Tratamento da intoxicação por metanol e uso da vitamina B9

A intoxicação por metanol é uma emergência médica grave que ocorre quando uma pessoa ingere (ou, mais raramente, inala) metanol (álcool metílico) — uma substância altamente tóxica encontrada em solventes, combustíveis, anticongelantes e bebidas adulteradas (“álcool caseiro”).

Fisiopatologia

O metanol em si não é extremamente tóxico, mas seu metabolismo hepático produz compostos altamente tóxicos:

O ácido fórmico é o principal responsável pela acidose metabólica grave e toxicidade ocular (pode causar cegueira). O metabolismo é lento, então os sintomas podem demorar horas a se manifestar.

Sintomas

Início: 6–30 horas após ingestão (mais rápido se não houver etanol junto).

Fases e sinais típicos:

  1. Fase inicial (semelhante ao álcool comum):

    • Euforia, tontura, náuseas, vômitos, dor abdominal.

  2. Fase tóxica (após metabolização):

    • Cefaleia intensa, visão borrada ("como se tivesse uma névoa"), cegueira.

    • Hiperventilação (por acidose metabólica).

    • Confusão, convulsões, coma.

Diagnóstico

Baseia-se em histórico clínico e achados laboratoriais:

  • Gasometria arterial: acidose metabólica com ânion gap elevado.

  • Osmolaridade plasmática: aumento do gap osmolar

  • Dosagem de metanol (se disponível).

  • Exame oftalmológico: edema de papila, alterações retinianas.

Tratamento

Deve ser imediato — quanto mais precoce, melhor o prognóstico.

  1. Suporte básico:

    • Manter via aérea, ventilação e circulação.

    • Corrigir acidose (bicarbonato de sódio IV).

    • Diazepam para crise convulsiva

  2. Bloquear metabolismo do metanol:

    • Fomepizol (inibidor da álcool desidrogenase) — tratamento de escolha.

    • Etanol (alternativa quando fomepizol não está disponível).

  3. Remover metanol e metabólitos:

    • Hemodiálise (principal medida em casos graves).

  4. Tratar toxicidade metabólica:

    • Ácido fólico ou folinato de cálcio — aceleram a conversão do ácido fórmico em CO₂ e H₂O.

Prognóstico

  • Mortalidade: 20–50% se não tratado.

  • Se o tratamento for precoce, a recuperação é possível, mas lesões visuais podem ser permanentes.

Por que usar Ácido Fólico (ou Folinato de Cálcio / Ácido Folínico)?

O ácido fólico (vitamina B9) e o folinato de cálcio participam de uma via alternativa que ajuda a eliminar o ácido fórmico do organismo.

Mecanismo bioquímico:

O ácido fórmico é normalmente convertido em CO₂ e H₂O por uma via dependente de tetraidrofolato (THF):

Essa reação é catalisada pela enzima 10-formil-tetraidrofolato desidrogenase. Quando administramos ácido fólico (ou folinato):

  • Aumentamos o pool de tetraidrofolato ativo.

  • Isso acelera a conversão do ácido fórmico em CO₂, reduzindo sua concentração e toxicidade.

  • Resultado: menor acidose metabólica e menor lesão ocular.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Quem é a acetil-CoA?

A acetil-CoA é como uma “moeda energética universal” dentro das células. Ela vem do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas — e alimenta o ciclo de Krebs (também conhecido como ciclo do ácido tricarboxílico), a principal rota de geração de energia nas mitocôndrias.

A acetil-CoA é o intermediário comum da oxidação de carboidratos (via piruvato → piruvato desidrogenase), de ácidos graxos (via β-oxidação) e de certos aminoácidos. Ao entrar no ciclo do TCA (Krebs), a acetil-CoA combina-se com oxaloacetato para formar citrato, permitindo a produção de NADH, FADH₂ e GTP/ATP para alimentar a fosforilação oxidativa.

Via do mevalonato: síntese de colesterol e medicamentos que inibem a via (Griffin, Preta, & Sheldon, 2017)

Também atua como precursor para biossíntese lipídica e de colesterol: citrato exportado da mitocôndria pode ser convertido de volta em acetil-CoA no citosol para formar ácidos graxos ou esteróis.

Mas o papel dela vai muito além da geração de energia! A acetil-coA é precursora das enzimas acetiltransferases de lisina (KATs/HATs) que transferem grupos acetil para resíduos de lisina em histonas ou outras proteínas. Isso modula a estrutura da cromatina e a expressão dos genes.

Acetil-CoA e o controle dos genes 🧬

A acetil-CoA atua no núcleo da célula, doando grupos acetil para as histonas — proteínas que enrolam o DNA. Esse processo, chamado acetilação de histonas, “abre” a cromatina e ativa genes ligados a crescimento, diferenciação e defesa celular.

Em termos práticos, isso significa que os níveis de acetil-CoA afetam quais genes “ligam” ou “desligam” sem alterar o DNA em si — um mecanismo de regulação metabólica → epigenética.

Acetil-CoA e imunidade

Durante a ativação de células imunes, como macrófagos e linfócitos, os níveis de acetil-CoA aumentam para reprogramar o metabolismo e ativar genes inflamatórios ou anti-inflamatórios. Ela é literalmente um interruptor entre inflamação e reparo.

Acetil-CoA, longevidade e doenças

Alterações na produção ou uso da acetil-CoA estão ligadas a:

  • Síndromes metabólicas e resistência à insulina

  • Doenças neurodegenerativas

  • Envelhecimento celular

  • Câncer (por reprogramação epigenética)

Equilíbrio é tudo — tanto o excesso quanto a falta podem ser prejudiciais. Comer muito aumenta a disponibilidade de acetil-CoA e isso contribui, indiretamente, para um ambiente favorável ao desenvolvimento de câncer.

Em células cancerígenas, por exemplo, há evidências de que o enriquecimento (excesso) de acetil-CoA está ligado a agressividade tumoral via estimulação de genes de proliferação (via histona acetilação).

Em células cancerígenas a produção de acetil-CoA está aumentada

A imagem anterior mostra como o aumento ou a desregulação do acetil-CoA pode favorecer o desenvolvimento do câncer, estimulando várias características clássicas das células tumorais:

  • Sustentar sinalização proliferativa

  • Evitar supressores de crescimento

  • Resistir à morte celular

  • Habilitar imortalidade replicativa

  • Ativar invasão e metástase

  • Induzir angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos)

Esses processos estão associados a diferentes tipos de câncer (fígado, cérebro, pulmão, pâncreas, mama, cólon, estômago, rins).

Por que os exames metabolômicos são o futuro da medicina?

A metabolômica analisa centenas de metabólitos — como acetil-CoA, succinato, fumarato e itaconato — revelando o que realmente está acontecendo no seu metabolismo em tempo real.

Enquanto os exames tradicionais olham “o resultado” (como glicose ou colesterol), a metabolômica olha os caminhos bioquímicos. Isso permite detectar disfunções antes de surgirem sintomas ou doenças crônicas.

A acetil-CoA é o elo invisível entre o que você come, como você vive e o modo como seus genes se comportam. E a metabolômica é a lupa que permite enxergar esse elo. A análise de metabólitos mitocondriais nos ajuda a entender como a célula gera energia, responde ao estresse e como o tumor pode se adaptar, oferecendo informações valiosas para estratégias terapêuticas personalizadas.

Outros metabólitos associados ao câncer

A metabolômica está revelando insights poderosos sobre o câncer. Ela permite identificar marcadores importantes em pacientes oncológicos, como o p-hidroxifenilactato (associado à proliferação celular) e o 8-hidroxi-2'-desoxiguanosina – 8-OHdG (indicador de dano ao DNA e estresse oxidativo).

O câncer cresce em um ambiente de alto estresse oxidativo, com produção excessiva de radicais livres e antioxidantes. Esse equilíbrio delicado não só favorece a progressão tumoral, mas também influencia tratamentos como quimioterapia e radioterapia, que dependem da oxidação para eliminar células cancerígenas.

⚠️ Atenção com o uso de antioxidantes durante o tratamento oncológico! Eles podem reduzir a eficácia da terapia e até tornar o tumor mais resistente. Não suplemente sem conversar com um profisisonal de saúde habilitado na área.

📊 A metabolômica não serve apenas para diagnóstico precoce, mas também para monitorar a resposta ao tratamento e o risco de recidiva, oferecendo uma visão detalhada do metabolismo tumoral.

Você já conhecia esses marcadores? Compartilhe este post e ajude pacientes e profissionais da saúde a expandirem seu conhecimento sobre essa ferramenta transformadora da medicina de precisão!

Aprenda a interpretar estes exames aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Influência do intestino na asma brônquica

Sabia que a asma brônquica pode ter início ou ser influenciada por disfunções intestinais? Vamos esta integração entre sistemas.

A teia das intercomunicações metabólicas

1. Assimilação

O intestino é responsável pela digestão, absorção e integridade intestinal. Quando há disbiose intestinal (alteração da microbiota), aumento da permeabilidade intestinal (“intestino permeável”) ou má digestão, o organismo pode liberar citocinas inflamatórias e interleucinas (como IL-4, IL-5, IL-13), que ativam o sistema imunológico.

Essas substâncias podem:

  • Estimular respostas imunes Th2, associadas a alergias e asma;

  • Aumentar a inflamação sistêmica, que repercute nos pulmões.

Assim, uma disfunção intestinal pode ser um gatilho para doenças respiratórias inflamatórias, como a asma.

2. Defesa e reparo

O sistema imunológico e a inflamação são centrais na asma. Interleucinas liberadas no intestino (ou por desequilíbrio na microbiota) modulam a resposta imune, promovendo inflamação nas vias aéreas.

Além disso, o eixo intestino-pulmão mostra que:

  • Microbiota intestinal saudável ajuda a regular a imunidade respiratória;

  • Microbiota alterada aumenta o risco de reações alérgicas e hiperresponsividade brônquica.

3. Comunicação

A comunicação entre hormônios, neurotransmissores e fatores imunológicos mantém ou agrava a inflamação. Um intestino inflamado pode alterar a produção de citocinas e neurotransmissores (como serotonina), perpetuando o desequilíbrio imunológico que favorece crises de asma.

4. Fatores moduladores

Os fatores abaixo influenciam tanto o intestino quanto a asma:

  • Sono inadequado → aumenta inflamação;

  • Estresse → altera microbiota e imunidade;

  • Nutrição → dieta pobre em fibras reduz microbiota benéfica;

  • Poluição → agrava inflamação intestinal e pulmonar;

  • Exercício → melhora função imunológica e intestinal;

  • Sociabilidade → afeta saúde emocional, que repercute no eixo intestino-cérebro-pulmão.

5. Dimensões Mental, Emocional e Espiritual

O estresse emocional pode agravar tanto a função intestinal quanto crises asmáticas, devido à conexão eixo cérebro-intestino-pulmão. Crenças e propósito (dimensão espiritual) influenciam resiliência e resposta ao tratamento.

Na consulta de nutrição estudamos todos estes sistemas. Marque sua consulta e:

  • Melhore a saúde intestinal e o equilíbrio da microbiota;

  • Ajude a diminuir a inflamação no corpo;

  • Fortaleça seu sistema imunológico;

  • E ainda melhore sua energia e qualidade de vida no dia a dia.

A nutrição não substitui o seu tratamento da asma brônquica, mas complementa e potencializa os resultados, ajudando você a ter menos crises e respirar melhor.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/