Como o cérebro da mulher muda ao longo da vida?

Ao longo da vida o cérebro vai se reconfigurando e desenvolvimento de novas capacidades neurológicas, especialmente em fases de grande transição hormonal como adolescência, gravidez e menopausa é um tema fascinante. Este é um tema fascinante que nos lembra que o cérebro é plástico e tem grande capacidade de adaptação.

As mudanças no cérebro da mulher nas principais fases de transição hormonal

1. Adolescência

A adolescência é um dos períodos de maior reorganização cerebral depois da infância.

Principais mudanças neurológicas:

  • Poda sináptica: o cérebro elimina conexões sinápticas menos usadas, tornando as redes neurais mais eficientes.

  • Mielinização: há aumento da mielina (substância que reveste os axônios), acelerando a transmissão dos impulsos nervosos, especialmente no córtex pré-frontal — região ligada ao planejamento, controle de impulsos e tomada de decisões.

  • Maior sensibilidade dopaminérgica: o sistema de recompensa se torna mais ativo, o que explica a busca por novidades, riscos e intensa motivação social.

  • Desenvolvimento socioemocional: o amadurecimento do sistema límbico (emoções) ocorre antes do pré-frontal (razão), gerando um período de desequilíbrio emocional e de aprendizado social intenso.

Capacidades que se desenvolvem:

  • Autocontrole (gradualmente)

  • Pensamento abstrato e moral

  • Empatia e habilidades sociais complexas

  • Autoconsciência e identidade

2. Gravidez

A gravidez provoca mudanças estruturais e funcionais significativas no cérebro da mulher, influenciadas por hormônios como estrogênio, progesterona, oxitocina e prolactina.

Alterações neurológicas:

  • Redução seletiva da massa cinzenta em áreas associadas à percepção social (como o córtex temporal e pré-frontal medial), o que parece aumentar a eficiência neural para o cuidado materno.

  • Maior conectividade entre regiões ligadas à empatia, reconhecimento emocional e resposta a estímulos do bebê.

  • Aumento da sensibilidade ao estresse e emoções, preparando o cérebro para reagir rapidamente às necessidades do recém-nascido.

Capacidades aprimoradas:

  • Empatia e leitura emocional

  • Intuição social e capacidade de “ler” o bebê

  • Atenção seletiva e foco nas necessidades da criança

Essas mudanças podem durar anos após o parto — não são temporárias.

3. Menopausa

A menopausa é marcada pela redução dos níveis de estrogênio, hormônio com forte impacto no funcionamento cerebral.

Mudanças neurológicas:

  • Diminuição da atividade em áreas relacionadas à memória e à atenção (como o hipocampo e o córtex pré-frontal).

  • Ajustes na conectividade cerebral, com reconfiguração de redes neurais para manter a eficiência cognitiva.

  • Possível redução da plasticidade sináptica — mas o cérebro pode compensar isso com novas estratégias cognitivas e emocionais.

Capacidades que podem se adaptar:

  • Maior regulação emocional e resiliência (devido à experiência de vida e amadurecimento do sistema límbico).

  • Maior foco em objetivos significativos e sociais (teoria da seletividade socioemocional).

  • Melhoria na capacidade de priorizar informações e tomar decisões baseadas em sabedoria prática.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Leptina alta: sinal de alerta para mulheres

A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo, fundamental no controle da fome e metabolismo. Mas quando está elevada, pode se tornar um marcador de risco – especialmente em mulheres obesas, na pré-menopausa, menopausa ou em reposição hormonal.

Por que a leptina aumenta?

O aumento da leptina pode ter várias causas como excesso de tecido adiposo, inflamação crônica, resistência insulínica, alterações hormonais (estrogênio e cortisol), dieta rica em açúcares ou carboidratos refinados.

  • A leptina alta geralmente antecipa a resistência insulínica (RI) e também piora a glicemia, num ciclo vicioso.

  • Interfere na eliminação dos metabólitos do estrogênio, podendo causar danos ao DNA, aumentando risco de endometriose e câncer de mama.

  • Reduz a atividade da COMT, prejudicando a detoxificação e favorecendo ansiedade.

  • Aumenta o apetite, reduz o gasto de energia e contribui para o acúmulo de gordura corporal e o desenvolvimento de obesidade na pós-menopausa.

Dosagem de leptina no sangue

Avaliar a leptina sérica é muito importante, especialmente se a mulher estiver fazendo a terapia de reposição hormonal.

  • Ideal é leptina sérica em jejum abaixo de 10 ng/mL e abaixo de 20 ng/mL pós prandial (após refeição) Se alta, é essencial investir em estratégias de suporte para o detox de estrogênios:

    • Nutracêuticos: DIM, I3C, sulforafanos, glutationa ou NAC, ácido alfa-lipóico, SAMe, seleniometionina

    • Ajuste de vias de metilação, especialmente com reposição de vitaminas do complexo B.

    • Suporte mitocondrial e melhora da resistência insulínica com dieta low carb.

    • Gerenciamento de peso (atividade física + menor ingestão calórica).

    • Redução ou eliminação de álcool e cafeína.

    • Diminuição da inflamação, com alimentos adequados, brássicas, ervas.

    • Saúde intestinal: melhorar para evitar reabsorção de estrogênio. Uso de fibras é muito interessante.

    • Reduzir carga tóxica: evitar xenoestrogênios, BPA, pesticidas.

    • Cuidado com excesso de ferro, que pode gerar estresse oxidativo.

Cuidar da leptina é ir além do metabolismo: é proteger o equilíbrio hormonal, reduzir riscos metabólicos e até promover mais saúde emocional.

Consultas de nutrição: www.andreiatorres.com/consultoria

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Impacto da menopausa no cérebro

A menopausa tem um impacto significativo no cérebro, tanto do ponto de vista biológico quanto funcional. Ela marca o fim da fase reprodutiva da mulher e é caracterizada pela queda acentuada dos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que desempenham papéis importantes na regulação de várias funções cerebrais. O estrogênio é como um fertilizante neural e sua queda exige uma reorganização cerebral.

Ações neuroprotetoras do estrogênio

  • Modula neurotransmissores como serotonina, dopamina e acetilcolina, que afetam o humor, memória e cognição;

  • Melhora o fluxo sanguíneo cerebral e o metabolismo da glicose (fonte de energia dos neurônios);

  • Reduz a neuroinflamação e o estresse oxidativo.

Com a queda dos níveis de estrogênio, há uma redução temporária da eficiência cerebral em algumas regiões, especialmente:

  • Hipocampo (memória e aprendizado);

  • Córtex pré-frontal (atenção, tomada de decisão e organização);

  • Amígdala (emoções);

  • Tronco cerebral (qualidade do sono).

A menopausa cerebral refere-se ao impacto da menopausa na saúde do cérebro, levando a alterações neurológicas e sintomas [1] [2]. Este período é considerado um ponto de inflexão na trajetória do envelhecimento, onde o envelhecimento biológico afeta múltiplos sistemas do corpo, incluindo o cérebro [2].

Os sintomas associados frequentemente incluem dificuldades cognitivas subjetivas, comumente referidas como "névoa mental" [3]. Estudos indicam que mulheres na perimenopausa podem apresentar pequenas, porém consistentes, reduções no desempenho da memória objetiva, que não são atribuíveis exclusivamente ao envelhecimento [3].

Alterações estruturais cerebrais têm sido observadas em mulheres na menopausa, com diferenças relatadas mais frequentemente nos córtex frontal e temporal, bem como no hipocampo [4]. Essas regiões são cruciais para tarefas cognitivas superiores e memória, e déficits na memória verbal e visoespacial em mulheres na pós-menopausa têm sido associados a volumes cerebrais regionais menores [4].

A longo prazo, a diminuição do estrogênio pode estar associada a:

  • Maior vulnerabilidade ao Alzheimer e outras demências, possivelmente por perda de proteção estrogênica sobre os neurônios;

  • Alterações metabólicas (resistência à insulina cerebral) que aumentam o risco de degeneração neural.

Além das alterações hormonais, os sintomas da menopausa, particularmente os sintomas vasomotores (SVM), são determinantes significativos das alterações cognitivas e da função cerebral relacionadas à menopausa [5]. Pesquisas sugerem uma correlação mais forte entre medidas objetivas de sintomas vasomotores e índices de saúde cognitiva e cerebral em comparação com medidas autorrelatadas [5].

Estratégias de proteção cerebral

Algumas medidas podem ajudar a reduzir o impacto:

  • Terapia hormonal, sempre sob orientação médica), aproveitando a janela de oportunidade logo no início da menopausa para preservar o cérebro.

  • Atividade física regular:

    • Atividade aeróbia (caminhar, nadar, pedalar): melhora a oxigenação e a plasticidade neural. A irisina, um hormônio liberado com o exercício aeróbio contínuo e de intensidade moderada a alta tem mostrado efeitos protetores cerebrais. Estimula a produção de BDNF, fator essencial para o crescimento e formação de sinapses O hipocampo, região fundamental para memória e aprendizagem é particularmente beneficiado. 

    • Atividade de força: essencial para manter a massa muscular e o metabolismo.

    • Yoga e alongamento: ajudam a controlar o estresse, reduzem o cortisol e fortalecem o eixo mente-corpo.

  • Sono de qualidade: é durante o sono que o cérebro remove toxinas (como beta-amiloide) e consolida memórias.

    • Desligar o celular e adotar uma rotina de sono consistente;

    • Ambiente fresco e escuro;

    • Redução de cafeína e álcool;

    • Evitar luz azul à noite.

  • Check-ups regulares com acompanhamento de:

    • Colesterol, glicemia, inflamação (PCR), vitamina D, hormônios tireoidianos.

  • Treinamento cognitivo e atividades intelectuais;

  • Suporte emocional e manejo do estresse;

  • Alimentação equilibrada:

    • Peixes gordurosos (salmão, sardinha, anchova, cavala) → ricos em ômega-3 DHA, essencial para neurônios;

    • Azeite de oliva extra virgem → anti-inflamatório potente;

    • Frutas e vegetais coloridos → antioxidantes (especialmente frutas vermelhas, folhas verdes e crucíferas);

    • Leguminosas e grãos integrais → fornecem energia estável ao cérebro;

    • Nozes e sementes → magnésio, zinco e vitamina E;

    • Água → hidratação cerebral é essencial (a desidratação afeta o foco e o humor).

    • Evite ou reduza: açúcar refinado e ultraprocessados, gorduras trans e frituras, álcool (pode afetar o sono e a cognição).

Referências

1) W Lu et al. A review of multi-modal magnetic resonance imaging studies on perimenopausal brain: a hint towards neural heterogeneity. European radiology (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36977851/

2) LL Gravelsins et al. One size does not fit all: how type of menopause and hormone therapy matters for brain health. The British journal of psychiatry : the journal of mental science (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40485492/

3) PM Maki et al. Menopause and brain fog: how to counsel and treat midlife women. Menopause (New York, N.Y.) (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38888619/

4) NZ Ramli et al. Brain volumetric changes in menopausal women and its association with cognitive function: a structured review. Frontiers in aging neuroscience (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37818479/

5) PM Maki et al. Menopause and Brain Health: Hormonal Changes Are Only Part of the Story. Frontiers in neurology (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33071945/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/