Futebol em tempos de coronavírus

O futebol é de longe a mais popular atividade física esportiva no Brasil e possivelmente no mundo. Além de seus praticantes, há um enorme contingente da população que acompanha as transmissões dos jogos nos estádios. Mas em tempos de coronavírus tudo mudou. Diversos campeonatos foram suspensos e cancelados em uma medida preventiva contra o coronavírus. Da mesma forma, clubes mundo a fora estão paralisando suas atividades e pedindo que seus atletas permaneçam em suas casas.

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O presidente Bolsonaro acha que cancelar jogos é histerismo mas vários jogadores e técnicos já foram infectados pelo coronavírus ao redor do mundo. Finalmente, esta semana o campeonato paulista foi adiado por tempo indeterminado e os jogadores deverão fazer seu trabalho físico em suas próprias casas. Atletas também são vulneráveis. Apesar da boa forma física que apresentam o excesso de treinamento, associado ao estresse psicológico, dieta inadequada e viagens constantes gera impactos negativos na imunidade (Guimarães, Terra e Dutra, 2017).

O exercício excessivo aumenta a produção de radicais livres, gera estresse oxidativo, danos teciduais, redução na capacidade de contração muscular e imunossupressão (Becatti et al., 2017).

A avaliação adequada do atleta deve envolver então fatores biológicos, psicológicos e sociais. Fazem parte da avaliação biológica os componentes antropométricos (medidas do corpo), metabólicos e neuromotores. Durante a avaliação antropométrica são tomadas as medidas de peso, estatura, dobras cutâneas, circunferências e diâmetros. A partir delas, pode-se determinar o índice de massa corporal (IMC), a adiposidade central, periférica ou total, o somatotipo e suas variações.

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As medidas da potência anaeróbica alática e lática, assim como da potência aeróbica, assim como uma variedade de outros exames bioquímicos compreendem as medidas metabólicas. A avaliação neuromotora pode incluir testes de saltos, abdominais, agilidade, velocidade de deslocamento, dentre outros. A avaliação psicossocial é feita por meio de entrevistas em que se analisa aspectos como o nível de estresse e percepção de suporte/apoio.

Este é um momento para recuperação do corpo e da mente e para ajustes da alimentação, que deve ser imunoprotetora, com calorias, proteína e micronutrientes em quantidades ideais. A orientação adequada nesta área é feita por nutricionistas especializados na área esportiva e treinadores que possam adequar o treinamento.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dia internacional da síndrome de Down: os desafios da nutrição

A maior parte das pessoas não pensam nas dificuldades de pessoas com síndrome de Down, a não ser que conheça alguém muito próximo. Um amigo, um parente, um filho. Igualmente também não conhecem as inúmeras alegrias trazidas por uma criança com a síndrome. Hoje comemora-se o Dia Internacional da Síndrome de Down mas, infelizmente, a síndrome ainda é bastante negligenciada na área da nutrição.

Mas isto está mudando. Desde 2015 já treinei mais de 1.000 médicos e nutricionistas sobre os aspectos relacionados ao metabolismo de nutrientes na síndrome de Down. Mas ainda é pouco. O Brasil é enorme e, na maioria das cidades, não existem profissionais capacitados (a maioria está nas grandes capitais).

Crianças com síndrome de Down apresentam maior número de infecções respiratórias de repetição. A nutrição é fundamental já que a carência de nutrientes como vitamina A, zinco, ferro, vitamina C e selênio pode agravar o problema. Um intestino saudável também contribui imensamente para a melhoria da imunidade. O uso de antibióticos muitas vezes desregula o delicado equilíbrio da microbiota, fazendo com que o uso de probióticos e a suplementação de nutrientes que restauram a mucosa intestinal sejam indicados.

Um problema que atinge cerca de 40% dos indivíduos com síndrome de Down é o hipotireoidismo. O funcionamento adequado da tireóide depende do adequado consumo de aminoácidos, zinco e selênio. Além disso, a identificação precoce do hipotireoidismo é fundamental para que não afete o crescimento, o desenvolvimento, o humor, o metabolismo do cálcio, o funcionamento intestinal...

Distúrbios do sono também podem ocorrer influenciando a aprendizagem e a saúde. A higiene do sono é muito importante, assim como o combate ao estresse. Além disso, o adequado estado nutricional é muito importante para a produção de melatonina, hormônio que induz o sono. Assim, deve-se investigar minimamente o consumo de nutrientes como vitamina B6, ornitina e triptofano.

Uma grande preocupação é a grande incidência de doença de Alzheimer em indivíduos com Síndrome de Down. Os custos financeiros, emocionais e familiares na doença de Alzheimer são grandes e aumentam na ausência de uma terapêutica que retarde a progressão da mesma. Grande parte dos estudos focam hoje na neutralização dos radicais livres e na redução da inflamação cerebral com o intuito de se evitar a morte celular e a demência. E a nutrição tem um papel grande nisto tudo. 

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dimensões da qualidade de vida de pessoas com síndrome de Down

No dia 21/03 comemora-se o dia internacional da síndrome de Down (SD). Este dia foi escolhido pois a síndrome caracteriza-se pela trissomia do cromossomo 21. Ou seja, ao invés do cromossomo 21 estar em par, aparece com 3 exemplares, caracterizando a trissomia. A data tem por finalidade dar visibilidade ao tema, reduzir preconceitos, divulgar informações relevantes e debater questões essenciais à qualidade de vida das pessoas com SD.

O departamento científico de genética da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou a atualização das diretrizes de atenção à saúde de pessoas com síndrome de Down. O documento pode ser lido na íntegra aqui. O cuidado da saúde deve ser adaptado para cada fase do ciclo de vida e para necessidades específicas individuais. Em cada ciclo o atendimento da equipe multidisciplinar visa a manutenção da saúde e garantia da qualidade de vida, que depende de vários fatores:

A diretriz não traz novidades em relação à nutrição.

O documento coloca que na primeira fase da vida deve ser mantido o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, quando é introduzida a alimentação saudável, mantendo-se o aleitamento materno até pelo menos os dois anos de idade. Hábitos alimentares saudáveis devem ser encorajados desde a infância e se possível introduzidos à rotina familiar. O acompanhamento do crescimento deve ser realizado utilizando as curvas específicas de peso, comprimento, IMC e perímetro cefálico de zero a 2 anos.

A doença celíaca está presente em 3% das pessoas com SD (Bermudez 2016), pelo que se recomenda a triagem inicial aos dois anos de idade. Caso haja suspeita clínica ou positividade do HLA-DQ8 e/ou HLA-HQ2 orienta-se coleta de bianual de IgA total e anticorpo anti-endomísio (Malt et al. 2013).

O sobrepeso e a obesidade são comuns após o final da infância. Assim, a atenção nutricional deve ser precoce a fim de prevenir ganho de peso indesejável e adequar a alimentação em função das possíveis co-morbidades associadas.

Perda de peso inexplicável pode ser causada por doença celíaca, refluxo gastro-esofágico ou doença péptica. O acompanhamento de saúde consta ainda da dosagem sanguínea de TSH e T4, hemograma, glicemia, função renal, anualmente; acuidade visual e auditiva a cada 2 anos; avaliação odontológica a cada 2 anos; ECG e ecocardiograma a cada 5 anos. Aqueles em pós-operatório tardio de correção cirúrgica seguem cuidados especí- ficos. Triagem para doença celíaca deve ser solicitada conforme o caso (Malt 2013).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/