Genômica do esporte para maior desempenho nas corridas

A medicina e a nutrição esportiva evoluíram a tal ponto que hoje é possível que cada atleta tenha acesso ao sequenciamento de todo o seu genoma. Seu DNA abriga toda a sua informação hereditária e analisando suas variações únicas é possível prever o tipo de dieta e de treinamento que melhor adaptam-se ao seu perfil e garantem mais saúde e maior desempenho.

Treino e dieta individualizados também fazem a diferença na qualidade de vida, ampliando as chances de uma velhice saudável e livre de doenças evitáveis como diabetes, infartos e derrames. 

O desempenho esportivo depende de fatores ambientais e genéticos. Um jovem atleta começa a treinar lá na infância, com as brincadeiras feitas em casa. O ambiente favorável e lúdico soma-se à genética para que, na fase atual, determinado desempenho seja demonstrado. Algumas pessoas possuem características genéticas que favorecem mais alto desempenho. Por exemplo, um corredor com comprimento maior de membro inferior pode também ter um comprimento de passada maior, quando comparados a corredores de menor estatura. Isso não quer dizer que corredores mais baixinhos não possam correr rápido, mas neste caso precisarão fazer uma compensação com aumento da frequência de passadas. Pode também tentar manter-se mais leve do que corredores maiores, o que torna a corrida mais fácil.

Existem várias estratégias a se adotar para o emagrecimento e possível aumento de desempenho de corredores mais baixos. E nisso, o exame genético pode ajudar. Pelo perfil genético conseguimos descobrir se um atleta metaboliza melhor ou pior nutrientes como carboidratos ou lipídios.  

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Atletas que não metabolizam bem carboidratos mas metabolizam bem gorduras podem se beneficiar de dieta cetogênica. 

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Existem, entretanto, aqueles que possuem variações genéticas que dificultam a extração de energia de gorduras. Neste caso, uma dieta com mais proteína poderia ser mais adequada. 

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Testes genéticos também permitem modulações que podem facilitar o destaque dos atletas em determinadas modalidades esportivas. Mesmo assim, trabalhar a motivação continua sendo importante. Um jovem talento pode ter um perfil genético maravilhoso para determinado tipo de atividade física mas não se destacar por não gostar de treinar. 

Os exames também permitem a avaliação de aspectos da fisiologia do atleta. Por exemplo, alguns testes trazem dados sobre propensão à lesão. Conhecer determinadas predisposições permite um trabalho preventivo. Um atleta que possui, por exemplo, maior risco maior de tendinopatias pode aproveitar o dado e conversar com um nutricionista sobre ajustes na dieta e no consumo de proteína, creatina, alimentos ricos em vitamina C, zinco, cálcio. Suplementos como glucosamina, condroitina ou vitamina D também podem ser benéficos. Os treinadores também pode aproveitar estes resultados para ajustes na intensidade e volume de treinamento.  

O músculo passa por remodelamento e na nutrigenética observamos genes como PGC1 ALFA para saber se há biogênese adequada e se a resposta ao estresse oxidativo é eficiente. Os genes colagenases, como o COL1A1, estão muito envolvidos com lesões e fragilidades. Além disso, podemos pensar na avaliação de outros genes que geram maior inflamação local como interleucina 6 (IL6), TNF-alfa, SOD2. Este é um atleta que, pela análise genética, parece inflamar facilmente, beneficiando-se de dieta antiinflamatória rica, por exemplo, em ômega-3. 

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O atleta avaliado para este texto também possui menor síntese e maior degradação de colágeno. Assim, ajustes na suplementação de colágeno ou de seus precursores (prolina, vitamina C, cobre, selênio, silício). Se o atleta apresenta variações que reduzem a capacidade antioxidante (genes NQO1, APOE), prejuízos em processos de eliminação de toxinas (CSTM1,  GSTT1, EPHX1 etc) e devem evitar treinos em ambientes muito poluídos, uso indiscriminado de medicamentos e fumo.

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Atletas já possuem normalmente uma alta produção de radicais livres pela quantidade de treino. Por isso, um perfil antioxidante adequado é valioso. Aqueles com polimorfismos que interferem na capacidade antioxidante beneficiam-se de consumo maior de frutas variadas e verduras (especialmente crucíferas como brócolis, couve, repolho) para aumento da capacidade antioxidante e desintoxicante. Também pode se beneficiar da suplementação de n-acetilcisteína e ubiquinol (coenzima Q10) para melhor funcionamento mitocondrial e produção de energia.

De fato, o exame genético do atleta indica maior necessidade de coenzima Q10 na forma ubiquinol para melhor produção energética, maior vitalidade e desempenho: 

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Os hábitos alimentares podem desencadear alterações químicas que afetam a expressão do DNA de forma positiva. Essas mudanças não alteram o sequenciamento genético, mas melhoram desempenho e ajudam a m antes a saúde nos anos subsequentes.

Agora, outro ponto é saber se o atleta consegue utilizar bem os nutrientes consumidos pelo alimento ou suplemento. A nutrigenética é justamente a ciência estuda o efeito da variação dos genes na interação entre dieta e doenças. A avaliação de determinados genes nos ajuda a criar estratégias de otimização. Pelo teste, é possível prever a capacidade de uso de nutrientes. Por exemplo, o atleta em questão não converte bem carotenóides (presentes no mamão, cenoura, manga) em vitamina A (retinol), podendo beneficiar-se da suplementação da última. 

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Em relação ao tipo de corrida, o exame mostra que o atleta em questão possui variação do gene ACTN3, que geram maior número de fibras musculares de contração mais lenta, tipo 1, com preferência por metabolismo mais oxidativo. Este perfil favorece corridas de duração mais longa, com mais resistência e menor velocidade. 

Este não é o único gene que influencia na velocidade, assim como em outras características. Por exemplo, este atleta possui combinações que fazem com que tenha boa potência neuromuscular:

O objetivo dos testes genéticos é chegar a prescrições de treino e dieta mais  individualizadas.  Contudo, vale destacar que muitos países na Europa não permitem que crianças façam o exame genético para não serem alvo de discriminação ou peneiramento, permitindo com que todas as crianças possam experimentar todo tipo de atividade física.

Todos os dias decidimos como vamos comer e treinar. Seu DNA pode contribuir para decisões mais acertadas. No Brasil, os exames são livres e vários laboratórios já disponibilizam testes genéticos voltados ao esporte como FULLDNA (mostrado nesta matéria), centro de genomas, biogenética e multigene. Para avaliação do seu exame marque uma consulta. Também aplicável aos demais esportes.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Farmacogenética e fitoterapia

Farmacogenômica (PGx), em um sentido amplo, refere-se ao estudo de variações de DNA ou RNA e sua relação com as respostas aos medicamentos, suplementos ou fitoterápicos, para melhor compreensão das diferenças interindividuais na eficácia ou segurança destes produtos. Nos últimos anos, testes genéticos têm sido cada vez mais realizados no tratamento de diversas condições de saúde para tornar a terapia proposta mais eficaz e segura. A farmacocinética (PK) e a farmacodinâmica (PD) são influenciadas por variações genéticas em genes que codificam enzimas metabólicas, transportadores de membrana e / ou receptores (He et al., 2017).

Plantas e medicamentos podem interagir, algumas vezes de forma benéfica, com aumento da eficácia do medicamento ou diminuição de seus efeitos colaterais potenciais. Por exemplo, a terapia combinada de alho (250 mg / kg) com captopril demonstrou maior ação sinérgica em relação à queda da pressão arterial e inibição da ECA. Pacientes que receberam silimarina (140 mg, três vezes ao dia) em combinação com a terapia convencional com desferrioxamina mostraram efeitos benéficos em pacientes com talassemia. No entanto, muitas vezes as interações são negativas. Por exemplo, a erva de São João (Hypericum perforatum) reduz significativamente as concentrações sanguíneas de medicamentos como ciclosporina, midazolam, tacrolimus, amitriptilina, digoxina, indinavir, varfarina, fenprocumon e teofilina (Liu et al., 2015)..

As enzimas CYPs (citocromos P450) podem ser induzidas por várias ervas. A superfamília das proteínas chamadas enzimas do citocromo (CYP) P450 é envolvida na síntese e no metabolismo de uma escala de componentes celulares internos e externos. O nome do “enzimas citocromo P450” é devido a suas diversas características; são limitados à membrana das pilhas (cyto) e contêm o pigmento do heme (cromo e P). Quando encadernadas ao monóxido de carbono, estas proteínas produzem um espectro com um comprimento de onda em aproximadamente 450 nanômetro. Um dos papeis mais estudados das enzimas CYP é sua função no metabolismo de medicamentos.

Família de CYPs - De todas as proteínas diferentes da CYP estas  são as mais importantes para o metabolismo de drogas: CYP1A2, CYP2C9, CYP2D6, CYP3A4, CYP3A5, CYP3A4 e CYP2D6.

Família de CYPs - De todas as proteínas diferentes da CYP estas são as mais importantes para o metabolismo de drogas: CYP1A2, CYP2C9, CYP2D6, CYP3A4, CYP3A5, CYP3A4 e CYP2D6.

A erva de São João diminuiu significativamente o nível plasmático estável de clozapina de 0,46-0,57 mg / L para 0,19 mg / L, após a descontinuação da erva de São João por um mês, a concentração de clozapina restaurada ao normal. Isto acontece pois a erva de São João pode interagir farmacocineticamente com a clozapina através da indução de várias enzimas CYP450, como CYP3A4, CYP1A2, CYP2C9 e CYP2C19, que são responsáveis ​​pelo metabolismo da clozapina. O Ginkgo biloba pode influenciar negativamente o efeito do medicamento antirretroviral Efavirenz (EFV) pois induz CYP2B6 e CYP3A4. Os quadros a seguir mostram interações entre ervas e medicamentos.

INTERAÇÃO ENTRE DROGAS E PLANTAS

Polimorfismos em genes relacionados a vias farmacocinéticas podem, entretanto, contribuir para diferenças na forma como as ervas interagem com medicamentos em cada pessoa. Atualmente exames farmacogenéticos estão disponíveis no mercado e podem ser solicitados a médicos, farmacêuticos ou nutricionistas.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

POR QUE A PRÁTICA DE YOGA NÃO ACABA COM A ANSIEDADE DE TODO MUNDO?

Muitas pessoas buscam os estúdios de yoga com objetivos como redução do estresse, da ansiedade ou para o tratamento da depressão. De fato, o yoga pode ajudar. Estudos mostram que a prática consistente ajuda na redução dos níveis de adrenalina e cortisol, hormônios do estresse. Mas yoga não é mágica. Existe, por exemplo, uma ligação entre ansiedade e genética. Algumas pessoas são naturalmente mais relaxadas do que outras.

Parte de exame genético de um de meus pacientes, diagnosticado com transtorno do espectro autista

Parte de exame genético de um de meus pacientes, diagnosticado com transtorno do espectro autista

Trabalho com muitas pessoas que sofrem de ansiedade. Podem ter condições de saúde (como autismo ou TDAH) que afetam a produção de neurotransmissores no intestino e no cérebro. Além dos genes mostrados acima, outros genes podem ser identificados como a (Catecol-O-metilatransferase). Quando a COMT funciona normalmente as pessoas rapidamente resolvem seu quadro de ansiedade. Porém, pacientes que apresentam mutações nesses genes têm uma menor capacidade de se acalmar e são mais propensos a episódios prolongados de ansiedade, depressão e TOC.

Outro gene que afeta o grau de ansiedade percebido é o GAD1 (ácido glutâmico descarboxilase). Quando esse gene está alterado, uma pessoa tem dificuldade em converter o ácido glutâmico (um neurotransmissor estimulante) em GABA (um neurotransmissor calmante). Neste caso a suplementação de GABA ou seus precursores é bem-vinda. Música, sono de qualidade e probióticos ajudam a modular a COMT.

Um terceiro gene é o MAO que degrada (decompõe) o neurotransmissor dopamina. Se o corpo não puder degradar a dopamina, uma pessoa terá um risco aumentado de desenvolver depressão, distúrbios de humor e agressividade. Estas pessoas não deveriam consumir alimentos que agitam ou inibem a MAO, como aqueles contendo cafeína (Petzer, Pienaar, & Petzer, 2013).

Pacientes com hipotireoidismo, doenças crônicas ou câncer também sofrem mais de ansiedade. Fora isso, o ambiente não ajuda. Somos constantemente estimulados pelo nosso entorno, pelo aparelho celular (telemóvel), pela TV, rádio… Estamos vivendo momentos desafiadores na política e na saúde pública. Nem sempre uma única hora de yoga, duas vezes por semana é capaz de modular o organismo.

O autocuidado como um todo é importante e envolve melhorias nos relacionamentos, alimentação antiinflamatória, suplementação para modulação de neurotransmissores, prática de atividade física, contato com a natureza, estratégias para gestão do estresse (como yoga e meditação), descanso e sonos adequados. Ou seja, não existe mesmo mágica e você precisará achar o CONJUNTO de estratégias que adequam-se melhor às suas características e necessidades. Estamos todos juntos e vamos ficar bem mas precisamos respirar e viver um dia de cada vez. Que estratégias estão funcionando melhor com você e te tirando da loucura?

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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