Engolir é um processo muito complexo e, quando uma pessoa perde essa capacidade, problemas como desnutrição e desidratação podem se instalar. Aumenta também o risco de pneumonia aspirativa e morte.
Quando você engole, o alimento ou líquido sai da boca, desce pela parte posterior da garganta, passa pelo esôfago e chega ao estômago. Pessoas com disfagia podem ter problemas em qualquer estágio do processo normal de deglutição.
Disfagia significa, simplesmente, dificuldade para engolir. Pode ocorrer por problemas anatômicos ou fisiológicos na boca, faringe, laringe ou esôfago. Também é mais comum nas situações abaixo:
Acidente Vascular Cerebral (AVC). O derrame pode gerar dificuldade para engolir, que pode persistir por meses ou anos. A redução da alimentação gera fraqueza, perda de peso, perda de massa muscular e óssea, alterações do nível de consciência. Aumenta o risco de pneumonia aspirativa e a mortalidade do paciente.
Envelhecimento. A diminuição da massa muscular e da elasticidade do tecido conjuntivo resulta em perda de força e amplitude de movimento. Essas alterações relacionadas à idade podem impactar negativamente o fluxo dos materiais deglutidos através do trato aerodigestivo superior. Uma forma de prevenir isso é cantar. Isso mesmo, cante e fortaleça a musculatura da garganta. Outra questão relacionada ao envelhecimento é a menor produção de saliva, que afeta a capacidade de deglutição.
Traumatismo craniano e doenças neurológicas são frequentemente acompanhadas de disfagia. Incluem Parkinson, paralisia cerebral, esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig), esclerose múltipla, paralisia supranuclear progressiva, doença de Huntington, miastenia grave, paralisia cerebral.
Tumor esofágico, obstrução da garganta ou esôfago, radiação de cabeça e/ou pescoço para tratamento do câncer.
Esofagite eosinofílica. Condição inflamatória crônica que gera inchaço do revestimento do esôfago, tubo que conecta a parte posterior da garganta ao estômago, por onde passam alimentos e líquidos após serem engolidos.
Ataxia cerebelar.
Sinais e sintomas associados à disfagia
dor ao engolir
incapacidade de engolir
regurgitação
sensação de comida presa na garganta, no peito ou atrás do esterno
salivação excessiva ou dificuldade em engolir a baba
rouquidão
azia ou refluxo estomacal
tosse ou engasgo ao engolir
Tratamento da disfagia
O tratamento da disfagia depende da causa do problema. Pode incluir terapia fonoaudiológica, medicação para tratamento de refluxo, mudanças na consistência da dieta, uso de terapia enteral, inclusão de espessantes nos líquidos, cirurgia corretiva de questões anatômicas, medicações ou injeções para relaxamento muscular, tratamento do câncer. A consistência, textura e viscosidade dos alimentos pode ser um empecilho para a alimentação de pacientes com disfagia.
Os espessantes são substâncias que conferem aumento da viscosidade do alimento, sem nenhuma interferência nas suas propriedades. Existem fórmulas espessantes especialmente criadas para cada caso, garantindo a estabilização da disfagia e a normalização dos procedimentos alimentares.
Ingredientes dos espessantes disponíveis no Brasil
BioSen (Organutri): amido de milho modificado.
Espessamais (maiscare): amido de milho modificado.
Espefor (Vitafor): amido de milho e maltodextrina.
Espessare (Nutricium): amido modificado e maltodextrina.
Instanth Clear (Prodiet): maltodextrina, goma xantana e goma guar.
Nutilis (Danone): maltodextrina, amido de milho modificada, goma tara, goma xantana e goma guar.
ThickenUp clear (Nestle): maltodextrina, espessante goma xantana e gelificante cloreto de potássio.
Sustap (Probene): amido de milho modificado.
O problema de todas as marcas acima é que contém algum tipo de carboidrato capaz de elevar a glicemia (Olausson, & Kilander, 2008). Isto deve ser computado na dieta dos pacientes, especialmente aqueles com resistência insulínica, diabetes ou cujas doenças beneficiam-se de baixos teores de insulina ou mesmo cetose. É o caso de pacientes com tumores de cérebro, pacientes com declínio cognitivo, Alzheimer e ataxias.
Os espessantes menos seguros são os que contém amido. Mas estes são mais baratos. Os mais seguros são os que contém goma xantana. O Thicken Up Clear e o Instanth Clear são espessantes que não alteram cor, sabor e cheiro dos alimentos quentes ou frios. Esse produtos podem ser utilizados em alimentos líquidos como sucos, leite, água, caldos entre outros, acrescentado apenas ao final da preparação, assim que estiver pronto para consumo, para garantir suas propriedades. Contudo, contém maltodextrina, um açúcar capaz de aumentar a glicemia.
Uma opção é substituir os espessantes comerciais por goma xantana pura, uma vez que ela não impacta negativamente a concentração de açúcar no sangue (Nagasawa et al., 2022). A goma xantana é um polissacarídeo cuja espinha dorsal é composta de celulose com ramos dos de galactose e manose. Assim como o amido, a xantana também cria viscosidade em uma ampla variedade de temperaturas. Recentemente, os produtores começaram a clarificar a xantana para torná-la mais transparente e auxiliar na sua funcionalidade para pacientes com disfagia. Em comparação com o amido, a xantana hidrata-se mais rapidamente, requer menos produto para obter maior viscosidade e é mais estável ao longo do tempo.
É necessário muito menos xantana para atingir a consistência desejada ao engrossar uma bebida, e os pacientes são menos propensos a aspirar líquidos espessados com xantana quando comparados com líquidos espessados com amido. O amido continua a engrossar com o tempo, e uma bebida misturada com consistência de néctar pode desenvolver consistência de mel no momento de ser servida. A xantana mantém uma viscosidade mais estável do que o amido ao longo do tempo, proporcionando aos cuidadores mais flexibilidade na preparação e serviço de alimentos e bebidas, bem como dando aos pacientes mais tempo para consumi-los com segurança.
À medida que o calor aumenta, o amido incha e engrossa, enquanto a xantana permanece mais estável. O congelamento de produtos amiláceos seguido de descongelamento pode resultar na separação do amido do líquido, aumentando o risco de aspiração. Xantana mantém sua consistência durante o congelamento e descongelamento sem se separar, podendo também ser usada no preparo de pães ou bolos cetogênicos ou com baixo teor de carboidratos.
Além disso, a saliva humana contém uma enzima chamada amilase. A amilase decompõe a amilose e a amilopectina – os dois componentes do amido – separando o amido da água e diluindo a bebida. Um paciente com disfagia geralmente leva mais tempo para comer do que alguém que não apresenta distúrbio de deglutição. Quanto mais tempo a saliva fica exposta ao produto amiláceo, mais o amido se decompõe e mais separação ocorre entre o líquido e o agente espessante. Os produtos com goma xantana são resistentes à amilase, portanto, diferentemente do amido, a enzima não tem efeito sobre a molécula de xantana, reduzindo o risco de aspiração (Hadde et al., 2021).
A quantidade de goma xantana que você usará depende do grau de disfagia do paciente e da espessura desejada para o líquido. Em geral, você usará uma proporção em peso de 0,1% para espessamento leve até uma proporção de 1,0% para um molho muito espesso. Começar com doses baixas e ir aumentando gradativamente, conforme a necessidade, preferencialmente com acompanhamento de fonoaudiologia para avaliação do grau de disfagia e segurança do consumo de alimentos e bebidas via oral. Se precisar de acompanhamento nutricional, marque aqui sua consulta online.