"Maçã me dá fome"

Nem sei quantas vezes já ouvi isso e, se isso é verdade para você, programe melhor suas refeições. Afinal, não adianta comer uma linda maçã e depois, voar em um pacote de biscoitos recheados.

Um dos motivos de frutas abrirem o apetite é o fato de serem ricas em açúcares naturais. Após a absorção deste açúcar a tendência é que a glicemia suba. Para reverter o processo, o pâncreas libera insulina na corrente sanguínea. Este hormônios abre as portas das células para o açúcar entrar. Com isso, a quantidade de glicose no sangue cai. Quando isto acontece, sentimos fomes novamente.

Assim, ao invés de comer a fruta sozinha, adicione à sua refeição algo com mais proteína e gordura. Esta estratégia fará a digestão ser mais lenta, o que contribui para a saciedade. Proteínas e gorduras também ajudam no controle da glicemia e dos níveis de insulina.

Você pode combinar a fruta com:

Você também pode optar por outros lanches saudáveis, como: (1) cenouras ou palitos de aipo com humos de grão de bico, (2) queijo cottage com frutas e nozes, (3) maçãs ou peras fatiadas com pasta de amendoim ou amêndoas, (4) iogurte proteico ou iogurte grego ou iogurte de coco com sementes (girassol, abóbora, chia, linhaça), (5) edamame, com castanhas e tangerina, (6) mix de castanha (caju, Pará, pistaches, nozes) e 2 quadrados de chocolate 85%, (7) ovos de codorna e fatias de pepino, (8) pão de linhaça e guacamole, (9) pão de psyllium e patê de atum, (10) snack de grão de bico torrado.

Estes lanches são ricos em fibras, contribuindo para um intestino saudável e uma microbiota feliz.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Suplementação na esclerose múltipla

A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune que afeta mais de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo. Os diagnósticos são mais comuns entre pessoas na faixa dos 20 e 30 anos, no entanto, você pode ser diagnosticado mais tarde na vida.

A EM ocorre quando o sistema imunológico ataca a camada protetora que envolve os nervos, a famosa mielina. Isso atrasa a comunicação entre o cérebro e diferentes partes do corpo.

Não acredite que nada pode ser feito e que a única solução é a medicação. A resposta exagerada do sistema imune foi desencadeada por algum gatilho.

Possíveis causas da esclerose múltipla

Haplótipos são uma combinação de polimorfismos de nucleotídeo único (mudança de um par de bases em uma sequência) que ocorrem juntos e são herdados do pai ou mãe. Os pesquisadores estudaram a associação de haplótipos que ocorrem nas regiões ao redor do gene HLA com o aumento do risco de EM. O haplótipo a1, que ocorre próximo ao gene HLA-DRB1, está mais significativamente associado à EM. Outros haplótipos incluem EOMES, que está envolvido no crescimento de células T, e ZFP36L1 e CLEC16A, que estão associados à ativação celular.

O haplótipo H plus, que carrega duas das variantes de risco conhecidas de EM, aumenta significativamente o risco de suscetibilidade à EM. Uma coleção de vários haplótipos (até 9) é chamado haplótipo extendido e aumenta bastante a suscetibilidade à EM. Quando pessoas com determinados perfis genéticos encontram gatilhos, o resultado pode ser a esclerose múltipla.

Os episódios monofocais geralmente resultam em apenas um sintoma causado por uma única lesão na mielina. Os ataques multifocais resultam em mais de um sinal ou sintoma e são frequentemente causados por lesões em múltiplas áreas.

Contudo, o mais comum é o surgimento de novos ataques (recaídas ou exacerbações) que causam novos sintomas, seguidos por períodos de alívio parcial ou completo dos sintomas.

Sinais e sintomas da esclerose múltipla

Os pacientes frequentemente queixam-se de fadiga, problemas de visão, problemas intestinais e de bexiga, dormência e problemas neurológicos, como confusão mental, queda na libido, dificuldade de caminhar ou no equilíbrio, sensação de queimação ou pontadas nas pernas, pés, braços e mãos, rigidez muscular, dormência nos pés, formigamento, movimentos repentinos e incontroláveis nos braços e pernas, problemas de visão por inflamação do nervo óptico, prisão de ventre ou impactação fecal. Tudo isso pode sim assustar e alterações de humor ou mesmo depressão podem surgir.

Diagnóstico da esclerose múltipla

Não existe um teste único disponível para diagnosticar a esclerose múltipla. Se você suspeita da doença deve procurar um clínico geral, médico da família, neurologista e oftalmologista para conversar. Os médicos farão a avaliação da função nervosa, ocular e poderão recomendar uma ressonância magnética para avaliar ondas cerebrais, punção lombar ou exames de sangue para descartar outras condições, como lúpus e deficiências nutricionais.

O que causa a esclerose múltipla?

A combinação genética + ambiente é suficiente para gerar uma alteração no comportamento do sistema imune. Dentre os fatores ambientais que podem atuar como gatilhos para a doença estão:

1. Intestino gotejante/hiperpermeaável (leaky gut)

O intestino abriga 80% do sistema imunológico. Não há ter imunidade perfeita com um intestino que não funcione bem. O intestino hiperpermeável perde a integridade e permite que substâncias indesejáveis cheguem à corrente sanguínea.

Existem muitas causas para a hiperpermeabilidade intestinal, incluindo uso de medicamentos (como antiinflamatórios não esteroidais), estresse crônico, falta de micronutrientes, alterações na microbiota intestinal, exposição à alérgenos alimentares, pesticidas, conservantes alimentares, doença celíaca, quimioterapia, uso de álcool.

O glúten é uma proteína encontrada no trigo e em alguns grãos. De acordo com o gastroenterologista Alessio Fasano, o glúten é o principal culpado do intestino permeável porque desencadeia a liberação de zonulina no intestino, uma substância química que diz ao revestimento do intestino para “se abrir”.

Metais pesados, toxinas, drogas, infecções causadas por bactérias, vírus são também gatilho para asdoenças auto-imunes. Epstein-Barr (o vírus que causa mononucleose), Herpes Simplex 1 e 2, a bactéria E. coli, são exemplos de microorganismos associados às doenças autoimunes.

Vírus como Epstein-Barr e herpes simplex nunca saem do seu sistema. No entanto, você pode suprimi-los garantindo que seu sistema imunológico esteja saudável. A infecção pode tornar-se ativa novamente quando o sistema imunológico é suprimido por estresse ou doença. Uma vez ativo o vírus, a resposta imune inflamatória danifica o tecido, o que causa mais inflamação e uma resposta maior do sistema imunológico. A doença autoimune se desenvolve a partir desse estado crônico de inflamação.

O estresse crônico é outro fator que desregula a imunidade e contribui para hiperpermeabilidade intestinal, fadiga adrenal, insônia, doenças cardíacas, ansiedade e doenças autoimunes.

Passo a passo do tratamento nutricional

Além da medicação prescrita pelo seu nutricionista e do gerenciamento do estresse (com atividade física, sono de qualidade, horas de lazer, terapia, yoga etc), você deve cuidar da alimentação. Os principais objetivos são:

1) Manter o intestino saudável. Para isso, precisará reduzir na dieta o que te faz mal, repor o que está faltando (como betaína HCl e enzimas digestivas), reparar a barreira intestinal, reinocular bactérias probióticas, consumir mais fibras, hidratar-se bem. Para individualização de sua dieta e suplementação marque uma consulta online. Evacue todos os dias. Lembre que o intestino é um importante órgão de desintoxicação.

2) Livre-se dos alérgenos. Qualquer alimento que não caia bem, que piore sintomas gastrointestinais, cognitivos e bem estar geral devem ser removidos. Ultraprocessados, glúten e álcool estão no topo da lista.

3) Investigue o contato com toxinas. Consuma, sempre que possível, alimentos orgânicos, frango caipira, use filtros de água para remover sujidades e bactérias. Além disso, cuidado com cosméticos e produtos de limpeza. Use os produtos mais naturais possível.

4) Desinflame. Ômega-3, vitamina D, açafrão, orégano, canela, cravo, chá verde, alecrim, açaí, cacau, cominho, salsinha, manjericão, curry, sálvia, gengibre, tomilho, hortelão devem estar mais presentes em sua dieta.

5) Corrija carências nutricionais. Uma boa imunidade depende de muitos nutrientes.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dietas cetogênicas no tratamento do câncer

Já em 500 aC, o jejum era usado como um tratamento eficaz para muitas doenças. Em 1910, Guelpa e Marie propuseram o jejum como tratamento contra a epilepsia. E funcionou. Em 1921, Woodyatt observou que dietas com alto teor de gordura e baixo teor de carboidratos em indivíduos sem comorbidades médicas significativas produziam acetona e β-hidroxibutirato, 2 fontes de energia produzidas pelo fígado na ausência de glicose. Hoje sabemos que estas substâncias possuem potencial antioxidante, antiinflamatório e antitumoral.

O termo dieta cetogênica (KD) foi cunhado por Wilder e Peterman. Os investigadores relataram melhorias na saúde mental e na cognição de pacientes seguindo dietas restritas em carboidratos e ricas em gordura. De fato, hoje esta dieta também é usada no tratamento do declínio cognitivo e do Alzheimer.

Dieta cetogênica no tratamento de pacientes oncológicos

Em 1922, Braunstein observou que a glicose desaparecia da urina de pacientes com diabetes após o diagnóstico de câncer, sugerindo que a glicose é recrutada para áreas cancerosas onde é consumida em taxas mais altas do que o normal. Durante esse mesmo período, o Prêmio Nobel Otto Warburg descobriu que as células cancerígenas produzem altas quantidades de lactato a partir da glicose, mesmo na presença de oxigênio abundante. Warburg conduziu muitos experimentos in vitro e em animais demonstrando esse resultado, conhecido como efeito Warburg.

A glicose estimula o pâncreas a liberar insulina, hormônio que permite que a glicose entrar nas células. Com alta ingestão de carboidratos e glicose, o pâncreas secreta cada vez mais insulina, o que promove a interação dos receptores do hormônio do crescimento para produzir o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) no fígado, promovendo o crescimento e a proliferação celular, o que pode ser prejudicial para pacientes com câncer.

A superexpressão dos transportadores de glicose 1 e 3 (Glut-1, Glut-3) também ocorre em muitos cânceres e corresponde ao grau de captação de glicose em tumores agressivos, conforme observado na tomografia por emissão de pósitrons (PET).

Já, quando a glicose é escassa, o corpo sente a necessidade de produzir uma forma alternativa de energia para as células. O fígado então produz cetonas e ácidos graxos, que fornecem energia para as células saudáveis, mas não beneficiam as células cancerígenas. As células cancerígenas têm mitocôndrias disfuncionais e possivelmente defeitos na cadeia de transporte de elétrons, que interrompem a produção normal de trifosfato de adenosina (ATP) da mitocôndria. O resultado é que as células cancerígenas tornam-se fortemente dependentes do ATP proveniente do processo menos eficiente produção de ácido lático, por meio de fermentação.

A produção excessiva de lactato, que faz parte do efeito Warburg, compensa os defeitos de produção de ATP causados pela fosforilação oxidativa mitocondrial disfuncional. As dietas cetogênicas retardam o câncer ao inibir a insulina/IGF e as vias de sinalização intracelular a jusante, como fosfoinositídeo 3-quinase (PI3K)/proteína quinase B (Akt)/alvo mamífero da rapamicina (mTOR).

As dietas cetogênicas também amplificam a adenosina monofosfato – proteína quinase ativada (AMPK), que inibe a glicólise aeróbica e suprime a proliferação, invasão e migração tumoral.

O paciente deve ser acompanhado por profissionais experientes para evitar ou corrigir possíveis efeitos colaterais como perda de peso excessiva, tontura, queda da pressão arterial, constipação ou pedras nos rins. Caso necessite de ajuda marque aqui sua consulta de nutrição online.

Em um estudo piloto, Schmidt e colaboradores (2011) forneceram a dieta cetogênica e shakes de gordura e proteína como lanches para 7 de 16 pacientes com uma variedade de cânceres metastáticos avançados. Os níveis de colesterol no sangue permaneceram estáveis, algumas medidas de qualidade de vida melhoraram e não houveram complicações graves.

Dados de segurança e viabilidade de várias pesquisas sugerem que pacientes com câncer podem tolerar o uso da dieta cetogênica e que esta melhora os efeitos das terapias convencionais, assim como reduz os efeitos tóxicos da quimioterapia e radioterapia, assim como maximiza os efeitos da imunoterapia.

Estudo com pacientes com câncer de próstata mostrou que a dieta cetogênica não aumenta o risco cardiovascular, sendo uma possibilidade neste grupo (Freedland et al., 2021). Combinar essa abordagem dietética com opções quimioterápicas e radioterapêuticas padrão pode ajudar a melhorar a resposta do tumor e mais pesquisas são urgentemente necessárias (Tan-Shalaby, 2017).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/