EPIDEMIA X PANDEMIA E A IMPORTÂNCIA DA QUARENTENA

Epidemia é uma doença de rápida disseminação, atingindo um grande número de pessoas na população de um local em um curto período de tempo. Já uma pandemia é uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre a população localizada numa grande região geográfica como, por exemplo, um continente, ou mesmo o Planeta, como o caso do coronavírus (COVID-19).

Como os humanos se espalharam pelo mundo, o mesmo aconteceu com as doenças infecciosas. Mesmo com todos os desenvolvimentos científicos da era moderna, os surtos são quase constantes, embora nem todos os surtos atinjam um nível de pandemia, como o COVID-19. A visualização abaixo mostra algumas das pandemias mais mortais da história, da Praga de Antonine ao atual evento COVID-19.

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Apesar da persistência de doenças e pandemias ao longo da história, há uma tendência consistente ao longo do tempo : a redução gradual na taxa de mortalidade. Melhorias na assistência médica e a compreensão dos fatores que geram infecções têm sido ferramentas fundamentais neste processo.

A importância da quarentena

A prática da quarentena começou durante o século 14, em um esforço para proteger as cidades costeiras das epidemias de peste. As autoridades portuárias cautelosas exigiram que os navios que chegassem a Veneza dos portos infectados ficassem ancorados por 40 dias antes do desembarque - a origem da palavra quarentena vem do termo italiano “quaranta giorni” que significa 40 dias.

Atualmente a quarentena também é utilizado para descrever períodos de restrição inferiores a 40 dias. Para infectados o período de quarentena é aquele do período de incubação do vírus (até 14 dias). Para os demais o período de quarentena pode ser maior, justamente evitando o contato com pessoas possivelmente infectadas e evitando que pessoas assintomáticas espalhem a doença. A estratégia foi importante para reduzir os novos casos na China e tem sido adotada por todos os países do mundo.

Voluntarie-se e evite sair de casa. Assim, você se protege e também aos demais.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Hipertensão na gestação | Causas, consequências, prevenção e tratamento

Pressão ou tensão arterial é o termo que designa a pressão que o sangue exerce na parede das artérias por onde circula. Isto é, as paredes ficam sob tensão, distendidas pela pressão sanguínea. A pressão arterial deve encontrar-se dentro dos valores considerados normais: 120-129 (máxima) e 80-84 (mínima) mmHg. A partir daí está a condição conhecida como hipertensão.

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Quando bem administrada, a pressão alta durante a gravidez nem sempre é perigosa. Mas às vezes pode causar graves complicações de saúde para a mãe e o bebê em desenvolvimento.

A hipertensão na gravidez é mais usual após as 20 semanas de gestação, atinge entre 6 e 8% das gestantes e tem risco aumentado quando um ou mais fatores estão presentes:

  • A grávida ter mais de 35 anos

  • A mulher é obesa ou tem diabetes

  • É a primeira gestação

  • A alimentação é desequilibrada

  • Não se pratica atividade física

  • Há histórico familiar de hipertensão na gravidez

  • A gestante é fumante ou já tinha pressão alta

  • A gestação é múltipla

Tipos de condições de pressão arterial relacionadas à gravidez

  • Hipertensão crônica: quando a mulher já tinha pressão alta ou hipertensão pré-existente antes de engravidar. Isso pode ser chamado de hipertensão crônica e geralmente é tratado com medicação para pressão arterial. Os médicos também consideram a hipertensão que ocorre nas primeiras 20 semanas de gravidez como hipertensão crônica.

  • Hipertensão gestacional: se desenvolve após a 20ª semana de gravidez. Geralmente resolve-se após o parto. Quando diagnosticado antes de 30 semanas, há uma chance maior de progredir para pré-eclâmpsia.

  • Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta. A pré-eclâmpsia é uma complicação da segunda metade da gravidez que se manifesta justamente com a elevação da pressão arterial, associada à eliminação de proteínas na urina, acompanhada ou não de sintomas como edema (inchaço) das mãos e rosto, alterações da visão ou dores de cabeça. A maioria das situações corresponde a formas ligeiras da doença, mas cerca de 25% constituem formas graves que, se não detectadas e tratadas precocemente, podem levar à morte da mãe e do bebê.

O que significam os números da pressão arterial?

Vejamos os números 120/80mmHg. O principal e mais alto é a pressão sistólica, que é uma medida da pressão nas artérias quando o coração está batendo ou pressionando o sangue para a frente através do corpo. Neste caso 120mmHg. A pressão diastólica, ou o número mais baixo, é uma medida da pressão sanguínea nas artérias quando o coração está em repouso.

A pressão arterial normal é inferior a 120/80 mm Hg. O que é considerado pressão alta durante a gravidez? Uma pressão arterial maior que 130/90 mmHg ou 15 pontos mais alta do que o número mais alto que a mulher tinha antes de iniciar a gravidez. A pressão alta durante a gravidez é definida como aquela igual ou superior a 140/90 mmHg.

No início da gravidez, geralmente de 5 semanas a meio do segundo trimestre, a pressão arterial de uma mulher grávida pode diminuir. Isso ocorre porque os hormônios da gravidez podem estimular os vasos sanguíneos a dilatarem-se. Algumas mulheres podem sentir neste período dor de cabeça, tontura, náusea, pele fria e úmida À medida que a mulher progride na gravidez, sua pressão arterial pode mudar ou retornar aos níveis pré-gravidez. Existem algumas razões possíveis para isso. A primeira é que a quantidade de sangue no corpo da gestante aumenta em até 45%. Isso é sangue extra que o coração deve bombear por todo o corpo. O ventrículo esquerdo (lado esquerdo do coração que faz uma quantidade significativa de bombeamento) se torna mais espesso e maior. Esse efeito temporário permite que o coração trabalhe mais para apoiar o aumento do volume sanguíneo.

Outro ponto é que os rins liberam quantidades maiores de vasopressina, um hormônio que leva ao aumento da retenção de água. Na maioria dos casos, a pressão alta durante a gravidez diminui após o parto. Nos casos em que a pressão arterial permanece elevada, o seu médico pode prescrever medicamentos para que a mesma volte ao normal.

Existem maneiras de monitorar sua pressão arterial entre as consultas médicas. Você pode comprar um monitor de pressão arterial ou visitar uma farmácia ou centro de saúde onde a leitura da pressão possa ser feita. Para obter as leituras mais precisas, faça sua pressão arterial todos os dias no mesmo horário. Tome-a sentada com as pernas não cruzadas. Use o mesmo braço todas as vezes. Informe imediatamente o seu médico se tiver repetido as leituras de pressão alta com quatro horas de intervalo e tiver dado sempre alta.

Consequências da pressão alta durante a gravidez

O objetivo do monitoramento é evitar as complicações da pressão alta, como a pré-eclâmpsia. Essa condição pode causar sérios danos aos seus órgãos, incluindo o cérebro e os rins. A pré-eclâmpsia também é conhecida como toxemia. Pré-eclâmpsia com convulsões torna-se eclâmpsia e, se não tratada, pode ser fatal para mãe e bebê. Os sintomas da pré-eclâmpsia incluem: inchaço anormal nas mãos e no rosto, dores de cabeça persistentes, manchas na visão, dor abdominal, náusea, vômito, dificuldade para respirar.

Outra complicação da hipertensão na gravidez é a síndrome HELLP ((HemolysisElevated Liver enzymesLow Platelet count). Este acrônimo significa hemólise, enzimas hepáticas elevadas e baixa contagem de plaquetas. Essa condição também é grave, aumentando o risco de morte. Os sintomas associados ao HELLP incluem: náusea, vômito, dor de cabeça, dor abdominal superior. Os cuidados médicos de emergência visam reduzir a pressão arterial para a saúde da mãe e do bebê.

A pressão alta durante a gravidez também pode afetar a taxa de crescimento do bebê. Isso pode resultar em baixo peso ao nascer. Outras complicações da hipertensão na gravidez incluem: descolamento de placenta, uma emergência médica durante a qual a placenta se destaca do útero prematuramente, parto prematuro, definido como parto antes das 38 semanas de gravidez, necessidade de cesariana.

Prevenção da pressão alta durante a gravidez

O ideal é que a mulher prepare-se antes de engravidar, não fume, pratique atividade física e mantenha o peso sob controle. Durante a gravidez, o ganho de peso é normal, mas não deve ser exagerado. Faça acompanhamento com um nutricionista. Este profissional te dará orientações para que permaneça dentro de um intervalo de ganho de peso saudável.

A deficiência de micronutrientes afeta a gestação de várias formas. A carência de nutrientes antioxidantes aumenta o estresse oxidativo e este tem um papel relevante no desenvolvimento da hipertensão gestacional. Um dos nutrientes com excelente ação antioxidante é o selênio. Sua deficiência aumentava em mais de 15 vezes o risco de desenvolver hipertensão gestacional quando comparado com mulheres com consumo adequado (Lewandowska et al., 2019). A castanha do Pará (Brazil nut) é a melhor fonte de selênio na natureza.

Outro exemplo é o cálcio. A ingestão adequada deste mineral é muito importante para a redução do risco de hipertensão durante a gestação (Ikbal, Klammer, Ekmekcioglu, 2019). O cálcio está presente em laticínios, vegetais verde escuros, sementes, alimentos fortificados e suplementos. Durante o acompanhamento nutricional seu consumo será avaliado, assim como sinais e sintomas de carências e um plano individual será prescrito.

Uma outra estratégia para reduzir a pressão arterial é consumir probióticos, na forma de iogurte, kefir ou suplementos. Probióticos com uma alta variedade de bactérias reduzem a pressão sanguínea em um grau maior do que aqueles que continham apenas um tipo de bactéria. Por isso, kefir ou suplementos com muitas variedades de bactérias costumam ser mais eficazes do que o iogurte. Por exemplo, o Lactobacillus murinus ajuda a reduzir a hipertensão, mesmo em pessoas sensíveis ao sal (Wilck et al., 2017).

Caso o estresse seja um fator importante, faça psicoterapia, yoga e meditação, visto que hormônios do estresse também contribuem para o aumento da pressão. Se a pressão não baixar podem ser indicados medicamentos antihipertensivos, como metildopa e labetalol.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Há substituto para a ritalina?

Ritalina é o nome comercial do medicamento cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, um estimulante do sistema nervoso central. É utilizada no tratamento de condições como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno hipercinético e narcolepsia. Com o uso do medicamento, a atenção, o foco e a concentração são favorecidos. A sonolência diurna (típica da narcolepsia) pode diminuir consideravelmente.

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Por atingir tais efeitos, o medicamento parece aumentar os níveis de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina. Hoje em dia, com tanto acesso às redes sociais, uma grande quantidade de pessoas sentem-se hiperativas, sem paciência ou desfocadas. Por potencializar a concentração, reduzir perda de foco e inquietação física e mental, o medicamento passou a ser utilizado também, de modo equivocado, por pessoas que não apresentam os transtornos mencionados, mas que desejam aumentar a performance cognitiva na escola ou trabalho. Só que sem mudanças nos comportamentos diários a cognição não melhora. Há que haver um esforço, uma vez que todo medicamento pode gerar efeitos adversos.

Efeitos adversos do uso da ritalina

Nenhum medicamento é livre de efeitos colaterais e o uso regular da ritalina está relacionado com aumento da inflamação (inclusive neuroinflamação), resistência à insulina (e aumento do risco de diabetes), dores de cabeça, ataques de pânico, insônia, queda dos cabelos, espasmos musculares, discinesia tardia (movimentos corporais involuntários e repetitivos às vezes confundidos com tiques), alucinações, convulsões, reações alérgicas, elevação na pressão arterial, tonturas, dores nas articulações, problemas gastrointestinais ou visão turva. Por isso, é uma medicação controlada, que deve ser prescrita e acompanhada por médico.

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É bom lembrar que os estudos científicos avaliam o efeito do remédio em curtos períodos (por exemplo, 3 meses), mas não sabemos o que acontece a longo prazo, pela falta de estudos bem conduzidos. Uma preocupação é que a dependência psicológica do medicamento pode acontecer, além do mascaramento das causas do TDAH. O medicamento não trata as causas do TDAH, é como empurrar o problema para baixo do tapete.

Assim, muitas pessoas e famílias podem desejar o desmame das medicações. Isto deve ser discutido com a equipe multiprofissional (neurologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista, educador físico). Pesquisas demonstram existirem várias possibilidades de tratamento que devem ser seguidas para melhoria da cognição, tanto por quem opta, quanto por quem não opta pela medicação, incluindo:

Não fique sem tratamento, não coloque nem tire medicação por conta própria. Converse sempre com seu neurologista. Além disso, nossa equipe de nutricionista e psicóloga podem lhe ajudar com muitas estratégias para que consiga navegar melhor pela vida. Agende sua consulta.

Ainda não havia para mim ritalina - Gregório Duvivier

A primeira vez que tomei Ritalina eu entendi como é que as pessoas veem o mundo. Entendi que nem todo mundo vai buscar um copo d´água na cozinha e esquece o que foi fazer lá. Entendi que nem todo mundo tem dificuldade de se comunicar por telefone porque tudo o que os olhos veem chama a atenção e fica difícil prestar atenção só no ouvido quando um monte de coisa está acontecendo em frente aos olhos e a ligação termina sem que se tenha a menor ideia do que foi dito. Entendi que as pessoas normais olham pra tela de um computador e tudo o que elas veem é a tela de um computador, e não um portal pra procurar qualquer coisa no Google de dez em dez segundos. Aliás, quem inventou o segundo? Caramba, os sumérios usavam o sistema duodecimal porque contavam cada falange do dedo, excluindo o dedão. E eis que acabo de perder duas horas no fantástico mundo dos sumérios, que inventaram a escrita, as cidades e a cerveja. Benditos sejam os sumérios. Onde é que eu estava?

Confesso que nunca consegui estudar. Ao mesmo tempo sempre gostei de ler. No entanto, só consigo ler aquilo que não deveria estar lendo, como os sumérios, a pronúncia correta de Roraima (ambas são corretas, mas em Roraima se fala Roráima) e qual o analgésico que tem menos efeitos colaterais (dipirona - injustamente proibida fora do Brasil por motivos obscuros que cheiram a boicote da indústria farmacêutica, pronto: mais duas horas perdidas no vale da dipirona). Em toda a minha vida, acho que nunca estudei uma matéria da escola, nem sei ao certo como faz. Nunca consegui abrir um caderno e reler minhas anotações, e um dos motivos pra isso é que nunca fiz anotações, e nem sequer me lembro de ter tido um caderno. Passava as aulas muito ocupado: quando não estava tentando impedir o professor de dar aula, estava olhando pela janela, pensando em outra coisa.

A primeira vez que tomei Ritalina entendi o pessoal que sentava na primeira fila e grudava os olhos no quadro-negro, e assim permanecia até tocar o sino. Esse pessoal excêntrico que não ouvia o cachorro latir na casa ao lado da escola que o lembraria de um cachorro que morreu afogado uns anos antes, logo não sentia uma súbita vontade de chorar sabe-se lá por quê, e não precisaria começar a batucar pra pensar em outra coisa, esse pessoal que não era expulso de sala por estar batucando.

A última vez que tomei Ritalina foi quando percebi que já não consegui mais pensar em nada que eu não quisesse pensar. Foi quando percebi que minha cabeça tinha sido domesticada, e percebi que domar a cabeça é gostoso, mas não domar a cabeça é melhor.

Quando deixei de tomar Ritalina, voltei a pensar nos sumérios, e nos fenícios, no Fluminense, em tudo o que não importa e faz a vida valer a pena. Resumindo: em tudo o que é assunto de crônica. A Ritalina é a morte do cronista, esse diletante profissional.

Do livro Crônicas para ler em qualquer lugar. Ed. Todavia, 2019.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/