Quetiapina, lítio e ganho de peso

A quetiapina é um remédio antipsicótico indicado para o tratamento da esquizofrenia ou transtorno bipolar. Age regulando os níveis de serotonina e dopamina no cérebro, que são neurotransmissores responsáveis pela comunicação entre os neurônios, controle das emoções, humor, memória e sono.

Doses baixas de quetiapina (10 a 15 mg) são usadas de forma aguda por algumas pessoas que fazem viagens longas internacionais para conseguirem dormir por 10 a 12 horas nos voos. Mas no tratamento do transtorno bipolar e esquizofrenia o uso é crônico e em altas doses (50 a 300 mg ao dia). O problema é que doses altas tem como efeito colateral boca seca, náuseas, tontura, cansaço e aumento do peso corporal.

O lítio, ou carbonato de lítio, é outro remédio indicado para o tratamento e controle de episódios de mania no transtorno bipolar ou para auxiliar no tratamento da depressão. É um estabilizador de humor que age diretamente no cérebro, estabilizando o humor.

Outros remédios que podem gerar ganho de peso: antidepressivos triciclicos (amitriptilina, amoxapina, imipramina), inibidores da MAO, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (paroxetina, sertralina, fluoxetina, citalopram).

Portanto, atividade física e dieta são muito importantes. Existem estudos mostrando que a dieta cetogênica ajudam a equilibrar neurotransmissores, controlar apetite e peso. Alguns médicos também associam o lítio com remédios que controlam apetite como ziprasidona (antipsicótico) ou zonisamida. A zonisamida é um antiepiléptico, atua como a dieta cetogênica, estabilizando as ondas cerebrais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Indicação da medicação na obesidade

Obesidade é uma doença associada à inúmeras alterações metabólicas. O tratamento é complexo e para sempre. Para sempre. Melhorias no estilo de vida são o pilar do tratamento da obesidade (atividade física, dieta, sono, gerenciamento do estresse, terapia comportamental). E existem os adjuvantes como cirurgia e uso de medicação para os que não conseguem emagrecer ou não conseguem manter o peso perdido.

Existem pacientes que precisarão de medicação a vida toda? Sim, como acontece na hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e outras. Por que? Porque são muitas as alterações metabólicas que precisarão ser mantidas sob controle.

Antes a indicação de medicação era IMC acima de 30kg/m2 ou 27 kg/m2 com dificuldade de perder ou manter o peso perdido ao longo do tempo. Mas esta indicação está ultrapassada.

No Annual meeting da American medical association (2023) o IMC é considerado uma medida imperfeita para fazer a análise da necessidade de fármacos. Não leva em consideração variações étnicas, idade, co-morbidades. Assim, deve ser usada em conjunto com fatores de risco, gordura visceral, índice de adiposidade, composição corporal, comorbidades, circunferência da cintura, fatores genéticos e metabólicos.

Existem vários guidelines (recomendações) mas não garantem desfecho e controle da obesidade. São bússolas e não algemas, devem ser mantidos em perspectiva e usados baseados nas evidências científicas e clínicas. O profissional escolhe as condutas também baseadas na individualidade do paciente e seus objetivos (ADA, 2022; Cornier, 2022; Ryan, 2016; Ryan, Kahan, 2018).

Centro da fome, saciedade e sede são muito próximos no hipotálamo. A sibutramina atua aumentando rapidamente a sensação de saciedade, fazendo com que a pessoa ingira menos alimentos durante o dia, o que leva ao emagrecimento. Além disso, este remédio também ajuda aumentar a termogênese e a acelerar o metabolismo, o que contribui ainda mais para a perda de peso. Contudo, não é usado na Europa, Canadá e EUA devido aos efeitos cardiovasculares em indivíduos obesos com doença arterial coronariana e hipertensão. Contra-indicada para pacientes com pressão alta.

O Brasil consome 50% da sibutramina no mundo, mas pacientes em uso de sibutramina devem ser monitorados periodicamente em relação a pressão sanguínea. Sibutramina também pode gerar síndrome serotoninérgica, especialmente quando associada a antidepressivos. Também não deve ser usada por pacientes com transtorno bipolar pois pode induzir mania.

Outros medicações podem ser indicadas já que a obesidade é associada a muitas alterações hormonais:
→ Deficiência congênita de leptina (obesidade tipo 1) - leptina é importante para saciedade e a falta dela gera fome incontrolável
→ Resistência à leptina (obesidade tipo 2) com mais fome
→ Diminuição de adiponectina com aumento da aterogênese e risco de diabetes e determinados tipos de câncer
→ Resistência à insulina
→ Aumento de Chemerin (receptor de vitamina A que regula #adipogênese, sensibilidade à #insulina e resposta imune)
→ Aumento de angiotensina 2
→ Aumento de inibidor do ativador do plasminogênio-1 (PAI-1)
→ Aumento de #interleucina-6 e inflamação
→ Alterações hormonais com redução da pulsatilidade do LH, redução de testosterona total e livre nos homens, redução de SHBG em mulheres, aumento de andrógenos e #testosterona livre em mulheres, diminuição de androstenediona, diminuição de Hormônio de crescimentos
#TSH normal ou ligeiramente aumentada.

Outros medicamentos podem ser utilizados. Efeito de diferentes medicamentos em indivíduos obesos.

O acompanhamento é multiprofissional. Estratégias vão sendo rodiziadas, medicação na mais baixa dose possível (para evitar habituação rápida), titulação da medicação (ajuste de dose, de forma lenta e bem pensada), combinação ou troca de drogas, quando necessário.

Referências:

Caffrey, Borrelli, 2021. The art and science of drug titration - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33796256/

Yli et al., 2022. Endocrine Changes in Obesity
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279053/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Chemerina e doenças autoimunes

A chemerina é uma proteína multifacetada descoberta em 2003. Atua como quimioatraente para células imunológicas, desempenhando um papel crucial nas respostas imunes inata e adaptativa. Além disso, é classificada como uma adipocina, influenciando processos como angiogênese, adipogÊnese e metabolismo energético. Estudos demonstram correlações positivas entre os níveis sistémicos de chemerina e fenótipos relacionados com a obesidade, como resistência à insulina, índice de massa corporal (IMC) e triglicerídeos séricos, sugerindo sua participação em doenças metabólicas. Os níveis séricos de chemerina aumentam em indivíduos acima do peso. Quanto maior os níveis de chemerina, pior o controle glicêmico e o aumento do risco de doenças inflamatórias e autoimunes.

No contexto da psoríase, uma doença inflamatória crônica da pele, observou-se que os níveis séricos de chemerina estão elevados em pacientes com psoríase em placas crônicas. Este aumento ocorre independentemente de fatores como idade, sexo e IMC, indicando uma ligação direta entre a chemerina e a inflamação associada à psoríase. Além disso, tratamentos com infliximab, um agente biológico, normalizaram os níveis de chemerina nestes pacientes, reforçando a sua relevância na patogênese da doença.

A chemerina é produzida principalmente por adipócitos e hepatócitos, mas também pode ser sintetizada por células imunes e endoteliais.

Funções da Chemerina:

  1. Regulação do Metabolismo: A chemerina influencia a sensibilidade à insulina, a gliconeogênese hepática e o metabolismo lipídico. Níveis elevados dessa proteína foram associados à resistência à insulina e a distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes tipo 2.

  2. Inflamação e Imunidade: Atua como um fator de atração para células do sistema imunológico, como macrófagos e células dendríticas. Dependendo do contexto, pode ter efeitos pró ou anti-inflamatórios.

  3. Angiogênese e Saúde Vascular: A chemerina estimula a formação de novos vasos sanguíneos e pode influenciar processos vasculares, contribuindo para condições como aterosclerose e hipertensão.

  4. Regulação da Pressão Arterial: Estudos sugerem que a chemerina pode afetar a pressão arterial de maneira dependente do gênero, sendo associada a disfunções cardiovasculares em algumas populações.

  5. Papel em Doenças Inflamatórias e Autoimunes: A chemerina tem sido investigada na psoríase, artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias crônicas, onde pode modular a resposta imunológica e inflamatória.

  6. Influência no Câncer: A proteína tem efeitos variáveis no desenvolvimento de tumores, podendo tanto promover a migração celular em alguns tipos de câncer quanto inibir o crescimento tumoral em outros.

A complexidade da chemerina está relacionada à sua ativação por diferentes proteases, que geram isoformas com efeitos distintos. A compreensão da modulação da chemerina é essencial para explorar seu potencial como alvo terapêutico em doenças metabólicas, inflamatórias e cardiovasculares.

Atualmente compreende-se que a redução da chemerina depende principalmente de melhorias no estilo de vida, incluindo:

A. Dieta

  • Reduza alimentos processados: alimentos processados ​​ricos em açúcar e gorduras não saudáveis ​​podem promover inflamação e aumentar os níveis de quemerina. Concentre-se na perda de peso sustentável em vez de dietas radicais.

  • Aumente a ingestão de fibras: grãos integrais, legumes, frutas e vegetais podem ajudar a regular o metabolismo e a inflamação.

  • Gorduras saudáveis: incorpore ácidos graxos ômega-3 (encontrados em peixes, sementes de linhaça e nozes) para combater a inflamação.

  • Limite gorduras saturadas e trans: encontradas em alimentos fritos, fast food e lanches processados, podem contribuir para níveis mais altos de quemerina.

  • Dieta anti-inflamatória: inclua açafrão, chá verde e alimentos ricos em polifenóis (por exemplo, frutas vermelhas, chocolate amargo).

B. Exercício

A chemerina está intimamente ligada ao tecido adiposo (gordura). Perder o excesso de peso por meio de dieta e exercícios pode reduzir significativamente seus níveis.

  • Exercício aeróbico: atividades regulares como caminhar, correr, andar de bicicleta ou nadar podem reduzir os níveis de quemerina.

  • Treinamento de força: exercícios de resistência ajudam a melhorar a sensibilidade à insulina e a saúde metabólica.

  • Consistência é a chave: tente fazer pelo menos 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana.

C. Higiene do sono e controle do estresse

  • Sono ruim e estresse crônico podem aumentar a inflamação e a disfunção metabólica, levando a níveis mais altos de chemerina. Pratique uma boa higiene do sono (7–9 horas por noite).

  • Controle o estresse com meditação, respiração profunda, yoga ou técnicas de relaxamento.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/