Tratamento da miastenia gravis

A miastenia gravis (MG) é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca os receptores de acetilcolina na junção neuromuscular, prejudicando a comunicação entre os nervos e os músculos e causando fraqueza muscular.

Principais Causas

  1. Fatores Autoimunes

    • O corpo produz autoanticorpos que bloqueiam ou destroem os receptores de acetilcolina, impedindo a contração muscular eficiente.

  2. Glândula Timo Alterada

    • Anormalidades no timo (glândula do sistema imunológico) podem contribuir para a produção excessiva de anticorpos. Alguns pacientes com MG apresentam hiperplasia tímica ou timomas (tumores do timo).

  3. Fatores Genéticos e Epigenéticos

    • Apesar de não ser hereditária, a MG pode ter predisposição genética combinada com gatilhos ambientais.

Gatilhos e Fatores Agravantes

  • Estresse emocional e físico (pode piorar os sintomas)

  • Infecções virais ou bacterianas

  • Uso de certos medicamentos (bloqueadores neuromusculares, antibióticos como aminoglicosídeos, beta-bloqueadores)

  • Mudanças hormonais (gravidez, menopausa)

  • Exposição a toxinas e metais pesados

  • Deficiências nutricionais (ex.: magnésio, vitamina D, ômega-3)

Sintomas

A principal característica da miastenia gravis é um quadro de fadiga muscular limitado a determinados grupamentos musculares, que pode ser flutuante, ou seja, com períodos de melhora alternados com fases de agravamento.

Mais de 50% dos pacientes apresentam sintomas oculares no início da doença, senda de ptose (queda da pálpebra) e a diplopia (visão dupla) os mais comuns. Entre os pacientes que abrem o quadro com manifestações oculares, metade irá desenvolver doença generalizada dentro de dois anos.

Em cerca de 15% dos casos, o doente apresenta apenas sintomas oculares, não evoluindo para doença generalizada. Esse quadro é chamado de miastenia gravis ocular.

Cerca de 15% dos pacientes apresentam sintomas relacionados aos músculos da face e do pescoço, que incluem: disartria (dificuldade de articular palavras e frases), disfagia (dificuldade para engolir), falta de forças para mastigar e perda das expressões faciais. Fraqueza do pescoço também é comum, fazendo com que o paciente tenha dificuldade de manter a cabeça erguida.

O envolvimento dos músculos respiratórios produz os sintomas mais graves da miastenia gravis. A fraqueza muscular respiratória pode levar à insuficiência respiratória ou até parada respiratória, uma situação grave chamada de crise miastênica.

Tratamento da Miastenia Gravis

Além de medicamentos (como anticolinesterásicos, imunossupressores, etc) é muito importante uma abordagem integrativa que garanta bem-estar. Esta abordagem busca tratar a MG de forma holística, focando na modulação do sistema imunológico, redução da inflamação e suporte neuromuscular.

1. Nutrição Funcional

  • Dieta anti-inflamatória: Rica em antioxidantes, fibras e gorduras saudáveis (peixes, azeite de oliva, nozes, vegetais crucíferos).

  • Controle do açúcar no sangue: Evitar picos de glicose que possam agravar a inflamação.

  • Equilíbrio da microbiota intestinal: Probióticos e prebióticos para modular a imunidade.

  • Evitar gatilhos alimentares: Glúten, laticínios e alimentos ultraprocessados podem desencadear reações autoimunes em algumas pessoas.

  • Alimentos de Fácil Mastigação e Deglutição

    • Como a MG pode afetar os músculos da mastigação e da deglutição, prefira alimentos macios, pastosos ou líquidos quando houver fadiga muscular.

    • Exemplo: purês, sopas, ovos mexidos, iogurtes, vitaminas, peixes cozidos e carnes desfiadas.

  • Evitar a Fadiga Durante as Refeições

    • Faça pequenas refeições ao longo do dia para evitar o cansaço ao comer.

    • Descanse antes das refeições para minimizar a fraqueza dos músculos envolvidos na deglutição.

  • Controle do Peso

    • O uso prolongado de corticosteroides pode levar ao ganho de peso, por isso é importante uma dieta equilibrada com controle de calorias.

    • Priorize alimentos ricos em nutrientes, como frutas, legumes, proteínas magras e grãos integrais.

  • Suporte ao Sistema Imunológico

    • Como a MG é uma doença autoimune, uma dieta anti-inflamatória pode ajudar.

    • Alimentos ricos em antioxidantes (frutas vermelhas, vegetais verde-escuros, azeite de oliva) podem reduzir processos inflamatórios.

  • Manutenção da Saúde Óssea

    • Corticosteroides também podem causar osteoporose.

    • Inclua fontes de cálcio e vitamina D, como leite, derivados, tofu, sardinha, gema de ovo e exposição moderada ao sol.

  • Evitar Alimentos que Podem Piorar os Sintomas

    • Evite alimentos ricos em gorduras saturadas, processados e açucarados, que podem aumentar a inflamação.

    • Reduza o consumo de cafeína e bebidas alcoólicas, que podem interferir no sistema nervoso.

  • Hidratação Adequada

    • Beber água suficiente ao longo do dia auxilia na digestão e previne a fadiga.

    • Chás naturais e sucos sem açúcar são boas opções.

2. Fitoterapia e Suplementação

  • Vitamina D: Modulação imunológica (níveis adequados são essenciais para controle da autoimunidade). Cálcio e vitamina K também podem ser necessários para garantir saúde óssea.

  • Ômega-3: Ação anti-inflamatória (peixes, óleo de linhaça, chia).

  • Magnésio: Suporte neuromuscular (cuidado, pois doses altas podem interferir na transmissão nervosa em MG).

  • Adaptógenos (ashwagandha, rhodiola, ginseng): Redução do estresse e suporte adrenal.

  • Curcumina (cúrcuma): Potente anti-inflamatório natural.

Dieta cetogênica e miastenia gravis

A cetose pode reduzir a inflamação, o que pode ser benéfico em doenças autoimunes como a MG. Alimentos como abacate, azeite de oliva, peixes gordurosos e nozes fornecem ácidos graxos benéficos.

Alguns estudos sugerem que corpos cetônicos podem melhorar a função mitocondrial e a comunicação neuromuscular. Isso poderia, em teoria, ajudar na fadiga muscular característica da MG.

Ao reduzir picos de glicose e insulina, a dieta cetogênica pode ajudar a manter os níveis de energia mais constantes ao longo do dia. Isso pode ser útil para evitar a fadiga extrema.

Desafios da dieta cetogênica

Nos primeiros dias, pode haver piora da fadiga devido à adaptação do corpo à queima de gordura. Isso pode ser crítico para pacientes com MG, que já apresentam fraqueza muscular.

O aumento da ingestão de gorduras deve ser feito com cuidado, priorizando fontes saudáveis (abacate, azeite, oleaginosas, peixes). Evitar excesso de gorduras saturadas e processadas.

A restrição de carboidratos pode limitar o consumo de fibras, vitaminas e minerais essenciais, afetando a imunidade e a saúde óssea (importante para pacientes em uso de corticosteroides). É necessário garantir boas fontes de cálcio, magnésio, potássio e vitaminas do complexo B. Marque aqui sua consulta nutricional para avaliação e orientação.

Alguns medicamentos para MG podem ter sua absorção ou metabolismo alterados em uma dieta cetogênica. É necessário acompanhamento médico para ajustes.

3. Modulação do Estresse

  • Meditação e mindfulness: Redução do estresse oxidativo e regulação do eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal).

  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC): Para lidar com a ansiedade e o impacto emocional da MG.

4. Atividade Física Adaptada

  • Exercícios de baixa intensidade e curtos períodos ajudam na manutenção muscular sem induzir fadiga excessiva.

  • Fisioterapia neuromuscular pode melhorar a função motora e reduzir a atrofia.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/