Butirato: suplementar ou não?

Um crescente corpo de evidências indica extensas comunicações entre o cérebro e o intestino através de um eixo composto pelo sistema nervoso central, sistema nervoso entérico e diferentes tipos de neurônios aferentes e eferentes que estão envolvidos na transdução de sinal entre estes órgãos.

A comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro ocorre através de várias vias, incluindo o nervo vago, vias neuroimunes e vias neuroendócrinas. Muitas bactérias intestinais são capazes de fermentar fibras e produzir butirato. Este metabólito microbiano é capaz de exercer seus efeitos no metabolismo do hospedeiro indiretamente, agindo através do eixo intestino-cérebro.

Este ácido graxo de cadeia curta funciona como um superalimento para o intestino. Mantém as células do cólon saudáveis, reduz a inflamação, estimula o sistema imunológico e melhora a saúde intestinal. Especialistas afirmam que também pode reduzir o risco de câncer colorretal e protegê-lo de distúrbios intestinais, como doença inflamatória intestinal, obesidade e resistência à insulina. Isto porque o butirato pode aumentar a proporção de neurônios entéricos colinérgicos por meio de mecanismos epigenéticos.

Além disso, com a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, o butirato ativa o nervo vago e o hipotálamo, afetando indiretamente o apetite e o comportamento alimentar do hospedeiro.

Alguns dos efeitos metabólicos benéficos do butirato são mediados através da gliconeogênese do epitélio intestinal e através de um circuito neural intestino-cérebro para aumentar a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose. Por exemplo, o butirato se liga ao seu receptor nas células intestinais e envia sinais para o cérebro através da via de sinalização do AMPc, mas o efeito do butirato endógeno no eixo intestino-cérebro merece mais investigações.

A concentração de butirato do seu corpo depende de algumas coisas diferentes: a composição da sua microbiota intestinal, quanta fibra prebiótica você consome, seus níveis de inflamação (e respostas inflamatórias) e muito mais.

O butirato é produzido a partir de fibras alimentares através da fermentação bacteriana através de 2 vias metabólicas. Na primeira via, o butiril-CoA é fosforilado para formar butiril-fosfato e transformado em butirato via butirato quinase. Na segunda via, a porção CoA de butiril-CoA é transferida para acetato via butiril-CoA:acetato CoA-transferase, levando à formação de butirato e acetil-CoA. A análise dos dados do metagenoma também sugeriu que o butirato pode ser sintetizado a partir de proteínas através da via da lisina.

O butirato também está presente em alimentos como manteiga, queijo e outros produtos lácteos com alto teor de gordura, além de suplementos. Pacientes com síndrome do intestino irritável tendem a sentir muito alívio com o uso de Butycaps. Também pode desempenhar um papel importante na prevenção e tratamento do câncer do intestino grosso.

Um dos novos tratamentos mais promissores para o câncer de cólon é o uso de inibidores da histona desacetilase (HDAC), medicamentos especiais que dificultam a propagação do câncer e podem matar as células cancerígenas. O butirato é um inibidor natural de HDAC. Em outras palavras, reduz a proliferação celular, ajuda a matar células desnecessárias e afeta a expressão gênica relacionada ao câncer.

Mas a dieta também precisa melhorar. O consumo de amido resistente – encontrado em legumes, bananas verdes e batatas - além de fibras como farelo de aveia, pectina, goma guar, inulina, psyllium, também ajuda a manutenção de uma boa quantidade e diversidade intestinal de bactérias produtoras de butirato.

BUTIRATO E TRATAMENTO DA HIPERPERMEABILIDADE INTESTINAL

Devido à infecção, uma resposta imune hiperativa, má alimentação, inflamação do cólon, toxinas ou mesmo estresse – a barreira intestinal pode desenvolver pequenos orifícios. Isso é chamado de intestino permeável e está conectado a muitas condições intestinais crônicas, da síndrome do intestino irritável (SII), às doenças inflamatórias intestinais como doença de Crohn e à colite ulcerativa.

Consertar intestino permeável é complicado, mas o butirato pode fazer parte da equação, pois ajuda a reparar e melhorar a função da barreira intestinal, aumentando o muco protetor ao redor dos enterócitos. Ele também contribui para maior adesividade das junções estreitas (tight junctions).

Em um estudo, 66 pacientes com SII receberam butirato de sódio ou placebo (juntamente com a farmacologia padrão da doença) por quatro semanas. Ao final do estudo, o grupo suplementado com butirato apresentou melhoras significativas, principalmente em termos de redução de dores e gases (Banasiewicz et al., 2013).

Outro estudo mostrou que a suplementação de 4 gramas de butirato por dia durante oito semanas ajudam a manter os pacientes com doença de Crohn em remissão, pelo efeito antiinflamatório deste composto (Sabatino et al., 2005).

O butirato é um poderoso anti-inflamatório – não apenas no intestino, mas também no resto do corpo. O ácido graxo de cadeia curta reduz a inflamação de várias maneiras, mas a principal via é através de um fator de transcrição chamado NF-κB. Pense no NF-κB como um interruptor que liga ou desliga centenas de outros interruptores que podem causar inflamação.

Suplementos de butirato são promissores, mas a pesquisa ainda está em andamento os estágios iniciais. A maioria dos estudos fornece aos pacientes quantidades entre 300 e 600 mg ao dia, consideradas seguras. Contudo, ainda existe grande controvérsia em relação do butirato em relação à perda de peso. No momento, indica-se que indivíduos obesos não façam o uso da substância. Mais sobre este tema em postagem anterior.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/