Não recuperou sua memória pós-COVID? Siga estas estratégias

Atendo até hoje pessoas que tiveram viroses que afetaram o cérebro. Determinados vírus geram desregulação imune, formação de príons, ativação de células da microglia e contribuem para neuroinflamação crônica.

O vírus pode não entrar no cérebro, mas suas proteínas sim. A proteína spike é uma estrutura em forma de ponta localizada na superfície do SARS-CoV-2. Ela é essencial para que o vírus possa se ligar às células humanas e iniciar o processo de infecção. Essa proteína é o principal alvo das vacinas contra a COVID-19, pois a indução de anticorpos contra ela impede que o vírus entre nas células.

Todos os vasos sanguíneos do cérebro têm receptores ACE2. A proteína spike se liga a este receptor nas células endoteliais e isso, essencialmente, 'abre a porta' e permite a entrada da proteína spike no sistema nervoso. Uma vez dentro da célula, as proteínas spike promovem e contribuem para altos níveis de microtrombos de inflamação vascular que levam a pequenos e grandes coágulos sanguíneos.

ACE2 é neuroprotetor e, se regulado negativamente ou bloqueado, a neuroproteção é perdida. A atividade reduzida de ACE2 está associada ao aumento da atividade em TGF-beta, que alimenta a produção de amilóide e hiperfosforilação de tau, cujos resultados estão associados a neurodegeneração e risco de doenças como Alzheimer.

A hipótese de que a proteína spike poderia se comportar de forma semelhante a um príon surgiu a partir da observação de que algumas regiões dessa proteína apresentam características estruturais que lembram as de príons. Essas regiões são conhecidas como "domínios semelhantes a príons".

Príons são proteínas anormais que podem induzir outras proteínas a dobrarem-se de forma incorreta, formando agregados que danificam as células, especialmente as células nervosas. A possibilidade de a proteína spike induzir a formação de agregados proteicos no cérebro poderia explicar alguns dos sintomas neurológicos observados em pacientes com COVID-19, como a encefalite e a perda de memória. Essa conexão também levanta a hipótese de que a infecção por SARS-CoV-2 poderia aumentar o risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas em longo prazo.

Outros mecanismos responsáveis pela neurodegeneração incluem: (a) altos níveis de radicais livres, (b) disfunção mitocondrial, (c) Senescência Avançada, (d) disbiose intestinal, (e) danos ao DNA, (f) alterações no epigenoma, (g) Ativação do inflamassoma NLRP3.

a. Altos níveis de estresse oxidativo - O estresse oxidativo e a inflamação se reforçam mutuamente. O cérebro, com seu alto consumo de oxigênio e conteúdo rico em lipídios, é altamente suscetível ao estresse oxidativo. O estresse oxidativo está envolvido em distúrbios neurodegenerativos, como doença de Alzheimer, doença de Huntington e doença de Parkinson, etc. Altos níveis de estresse oxidativo pós-COVID foram observados no córtex e no cerebelo. Isso faz com que os íons de cálcio vazem dos canais iônicos no cérebro, conhecidos como receptores de rianodina, levando à hiperfosforilação da tau e à formação de beta-amilóide após o COVID-19. O longo nevoeiro cerebral do COVID-19 deve ser levado a sério. Dieta estilo mediterrâneo e dieta mind são recomendadas e, em caso de hipometabolismo glicolítico cerebral, com maior produção de radicais livres, pode ser recomendada a dieta cetogênica. Um dos suplementos bastante usados no combate ao estresse oxidativo nas doenças neurodegenerativas é a Quercetina (Khan et al., 2020).

b. disfunção mitocondrial - Estudo publicado na Circulation Research em 2021 mostrou que as proteínas spike interrompem a estrutura e as funções das mitocôndrias nas células. A disfunção mitocondrial ocorre na doença neurodegenerativa e um grande corpo de evidências sugere que as mitocôndrias danificadas provavelmente desempenham papéis fundamentais na patogênese da doença de Alzheimer. Existem suplementos para tratamento da disfunção mitocondrial, como beta hidroxi-butirato (um tipo de corpo cetônico), TCM (especialmente C8), creatina, coenzima Q10 (ou maxsolve), NAC, hexanicotinato de inositol, magnésio, zinco, maxsolve, glutationa lipossomal, mononucleotídeo de nicotinamida. Marque sua consulta de nutrição para conversarmos.

c. Senescência Avançada - A proteína Spike induz o envelhecimento, e prejudica a autofagia, um mecanismo pelo qual as células se renovam e removem os resíduos de todos os tecidos, incluindo o cérebro. O envelhecimento é um importante fator de risco para o desenvolvimento de muitas doenças neurodegenerativas. A senescência celular é um processo biológico homeostático que tem um papel fundamental na condução do envelhecimento.

d. Desequilíbrio do microbioma intestinal - A microbiota imunomoduladora benéfica no microbioma intestinal foi afetada após uma doença como COVID-19. A proteína Spike danifica o microbioma, ligando-se ao lipopolissacarídeo bacteriano e aumentando sua atividade pró-inflamatória.

Bacteroidetes de uma microbiota saudável podem bloquear a tempestade de citocinas induzida pelo SARS-CoV-2 ao direcionar a via de sinalização TLR4. A microbiota intestinal inibe a adesão do SARS-CoV-2 às células-alvo ao regular o sulfato de heparina. O metabólito derivado da microbiota intestinal butirato reduz a expressão da membrana ACE2 e suprime a ativação da proteína spike viral. Além disso, o butirato reprime a morte celular induzida pelo SARS-CoV-2 ao regular negativamente o HMGB1. Além disso, este ácido graxo de cadeia curta, produzido por bactérias intestinais, inicia respostas imunes antivirais ao motivar a cascata de sinalização TLR7. O metabólito ursodesoxicolato também exerce efeitos anti-SARS-CoV-2. Ele previne a infecção pelo SARS-CoV-2 ao bloquear a ligação viral ao ACE2. Por fim, espécies pertencentes ao filo Bacteroidetes, como Bacteroides dorei, Bacteroides massiliensis, Bacteroides ovatus e Bacteroides thetaiotaomicron, restringem a entrada viral mediada por ACE2.

Pesquisas sugerem que a disbiose intestinal do microbioma humano pode ser um fator de risco para doenças neurodegenerativas. Entenda mais sobre a microbiota intestinal e seu tratamento neste curso online.

e. Danos ao DNA - Danos e reparo defeituoso do material genético estão agora cada vez mais implicados em doenças neurodegenerativas relacionadas à idade. As proteínas spike inibiriam a capacidade das células em crescimento de reparar danos no DNA (Jian, & Mei, 2021).

f. Epigenética alterada - O processo de envelhecimento é regulado por fatores epigenéticos. Verificou-se que as modificações epigenéticas desempenham um papel importante na patogênese da doença de Alzheimer (DA), que é o tipo mais comum de demência. Pesquisas extensas sugeriram que a metilação do DNA desempenha um papel importante no curso e desenvolvimento da DA.

Um estudo de metilação do DNA em todo o genoma publicado em abril de 2022 na revista Nature Communications coletou amostras de sangue total de 232 indivíduos saudáveis, 194 pacientes não graves com COVID-19 e 213 pacientes graves com COVID-19. Os pesquisadores descobriram que a idade epigenética dos pacientes com COVID-19 foi significativamente acelerada (Barturen et al., 2022).

g - Ativação do inflamassoma NLRP3 - O NLRP3 é um componente crítico do sistema imunológico inato que medeia citocinas pró-inflamatórias em resposta a infecções ou danos celulares. Essa ativação promoverá a hiperfosforilação da tau e a formação de emaranhados neurofibrilares. A tau é uma das características patológicas da doença de Alzheimer. A ativação do inflamassoma NLRP3 microglial é um dos principais impulsionadores da neurodegeneração.

Muitos fitoquímicos podem ajudar a inibir o inflamassoma NLRP3 reduzindo o risco de doenças neurodegenerativas. Dentre estes fitoquímicos, ganham destaque os citados abaixo, com suas principais fontes:

  • Curcumina: Açafrão-da-terra (cúrcuma)

  • Resveratrol: Uva, amora, morango, castanhas, amendoim

  • Apigenina: Aipo, salsa, camomila, tomilho

  • Quercetina: Maçã, cebola, brócolis, chá verde

  • EGCG (Epigalocatequina Galato): Chá verde

  • Fisetina: Morango, cebola, maçã

Para individualização da sua dieta, marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrientes para boa função da tireoide

A função da tireoide está intimamente ligada à nutrição por meio do eixo dieta-intestino-tireoide. Micronutrientes como iodo, selênio, ferro, zinco, cobre, magnésio, vitamina A e vitamina B12 influenciam a síntese e a regulação do hormônio tireoidiano ao longo da vida. Mudanças na dieta podem alterar a microbiota intestinal, levando não apenas à disbiose e deficiência de micronutrientes, mas também a mudanças na função da tireoide por meio da regulação imunológica, absorção de nutrientes e mudanças epigenéticas. O desequilíbrio nutricional pode levar à disfunção e/ou distúrbios da tireoide, como hipotireoidismo e hipertireoidismo, e possivelmente contribuir para doenças autoimunes da tireoide e câncer de tireoide.

Nutrientes fundamentais para a tireoide

  • Iodo: Essencial para a produção dos hormônios tireoidianos. Deve-se garantir uma concentração urinária de iodo ≥ 100 µg/L, que é o ponto de corte associado à menor prevalência de bócio por deficiência de iodo.

  • Selênio: Um mineral antioxidante que protege a tireoide dos danos causados pelos radicais livres.

  • Vitamina D: A tireoide é cheia de receptores para vitamina d e a deficiência deste nutriente está associada a doenças autoimunes, incluindo a tireoidite de Hashimoto.

  • Ferro: Essencial para a produção de hormônios tireoidianos. Anemia está associada a hipotireoidismo.

  • Zinco: mineral que contribui para a expressão de genes que geram enzimas e cofatores para a síntese e metabolismo de hormônios da tireoide.

  • Cobre: Co-fator para a enzima tirosinase, envolvida na conversão do T4 (inativo) em T3 (hormônio ativo da tireoide).

  • Magnésio: Requerido para a ativação do ATP e atua como co-fator de enzimas envolvidas no metabolismo tireoidiano. Pode influenciar indiretamente a desiodação, que catalisa a conversão de T4 para a forma mais ativa de T3. Além disso, está envolvido na regulação da sensibilidade do receptor do hormônio tireoidiano como um segundo mensageiro, o que afeta a receptividade dos tecidos-alvo aos hormônios tireoidianos e equilibra a fosforilação oxidativa.

  • Vitamina A: A deficiência desta vitamina antioxidante e imunomoduladora impacta negativamente a função tireoidiana. A deficiência de vitamina A reduz a absorção de iodo pela glândula, gera hipertrofia da tireoide. A vitamina A também modula a sensibilidade da tireoide ao TSH, um regulador chave da produção hormonal.

  • Vitamina B12: Quase metade dos pacientes com tireoidite de Hashimoto possuem deficiência de cobalamina, vitamina importante para a síntese de hormônios da tireoide.

Nutrição e tireoidite de Hashimoto

A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune que afeta a tireoide. A dieta desempenha um papel importante na gestão dos sintomas e na saúde geral de pessoas com essa condição. Vamos explorar as conexões entre a dieta, as causas nutricionais, inflamatórias e intestinais da tireoidite de Hashimoto.

Além das deficiências nutricionais, a tireoidite de Hashimoto pode ter causas inflamatórias. Dentre os principais causadores de inflamação da tireoide estão:

  • Alimentos inflamatórios: Alimentos processados, ricos em açúcar, gorduras trans e óleos vegetais refinados podem aumentar a inflamação no corpo, exacerbando os sintomas da tireoidite de Hashimoto.

  • Intolerâncias alimentares: Intolerâncias ao glúten e à lactose podem desencadear reações inflamatórias no intestino, afetando a saúde da tireoide.

  • Permeabilidade intestinal aumentada: Uma barreira intestinal danificada pode permitir que substâncias não digeridas entrem na corrente sanguínea, desencadeando uma resposta imune e agravando a tireoidite de Hashimoto.

  • Desequilíbrio da microbiota intestinal: Um desequilíbrio nas bactérias intestinais pode contribuir para a inflamação e afetar a função da tireoide.

Quais Alimentos São Recomendados?

Uma dieta para pessoas com tireoidite de Hashimoto deve ser rica em:

  • Frutas e legumes coloridos: Fontes de vitaminas, minerais e antioxidantes.

  • Peixes gordurosos: Como salmão, sardinha e atum, ricos em ômega-3.

  • Carnes magras: Frango, peru e carnes vermelhas magras.

  • Grãos integrais: Quinoa, aveia, arroz integral.

  • Leguminosas: Feijão, lentilha, grão de bico.

  • Sementes e oleaginosas: Chia, linhaça, amêndoas, nozes.

Quais Alimentos Devem Ser Evitados?

É recomendado evitar ou reduzir o consumo de:

  • Alimentos processados: Biscoitos, salgadinhos, refrigerantes.

  • Açúcar: Doces, bolos, refrigerantes.

  • Gorduras trans: Presentes em alimentos industrializados.

  • Glúten: Trigo, centeio, cevada (em caso de intolerância).

  • Lactose: Leite e derivados (em caso de intolerância).

  • Alimentos inflamatórios: Alimentos fritos, embutidos, fast food.

É Importante Consultar um Profissional

É fundamental consultar um nutricionista para elaborar um plano alimentar personalizado, considerando as necessidades individuais de cada paciente. Marque aqui sua consulta de nutrição online e vamos conversar mais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Como tratar o lipedema?

O lipedema é uma condição médica crônica caracterizada por um acúmulo simétrico de tecido adiposo (gordura) nas pernas e, às vezes, nos braços, mas deixando as mãos e os pés intactos. Pode ser acompanhado por uma textura incomum dentro das células de gorduras. É mais comum no sexo feminino e atinge aproximadamente 11% das mulheres ao redor do mundo.

As pessoas afetadas costumam ter as extremidades inferiores mais grossas que o resto do corpo, sem que haja, em muitos casos, diferença entre tornozelo, joelho e coxa. Não é obesidade ou celulite, embora muitas vezes seja confundido.

Estudos recentes mostram que as estratégias low carb (baixo teor de carboidratos), incluindo a dieta cetogênica são as formas mais eficazes de tratamento do lipedema. A redução de 15 a 25% do consumo calórico, inclusão de alimentos e suplementos antiinflamatórios, exclusão de alimentos ultraprocessados e atividade física complementam as estratégias com redução de carboidratos.

É comum que os pacientes com lipedema apresentem alterações genéticas do metabolismo de carboidratos, aromatase (CYP19A1), de receptores estrogênicos com maior ativação de ERalfa, comprometimento de pré-adipócitos (ZNF423), aumento de PPARG. Também são comuns alterações intestinais e de células imunes.

Para regular a quantidade de estrogênios, o fígado os transformará em substâncias solúveis que serão eliminadas pela bile. Para isso, vários nutrientes serão necessários. Vitaminas do complexo B, aminoácidos, compostos fenólicos, vitaminas e minerais com função antioxidante, magnésio, glutationa, SAME, coenzima Q10, NAC são exemplos de compostos importantes para a destoxificação. Se faltam nutrientes não há excreção do estrogênio, que começa a se acumular. Saiba mais na apostila Nutrição no Lipedema.

Além do fígado outro órgão importante é o intestino. Dentro do intestino, os níveis de estrogênio são controlados por um grupo de bactérias intestinais chamadas estroboloma. O fígado joga os metabólitos produzidos no intestino. Mas dependendo das bactérias que estão no intestino, os estrogênios são desconjugados e voltam para a circulação, aumentando novamente desnecessariamente a concentração hormonal na corrente sanguínea. Para manter um intestino saudável em dieta low carb ou cetogênica é importante a suplementação de probióticos e prebióticos.

Fora isso, 61% dos pacientes com lipedema tem a genética HLADQ2 e HLADQ8, ou seja, compartilham da mesma genética que a Doença Celíaca.
O HLA é crucial na regulação do sistema imunológico e pode estar associado à inflamação observada no lipedema. O estudo de Amato e colaboradores (2023) sugere que os haplótipos HLA-DQ2 ou HLA-DQ8 (mesmos haplótipos que predispõe a Doença Celíaca) podem estar ligados ao aumento desta inflamação.

Foram encontradas diferenças na prevalência desses haplótipos em pacientes com lipedema comparados à população geral, sugerindo uma potencial associação entre esses tipos de HLA e o lipedema. Embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essa hipótese e estabelecer abordagens de tratamento mais personalizadas, essa descoberta sugere que a retirada do glúten da dieta pode ajudar a aliviar os sintomas do lipedema em pacientes HLA-positivos.

Consulta de nutrição online: www.andreiatorres.com/consultoria

Cursos online

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/