Canabinóides e o microbioma humano

Além de todas as células humanas, cada uma expressando diferentes partes do seu genoma individual, um corpo adulto saudável também contém trilhões de outras células não humanas – microrganismos com genomas próprios e distintos. O ecossistema de microorganismos e seu genoma que habitam nas superfícies do seu corpo é o seu microbioma.

O microbioma intestinal é o ecossistema de micróbios que vivem no trato gastrointestinal (GI). A comunidade específica de micróbios será diferente entre as seções do trato gastrointestinal, como esôfago, estômago, intestino delgado e cólon.

A composição do microbioma dentro do trato gastrointestinal é importante porque influencia desde a sua capacidade de absorver nutrientes específicos até a suscetibilidade a doenças e até mesmo a função cerebral. Há muitas pesquisas sendo feitas sobre o “eixo microbioma-intestino-cérebro”, que analisa como o microbioma medeia a comunicação entre nosso sistema nervoso e o intestino.

A maneira como você vive sua vida – o que você investe nela e como você se comporta – influencia a composição do seu microbioma. Por sua vez, o seu microbioma influencia a sua fisiologia e comportamento.

O microbioma está em constante mudança, automaticamente e sem o seu conhecimento, em resposta ao seu estilo de vida. Também pode ser alterado deliberadamente através da ingestão de nutrientes específicos necessários para o crescimento microbiano (prebióticos), semeando o seu intestino com “bactérias boas” (probióticos).

Não adianta comprar suplementos de probióticos ruins ou não alimentar adequadamente seu intestino. Os prebióticos são compostos dos alimentos que nutrem as células do microbioma intestinal. Eles são normalmente ricos em fibras e compostos fenólicos.

Antibióticos, anticoncepcionais, antiinflamatórios e medicamentos psiquiátricos também podem afetar o seu microbioma, na maior parte das vezes de forma negativa. Pesquisas também têm tentado entender a influência dos canabinóides no microbioma.

O sistema endocanabinóide (SEC) ajuda a regular e manter a homeostase na maioria dos tecidos do corpo. Os canabinóides endógenos e os receptores canabinóides são abundantes no intestino, onde ajudam a regular tudo, desde a inflamação intestinal até a motilidade (o movimento dos alimentos ao longo do trato gastrointestinal) e a permeabilidade (a extensão em que a água e os nutrientes são absorvidos do trato gastrointestinal para o corpo). A mudança na dieta pode alterar os níveis de endocanabinóides circulantes no corpo, o que pode influenciar a permeabilidade intestinal.

Como os endocanabinóides são moléculas derivadas de gordura, a composição de gordura da sua dieta está ligada aos níveis de endocanabinóides no seu corpo. Dado que os canabinóides endógenos podem influenciar o microbioma intestinal, sugere-se a possibilidade de que os canabinóides vegetais também o possam fazer.

Canabinóides vegetais (THC, CBD) e o microbioma intestinal

Os efeitos psicoativos do THC da maconha são produzidos através das suas interações com os receptores CB1 encontrados no cérebro. Embora os receptores CB1 estejam concentrados no cérebro, eles também são encontrados fora do sistema nervoso. O outro principal receptor canabinoide do corpo, o CB2, está concentrado mais fortemente fora do sistema nervoso, especialmente nas células do sistema imunológico. É em grande parte através das interações dos receptores CB2 nas células imunitárias que os canabinóides como o THC e o CBD influenciam a inflamação, muitas vezes produzindo um efeito anti-inflamatório.

O intestino tem uma grande concentração de células imunológicas, que regulam a inflamação e a permeabilidade intestinal. Condições como a doença inflamatória intestinal (DII) envolvem inflamação intestinal excessiva, levando a vários problemas gastrointestinais. A DII e outras doenças intestinais também estão associadas a alterações no microbioma intestinal. Canabinóides vegetais como THC e CBD estão atualmente sendo investigados por sua capacidade potencial de tratar sintomas de doenças intestinais como DII, modulando a inflamação intestinal e potencialmente através de alterações diretas no microbioma intestinal.

Em animais experimentais, foi demonstrado que a administração crônica de THC induz uma variedade de alterações nas células imunitárias do intestino e também pode alterar a composição do microbioma em certas partes do trato gastrointestinal de roedores. Ainda não se sabe se estes efeitos se traduzem nos seres humanos, assim como a eficácia clínica específica dos canabinóides vegetais como o THC e o CBD para doenças.

Quando canabinoides são ingeridos por via oral, eles passam pelo trato gastrointestinal e são metabolizados de maneira diferente de quando entram diretamente na corrente sanguínea (por exemplo, por inalação). Como resultado, os canabinóides consumidos por via oral provavelmente terão um efeito diferente na fisiologia intestinal em comparação com os canabinóides consumidos de outras formas. Mais pesquisas nesta área são necessárias. Acesse o curso de canabinologia na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Cuidados no uso de análogos de GLP-1

O GLP-1 (glucagon-like peptide-1) é uma incretina, uma substância produzida no intestino que tem muitas ações no organismo. Os papéis fisiológicos do GLP-1 mais estudados são aqueles relacionados à função das células das ilhotas pancreáticas. No entanto, o hormônio também desempenha papel em vários outros tecidos e órgãos, com várias possíveis implicações na saúde e na doença (Muskiet et al., 2017).

Por exemplo, o GLP-1 aumenta a queima de gordura (termogênese), melhora a captação de glicose no músculo (aumentando o rendimento físico), reduz a inflamação, melhora o funcionamento renal, cardíaco, hepático e até cerebral.

O GLP-1 também aumenta a saciedade, reduz a glicose, retarda o esvaziamento gástrico e diminui a vontade de comer, o que ajuda a prevenir a obesidade. Mas para todos estes efeitos, o intestino precisa estar super saudável. Falo mais sobre a modulação intestinal neste curso online.

Existe ainda uma produção de GLP-1 no cérebro, órgão que tem muitos receptores para este peptídio. Vários estudos mostraram a influência da GPL-1 em funções neuronais, como termogênese, controle da pressão arterial, neurogênese, neurodegeneração, reparo retiniano e homeostase energética. Além disso, a modulação da atividade do GLP-1 pode influenciar a agregação do peptídeo β amilóide na doença de Alzheimer (DA) e os níveis de dopamina (DA) na doença de Parkinson (DP).

Um estudo de coorte relatou que indivíduos obesos e com sobrepeso tiveram uma redução de 20% na resposta do GLP1 à glicose oral em comparação com indivíduos com peso normal (Færch et al., 2015). Assim, o uso de análogos (substâncias que imitam) seria interessante para um grupo de pacientes.

Os análogos de GLP-1 foram descobertos em 1992 por John Eng. Foi primeiramente comercializado pela AstraZeneca com o nome de Exenatida. Este primeiro medicamento análogo de GLP-1 ainda hoje é usado no tratamento do diabetes tipo 2.

Efeitos dos análogos de GLP-1

  • Controla saciedade, reduz apetite

  • Diminui ingestão calórica

  • Regeneração de células beta pancreáticas

  • Reduz liberação de glucagon

  • Diminui absorção de glicose

  • Melhora função cardiovascular

  • Reduz inflamação

Obesidade e diabetes: saxenda (liraglutida) a partir de 0,6 mg a 3 mg (uma injeção diária). Possui benefícios cardiovasculares comprovados (Marso et al., 2016). Existem outras marcas como ozempic, wegovy, trulicity, victoza. Contudo, 25% são extremamente sensíveis aos análogos de GLP-1 e apresentam muitos efeitos colaterais e 25% são não respondedores. Ou seja, funciona bem em 50% dos pacientes que precisam tratar sobrepeso e obesidade. Assim, outros medicamentos nunca devem ser descartados.

Entre os efeitos adversos estão a redução do esvaziamento gástrico e alteração de humor. Assim, muitos pacientes precisam associar a medicação a antidepressivos. Além disso, não existe tratamento da obesidade e diabetes apenas com medicação. As estratégias de estilo de vida são para sempre: dieta adequada, atividade física, gerenciamento do estresse, melhoria da qualidade do sono.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Usos da metformina

A metformina é um antidiabético oral da classe das biguanidas. É um dos medicamentos de escolha no tratamento do diabetes mellitus tipo 2 especialmente em pessoas obesas ou com sobrepeso. O uso e definição de dose é feito sob indicação e prescrição médica.

Nomes comerciais: Diaformin, dimefor, formet, glicefor, glicomet, glifage, glucoformin, glucophage, Jaira met, Meta SR, Metformed, Risidon, Stagid

Cuidados: metformina antes da refeição costuma causar desconforto gastrointestinal quando usado 20 minutos antes da refeição. Uma forma de contornar isso é usar junto à refeição. Além disso, o uso crônico reduz muito a vitamina B12, que é fundamental inclusive para memória e evitação da depressão. Por isso, suplementar este nutriente é importante.

Ação da metformina (Yerevanian, & Soukas, 2019)

  • Reduz absorção de glicose

  • Melhora a sensibilidade à insulina e leptina

  • Ativa a AMPK, reduzindo gliconeogênese hepática e aumentando oxidação lipídica

  • Reduz expressão de NPY (neuropeptídeo orexígeno)

  • Aumenta a expressão de POMC (neuropeptídeo anorexígeno)

  • Altera beneficamente a microbiota intestinal

  • Reduz depósitos de gordura no fígado e músculo esquelético

  • Modula o metabolismo lipídico

  • Inibe vias inflamatórias

  • Potencial efeito em processos celulares envolvidos na longevidade

Não quer, não pode ou não tem indicação de uso da medicação, mas quer melhorar o metabolismo e emagrecer? Use 1 colher de sopa de psyllium em 1 copo grande de água, 20 minutos antes da refeição para reduzir fome e aumentar saciedade. Fazer atividade física de resistência para ganhar músculo, reduzir o consumo de carboidrato e aumentar o consumo proteico. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/