Muito já foi escrito sobre este tema mas sempre recebo mensagens e e-mails pedindo para eu falar mais. Há muita confusão pois muitos autores venderam milhões de livros falando sobre as dietas de nossos ancestrais, a dieta paleo. Contudo, alguns autores inventaram tanta coisa que os livros ficariam muito melhor na seção de ficção do que na de nutrição.
Muitos descrevem a dieta paleo como uma dieta rica em carnes. Da onde tiraram isso eu não sei. Vamos aos fatos. Os hominídios surgiram a cerca de 2 milhões de anos. Antes disso, vários de nossos ancestrais não hominídios passaram pela face da terra, tendo contribuído para nosso DNA (Eaton & Kooner, 1985). Desta forma, entender o que comiam nos ajuda a entender como evoluímos e chegamos até aqui.
Há mais de 4 milhões de anos, no mioceno, divisão da era cenozóica, nossos ancestrais consumiam basicamente uma dieta baseada em plantas (Jenkins & Kendall, 2006). Anatomicamente o trato digestório de chimpanzés, gorilas e outros grandes macacos se parece muito com o dos seres humanos. De fato, o DNA dos seres humanos e dos gorilas possui uma semelhança de 98%. E o que eles consomem? Uma dieta baseada em vegetais com menos de 2% de alimentos de origem animal em sua composição (Oelze et al., 2011; Popovich et al., 1997; Tutin & Fernandez, 1993; ). Obviamente, não tinha bacon, peito de peru e ovo frito no café da manhã.
Existem evidências de que nossos ancestrais hominídios consumiam entre 70 e 120 gramas de fibras vegetais ao dia (Tuohy et al., 2012). Muito mais do que a dieta ocidental típica (12 a 20 gramas ao dia) (Tuohy et al., 2009) e do que as recomendações dos órgãos de saúde (25 a 30 gramas ao dia) (Jenkins et al., 2001).
Várias populações da África ainda possuem um alto consumo de fibras e uma baixíssima incidência de doenças cardiovasculares, obesidade, câncer de cólon e outros problemas de saúde modernos (Jenkins et al., 2001). Resumo da ópera: caso queira adotar uma dieta hiperprotéica assuma os riscos e não culpe nossos ancestrais.
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