Ciências ômicas na psiquiatria

A propensão humana a buscar e aceitar conforto dos cuidadores, observada desde a infância, tem um impacto profundo no desenvolvimento psicológico ao longo da vida. Bebês que demonstram facilidade e confiança na dependência de seus cuidadores (apego seguro) tendem a apresentar um desenvolvimento cognitivo e de linguagem mais forte, relações interpessoais mais saudáveis e menor risco de desenvolver transtornos mentais na vida adulta, como transtornos de humor, externalizantes, dissociativos e de atenção. Sabemos também que crianças amamentadas por pelo menos 6 meses apresentam menos sintomas depressivos na adolescência (Oddy et al., 2010).

Mas as mães que fizeram tudo certinho, amamentaram, cuidaram, amaram e agora encontram-se com o desafio de um adolescente deprimido em casa? O mundo não está fácil. Muitos fatores externos influenciam o risco de desenvolvimento de transtornos mentais. Além disso, as diferenças individuais, genéticas e metabolômicas têm sido estudadas. Atualmente, com as ciências ômicas, estamos começando a identificar regiões genômicas e assinaturas metabólicas que podem influenciar a capacidade cognitiva, preferências de aprendizagem e memória, assim como o risco de transtornos mentais.

Genes e Seus Papéis na Psiquiatria e Comportamento

Gene VDR (Receptor de Vitamina D)

A vitamina D, obtida por dieta ou produzida pela exposição solar, é essencial para o equilíbrio de minerais como cálcio e fosfato, fundamentais para ossos e dentes. O gene VDR codifica o receptor que se liga à forma ativa da vitamina D, o calcitriol, regulando genes relacionados à absorção mineral e outros processos metabólicos.

  • Variantes importantes:

    • VDR FokI: regula o açúcar no sangue.

    • VDR TaqI: influencia a sensibilidade a mudanças de humor e interage com mutações no gene COMT.

    • VDR BsmI: associada à densidade mineral óssea e osteoporose.

Além disso, o VDR está ligado à regulação do ciclo capilar e à expressão influenciada por glicocorticoides.

Gene CLOCK

O gene CLOCK é fundamental na regulação dos ritmos circadianos, que sincronizam o organismo com ciclos de luz e escuridão. Polimorfismos nesse gene têm sido associados a mudanças comportamentais, obesidade, síndrome metabólica, distúrbios do sono e transtornos de humor.

SLC6A3 (Transportador de Dopamina)

Este gene codifica um transportador responsável pela recaptura da dopamina, um neurotransmissor chave no sistema de recompensa e regulação emocional. Variações no número de repetições (VNTR) estão ligadas a condições como epilepsia, TDAH, dependência química e doença de Parkinson.

ADRB2 (Receptor Beta-2-Adrenérgico)

Este receptor é parte da sinalização celular que controla funções como o metabolismo e a resposta ao estresse. Alterações no gene ADRB2 têm sido associadas a asma noturna, obesidade e diabetes tipo 2.

SNAP25

Envolvido na regulação da liberação de neurotransmissores, o gene SNAP25 codifica proteínas que mediam a fusão das vesículas sinápticas com a membrana celular, processo essencial para a comunicação neuronal. Variantes desse gene têm sido relacionadas a transtornos neuropsiquiátricos.

SLC6A4 (Transportador de Serotonina)

Este gene codifica uma proteína que recicla a serotonina, um neurotransmissor crucial para o humor e a ansiedade. O polimorfismo 5-HTTLPR, com versões "curtas" e "longas", influencia a expressão do gene e está associado à ansiedade e susceptibilidade a depressão.

COMT (Catecol-O-Metiltransferase)

COMT é responsável pela degradação da dopamina e norepinefrina. Variantes genéticas nesse gene podem aumentar o risco para ansiedade, insônia, transtornos do humor, TDAH, e influenciar a resposta a medicamentos e suplementos como a vitamina D.

TPH2 (Tirosina Hidroxilase 2)

O TPH2 codifica uma enzima que inicia a síntese da serotonina no cérebro. Alterações nesse gene podem impactar a produção de serotonina, influenciando condições como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.

MAOA (Monoamina Oxidase A)

Enzima essencial na degradação de neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina. Variantes no gene MAOA podem causar alterações de humor, ansiedade, agressividade e têm sido associadas a comportamentos antissociais. Como está no cromossomo X, mutações afetam mais os homens.

SLC6A2 (Transportador de Noradrenalina)

Este gene regula a recaptura da norepinefrina, influenciando o equilíbrio desse neurotransmissor. Mutações podem causar intolerância ortostática, com sintomas como tontura, fadiga e ansiedade.

No curso genômica nutricional trago uma tabela com estes genes, suas variantes, interpretação e forma de modulação nutricional. No curso psiconutrição discutimos mais o tratamento e a área da psiquiatria nutricional. Ajuda muito também quando conhecemos o perfil metabolômico atual do paciente. Falo um pouco sobre o tema neste vídeo:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/