A influência do ambiente no funcionamento intestinal

A disfunção entérica ambiental (DEA) é um termo utilizado para descrever a condição fisiopatológica em que o intestino deixa de atuar como uma barreira eficiente (hiperpermeabilidade intestinal). É bastante comum em regiões do mundo onde há falta de saneamento. As crianças são as maiores prejudicadas, podendo desenvolver desnutrição e carência de uma série de nutrientes que afetam a imunidade e aumentam a mortalidade.

Na DEA observam-se modificações estruturais e funcionais do trato gastrointestinal, incluindo alteração das vilosidades, imunidade prejudicada na mucosa intestinal, má absorção de nutrientes, prejuízo do crescimento. Além da exposição crônica à patógenos (comum em situações de falta de higiene), outros fatores ambientais (falta de fibras, disbiose intestinal, contato com agrotóxicos, metais pesados, preservativos de alimentos processados e ultraprocessados podem contribuir para a DEA. Esta pode ser transiente, sendo reversível ou crônica e de difícil tratamento.

Fonte: Traduzido por Dra. Andreia Torres a partir do trabalho de Mapesa, Maxwell & Ryan, 2016

Fonte: Traduzido por Dra. Andreia Torres a partir do trabalho de Mapesa, Maxwell & Ryan, 2016

Exposoma

O expossoma é o termo utilizado para descrever o conjunto de fatores aos quais estamos expostos diariamente e que afetam nossa saúde. Estas influências ambientais começam dentro do útero da mão, passando pela infância e chegando à fase adulta. São identificados como fatores externos a poluição, as toxinas biológicas e químicas, a radiação ultravioleta e entre fatores mais internos a alimentação, o estresse e o sedentarismo. 

O expossoma combina-se à genética e influencia o surgimento de doenças inflamatórias intestinais crônicas (DII), incluindo a doença de Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CoUlc). Estas doenças afetam as interações normais entre micróbios e hospedeiros. O trato gastrointestinal é exposto a uma carga avassaladora de antígenos estranhos decorrentes de microorganismos comensais, produtos alimentares e patógenos ocasionais. Mas esses fatores explicam apenas uma pequena fração do risco de doença. Nas últimas duas décadas, os avanços na genômica, epigenômica e compreensão da microbiota intestinal melhoraram nosso conhecimento na patogênese da DII.

Embora nossa capacidade de prever recaídas e resposta ao tratamento permaneça limitada, a importância do ambiente externo para modificar o risco de DII e precipitar recaídas em pacientes com doença estabelecida aumenta (Niess, Haymak & Hruz, 2019). A alimentação, por exemplo, desempenha um papel essencial no desenvolvimento da doença inflamatória intestinal e continua a atuar como mediadora da inflamação intestinal quando a doença instala-se. A maioria dos médicos oferece pouca orientação alimentar aos pacientes com DII. Por isso, o acompanhamento com nutricionista é fundamental.

Durante períodos agudos da doença a dieta enteral exclusiva continua sendo a opção mais eficaz para induzir a remissão da doença de Crohn e para o fechamento de fístulas enterocutâneas. Outras opções de tratamento dietoterápico são a dieta autoimune (modificação da dieta paleo, com exclusão de glúten e leite) e a dieta com baixo teor de substâncias fermentáveis (dieta FODMAP). Contudo a dieta FODMAP parece apropriado apenas em curto prazo, em surtos agudos. A restrição de FODMAPs a longo prazo não costuma ser recomendada pois modifica ainda mais o microbioma. Alimentos processados e ultraprocessados, embalados, cheios de conservantes e emulsificantes devem ser excluídos pois geram inflamação intestinal (Damas, Garces & Abreu, 2019). O mesmo se dá no tratamento da síndrome do intestino irritável.

Síndrome do Intestino Irritável e alimentação

A síndrome do intestino irritável (SII) pode estar associada à várias questões fisiopatológicas, incluindo alteração da microbiota intestinal, inflamação de baixo grau e intolerância a alguns alimentos. Dieta com baixo FODMAP é uma das opções para tratar a SII. Diminuir glúten e leite também parece trazer benefícios. Mas nem todos os pacientes respondem igualmente às estratégias nutricionais. O que parece comum é que pessoas que ingerem menos cereais, açúcares e refrigerantes elas desenvolvem menos sintomas do que as aqueles que ingeriam mais alimentos ultraprocessados. Mas lembre-se, individualidade é muito importante. Por isso, procure um nutricionista para orientá-lo melhor.

Os fatores ambientais, especialmente dietéticos, são os principais modificadores da composição do microbioma intestinal (Gomez et al., 2019). Assim, o acompanhamento nutricional para a definição da dieta em cada fase da vida é fundamental.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/