimer.

  • O eixo intestino-cérebro também é afetado, pois bactérias intestinais inflamatórias podem liberar toxinas que alteram a função cerebral.

🔹 Consequência: Inflamação cerebral persistente está associada a depressão resistente ao tratamento, transtornos de ansiedade e declínio cognitivo.

3. Resistência à Insulina e Risco de Doenças Psiquiátricas

A resistência à insulina não afeta apenas o metabolismo periférico, mas também tem impacto direto no cérebro:

  • O cérebro usa glicose como principal fonte de energia, e a resistência à insulina pode causar hipofunção cerebral.

  • Estudos mostram que a resistência à insulina afeta neurotransmissores como serotonina e dopamina, aumentando o risco de transtornos do humor.

  • Pessoas com diabetes tipo 2 e resistência à insulina têm maior incidência de depressão e declínio cognitivo.

🔹 Consequência: Déficits na sinalização da insulina no cérebro estão ligados a depressão, Alzheimer e declínio cognitivo acelerado.

4. Estresse Oxidativo e Neurodegeneração

O estresse oxidativo pode causar danos progressivos ao DNA neuronal, proteínas e lipídios:

  • Aumento da peroxidação lipídica afeta a membrana neuronal, prejudicando a comunicação entre neurônios.

  • Oxidação de proteínas leva à formação de placas beta-amiloides (Alzheimer) e agregados de alfa-sinucleína (Parkinson).

  • A degradação de neurotransmissores por estresse oxidativo pode levar a sintomas de depressão, ansiedade e esquizofrenia.

🔹 Consequência: O aumento do estresse oxidativo pode acelerar o declínio cognitivo e transtornos psiquiátricos.

5. Alterações Epigenéticas e Risco de Depressão e Ansiedade

O envelhecimento leva a mudanças na expressão genética que afetam o cérebro:

  • Hipometilação global do DNA → Ativação de genes inflamatórios que podem aumentar o risco de depressão e ansiedade.

  • Hipermetilação de genes neuroprotetores → Pode reduzir a expressão de genes essenciais para a neuroplasticidade e o equilíbrio emocional.

  • Fatores como dieta, exercício e estresse podem modular essas mudanças epigenéticas, afetando a predisposição a doenças mentais.

🔹 Consequência: A epigenética pode explicar por que algumas pessoas envelhecem com boa saúde mental enquanto outras desenvolvem transtornos psiquiátricos.

6. Disbiose Intestinal e o Eixo Intestino-Cérebro

A microbiota intestinal regula neurotransmissores e a inflamação sistêmica. Com o envelhecimento:

  • A redução de bactérias benéficas (Bifidobacterium, Lactobacillus) está associada a maior risco de depressão e ansiedade.

  • O aumento de bactérias inflamatórias pode elevar a produção de endotoxinas, que ativam a inflamação e afetam a função cerebral.

  • A microbiota influencia a produção de serotonina e GABA, neurotransmissores essenciais para a regulação do humor.

🔹 Consequência: Um intestino inflamado pode contribuir para ansiedade, depressão e declínio cognitivo.

Conclusão

Os processos metabólicos que ocorrem no envelhecimento afetam diretamente o cérebro, aumentando o risco de doenças mentais como depressão, ansiedade, Alzheimer e Parkinson. Estratégias como nutrição adequada, exercício físico, suplementação de cofatores da metilação (B12, folato), antioxidantes e regulação do eixo intestino-cérebro podem ajudar a reduzir esses impactos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

TOC x TPOC

A principal diferença entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC) está na sua natureza, causas e impacto na vida da pessoa.

1. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

  • Tipo: Transtorno de ansiedade. É considerado um transtorno extremamente debilitante, afetando relações, performance na escola e trabalho.

  • Prevalência comum: 2,5 a 4% da população mundial (a faixa é extensa pois muitas pessoas escondem as obsessões, o que torna difícil o diagnóstico em muitas circunstâncias).

  • Etiologia: não é completamente compreendida, tendo relação com genética (SlcA1, Sapap3), infecções na infância (como Streptococcus - PANDAS), possível relação com eventos traumáticos, estresse crônico e ansiedade, estilos parentais, traumatismo craniano, alterações em circuitos cerebrais (Savaheli, & Ahmadiani, 2019)

  • Principais Características: Caracteriza-se por obsessões (pensamentos, impulsos ou medos intrusivos e indesejados) e compulsões (comportamentos repetitivos ou atos mentais) realizados para reduzir a ansiedade.

    • Exemplos:

      • Verificar repetidamente se a porta está trancada ou se o fogão está desligado, por medo de ter esquecido.

      • Lavar as mãos excessivamente, tomar muitos banhos (medo de contaminação).

      • Necessidade intensa de que objetos sejam organizados de maneira perfeita, organizada (obsessão por simetria).

      • Medo excessivo de pecar, blasfemar (obsessões religiosas).

      • Pensamentos intrusivos sobre temas sexuais.

      • Preocupação excessiva com a saúde ou funcionamento do corpo, temendo ter doenças graves.

      • Obsessões relacionadas a números ou superstições, como tocar algo três vezes antes de sair do quarto.

      • Pensamentos intrusivos sobre se machucar ou machucar um ente querido.

  • Consciência: Pessoas com TOC reconhecem que suas obsessões e compulsões são irracionais ou angustiantes. Ou seja, as obsessões são intrusivas, acontecem sem que as pessoas queiram. Não gostam de ter os pensamentos e outras obsessões que aparecem de forma recorrente.

  • Impacto na Vida: O TOC pode ser incapacitante, interferindo nas atividades diárias devido a rituais excessivos. A questão é que se a pessoa está focando nas obsessões, não consegue focar em outras atividades mais importantes e produtivas. Apesar dos comportamentos e ações poderem momentaneamente trazer alívio, eles vão ao longo do tempo reforçando as obsessões, fortalecendo-as. É como coçar a pele e, com isso, a pele coçar cada vez mais. Muitas das obsessões e compulsões são tabus, gerando vergonha e contribuindo para outras questões mentais.

A ansiedade é a co-morbidade mais comum no TOC (Stein et al., 2020)

2. Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC)

  • Tipo: Transtorno de personalidade

  • Principais Características: Um padrão persistente de perfeccionismo, necessidade de controle, rigidez e forte apego a regras e ordem. Diferente do TOC, o TPOC não envolve pensamentos intrusivos causadores de ansiedade.

  • Consciência: Pessoas com TPOC acreditam que seu comportamento é correto e veem seu perfeccionismo como uma qualidade, não um problema.

  • Impacto na Vida: Pode causar conflitos interpessoais devido à rigidez extrema, mas nem sempre gera sofrimento pessoal.

  • Exemplos:

    • Obsessão por listas, horários e organização.

    • Dificuldade em delegar tarefas por achar que os outros não farão corretamente.

    • Trabalho excessivo, priorizando a produtividade acima dos relacionamentos.

Principais Diferenças

Pessoas com TOC querem se livrar das compulsões, enquanto pessoas com TPOC acham que sua forma de agir é a correta. Ambos podem coexistir, mas requerem abordagens de tratamento diferentes.

Outros transtornos também podem cursar com compulsividade (Robbins, Vaghi, & Banca, 2019)

Circuitos cerebrais afetados

Os transtornos obsessivo-compulsivo (TOC) e de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) envolvem diferentes circuitos cerebrais, apesar de terem algumas semelhanças nos sintomas.

1. Circuitos cerebrais afetados no TOC

O TOC está associado a disfunções em circuitos neurais que regulam o controle dos impulsos, a tomada de decisão e a modulação da ansiedade. Os principais circuitos afetados incluem:

🧠 Circuito córtico-estriado-tálamo-cortical (CETC)
Este circuito é essencial para o controle de ações voluntárias e da resposta a estímulos. No TOC, há um hiperfuncionamento desse circuito, levando a pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos. As principais estruturas envolvidas são:

  1. Córtex orbitofrontal (COF) → Hiperativo, gerando preocupações excessivas.

  2. Estriado (núcleo caudado e putâmen) → Falha no controle da transmissão de impulsos.

  3. Tálamo → Envia sinais excessivos ao córtex, reforçando os pensamentos obsessivos. Estão no tálamo o núcleo auditório que interpreta o que ouvimos e coordena outras sensações que chegam ao nosso consciente.

🧠 Sistema límbico

  • O aumento da atividade na amígdala (região associada ao medo) pode contribuir para a ansiedade intensa no TOC.

🧠 Neurotransmissores envolvidos

  • Serotonina: Deficiências na regulação desse neurotransmissor podem contribuir para obsessões e compulsões.

  • Dopamina: Alterações podem estar relacionadas à dificuldade de inibir impulsos.

Alterações nos circuitos cerebrais (Stein et al., 2020)

🍽 Estratégias Nutricionais para TOC

O TOC está associado a um déficit na regulação da serotonina, além do envolvimento do sistema glutamatérgico e do estresse oxidativo. A alimentação pode ajudar a modular esses sistemas.

1️⃣ Aumentar a produção de serotonina

A serotonina é essencial para reduzir obsessões e compulsões. Como seu precursor é o triptofano, é fundamental consumir alimentos ricos nesse aminoácido junto com carboidratos para melhorar a absorção.

Alimentos ricos em triptofano:

  • Banana 🍌

  • Aveia 🌾

  • Cacau 🍫

  • Grão-de-bico e lentilha 🥣

  • Nozes e amêndoas 🌰

  • Peixes gordurosos 🐟

Carboidratos complexos:

  • Batata-doce 🍠

  • Arroz integral 🍚

  • Quinoa

🚫 Evitar dietas muito restritivas em carboidratos (como cetogênica), pois podem reduzir a disponibilidade de triptofano no cérebro.

2️⃣ Reduzir inflamação e estresse oxidativo

Muitos pacientes com TOC apresentam níveis elevados de inflamação, que afetam o funcionamento do córtex orbitofrontal e do estriado.

Fontes de ômega-3:

  • Peixes (salmão, sardinha, atum)

  • Sementes de linhaça e chia

Antioxidantes:

  • Frutas vermelhas 🍓 (morango, amora, mirtilo)

  • Vegetais verdes escuros (espinafre, brócolis) 🥦

3️⃣ Modulação do glutamato

O excesso de glutamato pode agravar o TOC, aumentando a excitação neuronal.

Alimentos ricos em magnésio (ajuda a regular o glutamato):

  • Abacate 🥑

  • Oleaginosas (castanha, amêndoas)

  • Chocolate amargo 🍫

🚫 Evitar excesso de cafeína e álcool, pois podem aumentar a liberação de glutamato e piorar sintomas obsessivos.

2. Circuitos cerebrais afetados no TPOC

O transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) envolve padrões rígidos de comportamento, perfeccionismo e necessidade de controle, mas sem as obsessões e compulsões debilitantes do TOC. Os circuitos afetados incluem:

🧠 Circuito pré-frontal-límbico

  • Córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) → Hiperativo, associado ao pensamento rígido e perfeccionismo.

  • Amígdala → Hipoativa em comparação ao TOC, resultando em menos ansiedade em relação aos comportamentos obsessivos.

🧠 Sistema de recompensa (dopaminérgico)

  • O TPOC pode estar relacionado a um maior envolvimento do sistema dopaminérgico, favorecendo comportamentos rígidos e busca por controle.

💊 Medicação para TOC

A farmacoterapia para TOC foca em aumentar a serotonina e modular o glutamato, reduzindo obsessões e compulsões.

1️⃣ Inibidores da Recaptação de Serotonina (ISRS) → Primeira linha

Os ISRS aumentam a serotonina disponível no cérebro e ajudam a reduzir os pensamentos obsessivos.

Principais ISRS para TOC:

  • Fluoxetina (Prozac) – Dose mais alta necessária do que para depressão.

  • Sertralina (Zoloft) – Boa opção para ansiedade associada.

  • Fluvoxamina (Luvox) – Específico para TOC, melhora sintomas intrusivos.

  • Paroxetina (Paxil) – Pode ajudar no TOC com depressão, mas tem mais efeitos colaterais.

  • Clomipramina (Anafranil) – Antidepressivo tricíclico eficaz no TOC, mas com mais efeitos adversos.

2️⃣ Moduladores do Glutamato → Para casos resistentes

Memantina (Namenda) – Regula o excesso de glutamato, usado como reforço para ISRS.
Lamotrigina (Lamictal) – Ajuda na neuroplasticidade e no controle das compulsões.

3️⃣ Antipsicóticos atípicos → Para TOC grave ou resistente

Risperidona, Aripiprazol, Olanzapina – Reduzem hiperatividade do núcleo caudado quando os ISRS sozinhos não funcionam.

🚫 O que evitar em TOC:

  • Benzodiazepínicos (Rivotril, Alprazolam) – Podem piorar compulsões a longo prazo.

  • Dopaminérgicos (Bupropiona, Anfetaminas) – Podem agravar sintomas obsessivos.

🍽 Estratégias Nutricionais para TPOC

O TPOC está mais ligado à rigidez cognitiva, hiperatividade do córtex pré-frontal e desequilíbrio dopaminérgico. A nutrição pode ajudar a melhorar a flexibilidade mental e reduzir o excesso de controle.

1️⃣ Modulação da dopamina

O excesso de dopamina pode contribuir para comportamentos rígidos e perfeccionistas.

Alimentos que regulam a dopamina:

  • Chá-verde 🍵 (L-teanina, que equilibra a dopamina)

  • Grãos integrais 🌾 (ajudam na produção equilibrada de neurotransmissores)

🚫 Evitar excesso de cafeína (presente no café e energéticos), pois pode estimular ainda mais o córtex pré-frontal.

2️⃣ Redução do estresse oxidativo

O TPOC está relacionado a um maior controle mental e perfeccionismo, o que pode gerar carga de estresse oxidativo.

Alimentos anti-inflamatórios:

  • Chá de camomila ☕ (auxilia na redução do estresse)

  • Vegetais crucíferos 🥦 (brócolis, couve)

  • Cúrcuma (a curcumina pode ajudar na neuroplasticidade)

3️⃣ Melhorar a flexibilidade cognitiva

A rigidez mental pode ser reduzida com estratégias que favorecem a neuroplasticidade.

Fontes de colina e fosfatidilserina (melhoram a função cerebral):

  • Ovo 🥚 (gema)

  • Peixes gordurosos 🐟

  • Abacate 🥑

🚫 Evitar dietas extremamente restritivas (como jejum prolongado), pois podem aumentar a rigidez comportamental.

💊 Medicação para TPOC

O TPOC tem menos estudos farmacológicos porque é um transtorno de personalidade e não responde tão bem à medicação quanto o TOC. Mas, em alguns casos, medicamentos podem ajudar no perfeccionismo excessivo, rigidez cognitiva e ansiedade associada.

1️⃣ ISRS → Quando há ansiedade ou depressão associada

Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina – Ajudam a reduzir comportamentos rígidos e pensamentos obsessivos.

2️⃣ Estabilizadores de Humor → Para reduzir rigidez emocional

Lamotrigina – Melhora a flexibilidade cognitiva e ajuda a modular o córtex pré-frontal.
Lítio – Em alguns casos, pode ajudar no controle emocional e reduzir impulsividade.

3️⃣ Antipsicóticos atípicos → Para casos graves de rigidez comportamental

Quetiapina, Aripiprazol – Podem ser usados em doses baixas para reduzir pensamentos excessivamente controladores.

🚫 O que evitar em TPOC:

  • Psicoestimulantes (Ritalina, Venvanse) – Podem piorar a rigidez e obsessividade.

  • Medicamentos dopaminérgicos (Bupropiona) – Podem aumentar o controle excessivo e a inflexibilidade.

🧠 Terapia

A terapia para TOC e TPOC é diferente já que os transtornos têm características distintas. Como vimos:

  • TOC → Envolve obsessões e compulsões angustiantes, com necessidade de reduzir a ansiedade.

  • TPOC → Caracteriza-se por rigidez cognitiva, perfeccionismo e necessidade de controle, mas sem angústia intensa com os próprios comportamentos.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem principal para ambos, mas com estratégias específicas para cada transtorno.

Terapia para TOC

O objetivo é reduzir obsessões e compulsões e reconfigurar os circuitos neurais desregulados.

1️⃣ Exposição e Prevenção de Resposta (EPR) – Técnica principal

Como funciona?

  • A pessoa identifica e é exposta ao pensamento ou situação que causa obsessão, mas sem realizar a compulsão.

  • Com o tempo, o cérebro aprende que a ansiedade diminui naturalmente sem precisar da compulsão.

📌 Exemplo: Se o paciente tem obsessão com contaminação e compulsão de lavar as mãos, ele toca em um objeto "sujo" e é impedido de lavar as mãos. Isso reduz a necessidade de repetição ao longo do tempo.

2️⃣ Reestruturação Cognitiva

Foco: Modificar crenças irracionais sobre obsessões.

  • Pacientes com TOC acreditam que seus pensamentos têm grande poder ("Se eu pensar em acidente, ele vai acontecer").

  • A terapia ensina que pensamentos são automáticos e não perigosos.

📌 Exemplo: A pessoa aprende que ter um pensamento agressivo não significa que ela quer agir violentamente.

3️⃣ Terapias complementares

Mindfulness e Aceitação

  • Ajuda a lidar com pensamentos obsessivos sem se engajar neles.
    Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

  • Ensina a conviver com a ansiedade sem tentar anulá-la por meio de compulsões.

🚫 O que não funciona bem no TOC?

  • Terapia puramente analítica ou psicodinâmica → Pode reforçar rituais ao invés de eliminá-los.

  • Terapia sem exposição → Apenas conversar sobre os medos sem enfrentar os gatilhos não reduz sintomas.

Terapia para TPOC

O foco é aumentar flexibilidade cognitiva, diminuir perfeccionismo e reduzir a necessidade de controle.

1️⃣ Reestruturação Cognitiva – Técnica principal

Como funciona?

  • O terapeuta desafia crenças rígidas e ajuda o paciente a perceber que perfeição absoluta não é necessária.

  • Exploração de consequências do comportamento rígido no trabalho e nos relacionamentos.

📌 Exemplo: Um paciente que acredita que "se eu não fizer tudo perfeito, serei um fracasso" aprende a substituir essa ideia por "fazer o meu melhor já é suficiente".

2️⃣ Treino de Flexibilidade Cognitiva

Foco: Reduzir a necessidade de controle.

  • Exercícios práticos para tolerar mudanças inesperadas.
    📌 Exemplo: Planejar o dia sem seguir um cronograma rígido ou delegar tarefas sem revisar tudo.

3️⃣ Mindfulness e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Ajuda a pessoa a aceitar que não pode controlar tudo e que errar faz parte do processo.

4️⃣ Treino de Habilidades Sociais

Importante quando há dificuldades nos relacionamentos devido à inflexibilidade.
📌 Exemplo: Trabalhar escuta ativa e tolerância a opiniões diferentes.

🚫 O que não funciona bem no TPOC?

  • Terapia baseada apenas em insights sem prática → O paciente pode racionalizar tudo, sem mudar comportamentos.

  • Técnicas de exposição como no TOC → Não são necessárias, pois a ansiedade não é o principal problema.

🧠 Estimulação cerebral profunda

No caso de pacientes com sintomas refratários ao tratamento medicamento, psicoterápico e nutricional pode ser sugerida a estimulação cerebral profunda. Essa técnica envolve a implantação de eletrodos que enviam impulsos elétricos para áreas específicas do cérebro, modulando a atividade neural e ajudando a reduzir os sintomas. A ECP pode diminuir significativamente os sintomas do TOC em muitos pacientes, incluindo obsessões (pensamentos intrusivos) e compulsões (comportamentos repetitivos). Em geral, é mais eficaz quando os sintomas são graves e resistentes a outras opções de tratamento.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/