Fitoterapia na saúde mental

A fitoterapia tem se consolidado como uma prática integrativa valiosa para a saúde mental, atuando como aliada no tratamento de ansiedade, depressão, estresse e distúrbios do sono.

Desde 2006, a fitoterapia é reconhecida nas políticas públicas do Brasil como uma das 29 Práticas Integrativas e Complementares (PICs). Lembrando que:

  • Não substitui tratamentos médicos ou planos alimentares, mas os complementa.

  • Pode ser prescrita por nutricionistas, médicos e farmacêuticos.

  • Atua de forma sinérgica, fortalecendo a saúde física e mental do paciente.

Saúde Mental na Atualidade

A ansiedade, depressão e estresse estão em crescente aumento, intensificados por eventos como a pandemia. Sintomas frequentes na clínica incluem:

  • Apatia e desinteresse

  • Fadiga e distúrbios do sono

  • Alterações no comportamento alimentar (excesso ou falta de apetite)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda avaliação e apoio psicossocial, reforçando a importância de estratégias integrativas como a fitoterapia.

Como a Fitoterapia Atua na Saúde Mental

Plantas medicinais podem influenciar diferentes mecanismos neuroquímicos:

  • Dopaminérgicos – melhoram motivação e prazer

  • Serotoninérgicos – regulam humor e compulsão alimentar

    • Crocus sativus (açafrão verdadeiro), Garcinia cambogia, Griffonia simplicifolia (fornece 5-HTP)

    ⚠️ Atenção: não associar a SSRIs sem supervisão profissional.

  • GABAérgicos – promovem relaxamento e reduzem ansiedade

    • Melissa officinalis, Matricaria chamomilla, Passiflora incarnata

  • Modulação do cortisol – atua no estresse e equilíbrio hormonal (adaptógenos)

    • Rhodiola rosea, Withania somnifera (Ashwagandha), Magnolia officinalis

Essa diversidade permite personalizar intervenções para cada paciente.

Possibilidades de Prescrição

1. No Plano Alimentar

  • Uso de especiarias funcionais como cúrcuma e pimenta-do-reino.

2. Chás Medicinais

  • Preparações podem ser por infusão, decocção ou maceração.

  • É essencial conhecer: parte da planta, modo de preparo e quantidade correta.

  • Exemplos:

    • Rizoma de cúrcuma → decocção

    • Flores de hibisco → infusão

    • Alho → maceração (para compostos termolábeis)

3. Prescrição Magistral e Medicamentos Industrializados

Tipos de Fitoterapia

  1. Popular – Baseada em conhecimento tradicional, transmitido entre gerações.

  2. Tradicional – Sistemas médicos tradicionais, como Medicina Chinesa e Ayurvédica.

  3. Científica Ocidental – Valida eficácia e segurança através de estudos.

A ANVISA diferencia:

  • Medicamentos fitoterápicos: estudos de eficácia e segurança

  • Produtos tradicionais fitoterápicos: uso tradicional >30 anos, sem relatos de toxicidade

Plantas para Cognição

  • Bacopa monnieri – melhora função cognitiva, usada na Ayurveda

  • Astragalus membranaceus – anti-inflamatória e adaptogênica

  • Curcuma longa – anti-inflamatória e melhora sinapses cognitivas
    ⚠️ Evitar em pacientes com litíase biliar

Eixo Intestino-Cérebro e Microbiota

Mais de 90% da serotonina é produzida no intestino. Disbioses contribuem para ansiedade, depressão e inflamação.

Estratégia integrativa

  1. Limpeza intestinal (constipação crônica): heterosídeos antraquinônicos (Senna, Cáscara Sagrada) por 5-10 dias. Aloe vera não usar por períodos prolongados.

  2. Repopulação: lactobacilos (probióticos) e cogumelos medicinais.

Cogumelos funcionais

  • Agaricus blazei, Ganoderma lucidum, Hericium erinaceus, Agaricus bisporus

  • Benefícios: vitaminas, polissacarídeos, glutamina e modulação do cortisol

Fitoterapia emergente para ansiedade

  • Baicalina e baicaleína (Scutellaria baicalensis) → ansiolíticas, neuroprotetoras e anti-inflamatórias, atuam em GABA e eixo HPA.

Viabilidade farmacotécnica da associação

Tanto baicalina quanto baicaleína são viáveis farmacotécnicamente em formulações orais, desde que se considerem suas limitações de solubilidade e biodisponibilidade.

Mecanismos ansiolíticos descritos:

  • Modulação positiva do receptor GABA-A (sem sedação excessiva)

  • Ação anti-inflamatória (inibição de IL-1β, TNF-α, NF-κB)

  • Redução do eixo HPA (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal)

  • Potencial inibição de MAO (monoamina oxidase) – efeito antidepressivo leve

Estudos demonstram que a baicaleína pode apresentar efeito comparável ao diazepam, sem induzir dependência ou sedação acentuada (ref. *Zhou et al., 2018 – Neuropharmacology).

Compatibilidade farmacotécnica / Cuidados clínico-farmacotécnicos:

  • Evitar uso concomitante com benzodiazepínicos ou anticonvulsivantes sem acompanhamento médico.

  • Risco de sedação leve, especialmente em doses maiores ou em associação com outros fitoterápicos ansiolíticos (como Passiflora, Valeriana, L-teanina).

  • Segurança em gestantes/lactantes não estabelecida – evitar.

  • Potencial interação com medicamentos metabolizados por CYP3A4 e CYP1A2 (baicaleína é inibidora moderada).

Aprenda mais sobre fitoterapia aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Resolução da resposta inflamatória aguda

O termo inflamação, ou flogose, deriva do latim inflamare e do grego flogós, que significa “pegar fogo”. Trata-se de uma resposta do sistema imunológico em tecidos vascularizados, caracterizada pela saída de células e moléculas do sangue para o tecido afetado.

Essa resposta é desencadeada por um agente inflamatório (flogógeno), que estimula a liberação de mediadores pró-inflamatórios. Esses mediadores aumentam a permeabilidade dos vasos sanguíneos e favorecem a exsudação, permitindo que células de defesa, como os neutrófilos, cheguem ao local da lesão ou infecção.

O organismo busca sempre um equilíbrio entre mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Quando esse equilíbrio é perdido, podem surgir processos patológicos.

Sinais Clássicos da Inflamação

Os sinais cardinais da inflamação foram descritos por Celsus e incluem:

  • Calor

  • Rubor (vermelhidão)

  • Tumor (inchaço/edema)

  • Dor

Posteriormente, Virchow acrescentou a perda ou redução da função da área afetada.

A Cascata Inflamatória

Quando ocorre uma lesão celular, fosfolipídios da membrana são expostos, iniciando a cascata inflamatória, também conhecida como cascata do ácido araquidônico.

Essa cascata leva à produção de mediadores inflamatórios, como leucotrienos e prostaglandinas, por meio de enzimas como:

  • Lipoxigenases

  • Ciclooxigenases (COX-1 e COX-2)

A COX-2, em especial, é responsável por estimular e perpetuar a inflamação.

Mediadores Lipídicos: Os Arquitetos da Resolução

Durante a inflamação, o corpo produz mediadores lipídicos pró-resolução, derivados de ácidos graxos essenciais, como o ácido araquidônico (AA) e o ácido eicosapentaenoico (EPA). Entre eles, destacam-se:

  • Lipoxinas

  • Resolvinas

  • Maresinas

  • Protectinas

Esses mediadores atuam coordenadamente para resolver a inflamação, sem comprometer a resposta imunológica, promovendo a restauração do equilíbrio nos tecidos.

Da Visão Passiva à Resolução Ativa

Anteriormente, acreditava-se que a inflamação terminava passivamente, quando os fatores que a ativavam desapareciam e as células envolvidas entravam em apoptose ou catabolismo.

Também se pensava que o AA (ômega-6) era apenas um iniciador da inflamação, enquanto o EPA (ômega-3) atuava apenas na competição com ele.

Hoje, sabe-se que essa visão é simplista. A pesquisa liderada por Charles Serhan, de Harvard, mostrou que a resolução da inflamação é ativa, envolvendo diversos mediadores lipídicos:

  1. O AA é essencial tanto para iniciar a inflamação quanto para promovê-la à resolução, ao gerar lipoxinas.

  2. O EPA e o DHA (ácido docosahexaenoico) geram moléculas como resolvinas, protectinas e maresinas, que colaboram com as lipoxinas na resolução da inflamação e na regeneração tecidual.

  3. O DPA (ácido docosapentaenoico) não é apenas um intermediário; ele também é precursor de resolvinas, protectinas e maresinas, compartilhando funções importantes com EPA e DHA.

A resposta inflamatória é necessária, mas deve ser limitada no tempo, resolvendo-se quando não for mais necessária e para isso é necessário um estado nutricional adequado de vários nutrientes, incluindo AA, EPA, DPA e DHA. Aprenda mais no curso Dieta antiinflamatória.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O Papel do Intestino na Saúde da Mulher

Você já ouviu falar que o intestino é o nosso “segundo cérebro”? Pois é, mas talvez ele seja ainda mais do que isso. Dentro de nós vive um universo microscópico chamado microbiota intestinal — uma verdadeira comunidade de trilhões de microrganismos que convivem em harmonia (quando tudo está equilibrado!) e influenciam praticamente todos os aspectos da nossa saúde.

O termo microbiota se refere a esses microrganismos em si, enquanto microbioma diz respeito ao conjunto do material genético deles. A riqueza dessa diversidade é tão única que funciona quase como uma segunda impressão digital.

Esses pequenos habitantes desempenham funções essenciais:

  • ajudam a digerir fibras,

  • produzem vitaminas,

  • metabolizam substâncias estranhas,

  • fabricam ácidos graxos de cadeia curta (os famosos AGCCs, que protegem a saúde intestinal),

  • fortalecem o sistema imunológico,

  • e até participam da regulação do humor e da cognição.

Mas como essa relação íntima com a nossa microbiota se transforma ao longo da vida da mulher? Vamos caminhar juntas por essa linha do tempo.

Da gestação à primeira infância: a fundação da microbiota

A jornada começa cedo, ainda no útero. Estudos mostram que a colonização microbiana não espera o nascimento: ela já se inicia no ambiente intrauterino. Nesse período, a saúde intestinal e vaginal da mãe tem impacto direto — uma disbiose (desequilíbrio da microbiota) pode aumentar o risco de parto prematuro e influenciar o sistema imunológico do bebê.

O tipo de parto também deixa marcas:

  • Parto vaginal favorece a transmissão de bactérias benéficas da mãe para o bebê.

  • Cesárea pode atrasar essa colonização, alterando o desenvolvimento inicial da microbiota.

O aleitamento materno entra como protagonista, fornecendo Bifidobactérias e outros microrganismos protetores. E aqui vem um ponto crucial: os primeiros 2 a 3 anos de vida formam uma verdadeira “janela de oportunidade”. É quando a microbiota se estabelece de maneira mais duradoura. Interferências nesse período — como uso excessivo de antibióticos — podem reduzir a diversidade bacteriana e aumentar o risco de alergias ou doenças inflamatórias no futuro.

A microbiota ao longo da vida adulta: resiliência e plasticidade

Nossa microbiota é dinâmica: pode ser moldada pela dieta, estilo de vida, medicamentos e ambiente. No entanto, ela possui uma característica interessante: a resiliência. Isso significa que, mesmo sofrendo mudanças temporárias, muitas vezes tende a retornar ao seu estado original após cessar o estímulo.

Esse detalhe é um alerta importante: não basta “cuidar” do intestino só por um tempo. O equilíbrio é construído e mantido com hábitos consistentes ao longo da vida.

Envelhecimento e menopausa: novas mudanças, novos desafios

Com o envelhecimento e a chegada da menopausa, ocorre uma alteração natural na composição da microbiota. Bactérias produtoras de substâncias protetoras, como a Roseburia (associada a AGCCs anti-inflamatórios), podem diminuir.

Essas mudanças não acontecem isoladamente. Elas dialogam com o metabolismo, os hormônios e até com doenças mais prevalentes nessa fase, como diabetes, síndrome metabólica e osteoporose.

Quando o equilíbrio se perde: a disbiose intestinal

A chamada disbiose intestinal é quando o time de microrganismos fica em desvantagem: bactérias benéficas reduzem, patógenos aumentam, e a diversidade cai.

Diversos fatores podem contribuir: tipo de parto, genética, uso de antibióticos, agrotóxicos, poluição, dieta pobre em fibras e rica em ultraprocessados.

As consequências são amplas e muitas vezes surpreendentes:

  • alterações do sistema nervoso central,

  • doenças cardiometabólicas,

  • infecções de repetição,

  • e um quadro de inflamação sistêmica associado ao famoso intestino permeável (leaky gut), quando a barreira intestinal fica comprometida.

Microbiota e Síndrome do Intestino Irritável (SII)

Um dos exemplos mais claros da relação entre microbiota e sintomas clínicos é a Síndrome do Intestino Irritável.

Mulheres com SII frequentemente apresentam:

  • redução de Lactobacilos e Bifidobactérias,

  • aumento de bactérias inflamatórias e produtoras de gás,

  • queda na produção de AGCCs protetores.

A dieta entra como fator-chave. Alimentos ricos em FODMAPs (carboidratos fermentáveis) podem ser verdadeiros gatilhos para os sintomas.

Estratégias para modular a microbiota: um cuidado contínuo e personalizado

A boa notícia é que é possível modular a microbiota intestinal. Não existe receita única, mas alguns pilares são bem estabelecidos:

1. Nutrição individualizada

A dieta é o fator mais poderoso, responsável por até 57% da variação da microbiota.

  • Dieta ocidental (rica em gordura saturada e açúcar) → favorece bactérias inflamatórias.

  • Dieta rica em fibras, fitoquímicos e gorduras boas → promove bactérias protetoras.

2. Prebióticos

Muito além das fibras, incluem compostos como resveratrol, ômega-3, vitamina D, elagitaninas e vitamina B2. Eles alimentam bactérias boas e estimulam a produção de AGCCs.

3. Probióticos

Microrganismos vivos que ajudam a fortalecer a barreira intestinal, inibir patógenos e modular a imunidade. Aqui, qualidade é mais importante do que quantidade.

4. Outras terapias

  • Simbióticos (prebióticos + probióticos),

  • Psicobióticos (voltados à saúde mental),

  • Oncobióticos (voltados à oncologia),

  • Pós-bióticos (metabólitos como o butirato),

  • Paraprobióticos,

  • até mesmo o transplante fecal, em situações específicas.

Uma visão integrativa da saúde intestinal da mulher

Cuidar da microbiota não é apenas uma questão de tomar probióticos ou seguir uma dieta rica em fibras. É sobre um estilo de vida que contempla:

  • sono reparador,

  • manejo do estresse,

  • atividade física regular,

  • menor exposição a toxinas ambientais,

  • e, claro, alimentação consciente.

A ciência da microbiota é uma revolução silenciosa. Entender esse universo invisível nos permite enxergar a saúde da mulher de forma integrativa e personalizada, respeitando as particularidades de cada fase da vida. Lembrando que a microbiota vaginal também muda ao longo da vida.

O Microbioma Vaginal: Um Ecossistema que nos Acompanha a Vida Toda

Você já parou para pensar que a nossa vagina também tem um microuniverso próprio que muda ao longo da vida? Pois é! O microbioma vaginal é como uma comunidade de bactérias que vive com a gente desde a infância até a pós-menopausa, e ele faz um trabalho essencial: proteger contra infecções, manter o equilíbrio e até influenciar nossa saúde ginecológica.

Da infância à adolescência

Na infância, a “população bacteriana” ainda é bem diversificada, com espécies como Corynebacterium e Escherichia coli. Mas com a chegada da puberdade e dos hormônios, principalmente o estrogênio, essa comunidade começa a mudar. É aí que os Lactobacillus aparecem para dominar o ambiente, ajudando a criar um pH ácido que mantém os invasores longe.

Idade adulta: Lactobacillus no comando

Durante a vida reprodutiva, os lactobacilos são verdadeiros heróis. Eles produzem ácido láctico e peróxido de hidrogênio, mantendo a vagina saudável. Mas nem sempre é perfeito: às vezes aparecem bactérias anaeróbicas como Gardnerella ou Prevotella, especialmente quando há infecções como vaginose bacteriana ou clamídia. Um detalhe interessante: o tipo de Lactobacillus importa — L. crispatus protege mais, enquanto L. iners pode deixar a porta aberta para problemas.

Pós-menopausa: mudanças e adaptações

Quando os hormônios diminuem, a composição do microbioma muda de novo. Os lactobacilos caem, e outras bactérias, como Gardnerella e Ureaplasma, aparecem com mais frequência. Mas há boas notícias: a terapia hormonal pode ajudar a restaurar o equilíbrio sem aumentar o risco de infecções.

Fatores que influenciam o microbioma

O que você come, se fuma, usa lubrificantes, ou até sua genética e etnia podem mudar esse microuniverso. Até os probióticos entram na conversa — há estudos sugerindo que podem ajudar a prevenir infecções quando usados junto com tratamentos tradicionais.

Por que isso importa?

Manter o microbioma em equilíbrio é essencial para prevenir infecções, problemas na gravidez, infecções urinárias e até para reduzir o risco de complicações na menopausa. É como cuidar de um jardim: se as flores (lactobacilos) estão fortes, as ervas daninhas (bactérias ruins) têm menos chance de se espalhar.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/