Uso de drogas antiepilépticas na gestação e risco de autismo

A epilepsia é uma doença caracterizada por uma predisposição duradoura para gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais das mesmas. Uma crise epiléptica é a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas devidos a uma atividade neuronal excessiva no cérebro, com duração variável (de alguns segundos a vários minutos). É um evento resultante de uma disfunção temporária da atividade elétrica cerebral.

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Na epilepsia as crises epilépticas são recorrentes, súbitas e imprevisíveis e incontroláveis pelo paciente. Existem causas genéticas, estruturais e metabólicas para a epilepsia. Crises muito prolongadas podem gerar sofrimento cerebral, interferindo com suas funções.

Dependendo da frequência, duração e tipo de epilepsia podem ser necessários medicamentos para seu melhor controle. Outros tratamentos envolvem dieta cetogênico, cirurgia e neuroestimulação do nervo vago. Na gestação, estudos mostram que o uso de drogas antiepilépticas, como ácido valpróico, aumentam o risco de desenvolvimento de autismo na criança. Quanto maior é a dose do medicamento utilizada maior o risco (Wood et al., 2015).

Mas, estudo publicado em 2018 mostrou que níveis adequados de folato reduzem o risco de autismo entre filhos de gestantes que fizeram o uso de medicamentos antiepilépticos na gestação. O estudo prospectivo de coorte foi realizado na Noruega. Os parâmetros avaliados foi o uso de drogas antiepilépticas e a suplementação de ácido fólico. Observou-se que os traços autísticos foram significativamente mais pronunciados nas 335 crianças expostas aos medicamentos, tanto aos 18 meses de vida quanto aos 36 meses de idade, especialmente quando as mães não utilizaram a suplementação da vitamina B9.

O grau de traços autísticos foi inversamente associado às concentrações de folato no plasma materno. Ou seja, quanto menor era a dosagem de ácido fólico na mãe maior a chance de seu filho ter traços autísticos (Bjørk et al., 2018). Por isso, recomenda-se a avaliação das concentrações de folato em todas as gestantes, assim como de homocisteína. No caso de mulheres que já possuem um filho autista recomenda-se também a investigação do polimorfismo para o gene MTHFR.

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O mesmo é indicado para mulheres que não possuem epilepsia. Outro estudo, investigou a relação entre a suplementação multivitamínica materna durante a gravidez e os biomarcadores plasmáticos maternos de folato e vitamina B12 medidos 24-72 horas após o parto e o risco de diagnóstico posterior do espectro autista em crianças. Foram recrutadas 1.391 gestantes e coletados dados da ingestão de suplemento multivitamínico, amostras de sangue para avaliação dos níveis de folato, homocisteína e B12. As crianças cujas mães fizeram o uso regular do suplemento estavam mais protegidas (Raghavan, Fallin, Wang, 2016).

Por que o acompanhamento médico e nutricional é importante? Mulheres não devem usar suplementos sem acompanhamento. Até porque o exagero também pode trazer problemas imprevistos. O mesmo estudo mostrou que quando os níveis de B9 e B12 eram excessivamente altos (> 59 nmol/L e > 600 pmol/L, respectivamente), o risco de autismo nas crianças também aumentou. Mais estudos são necessários para identificação dos níveis ótimos de folato e B12 na gestação.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/