A relação entre a periodontite e a artrite reumatóide

A artrite reumatóide (AR) é uma doença crônica, inflamatória, autoimune, envolvendo principalmente as articulações com degradação e deformidade, edema e dor. Autoanticorpos para imunoglobulina G (fator reumatóide, RF) e anticorpos para peptídeos citrulinados (anticorpos anti-proteína citrulinada, ACPAs) são encontrados em 70-80% dos pacientes com AR. Mesmo assim, alguns indivíduos são negativos para esses autoanticorpos (AR soronegativo) mesmo tendo a doença.

A artrite reumatóide tem característica complexa sendo que fatores genéticos e ambientais combinam-se para desencadear o distúrbios. A partir de estudos com gêmeos, estimou-se que a herdabilidade da AR em pacientes positivos para ACPAs é de cerca de 60%.

Os loci específicos do antígeno leucocitário humano (HLA) de classe II mostram uma associação muito forte com a AR. Os alelos HLA DRB1*01 e HLA DRB1*04 estão significativamente associados ao risco de desenvolver a doença. Outros fatores genéticos também influenciam a gravidade da AR, como a presença de polimorfismos (variações) que aumentam a produção de substâncias inflamatórias (como interleucinas e TNF).

Genes associados à artrite reumatóide - GeneCards, 2021

Além da suscetibilidade genética, fatores ambientais (como tabagismo) e características da microbiota intestinal e oral vêm sendo estudados. O tabagismo é um dos fatores de risco mais estabelecidos para AR e periodontite e tem sido associado ao aumento da gravidade das duas doenças, assim como menores taxas de remissão e controle.

Periodontite e artrite reumatóide

A periodontite é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela destruição progressiva dos tecidos de suporte dos dentes. O biofilme persistente e seus produtos bacterianos nocivos causam uma reação inflamatória no hospedeiro. Em indivíduos suscetíveis, esta reação inclui ativação de células imunes e liberação de mediadores inflamatórios resultando em degradação tecidual.

Estudos demonstraram uma maior suscetibilidade entre pacientes com AR de adquirir periodontite avançada em comparação com indivíduos sem AR. Periodontite e AR apresentam semelhanças. São doenças inflamatórias crônicas comuns e podem se associar bidirecionalmente. Tecidos moles e duros são afetados, e ambos são distúrbios multifatoriais, influenciados por uma combinação de hospedeiro, estilo de vida, componentes ambientais e genéticos. Uma meta-análise descreveu o dobro do risco de adquirir AR em fumantes em comparação com não fumantes, especialmente naqueles que fumam um maço ao dia.

A enzima de P. gingivalis (PPAD), equivalente às enzimas PAD humanas derivadas do hospedeiro, tem a capacidade de citrulinar proteínas bacterianas e humanas. Acredita-se que a citrulinação - conversão pós-traducional de arginina em resíduos de citrulina pelas enzimas peptidilarginina deiminase (PADs) - seja um contribuinte essencial para a patogênese da artrite reumatóide (AR). Boa higiene oral e redução do consumo de carboidratos são fundamentais para prevenção de periodontite e controle da AR. Saiba mais aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta e problemas dentais

Na figura abaixo você vê à esquerda justamente os fatores que promovem a saúde periodontal, incluindo a homeostase do biofilme supra e subgengival, imunidade homeostática nos tecidos gengivais e periodontais, constituintes alimentares saudáveis e ausência de doença inflamatória crônica em locais distantes. Tecidos periodontais saudáveis, por sua vez, reduzem o risco de câncer oral e afetam bidirecionalmente a saúde sistêmica, de modo que o risco de doença inflamatória crônica é reduzido.

No lado direito da imagem acima você vê os fatores que prejudicam a doença periodontal, incluindo disbiose do biofilme, respostas inflamatórias gengivais e periodontais descontroladas, estresse psicológico paralelo à liberação elevada de cortisol e dietas não saudáveis caracterizadas por alto consumo de carboidratos. A doença periodontal afeta negativamente a saúde do tecido oral e é um fator de risco no carcinoma oral, induz a senescência celular em células saudáveis, promove inflamação sistêmica e é um fator de risco em doenças inflamatórias crônicas, incluindo doença inflamatória intestinal (DII), doença cardiovascular, condições autoimunes, e doença de Alzheimer.

REDUZA O CONSUMO DE CARBOIDRATOS

Carboidratos fermentáveis como os presentes em biscoitos, pães, bolos, balas frutas secas, batatas, farinha, arroz, macarrão e milho, todos de alto índice glicêmico, além de aumentarem a susceptibilidade às cáries (pois modifica a acidez da placa), aumentam os níveis de açúcar no sangue e são inflamatórios e, portanto, relacionados à doenças graves como o câncer pancreático e até a doença de Alzheimer. Reduza o consumo de açúcar e alimentos com alto índice glicêmico, escove bem os dentes, cuide da sua gengiva, faça exames periódicos e visite sempre o seu dentista. O diabetes e o câncer podem levar anos para aparecer mas doenças periodontais tem um curso bem mais rápido. Lembre-se se a saúde da boca não está bem, pode ser que a saúde geral também não esteja.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/