Para a maioria das crianças com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) , os sintomas surgem gradualmente. Podem ser resposta a medos, ansiedade e envolve rituais que desenvolve para acalmá-los. Eventualmente, os medos tornam-se demasiado avassaladores e os rituais tornam-se difíceis de ocultar.
O TOC de início agudo pode assumir a forma de uma criança pedindo repentinamente por garantias constantes de que não ficará sozinha ou lavando as mãos sem parar. Muitas crianças tornam-se obsessivas com a comida, restringindo severamente o que comerão devido ao medo agudo de contaminação, asfixia ou vômito.
PANS e PANDAS são formas graves de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) que aparecem repentinamente (início agudo) em crianças pequenas, acompanhadas por outros sintomas confusos e angustiantes. Isso pode acontecer com algumas crianças depois de terem contraído alguma infecção.
PANS (síndrome neuropsiquiátrica de início agudo pediátrico) é um termo mais geral que não especifica o tipo de infecção que se acredita desencadear os sintomas. É chamado de “início agudo” porque as mudanças de comportamento ocorrem repentinamente, atingindo intensidade total dentro de 24 a 48 horas. É uma síndrome porque existem alguns outros sintomas que aparecem junto com a ansiedade intensa. Pode ser causada por doença de Lyme, mononucleose, micoplasma (pneumonia ambulante), gripe (como H1N1)…
PANDAS (transtorno neuropsiquiátrico autoimune pediátrico associado a infecções estreptocócicas) é o termo mais usado quando a infecção desencadeadora é estreptocócica. PANDAS é um subgrupo de PANS. Cerca de 86% dos casos de TOC de início agudo estão ligados a estreptococos.
Como infecções modificam comportamentos?
A hipótese mais aceita é que, com a infecção, o sistema imunológico da criança passa a atacar erroneamente as células cerebrais. Este ataca gera comportamentos repetitivos e sintomas como mudanças alimentares, irritabilidade, raiva, ansiedade de separação, ataques de pânico e sintomas depressivos.
Tanto na PANS quanto PANDAS os sintomas podem desaparecer por longos períodos e depois reaparecer, estimulados por uma exposição posterior a estreptococos de alguma outra bactéria ou vírus. Os sintomas podem ficar cada vez mais graves com múltiplas recorrências.
Critérios para o diagnóstico de PANS e PANDAS
Todas as crianças com PANS/PANDAS apresentam início agudo de sintomas de TOC ou restrições alimentares. Também apresentam um conjunto debilitante e desconcertante de outros sintomas neurológicos com início igualmente repentino. Para serem diagnosticados com PANS eles devem ter dois dos sete critérios a seguir:
Ansiedade de separação, pânico, outras formas de ansiedade
Regressão comportamental: voltar a falar como bebê, voltar a ter medo de dormir sozinho
Labilidade emocional: sintomas depressivos ou até mesmo ideação suicida
Irritabilidade, agressão e/ou comportamentos severamente oposicionistas
Deterioração no desempenho escolar: declínio repentino nas competências, memória e concentração em matemática e leitura; aumento da hiperatividade
Anormalidades motoras ou sensoriais: a caligrafia e desenho deterioram-se dramaticamente (também ligada à regressão. Podem ficar incomodados com ruído ou luz
Sintomas somáticos: incluem distúrbios do sono, enurese (perda de urina) e outras alterações na frequência ou intensidade urinária
Recomenda-se uma cultura de garganta para buscar estreptococos. Se o teste de estreptococos for positivo, recomenda-se tratamento de três semanas com antibióticos. A sinusite é o gatilho dos sintomas para muitas crianças.
Muitas crianças respondem na primeira semana do tratamento com antibióticos. Quanto mais tempo os sintomas estiverem ativos antes de a criança iniciar o tratamento, mais tempo poderá demorar a resposta. Se os sintomas desaparecerem, o tratamento é concluído.
Quando as crianças não respondem apenas ao tratamento com antibióticos, o médico psiquiatra poderá indicar também terapia cognitivo-comportamental e medicação antidepressiva. Esses tratamentos demonstraram ser eficazes na redução dos sintomas, mas não visam a origem do problema. Assim, se há reinfecção, outra rodada de antibiótico pode ser necessária.
Para a neuroinflamação, o tratamento de primeira linha é com imunoglobulina intravenosa (IVIG), recomendada apenas para casos graves em que ciclos repetidos de antibióticos combinados com TCC e medicamentos psiquiátricos não tiveram sucesso em interromper os sintomas.
Se IVIG, em por sua vez, não tem sucesso, as crianças são tratadas com plasmaférese (remoção, filtragem e devolução do plasma sanguíneo). Uma revisão de 35 pacientes tratados com plasmaférese mostrou uma melhora média de 65% dos sintomas com 6 meses de tratamento e 78% no acompanhamento de longo prazo (Latimer et al., 2015).