Microbiota e câncer colorretal

A microbiota intestinal desempenha um papel importante na manutenção do equilíbrio corporal. A disbiose (perturbação das comunidades de microorganismos) pode levar ao comprometimento da saúde do hospedeiro e ao aparecimento de doenças. Em comparação com indivíduos saudáveis, os pacientes com câncer de cólon e reto abrigam mais Bacteroidetes, Firmicutes e Fusobacteria e menos Proteobacteria.

A progressão do câncer tende a estar associada à proliferação de Fusobacterium, Peptostreptococcus, Streptococcus e Ruminococcus e ao declínio de Lactobacillus e Granulicatella. Foi relatado que uma exposição prolongada (≥2 meses) a antibióticos no início e na meia idade adulta está associada a um risco aumentado de adenoma colorretal aos 60 anos de idade. Isto porque os antibióticos modificam negativamente a microbiota.

Assinaturas de microbiota em câncer de cólon e reto (Torres-Maravilla et al., 2021)

A dieta tem um impacto significativo na estrutura da microbiota e também sofre metabolismo microbiano. Alguns metabólitos, como os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) e os derivados do indol, atuam como protectores contra o câncer, regulando as respostas imunitárias, enquanto outros podem promover a doença.

Fibras prebióticas são fundamentais para a manutenção de uma microbiota diversa, saudável e estável. Seguem algumas fontes nos alimentos e suplementos:

  • FOS - batata yacon, cebola, chicória, alho, aspargos, banana verde, alcachofra, jicama, suplementos (nem todos os pacientes toleram pois o FOS é bastante fermentável e muitos pacientes já podem estar com muitos gases).

  • Goma guar parcialmente hidrolisada - sementes de Cyamopsis tetragonoloba ou Cyamopsis psoraloides, nativas da Índia e em suplementos.

  • Goma acácia (goma arábica) - extraída da árvore acácia e presente em suplementos contendo este tipo de fibra.

  • Inulina - batata yacon, raiz de chicória, alcachofra, dente de leão, alho, alho-poró, aspargo, germe de trigo, banana verde e presente em suplementos de inulina.

  • Beta glucana - extraída de aveia, cevada, sorgo e centeio ou presente em suplementos de beta glucana.

  • Amido resistente - da banana verde, biomassa de banana verde ou farinha de banana verde.

  • Polidextrose - fibra produzida em laboratórios e usada como aditivo alimentar ou em suplementos contendo polidextrose.

  • GOS - encontrado em leguminosas (soja, feijões, ervilha, grão de bico), castanha de caju, pistache, aveia ou em suplementos.

  • XOS - mel, vegetais, brotos de bambu ou em suplementos.

Estas fibras servem como nutriente para a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), do inglês SCFAs, principalmente acetato, propionato e butirato.

Os AGCC atuam como inibidores da histona desacetilase (HDAC) e ligantes de receptores acoplados à proteína G (GPCRs), levando à expansão e diferenciação de células T reguladoras FOXP3+ (Treg), acompanhadas por regulação positiva de IL-10 imunossupressora e fator de crescimento transformador beta (TGF-β), regulação negativa de citocinas pró-inflamatórias em macrófagos e neutrófilos e inibição da diferenciação em relação às células T auxiliares tipo 17 (Th17), suprimindo assim a inflamação e a carcinogênese.

Os AGGCC, especialmente o butirato, poderiam influenciar as respostas antitumorais das células T CD8+, regulando as vias de sinalização nas células dendríticas (DC), envolvendo IL-12, IL-27 e IFN-β, que também têm impacto na terapia combinada de tumor. Além disso, os AGCC inibiram diretamente os tumores ao inibir o HDAC. Em relação às suas outras propriedades protetoras, os AGCC poderiam aumentar a secreção de mucina, melhorar a integridade epitelial ativando o inflamassoma e ativar a via do receptor γ ativado por proliferador de peroxissoma (PPAR-γ), que mantém condições anaeróbicas, desfavoráveis ao tumor.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Espessantes no tratamento da disfagia (dificuldade de engolir)

Engolir é um processo muito complexo e, quando uma pessoa perde essa capacidade, problemas como desnutrição e desidratação podem se instalar. Aumenta também o risco de pneumonia aspirativa e morte.

Quando você engole, o alimento ou líquido sai da boca, desce pela parte posterior da garganta, passa pelo esôfago e chega ao estômago. Pessoas com disfagia podem ter problemas em qualquer estágio do processo normal de deglutição.

Disfagia significa, simplesmente, dificuldade para engolir. Pode ocorrer por problemas anatômicos ou fisiológicos na boca, faringe, laringe ou esôfago. Também é mais comum nas situações abaixo:

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC). O derrame pode gerar dificuldade para engolir, que pode persistir por meses ou anos. A redução da alimentação gera fraqueza, perda de peso, perda de massa muscular e óssea, alterações do nível de consciência. Aumenta o risco de pneumonia aspirativa e a mortalidade do paciente.

  • Envelhecimento. A diminuição da massa muscular e da elasticidade do tecido conjuntivo resulta em perda de força e amplitude de movimento. Essas alterações relacionadas à idade podem impactar negativamente o fluxo dos materiais deglutidos através do trato aerodigestivo superior. Uma forma de prevenir isso é cantar. Isso mesmo, cante e fortaleça a musculatura da garganta. Outra questão relacionada ao envelhecimento é a menor produção de saliva, que afeta a capacidade de deglutição.

  • Traumatismo craniano e doenças neurológicas são frequentemente acompanhadas de disfagia. Incluem Parkinson, paralisia cerebral, esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig), esclerose múltipla, paralisia supranuclear progressiva, doença de Huntington, miastenia grave, paralisia cerebral.

  • Tumor esofágico, obstrução da garganta ou esôfago, radiação de cabeça e/ou pescoço para tratamento do câncer.

  • Esofagite eosinofílica. Condição inflamatória crônica que gera inchaço do revestimento do esôfago, tubo que conecta a parte posterior da garganta ao estômago, por onde passam alimentos e líquidos após serem engolidos.

  • Ataxia cerebelar.

Sinais e sintomas associados à disfagia

  • dor ao engolir

  • incapacidade de engolir

  • regurgitação

  • sensação de comida presa na garganta, no peito ou atrás do esterno

  • salivação excessiva ou dificuldade em engolir a baba

  • rouquidão

  • azia ou refluxo estomacal

  • tosse ou engasgo ao engolir

Tratamento da disfagia

O tratamento da disfagia depende da causa do problema. Pode incluir terapia fonoaudiológica, medicação para tratamento de refluxo, mudanças na consistência da dieta, uso de terapia enteral, inclusão de espessantes nos líquidos, cirurgia corretiva de questões anatômicas, medicações ou injeções para relaxamento muscular, tratamento do câncer. A consistência, textura e viscosidade dos alimentos pode ser um empecilho para a alimentação de pacientes com disfagia.

Os espessantes são substâncias que conferem aumento da viscosidade do alimento, sem nenhuma interferência nas suas propriedades. Existem fórmulas espessantes especialmente criadas para cada caso, garantindo a estabilização da disfagia e a normalização dos procedimentos alimentares.

Ingredientes dos espessantes disponíveis no Brasil

  • BioSen (Organutri): amido de milho modificado.

  • Espessamais (maiscare): amido de milho modificado.

  • Espefor (Vitafor): amido de milho e maltodextrina.

  • Espessare (Nutricium): amido modificado e maltodextrina.

  • Instanth Clear (Prodiet): maltodextrina, goma xantana e goma guar.

  • Nutilis (Danone): maltodextrina, amido de milho modificada, goma tara, goma xantana e goma guar.

  • ThickenUp clear (Nestle): maltodextrina, espessante goma xantana e gelificante cloreto de potássio.

  • Sustap (Probene): amido de milho modificado.

O problema de todas as marcas acima é que contém algum tipo de carboidrato capaz de elevar a glicemia (Olausson, & Kilander, 2008). Isto deve ser computado na dieta dos pacientes, especialmente aqueles com resistência insulínica, diabetes ou cujas doenças beneficiam-se de baixos teores de insulina ou mesmo cetose. É o caso de pacientes com tumores de cérebro, pacientes com declínio cognitivo, Alzheimer e ataxias.

Os espessantes menos seguros são os que contém amido. Mas estes são mais baratos. Os mais seguros são os que contém goma xantana. O Thicken Up Clear e o Instanth Clear são espessantes que não alteram cor, sabor e cheiro dos alimentos quentes ou frios. Esse produtos podem ser utilizados em alimentos líquidos como sucos, leite, água, caldos entre outros, acrescentado apenas ao final da preparação, assim que estiver pronto para consumo, para garantir suas propriedades. Contudo, contém maltodextrina, um açúcar capaz de aumentar a glicemia.

Uma opção é substituir os espessantes comerciais por goma xantana pura, uma vez que ela não impacta negativamente a concentração de açúcar no sangue (Nagasawa et al., 2022). A goma xantana é um polissacarídeo cuja espinha dorsal é composta de celulose com ramos dos de galactose e manose. Assim como o amido, a xantana também cria viscosidade em uma ampla variedade de temperaturas. Recentemente, os produtores começaram a clarificar a xantana para torná-la mais transparente e auxiliar na sua funcionalidade para pacientes com disfagia. Em comparação com o amido, a xantana hidrata-se mais rapidamente, requer menos produto para obter maior viscosidade e é mais estável ao longo do tempo.

É necessário muito menos xantana para atingir a consistência desejada ao engrossar uma bebida, e os pacientes são menos propensos a aspirar líquidos espessados com xantana quando comparados com líquidos espessados com amido. O amido continua a engrossar com o tempo, e uma bebida misturada com consistência de néctar pode desenvolver consistência de mel no momento de ser servida. A xantana mantém uma viscosidade mais estável do que o amido ao longo do tempo, proporcionando aos cuidadores mais flexibilidade na preparação e serviço de alimentos e bebidas, bem como dando aos pacientes mais tempo para consumi-los com segurança.

À medida que o calor aumenta, o amido incha e engrossa, enquanto a xantana permanece mais estável. O congelamento de produtos amiláceos seguido de descongelamento pode resultar na separação do amido do líquido, aumentando o risco de aspiração. Xantana mantém sua consistência durante o congelamento e descongelamento sem se separar, podendo também ser usada no preparo de pães ou bolos cetogênicos ou com baixo teor de carboidratos.

Além disso, a saliva humana contém uma enzima chamada amilase. A amilase decompõe a amilose e a amilopectina – os dois componentes do amido – separando o amido da água e diluindo a bebida. Um paciente com disfagia geralmente leva mais tempo para comer do que alguém que não apresenta distúrbio de deglutição. Quanto mais tempo a saliva fica exposta ao produto amiláceo, mais o amido se decompõe e mais separação ocorre entre o líquido e o agente espessante. Os produtos com goma xantana são resistentes à amilase, portanto, diferentemente do amido, a enzima não tem efeito sobre a molécula de xantana, reduzindo o risco de aspiração (Hadde et al., 2021).

A quantidade de goma xantana que você usará depende do grau de disfagia do paciente e da espessura desejada para o líquido. Em geral, você usará uma proporção em peso de 0,1% para espessamento leve até uma proporção de 1,0% para um molho muito espesso. Começar com doses baixas e ir aumentando gradativamente, conforme a necessidade, preferencialmente com acompanhamento de fonoaudiologia para avaliação do grau de disfagia e segurança do consumo de alimentos e bebidas via oral. Se precisar de acompanhamento nutricional, marque aqui sua consulta online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

TEM DEPRESSÃO? ALIMENTOS A CONSUMIR E ALIMENTOS A EVITAR

Um estudo de 2022 publicado no Journal da Universidade de Cambridge, Public Health Nutrition, relacionou o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados com sintomas adversos de saúde mental. O estudo descobriu que as pessoas que comem maiores quantidades de alimentos ultraprocessados eram significativamente mais propensas a relatar depressão leve e/ou um aumento de dias com problemas mentais ou de ansiedade por mês.

Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias como óleos, gorduras, farinhas e açúcares. Podem também conter produtos sintéticos derivados de óleo ou carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, aditivos). Exemplos típicos são os famosos “junk food”, comidas rápidas como cereais matinais, batatas fritas, bebidas açucaradas, biscoitos, bolos, doces, refrigerantes, pães, alimentos tipo fast food.

O estudo analisou dados relatados por 10.359 adultos norte-americanos na Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição. Nesta pesquisa, os participantes responderam perguntas relacionadas a dados demográficos, saúde e recordatório alimentar de 24 horas. Os pesquisadores então classificaram os participantes em cinco grupos com base na porcentagem de calorias consumidas a partir de alimentos ultraprocessados.

Para avaliar os sintomas de depressão, o estudo analisou as respostas dos participantes ao PHQ-9, um questionário padronizado utilizado para rastrear a depressão. Também analisou as respostas dos participantes às seguintes perguntas: “Durante os últimos 30 dias, quantos dias a sua saúde mental não esteve boa?” e “Durante os últimos 30 dias, quantos dias você se sentiu preocupado, tenso ou ansioso?”

Os pesquisadores usaram as informações demográficas da pesquisa para ajustar idade, sexo, etnia, IMC, nível de pobreza, tabagismo e atividade física. Em última análise, o estudo descobriu que os indivíduos com maior consumo de alimentos ultraprocessados eram significativamente mais propensos a ter depressão leve do que aqueles que consumiam poucos alimentos ultraprocessados.

Este estudo é mais uma prova num crescente corpo de investigação que liga os alimentos ultraprocessados a problemas de saúde mental e cognição. Uma das teorias é que alimentos ruins geram alterações no metabolismo e no funcionamento das mitocôndrias.

Que alimentos devem ser consumidos para evitar a depressão?

Vários alimentos contribuem para um cérebro mais saudável, um humor mais estável e uma memória aprimorada. Dentre eles estão:

1) Fontes de gorduras monoinsaturadas como abacate e azeite de oliva extra virgem

2) Lentilhas e grão de bico

3) Peixes ricos em ômega-3 como sardinha e salmão

4) Castanhas, nozes e sementes

5) Kefir e outros alimentos fermentados

6) Alimentos roxos ricos em antocianidinas, como açaí, repolho roxo, berinjela, mirtilos, amoras

7) Cacau e chocolate acima de 74%

8) Vegetais verde escuros, fontes de B9 e magnésio

9) Açafrão e pimenta

Todas as estratégias de tratamento mental e metabólico estão interligadas. Entenda a melhoria da sua saúde mental e metabólica como uma jornada. Tenha paciência, seja bondoso consigo mesmo, cerque-se de profissionais competentes.

Lembre: não faça a ajustes de medicamentos por conta própria, sem a supervisão do seu médico. Profissionais de saúde interessados em nutrição podem aprender o passo a passo da dieta cetogênica terapêutica na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/