Efeitos metabólicos da suplementação de butirato

Os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), principalmente acetato, propionato e butirato, são moléculas produzidas no lúmen intestinal pela fermentação bacteriana de carboidratos dietéticos principalmente não digeridos, como amido resistente e, em menor grau, proteínas e polifenois.

A maioria dos microrganismos prefere fermentar carboidratos em vez de proteínas, de modo que as concentrações de AGCC são mais altas no cólon proximal, onde a maioria dos substratos para fermentação está disponível, e declinam em direção ao cólon distal. Estima-se que os AGCCs contribuam para cerca de 60 a 70% das necessidades energéticas das células epiteliais do cólon e 5 a 15% das necessidades calóricas totais de humanos.

Mais de 50 gêneros e 400 espécies de bactérias foram encontrados em fezes humanas. As bactérias dominantes são anaeróbias, incluindo Bacteroides, Bifidobacteria, Eubacteria, Streptococcus e Lactobacilli. Outros anaeróbios, incluindo Enterobacteria, são geralmente encontrados em quantidades menores.

Entre as bactérias anaeróbicas gram-positivas, as bactérias produtoras de butirato estão amplamente distribuídas. Dois dos grupos mais importantes são Faecalibacterium prausnitzii no cluster Clostridium leptum (ou cluster Clostridial IV) e Eubacterium rectale/Roseburia spp. no Clostridium coccoides (ou cluster Clostridial XIVa) cluster de Firmicutes.

Entre os AGCCs, o butirato tem recebido atenção especial por seus efeitos benéficos tanto no metabolismo energético celular quanto na homeostase intestinal. Embora seja o AGCC menos abundante produzido (~60% de acetato, 25% de propionato e 15% de butirato em humanos), o butirato é a principal fonte de energia para os colonócitos.

Numerosos estudos mostraram que o butirato desempenha um papel importante na modulação das respostas imunes e inflamatórias e na função da barreira intestinal. Também tem a capacidade de influenciar a expressão gênica, induzindo assim a apoptose precoce nas células cancerígenas.

Suplementos de butirato e tributirina

O ácido butírico está disponível como sal de Na, K, Mg ou Ca. O objetivo de um revestimento ou encapsulamento é ter uma liberação direcionada em todo o trato digestivo. A matriz lipídica protetora utilizada para microencapsulação de ácidos orgânicos permite a liberação lenta dos ingredientes ativos no trato digestivo, evitando o desaparecimento imediato do ingrediente.

O tipo de revestimento influencia a liberação de butirato no trato digestivo. O revestimento adequado não deve ser decomposto no estômago, mas liberado gradualmente na presença de enzimas de degradação de gordura. O revestimento também reduz o cheiro desagradável típico do butirato.

Um trabalho que avaliou os efeitos da suplementação de butirato de sódio (600mg ao dia) e inulina (10g ao dia) no estado glicêmico, perfil lipídico e nível de peptídeo 1 semelhante ao glucagon em adultos com diabetes mellitus tipo 2, mostrou que após 45 dias há melhoria no metabolismo. A suplementação dietética reduziu significativamente a pressão arterial diastólica, a glicemia em jejum e a circunferência da cintura em comparação com o grupo placebo. Suplemento de inulina (10g ao dia) pode ser útil para pacientes diabéticos e esses efeitos podem ser aumentados com o suplemento de butirato (Roshanravan et al., 2017).

Evidências sugerem que o fornecimento de butirato suplementar regula o sistema imunológico e reduz a agressividade da esclerose lateral amiotrófica (ALS), uma doença neurodegenerativa progressiva. Camundongos que desenvolveram ELA tinham poucos micróbios produtores de butirato em sua microbiota intestinal quando seus sintomas de ELA apareceram; no entanto, a suplementação de butirato restaurou a população de bactérias produtoras de butirato. A suplementação de butirato também corrigiu as proteínas anormais das junções estreitas, melhorando a integridade da barreira e reduzindo a inflamação intestinal.

Outra opção de suplementação é a tributirina, um derivado do ácido butírico, composto por três moléculas de butirato (um pós-biótico) esterificadas em glicerol. É produzida através de tecnologia que remove o odor característico do butirato. Esta é uma opção importante para pacientes com doenças inflamatórias intestinais e câncer de cólon.

Um dos novos tratamentos mais promissores para o câncer de cólon é o uso de inibidores da histona desacetilase (HDAC), medicamentos especiais que dificultam a propagação do câncer e podem matar as células cancerígenas. O butirato é um inibidor natural de HDAC. Em outras palavras, reduz a proliferação celular, ajuda a matar células desnecessárias e afeta a expressão gênica relacionada ao câncer. A tributirina atinge maiores concentrações nas células cancerígenas do que a suplementação de butirato.

Na Europa é vendido pronto como o Butycaps, o Butirato C4 e o buty oil (todos do laboratório elie health solution) e no Brasil pode ser manipulado (newbiome e corebiome). Mas lembre que para salvar um intestino complicado a dieta também precisa melhorar. O consumo de amido resistente – encontrado em legumes, bananas verdes e batatas - além de fibras como farelo de aveia, pectina, goma guar, inulina, psyllium, também ajuda a manutenção de uma boa quantidade e diversidade intestinal de bactérias produtoras de butirato.

Suplementos de butirato e tributirina são promissores, mas a pesquisa ainda está em andamento e nos estágios iniciais. A maioria dos estudos fornece aos pacientes quantidades entre 300 e 600 mg ao dia, consideradas seguras.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/