Saúde mental e saúde cerebral

Saúde mental e saúde cerebral estão intimamente interconectadas, mas não são a mesma coisa. Saúde mental inclui capacidades emocionais, afetivas, cognitivas, sociais; aspectos como estado psicológico, bem-estar, regulação emocional, lidar com estresse etc. Envolve o funcionamento do indivíduo em contextos psicológicos e sociais; mais ligado aos transtornos psiquiátricos, ao sofrimento, à qualidade de vida mental.

Obviamente, a saúde mental depende da saúde de um órgão: o cérebro, de sua integridade, conectividade. A estrutura e função do cérebro é influenciada pela genética, envelhecimento, fatores biológicos, neuroinflamação, reserva cerebral, etc. Aqui, o foco são as bases biológicas, disfunções neurológicas, o declínio cognitivo, os efeitos de fatores ambientais ou genéticos sobre o tecido cerebral e mecanismos cerebrais.

Saúde mental e saúde cerebral têm muito em comum:

Cérebro e mente são influenciados por genética, ambiente, estilo de vida, determinantes sociais. Por exemplo, déficits cognitivos podem estar presentes tanto em transtornos mentais quanto em condições neurológicas; disfunção emocional ou social pode colocar pressão sobre circuitos cerebrais; estresse crônico pode provocar alterações biológicas cerebrais.

Problemas de saúde mental podem afetar a saúde cerebral (ex: depressão crônica, ansiedade severa, trauma prolongado) e vice-versa (deterioração cerebral ou lesão pode provocar sintomas mentais). Alguém com perda de volume cerebral (ex: em envelhecimento ou neurodegeneração) pode ter prejuízo cognitivo ou risco para demência, mesmo sem sintomas psiquiátricos óbvios. Porém, situações misturadas ocorrem: depressão pode acelerar declínio cognitivo; envelhecimento cerebral pode aumentar risco de ansiedades ou sintomas emocionais.

O exemplo do autismo

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é definido como uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizada por um conjunto de manifestações que variam em intensidade e forma (daí o termo espectro).

  • Bases neurobiológicas: alterações no desenvolvimento cerebral, conectividade funcional e estrutural, processamento sensorial, plasticidade sináptica.

  • Aspectos genéticos e epigenéticos: grande peso hereditário, interações gene-ambiente.

  • Heterogeneidade neural: diferentes trajetórias de desenvolvimento cerebral explicam a diversidade de perfis no espectro.

Ou seja, o autismo envolve diferenças na saúde cerebral, mesmo em pessoas sem comorbidades psiquiátricas. Por outro lado, sabemos que pessoas autistas têm risco elevado para transtornos mentais associados, como ansiedade, depressão, TDAH, burnout autista.

Alterações cerebrais (ex.: na conectividade de redes sociais ou emocionais) podem contribuir para dificuldades de interação, mas o sofrimento psíquico vem muitas vezes de fatores sociais (exclusão, bullying).

A saúde mental pode ser afetada por fatores externos: barreiras sociais, discriminação, sobrecarga sensorial, falta de suporte adequado. Quando as coisas vão melhor (há apoio, ambiente inclusivo, aprendizado de estratégias de autorregulação, boa nutrição, sono adequado, estimulação cognitiva), o cérebro atípico é acompanhado de boa saúde mental.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

É genético ou hereditário?

Muita gente usa os termos genético e hereditário como se fossem iguais, mas existe uma diferença importante. Nem tudo o que é genético é hereditário.

🧬 Genético
Refere-se a qualquer característica ou condição ligada aos genes, ou seja, ao DNA. Nem sempre algo genético é herdado dos pais — mutações podem surgir de forma espontânea, durante a vida, sem que ninguém da família tenha apresentado antes. Por exemplo, um câncer que aparece ao longo da vida. Outro exemplo são as neurodivergências, como autismo (TEA), TDAH, superdotação. Dependem de um conjunto de genes para se expressar, mas nem sempre os pais tinham a mesma combinação.

👨‍👩‍👧 Hereditário
Já o termo hereditário está relacionado à transmissão de características de geração em geração. Ou seja, quando um traço ou doença passa de pais para filhos por meio dos genes. A fibrose cística é um exemplo de doença hereditária, pois a mutação responsável é passada de pais para filhos.

💡 Lembre:

  • Todo o que é hereditário é genético.

  • Mas nem tudo que é genético é hereditário.

As doenças hereditárias seguem diferentes padrões de herança

A maioria das condições são multifatoriais

Padrão de herança clássica também pode ser chamada de mendeliana. Pode ser autossômica (que ocorre nos cromossomos sexuais) ou ligada ao sexo. No caso de herança autossômica, pode ser dominante, recessiva, ou codominante, afetando homens e mulheres de forma igual.

As síndromes de Ehler-Danlos são doenças hereditárias raras do tecido conjuntivo que causam alta flexibilidade de articulações, pele e tecidos. O padrão de herança varia com o subtipo, mas a maioria dos tipos é herdada em um padrão autossômico dominante. Isso significa que basta uma cópia do gene mutado, herdada de um dos pais, para a doença se manifestar.

Quando a doença ou transtorno são mais complexos, fatores genéticos, epigenéticos e ambientais podem se somar. É o caso do autismo e da superdotação/altas habilidades que tem um padrão de herança multifatorial. A genética é muito importante, mas foge ao padrão de herança clássico (mendeliano). No padrão de herança multifatorial, as características apresentadas dependem de um conjunto de fatores genéticos associados a fatores ambientais.

O autismo, por exemplo, é altamente heterogêneo, com grande variação entre indivíduos. Há muitos genes candidatos (mais de 100 genes implicados, variação de número de cópias, variantes de novo, etc).
Na imagem a seguir vemos a representação de alguns cones. Cada cone é uma pessoa. Dentro do cone estão bolas coloridas, que simbolizam faotres de risco genéticos ou ambientais que podem contribuir para o desenvolvimento de um transtorno complexo, como o autismo.

Cada fator de risco adiciona certo volume ao cone. A linha tracejada no topo do cone é o limiar (threshold) para manifestação do transtorno. Se os fatores de risco ultrapassam a linha tracejada, a pessoa manifesta os sintomas. É como se o copo entornasse. Na imagem, o pai carrega algumas variantes, a mãe outras. Seus filhos 1 e 4 herdaram mais variantes e o copo transborda, com o desenvolvimento do autismo.

As crianças 2 e 3 herdaram variantes menores e não ultrapassaram o limite para o desenvolvimento do transtorno. Assim como no TEA, outros transtornos também resultam da combinação de muitos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. Diferentes indivíduos na mesma família podem carregar variantes semelhantes, mas só desenvolvem transtornos se a soma dos riscos ultrapassar determinado limiar. Isso ajuda a explicar:

- Penetrância incompleta (nem todos com mutações ou polimorfismos são afetados)
- Variabilidade fenotípica (irmãos com o mesmo gene podem ter trajetórias distintas).

Aprenda mais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Fitoterapia no Esporte

Nos últimos anos, a fitoterapia tem ganhado destaque como um complemento à medicina ocidental e tradicional, especialmente no contexto esportivo. Não se trata apenas de “remédios naturais”: há uma base científica crescente que comprova como algumas plantas podem otimizar desempenho, acelerar a recuperação e reduzir danos ao organismo.

No esporte, o objetivo não é substituir tratamentos convencionais, mas integrar estratégias seguras e individualizadas, ajudando atletas a alcançarem o máximo de desempenho e adaptação fisiológica.

Recuperação, Redução de Danos e Modulação Imunológica

Um dos grandes benefícios da fitoterapia no esporte é sua capacidade de auxiliar na recuperação muscular e reduzir a percepção de dor. Ao modular respostas inflamatórias e imunológicas, algumas plantas ajudam a minimizar a imunossupressão induzida por exercícios extenuantes, prevenindo infecções e complicações que podem prejudicar o treinamento.

Além disso, ao reduzir a necessidade de medicamentos alopáticos como analgésicos e anti-inflamatórios, a fitoterapia pode evitar que o uso crônico dessas substâncias iniba adaptações ao treino, como ganhos de força e hipertrofia.

Individualidade Biológica e Contexto Fisiológico

É importante lembrar que nem todas as estratégias funcionam da mesma forma para todos. Polimorfismos genéticos, estado de saúde, dieta e estresse influenciam a resposta individual aos fitoterápicos.

Por isso, entender como cada planta atua (mecanismo de ação) é tão crucial quanto saber se ela funciona. Esse conhecimento permite combinações sinérgicas e estratégias mais seguras e eficazes. Saiba mais no curso de fitoterapia online.

No esporte, o contexto é tudo: um atleta diabético, estressado ou com déficit nutricional pode responder de forma diferente às mesmas plantas utilizadas por outro indivíduo saudável.

A Pirâmide do Desempenho Esportivo

Podemos imaginar a fitoterapia como a camada complementar de uma pirâmide do desempenho:

  1. Base: dieta balanceada, que garante nutrientes essenciais.

  2. Meio: estratégias específicas de nutrição esportiva.

  3. Topo: fitoterapia, potencializando recuperação, desempenho e adaptações.

Aplicações Práticas da Fitoterapia no Esporte

1. Overtraining ou Síndrome do Descondicionamento Paradoxal

O overtraining — hoje chamado de síndrome do descondicionamento paradoxal — ocorre quando o corpo responde negativamente ao treinamento excessivo. Entre os sintomas estão: dor, ansiedade, perda de massa muscular e maior risco de lesões. Fatores como sono inadequado, dieta restritiva e estresse pioram esse quadro. Fitoterápicos podem modular o estresse e reduzir inflamação, apoiando a recuperação sem interferir negativamente nas adaptações ao treino.

2. Dor Articular e Osteoartrite

Plantas que demonstram analgesia e melhora da função articular:

  • Cúrcuma longa (açafrão-da-terra)

  • Boswellia serrata

  • Pinus pinaster (Picnogenol)

Outros exemplos incluem:

  • Gengibre (Zingiber officinale): reduz desconforto articular, com eficácia comparável ao ibuprofeno.

  • Camomila (Matricaria chamomilla): além de ansiolítica, diminui dores e melhora a função em osteoartrite, comparável ao diclofenaco e paracetamol.

3. Recuperação Muscular e DMIT (Dor Muscular de Início Tardio)

Algumas plantas ajudam a reduzir a DMIT e acelerar a recuperação muscular:

  • Gengibre: 2g/dia reduzem DMIT em 1–2 semanas; 4g/dia em 5 dias.

  • Açafrão, Canela, Chá Preto, Alho, Melancia, Camomila, Romã, Pimenta: reduzem fatores que causam DMIT.

  • Romã, Groselha, Aloysia citrodora (erva-cidreira): melhoram desempenho, recuperação e reduzem fadiga.

4. Imunomodulação e Prevenção de Infecções

Atletas submetidos a treinos extenuantes têm maior risco de infecções. Plantas que podem fortalecer a imunidade incluem:

  • Gengibre: diminui infecções do trato respiratório superior.

  • Pelargonium sidoides: aumenta IgA salivar e reduz incidência e intensidade de infecções.

  • Espirulina e Chlorella: melhoram respostas imunológicas pós-treino intenso.

5. Desempenho e Adaptações Metabólicas

Alguns fitoterápicos auxiliam em adaptações metabólicas e na manutenção do desempenho:

  • Feno-grego (Trigonella foenum-graecum): aumenta a glicogênese, útil para atletas com baixa ingestão de carboidratos.

  • Tribulus terrestris: reduz dano muscular e mantém IGF-1 em boxeadores exaustos.

  • Romã, Groselha, Cacau: promovem força, desempenho e recuperação muscular.

6. Função Cognitiva

Algumas plantas também impactam atenção, memória e humor:

  • Chá verde, maçã, cacau, groselha: estimulam fatores neurotróficos como BDNF.

  • Hortelã-pimenta (Mentha piperita): melhora atenção e humor, além de reduzir dor muscular.

Mitos e Cuidados

Fitoterápicos são produtos farmacológicos derivados de plantas. Podem interagir com medicamentos e apresentar toxicidade se usados de forma inadequada. Por exemplo, a dose de gengibre pode ter efeitos diferentes dependendo de ser uso agudo ou crônico, incluindo impactos sobre pressão arterial.

As estratégias de fitoterapia devem ser:

  • Periodizadas, ajustadas ao ciclo de treino e competição.

  • Individualizadas, considerando genética, dieta e estado de saúde.

  • Baseadas em farmacologia, para compreender interações e mecanismos de ação.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/