Fitoterapia no Esporte

Nos últimos anos, a fitoterapia tem ganhado destaque como um complemento à medicina ocidental e tradicional, especialmente no contexto esportivo. Não se trata apenas de “remédios naturais”: há uma base científica crescente que comprova como algumas plantas podem otimizar desempenho, acelerar a recuperação e reduzir danos ao organismo.

No esporte, o objetivo não é substituir tratamentos convencionais, mas integrar estratégias seguras e individualizadas, ajudando atletas a alcançarem o máximo de desempenho e adaptação fisiológica.

Recuperação, Redução de Danos e Modulação Imunológica

Um dos grandes benefícios da fitoterapia no esporte é sua capacidade de auxiliar na recuperação muscular e reduzir a percepção de dor. Ao modular respostas inflamatórias e imunológicas, algumas plantas ajudam a minimizar a imunossupressão induzida por exercícios extenuantes, prevenindo infecções e complicações que podem prejudicar o treinamento.

Além disso, ao reduzir a necessidade de medicamentos alopáticos como analgésicos e anti-inflamatórios, a fitoterapia pode evitar que o uso crônico dessas substâncias iniba adaptações ao treino, como ganhos de força e hipertrofia.

Individualidade Biológica e Contexto Fisiológico

É importante lembrar que nem todas as estratégias funcionam da mesma forma para todos. Polimorfismos genéticos, estado de saúde, dieta e estresse influenciam a resposta individual aos fitoterápicos.

Por isso, entender como cada planta atua (mecanismo de ação) é tão crucial quanto saber se ela funciona. Esse conhecimento permite combinações sinérgicas e estratégias mais seguras e eficazes. Saiba mais no curso de fitoterapia online.

No esporte, o contexto é tudo: um atleta diabético, estressado ou com déficit nutricional pode responder de forma diferente às mesmas plantas utilizadas por outro indivíduo saudável.

A Pirâmide do Desempenho Esportivo

Podemos imaginar a fitoterapia como a camada complementar de uma pirâmide do desempenho:

  1. Base: dieta balanceada, que garante nutrientes essenciais.

  2. Meio: estratégias específicas de nutrição esportiva.

  3. Topo: fitoterapia, potencializando recuperação, desempenho e adaptações.

Aplicações Práticas da Fitoterapia no Esporte

1. Overtraining ou Síndrome do Descondicionamento Paradoxal

O overtraining — hoje chamado de síndrome do descondicionamento paradoxal — ocorre quando o corpo responde negativamente ao treinamento excessivo. Entre os sintomas estão: dor, ansiedade, perda de massa muscular e maior risco de lesões. Fatores como sono inadequado, dieta restritiva e estresse pioram esse quadro. Fitoterápicos podem modular o estresse e reduzir inflamação, apoiando a recuperação sem interferir negativamente nas adaptações ao treino.

2. Dor Articular e Osteoartrite

Plantas que demonstram analgesia e melhora da função articular:

  • Cúrcuma longa (açafrão-da-terra)

  • Boswellia serrata

  • Pinus pinaster (Picnogenol)

Outros exemplos incluem:

  • Gengibre (Zingiber officinale): reduz desconforto articular, com eficácia comparável ao ibuprofeno.

  • Camomila (Matricaria chamomilla): além de ansiolítica, diminui dores e melhora a função em osteoartrite, comparável ao diclofenaco e paracetamol.

3. Recuperação Muscular e DMIT (Dor Muscular de Início Tardio)

Algumas plantas ajudam a reduzir a DMIT e acelerar a recuperação muscular:

  • Gengibre: 2g/dia reduzem DMIT em 1–2 semanas; 4g/dia em 5 dias.

  • Açafrão, Canela, Chá Preto, Alho, Melancia, Camomila, Romã, Pimenta: reduzem fatores que causam DMIT.

  • Romã, Groselha, Aloysia citrodora (erva-cidreira): melhoram desempenho, recuperação e reduzem fadiga.

4. Imunomodulação e Prevenção de Infecções

Atletas submetidos a treinos extenuantes têm maior risco de infecções. Plantas que podem fortalecer a imunidade incluem:

  • Gengibre: diminui infecções do trato respiratório superior.

  • Pelargonium sidoides: aumenta IgA salivar e reduz incidência e intensidade de infecções.

  • Espirulina e Chlorella: melhoram respostas imunológicas pós-treino intenso.

5. Desempenho e Adaptações Metabólicas

Alguns fitoterápicos auxiliam em adaptações metabólicas e na manutenção do desempenho:

  • Feno-grego (Trigonella foenum-graecum): aumenta a glicogênese, útil para atletas com baixa ingestão de carboidratos.

  • Tribulus terrestris: reduz dano muscular e mantém IGF-1 em boxeadores exaustos.

  • Romã, Groselha, Cacau: promovem força, desempenho e recuperação muscular.

6. Função Cognitiva

Algumas plantas também impactam atenção, memória e humor:

  • Chá verde, maçã, cacau, groselha: estimulam fatores neurotróficos como BDNF.

  • Hortelã-pimenta (Mentha piperita): melhora atenção e humor, além de reduzir dor muscular.

Mitos e Cuidados

Fitoterápicos são produtos farmacológicos derivados de plantas. Podem interagir com medicamentos e apresentar toxicidade se usados de forma inadequada. Por exemplo, a dose de gengibre pode ter efeitos diferentes dependendo de ser uso agudo ou crônico, incluindo impactos sobre pressão arterial.

As estratégias de fitoterapia devem ser:

  • Periodizadas, ajustadas ao ciclo de treino e competição.

  • Individualizadas, considerando genética, dieta e estado de saúde.

  • Baseadas em farmacologia, para compreender interações e mecanismos de ação.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/