Um Novo Paradigma para a Saúde da mulher +50 sob a Perspectiva da Nutrição

Estamos vivendo uma revolução na forma de compreender o corpo humano. Durante décadas, a medicina tradicional concentrou-se em tratar doenças depois que elas apareciam, um modelo reativo, centrado em sintomas e órgãos isolados. Com os avanços da ciência, esse paradigma está sendo substituído por uma visão ampla, integrativa e sistêmica, que entende o corpo como uma rede dinâmica de sistemas interconectados e únicos em cada indivíduo.

Da Medicina Tradicional à Nutrição de Precisão

A nutrição avançada, de precisão rompe com o reducionismo clássico. Em vez de enxergar a doença como um problema localizado, ela a interpreta como o resultado de desequilíbrios em redes metabólicas e moleculares. O foco desloca-se do tratamento dos sintomas para a compreensão das causas profundas, a restauração do equilíbrio celular e a prevenção em nível molecular.

Essa abordagem se apoia em pilares da biologia de sistemas e na integração de tecnologias como genômica, metabolômica, proteômica e microbiômica, permitindo identificar padrões biológicos individuais. É o nascimento da nutrição de precisão.

Nutrição de precisão ou nutrição preditiva é aquela que utiliza informações sobre as características de um indivíduo, incluindo marcadores ômicos, para tornar as recomendações mais personalizadas. Quanto mais informações possuímos mais podemos contribuir com estratégias eficazes para a prevenção e tratamento de doenças.

O novo papel da nutrição

A nutrição deixa de ser uma simples contagem de calorias, dietas e restrições. Ela passa a ser compreendida como linguagem molecular, uma forma de comunicação com as células. O alimento é informação biológica: cada nutriente modula a expressão gênica, regula o metabolismo, influencia o equilíbrio hormonal e impacta até o envelhecimento cerebral.

Os nutrientes bioativos, compostos fenólicos e cofatores metabólicos modulam epigeneticamente processos de inflamação, oxidação e sinalização hormonal. Assim, o nutricionista torna-se agente de modulação molecular, capaz de interferir na biologia celular e promover saúde a partir da base: o DNA.

Bioindividualidade e Abordagem Sistêmica

Cada indivíduo possui uma assinatura metabólica única, moldada por genética, microbiota, ambiente e estado emocional. Essa bioindividualidade explica por que não envelhecemos da mesma forma nem respondemos igual a uma mesma dieta. A intervenção eficaz deve integrar metabolismo, microbioma, estado inflamatório, eixos hormonais e função mitocondrial — uma leitura integral do terreno biológico.

Do ponto de vista clínico, essa transição redefine o papel do nutricionista:
de prescritor de dietas para arquiteto metabólico. A prática agora envolve a interpretação de exames moleculares, perfis ômicos e protocolos de modulação celular. A nutrição torna-se uma terapia de precisão, preventiva e regenerativa.

A adequação de cofatores mitocondriais, aminoácidos precursores e antioxidantes endógenos potencializa terapias de regeneração celular e retarda o envelhecimento tecidual. O nutricionista, munido de ferramentas moleculares, torna-se mediador entre biotecnologia e fisiologia, otimizando o terreno biológico para que os processos de reparo e rejuvenescimento ocorram naturalmente.

A Menopausa como Janela de Vulnerabilidade e Oportunidade

A menopausa é um dos momentos em que essa visão se torna mais crítica. Mais do que uma transição hormonal, ela é uma reorganização neurometabólica profunda, especialmente no cérebro feminino, órgão altamente dependente do estrogênio.

A menopausa é marcada pela redução dos níveis de estrogênio, hormônio com forte impacto no funcionamento cerebral. O estrogênio atua como combustível cerebral, regulando o uso da glicose, a função mitocondrial e a plasticidade sináptica. Com sua queda, o cérebro busca novas fontes energéticas e mecanismos de adaptação — e é aqui que a nutrição atua como intervenção neuroendócrina e epigenética.

Diminuição da atividade em áreas relacionadas à memória e à atenção (como o hipocampo e o córtex pré-frontal).

  • Ajustes na conectividade cerebral, com reconfiguração de redes neurais para manter a eficiência cognitiva.

  • Possível redução da plasticidade sináptica — mas o cérebro pode compensar isso com novas estratégias cognitivas e emocionais.

Capacidades que podem se adaptar:

  • Maior regulação emocional e resiliência (devido à experiência de vida e amadurecimento do sistema límbico).

  • Maior foco em objetivos significativos e sociais (teoria da seletividade socioemocional).

  • Melhoria na capacidade de priorizar informações e tomar decisões baseadas em sabedoria prática.

A otimização da saúde cerebral das mulheres depende fortemente de escolhas consistentes e de longo prazo em relação ao estilo de vida e à nutrição, particularmente porque o cérebro é otimizado para a estabilidade, o que significa que soluções rápidas são ineficazes, mas hábitos saudáveis sustentados produzem resultados positivos duradouros.

A sua saúde durante a meia-idade (definida aproximadamente entre 35 e 65 anos) é considerada o melhor preditor da sua saúde para o resto da sua vida. As escolhas mais impactantes em termos de estilo de vida e nutrição são especialmente relevantes durante a transição crucial da perimenopausa e menopausa.

Nutrientes-Chave para a Neuroproteção Feminina

As escolhas alimentares são cruciais, pois oferecem múltiplas oportunidades diárias para nutrir o cérebro. O alimento é considerado informação e bioquímica que impacta ativamente as vias celulares e de DNA.

Priorizar Alimentos Antioxidantes e Anti-inflamatórios

O grupo de nutrientes mais importante para a saúde cerebral, de acordo com a pesquisa científica, são os antioxidantes. O cérebro é o órgão mais metabolicamente ativo do corpo, e a queima de glicose gera estresse oxidativo e radicais livres que danificam os neurônios e aceleram o envelhecimento celular. A única maneira de neutralizar esse dano é importar antioxidantes através da dieta.

Antioxidantes são encontrados exclusivamente em alimentos à base de plantas. Priorizar uma abordagem "rica em plantas" ("plant-forward" ou “plant-based”) ou "comer o arco-íris" ("eat the rainbow") é recomendado. As principais fontes incluem amoras (blackberries, que possuem maior capacidade antioxidante do que mirtilos/blueberries), goji berries (uma fonte concentrada de Vitamina C), alcachofras, café (especialmente espresso), vinho tinto, cacau, chá, vegetais de folhas verdes e a Indian gooseberry (amla).

Adotar uma Dieta Estilo Mediterrâneo

Uma dieta baseada predominantemente em alimentos integrais (whole foods) que minimiza alimentos processados está fortemente associada a melhores resultados de saúde.

A dieta estilo Mediterrâneo tem sido consistentemente ligada a um início mais tardio da menopausa e a sintomas mais leves. Exames cerebrais mostraram que o cérebro de uma mulher de 50 anos que segue a dieta Mediterrânea pode parecer pelo menos cinco anos mais jovem em comparação com uma mulher da mesma idade que segue uma dieta Ocidental. Os principais componentes incluem produtos frescos, frutas, vegetais, proteínas magras e gorduras saudáveis.

Nutrientes Essenciais

  • Ômega-3 (EPA e DHA): garantem a fluidez das membranas neuronais e sustentam a plasticidade sináptica.

  • Coenzima Q10, ácido alfa-lipóico e carnitina: otimizam a bioenergética mitocondrial e reduzem o estresse oxidativo.

  • Polifenóis (resveratrol, quercetina, curcumina): combatem a neuroinflamação e favorecem a homeostase glial.

  • Vitaminas do complexo B, colina e betaina: participam da regulação epigenética, protegendo a expressão gênica ligada à memória e à longevidade neuronal.

  • Fibra: A ingestão adequada é vital, pois ajuda a regular os níveis de estrogênio na corrente sanguínea. A fibra (encontrada em alimentos vegetais) alimenta o estroboloma, uma parte do microbioma intestinal especificamente envolvida no metabolismo do estrogênio.

  • Probióticos: A microbiota intestinal tem papel decisivo. A disbiose na menopausa altera neurotransmissores e afeta humor e cognição. Fibras prebióticas e probióticos específicos (como Lactobacillus plantarum e Bifidobacterium longum) restabelecem a comunicação entre intestino e cérebro.

  • Proteína: Proteína magra fornece aminoácidos necessários para clareza mental e ajuda a manter a massa muscular magra, que é crucial para a saúde metabólica.

  • Água: O cérebro é aproximadamente 80% água. Mesmo uma desidratação leve (perda de 2 a 4% de água) pode desencadear sintomas neurológicos como dores de cabeça, tontura, fadiga e névoa cerebral (brain fog).

O Estilo de Vida como Terapia Integrativa

A medicina avançada reconhece que a nutrição isolada não basta.
Três pilares comportamentais completam a sustentação da saúde cerebral:

  • Sono: é durante o sono profundo que o cérebro elimina toxinas e consolida memórias. O sono fragmentado impede o cérebro de completar seus ciclos de limpeza, o que está ligado à inflamação e ao acúmulo de placas de Alzheimer. Mais da metade das mulheres perimenopáusicas e pós-menopáusicas relatam dificuldade para dormir.

  • Movimento: o exercício físico regular estimula a neurogênese, melhora o humor e previne o declínio cognitivo. Estudos mostram que mulheres que são fisicamente ativas na meia-idade têm um risco 30% menor de demência mais tarde na vida em comparação com aquelas que são sedentárias.

  • Gestão do estresse: níveis crônicos de cortisol aceleram o envelhecimento cerebral; técnicas de respiração, meditação e ioga auxiliam na regulação neuroendócrina. ltos níveis de estresse/cortisol em mulheres de meia-idade estão correlacionados com atrofia cerebral (brain shrinkage) e pior desempenho de memória, sendo que o cérebro feminino parece mais vulnerável aos efeitos do estresse em comparação com o masculino.

  • Evitar toxinas: Toxinas e desreguladores endócrinos funcionam por bioacumulação, acumulando-se nos tecidos ao longo do tempo, tornando a evasão precoce e consistente crítica.

    • Fumo/Tabagismo: É citada como a toxina ovariana número um auto-introduzida no corpo. Fumar (ativo ou passivo) está associado a um início mais precoce da menopausa.

    • Plástico/Xenoestrogênios: Evitar o plástico no cozimento e armazenamento, especialmente quando aquecido (e.g., micro-ondas, lava-louças), pois libera substâncias químicas que imitam o estrogênio (xenoestrogênios), impactando a saúde reprodutiva e cerebral.

    • Alimentos Processados: Alimentos altamente processados contêm aditivos e produtos químicos que perturbam o corpo e aceleram o início da menopausa.

    • Álcool e Cafeína: O álcool é desidratante e pode exacerbar sintomas menopáusicos como ondas de calor e insônia. A cafeína tem uma meia-vida longa (levando 12 horas para ser completamente eliminada do sistema), interrompendo o sono profundo e restaurador, mesmo se consumida no início da tarde. A mudança para descafeinado ou a limitação estrita da ingestão é aconselhada.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

5 Descobertas Surpreendentes Sobre Menopausa e Microbioma

A menopausa é uma fase normal da vida da mulher, marcada pela transição da capacidade reprodutiva para a terceira idade. Quando pensamos em menopausa, os sintomas que vêm à mente são quase sempre os mesmos: ondas de calor, alterações de humor e noites mal dormidas. Estes sintomas são principalmente causados pela queda nos níveis de estrógeno, um hormônio sintetizado a partir do colesterol.

Sintomas da transição menopausal (Liaquat et al., 2025)

Cerca de 90% do estrógeno é fabricado nos ovários e pequenas quantidades nas glândulas adrenais e no tecido adiposo. O principal tipo de estrógeno é o estradiol (E2), o mais ativo, potente e que predomina durante a vida reprodutiva. A estrona (E1) predomina na menopausa e o estriol (E3) na gestação. Depois de liberados na corrente sanguínea, os estrógenos são metabolizados no fígado e excretados no intestino. Durante os anos reprodutivos da mulher, os níveis de estrógenos ficam entre 100 e 250 pg/mL. Após a menopausa declinam para cerca de 10 pg/mL (Wang et al., 2025).

Bactérias específicas no intestino (estroboloma) processam estrógenos em formas que podem ser reabsorvidas (Liaquat et al., 2025)

No fígado, o estrógeno liga-se ao receptor ERα, aumentando a queima de gordura. Com a queda de estrógeno, o ganho de peso fica mais fácil, assim como o acúmulo de gordura no fígado. O estrógeno também regula a transcrição de genes e a expressão de BDNF, protegendo os neurônios. Sem ele, muitas mulheres percebem piora no desempenho cognitivo.

O estrógeno também estimula os osteoblastos, promovendo a formação óssea. Sem ele, o risco de osteoporose aumenta (Wang et al., 2025)

Enquanto essas mudanças visíveis acontecem, uma revolução silenciosa e muito mais profunda está se desenrolando dentro do nosso corpo. Trata-se de uma transformação completa do microbioma - a vasta comunidade de bactérias, fungos e outros micróbios que habitam nosso intestino, pele, boca e sistema urogenital. E vários dos sintomas da menopausa estão associados ao desequilíbrio da microbiota intestinal. E parece que a chave para uma menopausa mais saudável depende dessa saúde intestinal.

As 5 Maiores Surpresas da Ciência Sobre Menopausa e Microbioma

A pesquisa científica está revelando conexões fascinantes entre a queda dos hormônios femininos e as mudanças em nossos ecossistemas microbianos. Aqui estão cinco das descobertas mais surpreendentes.

1. Seu microbioma intestinal se torna mais "masculino"

Após a menopausa, a composição do microbioma intestinal das mulheres começa a se assemelhar mais à dos homens. Um estudo abrangente descobriu que essa mudança está ligada ao estado compartilhado de baixos níveis de estrogênio e progesterona, tanto em mulheres na pós-menopausa quanto em homens (Peters et al., 2022).

Além disso, as mulheres na pós-menopausa tendem a apresentar uma diversidade microbiana menor no intestino em comparação com as mulheres na pré-menopausa. Isso é importante porque uma menor diversidade no microbioma intestinal está geralmente associada a uma menor resiliência do sistema e a um risco aumentado de problemas metabólicos. Essa descoberta é surpreendente porque destaca como os hormônios sexuais, e não apenas o sexo biológico, moldam profundamente nosso ecossistema interno.

A menopausa parece estar associada a um microbioma intestinal mais semelhante ao dos homens, talvez relacionado à condição comum de um estado de baixo estrogênio/progesterona.

Enquanto o intestino passa por essa convergência, o microbioma vaginal segue uma trajetória completamente diferente e surpreendente, revelando uma regra fundamental: o que é saudável para um ecossistema microbiano não se aplica necessariamente a outro.

2. O paradoxo da vagina na menopausa: mais diversidade, menos proteção

Aqui encontramos o que os cientistas chamam de "paradoxo da menopausa". Ao contrário do intestino, onde uma alta diversidade de micróbios é geralmente um sinal de saúde, no microbioma vaginal acontece o oposto. Na pós-menopausa, um aumento na diversidade é, na verdade, um sinal de alerta.

Isso ocorre porque as espécies protetoras de Lactobacillus, que são dominantes em mulheres na pré-menopausa e mantêm um pH vaginal ácido e saudável, diminuem drasticamente. Essa perda de proteção abre espaço para o crescimento de outras bactérias e está diretamente ligada a um risco aumentado de secura vaginal, infecções do trato urinário (ITUs) e vaginose bacteriana (VB).

Essa vulnerabilidade no sistema urogenital destaca o papel crítico dos hormônios. Mas a relação não é uma via de mão única. De volta ao intestino, uma coleção especializada de micróbios, conhecida como "estroboloma", não apenas reage à queda hormonal, mas tenta ativamente intervir.

3. Conheça seu "estroboloma": as bactérias que reciclam seus hormônios

O microbioma não é apenas uma vítima passiva das mudanças hormonais; ele é um participante ativo. O conceito de "estroboloma" refere-se ao conjunto de micróbios intestinais capazes de metabolizar e reativar estrogênios.

Esses micróbios produzem uma enzima chamada β-glucuronidase, que pode "desconjugar" estrogênios, transformando-os de uma forma inativa de volta para uma forma ativa que pode ser absorvida e utilizada pelo corpo. Pense nisso como se as bactérias estivessem "desbloqueando" ou "reativando" o estrogênio que, de outra forma, seria descartado, devolvendo-o à circulação para ser usado pelo corpo.

Estudos mostram que a menopausa está associada a uma redução na abundância dessa enzima bacteriana chave. Em outras palavras, com a diminuição dessa enzima, o corpo perde uma de suas ferramentas mais importantes para reciclar e reutilizar o pouco estrogênio ainda disponível, o que pode intensificar os efeitos da queda hormonal (Wang et al., 2025).

A influência desses micróbios intestinais se estende por todo o corpo, modulando os hormônios que circulam sistemicamente. E essa onda de mudanças hormonais atinge um local surpreendente com um impacto profundo: a nossa boca.

4. Sua boca é um ponto crítico da menopausa

Uma conexão que muitas vezes passa despercebida é o impacto profundo da menopausa na saúde bucal. A queda nos níveis de estrogênio afeta diretamente os tecidos da boca, pois existem receptores de hormônios sexuais nas glândulas salivares e na mucosa oral.

Essa sensibilidade hormonal pode levar a uma série de problemas orais comuns em mulheres na pós-menopausa, incluindo:

  • Boca seca (xerostomia): Uma redução no fluxo salivar.

  • Síndrome da boca ardente (SBA): Uma sensação dolorosa de queimação na boca.

  • Risco aumentado de doença periodontal: A inflamação e infecção das gengivas.

Embora muitas dessas alterações microbianas apresentem novos desafios para a saúde, a ciência revelou uma reviravolta surpreendente. No intestino, a mesma maré hormonal que traz desafios também pode trazer um benefício inesperado.

5. Uma reviravolta: a menopausa pode reduzir alguns patógenos intestinais

Nem todas as mudanças no microbioma são negativas. Em uma descoberta contraintuitiva, pesquisadores descobriram que mulheres na pós-menopausa tinham uma abundância menor de certas bactérias patogênicas, como E. coli e espécies de E. coli-Shigella (Peters et al., 2022).

Isso foi inesperado, já que o envelhecimento é geralmente associado a uma maior suscetibilidade a infecções. A hipótese dos cientistas é que a diminuição da progesterona — um hormônio que pode suprimir o sistema imunológico — após a menopausa pode, na verdade, permitir uma ativação imune mais robusta contra esses patógenos específicos no intestino. Esta é uma reviravolta notável: a mesma queda hormonal que causa tantos sintomas desafiadores pode, ironicamente, fortalecer a vigilância imunológica do intestino contra certos patógenos, ao remover o efeito supressor da progesterona.

Estratégias para melhoria da microbiota

A menopausa é muito mais do que a cessação dos ciclos menstruais; é uma transição de corpo inteiro que remodela profundamente nossos parceiros microbianos, do intestino à boca e ao sistema urogenital. Para melhorar a composição da microbiota a mulher deve:

  • Bactérias boas alimentam-se de fibras dietéticas. Aumentar a ingestão de fibras dietéticas de alta qualidade (ex: cereais integrais, vegetais, leguminosas) favorece diversidade microbiana e suporta função intestinal saudável. O consumo de pelo menos 30 a 35g de fibras ao dia é importante. Alimentos como farelos, vegetais crucíferos, sementes, legumes e suplementos ajudam-nos a chegar lá!

  • Introduzir alimentos com potencial prebiótico ou ricos em compostos bioactivos: por exemplo, sementes de linhaça, fibras de soja, vegetais variados, iogurte enriquecido. Estudos indicam melhorias em perfil lipídico, massa corporal e densidade óssea em mulheres em transição para a menopausa. Alimentos prebióticos podem melhorar a permeabilidade intestinal (reduzindo translocação microbiana e inflamação).

  • Probióticos (Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus rhamnosus, entre outros) têm efeitos positivos em modelos animais e em alguns ensaios em humanos, tanto para melhoria da densidade óssea, como sintomas vasomotores e comorbidades metabólicas. Com o aumento da diversidade, há reforço da barreira intestinal, possivelmente maior disponibilização ou modulação dos estrogénios através da estroboloma.

Na prática: consuma mais alimentos fermentados (iogurte natural, kefir, chucrute) ou suplementos probióticos validados. Marque aqui sua consulta para conversarmos.

  • Monitore massa corporal, composição corporal, perfil lipídico, glicemia, densidade óssea, sintomas (ondas de calor, humor, sono). Uma abordagem integrativa é fundamental, com atividade física regular, sono adequado, práticas de gerenciamento do estresse ou terapias de reposição hormonal, indicadas de acordo com seu caso.

  • Consuma fitoestrógenos, classe de compostos fenólicos produzidos por plantas como a soja e a linhaça. Sua estrutura é semelhante ao 17-β-estradiol. Quando os níveis de estrogênio diminuem, os fitoestrógenos ajudam a manter o equilíbrio hormonal. Os fitoestrogênios demonstraram ter uma variedade de benefícios para a saúde humana, como ação antioxidante, neuroproteção, fortalecimento do sistema imunológico, proteção cardiovascular e outros. Um estudo com idosos no sul da Itália constatou que uma maior ingestão de fitoestrogênios, particularmente isoflavonas, estava associada a um melhor desempenho cognitivo Os fitoestrogênios também podem melhorar a densidade óssea, aliviar os sintomas de relaxamento vascular da menopausa.

Gong et al., 2023

As isoflavonas vegetais são os fitoestrogênios mais conhecidos e têm atraído atenção devido às suas propriedades benéficas à saúde. As isoflavonas são transformadas, em primeiro lugar, nas agliconas genisteína e daidzeína. A daidzeína pode ser metabolizada por algumas bactérias, como Adlercreutzia equolifaciens, Eggerthella sp. YY7918, Lactococcus garvieae, Slackia equolifaciens, Slackia isoflavoniconvertens e Slackia spp., em equol e O-desmetilangolensina (O-DMA). Os lignanos não são facilmente absorvidos pelo intestino e devem ser metabolizados em enterolactona (ENL) e enterodiol (END) pela microbiota intestinal, como Clostridium saccharogumia, Eggerthella lenta e Blautia producta, que são chamados de enterolignanos, antes de poderem entrar no organismo e exercer suas funções. Em resumo, a microbiota intestinal desempenha um papel muito importante na determinação da absorção, metabolismo, distribuição e excreção de fitoestrogênios ingeridos e seus metabólitos.

O equol é um metabólito da soja. É produzido a partir da daidzeína, cuja absorção depende de uma microbiota apropriada (Gong et al., 2023)

A interação entre a microbiota intestinal e os fitoestrogênios é bidirecional. Os fitoestrogênios são metabolizados pela microbiota intestinal, e os metabólitos formados regulam e remodelam a composição da microbiota intestinal, alterando a diversidade e a abundância de bactérias.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Marcadores metabolômicos para doenças

A metabolômica estuda o conjunto total de metabólitos presentes em um sistema biológico, captando uma “fotografia” dinâmica do estado fisiológico ou patológico.

No contexto de biomarcadores emergentes, a ideia é:

  1. Detectar sinais bioquímicos antes do aparecimento clínico de uma doença.

  2. Melhorar a estratificação de pacientes para terapias personalizadas.

  3. Monitorar resposta terapêutica em tempo real.

O avanço da ciência de precisão depende de integrar esses biomarcadores com dados genômicos, proteômicos e exposômicos.

Principais áreas de aplicação clínica

Câncer e avaliação de oncometabólitos s

Oncometabólitos são produtos metabólicos alterados por mutações oncogênicas, que podem tanto indicar a presença de tumor quanto participar de sua progressão.

  • D-2-hidroxiglutarato (D-2HG): Acumula-se em mutações de IDH1/IDH2, altera a metilação do DNA e a expressão gênica, e pode ser detectado via RMN ou espectrometria de massa no soro e urina.

  • Sarcosina no câncer de próstata e colina fosforilada em câncer de mama também estão sendo estudadas.

  • Aplicações: detecção precoce, seleção de terapias-alvo, monitoramento de recidiva.

Doenças neurodegenerativas

O cérebro tem metabolismo altamente específico, e alterações precoces podem ser detectadas antes da perda neuronal extensa.

  • Alzheimer:

    • Redução de metabólitos do ciclo TCA (ex. citrato, α-cetoglutarato) e aumento de certos aminoácidos aromáticos.

    • Alterações no metabolismo lipídico (ex. esfingomielinas e plasmalogênios).

  • Parkinson:

    • Alterações nos metabólitos da dopamina, ácidos graxos insaturados e compostos de oxidação.

  • Vantagem: biomarcadores não invasivos via plasma, líquido cefalorraquidiano (LCR) ou saliva.

Doenças cardiovasculares e metabólicas

  • Perfil lipídico expandido vai além de colesterol total e triglicerídeos: inclui subclasses de lipoproteínas, ácidos graxos específicos e ceramidas.

  • Doenças como aterosclerose têm assinaturas metabólicas próprias:

    • Aumento de trimetilamina N-óxido (TMAO) (metabólito microbiano ligado a dieta rica em carne).

    • Alterações nos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs) — leucina, isoleucina, valina — associadas à resistência à insulina.

  • Uso potencial: prevenção personalizada e ajuste fino de terapias anti-hiperlipidêmicas.

Microbioma intestinal e exposoma

Metabólitos derivados do microbioma

  • SCFAs (butirato, acetato, propionato):

    • Produzidos na fermentação de fibras.

    • Moduladores da expressão gênica por inibição de histona-desacetilases (HDACs).

    • Butirato: anti-inflamatório, fortalece junções epiteliais intestinais.

  • Ácidos biliares secundários:

    • Derivados da modificação bacteriana dos ácidos biliares primários.

    • Influenciam sinalização via receptores FXR e TGR5, impactando metabolismo glicídico e lipídico.

Exposômica

Considera exposições ambientais, dietéticas, químicas e de estilo de vida ao longo da vida. O perfil metabolômico é sensível a poluentes, pesticidas, metais pesados e xenobióticos.

  • Exemplo: exposição crônica a benzeno → alterações em metabólitos do ciclo do ácido cítrico e estresse oxidativo.

Perspectivas futuras

  • Integração multiômica: Combinar dados de metabolômica, genômica, proteômica e exposômica para maior poder diagnóstico.

  • Medicina preventiva personalizada: Intervenções baseadas no perfil metabólico único do paciente.

  • Biomarcadores dinâmicos: Monitoramento em tempo quase real usando sensores bioanalíticos portáteis.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/