Resposta ao estresse no autismo

Pessoas neurodivergentes que estão o tempo todo se policiando, mascarando seus comportamentos e emoções gastam muita energia. O que para você pode ser tranquilo, para eles podem ser altamente estressantes, contribuindo para desfechos de saúde precários e declínio cognitivo precoce.

Estudos mostram que algumas crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) a exposição crônica a estressores (maior carga alostática) pode alterar a atividade do eixo estresse (HPA), ocasionando elevações/disfunções do cortisol, alterações oxidativas/nitrosativas, modificação de fatores tróficos (BDNF) e mudanças estruturais/funcionais em regiões sensíveis ao estresse (hipocampo, amígdala, córtex pré-frontal). Essas alterações podem contribuir para pior regulação emocional, comportamento e risco somático.

1) Eixo HPA e cortisol

Crianças e adolescentes com TEA frequentemente mostram alterações na dinâmica do cortisol — estudos mostram tanto respostas exageradas a estressores sociais/novos quanto alterações no ritmo diurno. Meta-análises e revisões indicam níveis periféricos de cortisol diferindo de controles e respostas ao estresse frequentemente atípicas (pico maior em alguns estudos; em outros, resposta “insensível” dependente do tipo de teste). Isso indica disfunção do sistema de estresse no TEA (Spratt et al., 2012).

O cortisol cronicamente elevado ou desregulado é um mecanismo plausível para efeitos tóxicos sobre memória, regulação emocional e para ativar vias inflamatórias/hemostáticas (Lenart-Bugla et al., 2022).

2) Hipocampo reduzido / pior capacidade de lidar com estresse

Estudos de neuroimagem mostram alterações volumétricas e de forma do hipocampo em pessoas com TEA (diferenças na assimetria, volume e trajetória ao longo do tempo), e a literatura sobre carga alostática relaciona AL a atrofia/alterações do hipocampo em humanos. Assim, é plausível que exposição crônica ao estresse (e suas mediadoras hormonais/metabólicas) afete o hipocampo em TEA.

Achados volumétricos no TEA são heterogêneos (variam por idade, amostra, método). Alguns achados mostram aumento em idades muito precoces e perda acelerada mais tarde.

3) Córtex pré-frontal: regulação de pensamento, emoção e comportamento

Carga alostática refere-se à desregulação prolongada relacionada ao estresse crônico que afeta regiões do cérebro como o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal (CPF). Níveis mais altos de carga alostática têm sido associados a desfechos de saúde precários, incluindo transtornos psiquiátricos, declínio cognitivo e condições somáticas crônicas

Uma revisão sobre carga alostática e cérebro identifica o córtex pré-frontal como alvo sensível ao estresse crônico (impacto em função executiva, controle inibitório). Em TEA há também evidência funcional/estrutural de alterações no PFC associadas a dificuldades na regulação emocional e no comportamento social. O estresse crônico pode piorar essas disfunções (Lenart-Bugla et al., 2022).

4) Amígdala: volume e respostas hiper-reativas ao estresse

Vários estudos mostram diferenças na amígdala em TEA (volume e conectividade) e correlações com ansiedade/reatividade emocional. A exposição precoce ao estresse altera o desenvolvimento da amígdala que torna-se hiper-reativa (Aylward et al., 1999).

A amígdala é um núcleo central no processamento de emoções, principalmente medo. Quando ela torna-se hiper-reativa, o cérebro interpreta os estímulos como ameaçadore, o que pode gerar ansiedade, crises emocionais (metdowns), maior irritabilidade, agressividade, respostas explosivas.

5) BDNF reduzido / alterado (fator neurotrófico)

Há literatura sobre níveis de BDNF em TEA, mas os resultados são mistos — alguns estudos relatam aumento, outros diminuição, dependendo da amostra e método (plasma vs soro, idade). BDNF é sensível ao estresse e ao ambiente (treinamento, intervenção pode alterar BDNF). A imagem sugere redução de BDNF — isso é uma hipótese biologicamente plausível (estresse crônico costuma reduzir sinalização trófica em muitos contextos), mas não é um achado universal em TEA (Kasarpalkar et al., 2014).

6) Óxido nítrico & estresse oxidativo

Existe uma ligação entre estresse oxidativo e nitrosativo no TEA, com alterações em marcadores antioxidantes, óxido nítrico (ON)e vias relacionadas foram relatadas. O ON tem papel duplo (neuroprotetor e neurotóxico em excesso) e pode modular plasticidade sináptica; exposições ambientais que elevem ON também foram associadas a risco aumentado em alguns estudos observacionais. O aumento de espécies reativas pode danificar lipídios/membranas, proteínas e modular BDNF/funcionamento sináptico — potencial mecanismo entre estresse e alterações cerebrais. (Yui et al., 2016).

7) PAI-1 / trombose

Pesquisas nas ciências cardiovasculares mostram que estresse crônico e glucocorticoides aumentam PAI-1, reduzindo atividade fibrinolítica e aumentando risco pró-trombótico. Há uma ligação entre ativação do estresse e aumento de PAI-1. Em TEA o mecanismo (estresse → ↑PAI-1) foi documentado (Okazaki et al., 2022).

O que podemos fazer?

Monitorar estresse e sono, avaliar suporte psicossocial e intervenções que melhorem regulação emocional (podem influenciar cortisol/BDNF). Intervenções psicológicas/psicoeducacionais podem modular resposta ao estresse.

A pesquisa deve também investigar longitudinalmente (ao longo do tempo) trajetórias (como hipocampo e cortisol evoluem ao longo do tempo no TEA), já que muitos estudos ainda são transversais. Aprenda mais sobre o cérebro na plataforma https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Gene que aumenta e gene que reduz o risco de Alzheimer

Um estudo internacional liderado pela Universidade de Columbia trouxe descobertas importantes sobre a relação entre o haplótipo da APOE ε e o risco de Alzheimer. O trabalho mostra que variantes raras do gene fibronectina 1 (FN1) podem oferecer proteção contra os efeitos nocivos do APOE ε4.

Por que isso é importante?

O gene APOE tem três formas principais: ε2, ε3 e ε4. O APOE ε4 é o fator genético de risco mais forte conhecido para Alzheimer tardio (forma mais comum). Quem tem 1 cópia do APOE ε4 (herdada de um dos pais) tem 2 a 3 vezes mais risco de desenvolver Alzheimer. Quem tem 2 cópias do APOE ε4 (uma de cada pai) tem 8 a 12 vezes mais risco. No entanto, nem todas as pessoas APO ε4 desenvolvem a doença. Muitas permanecem cognitivamente saudáveis por toda a vida.

O que os cientistas descobriram?

Foram analisados dados de mais de 7.000 pessoas com duas cópias de APOE ε4. Uma variante específica do FN1 (rs140926439) reduziu em 71% as chances de desenvolver Alzheimer. Em análises de cérebros pós-morte, observou-se que indivíduos com APOE ε4 e Alzheimer apresentavam maior acúmulo da proteína fibronectina 1 na barreira hematoencefálica. Já os que permaneceram saudáveis mostravam níveis reduzidos dessa proteína.

O que isso significa?

O estudo sugere que variantes do #FN1 que diminuem o excesso de fibronectina na barreira hematoencefálica podem atuar como fator protetor. Essa barreira controla o que entra e sai do cérebro, e seu equilíbrio é crucial para manter a saúde cerebral.

Impacto futuro

Esses achados oferecem novas pistas para entender como fatores genéticos não só aumentam o risco, mas também podem proteger contra o Alzheimer. Além disso, abrem caminho para estratégias terapêuticas inovadoras, focadas em modular a fibronectina 1.

Lembre que também existem fatores de estilo de vida protetores contra o Alzheimer e incluem:

- Atividade física regular 🏃‍♀️
- Alimentação equilibrada 🥗
- Sono de qualidade 😴
- Estimulação cognitiva 📚
- Engajamento social 🤝
- Baixo consumo de álcool 🍷
- Abstenção do tabagismo 🚭
- Gerenciamento do estresse e cuidados com saúde mental 🧘‍♂️

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Bateria social baixa? Pode ser falta de ocitocina

Você fica exausto após encontrar pessoas? Prefere ficar sozinho mesmo gostando de socializar? Muitos transtornos do neurodesenvolvimento andam de mãos dados com esta característica. Além disso, alterações de genes que influenciam a síntese de neuromoduladores, como a oxitocina, também afetam nossa bateria social.

Quem é a oxitocina?

É uma molécula com ação tanto hormonal, quanto de neuromodulação. É produzida no cérebro (hipotálamo). Se ficar no cérebro atua como neuromodulador, modulando circuitos neurais ligados a emoções, recompensa, confiança e vínculo social. Quando cai na corrente sanguínea, atua como um hormônio, que ajuda a mulher na hora do parto e na ejeção do leite para amamentação.

Pessoas com alterações genéticas podem ter dificuldades na síntese de oxitocina (alterações do gene OXT), na ação do receptor de oxitocina (OXTR) ou na liberação/ativação da oxitocina (genes CD38 e PCSK1). Alguns painéis genéticos trazem informações sobre um ou mais destes genes, nos ajudando a entender a causa de algumas pessoas se esgotarem mais rapidamente do que outras após interações sociais. se esgotare

Vale lembrar que o exame genético é probabilístico, mostra propensões, mas não determina quem você é. Quem você é tem influência da genética, mas também do ambiente, da qualidade das suas relações, dos seus afetos, aprendizados, etc. Falo um pouco mais sobre o tema neste vídeo:

Consulta para interpretação de testes genéticos:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/