É genético ou hereditário?

Muita gente usa os termos genético e hereditário como se fossem iguais, mas existe uma diferença importante. Nem tudo o que é genético é hereditário.

🧬 Genético
Refere-se a qualquer característica ou condição ligada aos genes, ou seja, ao DNA. Nem sempre algo genético é herdado dos pais — mutações podem surgir de forma espontânea, durante a vida, sem que ninguém da família tenha apresentado antes. Por exemplo, um câncer que aparece ao longo da vida. Outro exemplo são as neurodivergências, como autismo (TEA), TDAH, superdotação. Dependem de um conjunto de genes para se expressar, mas nem sempre os pais tinham a mesma combinação.

👨‍👩‍👧 Hereditário
Já o termo hereditário está relacionado à transmissão de características de geração em geração. Ou seja, quando um traço ou doença passa de pais para filhos por meio dos genes. A fibrose cística é um exemplo de doença hereditária, pois a mutação responsável é passada de pais para filhos.

💡 Lembre:

  • Todo o que é hereditário é genético.

  • Mas nem tudo que é genético é hereditário.

As doenças hereditárias seguem diferentes padrões de herança

A maioria das condições são multifatoriais

Padrão de herança clássica também pode ser chamada de mendeliana. Pode ser autossômica (que ocorre nos cromossomos sexuais) ou ligada ao sexo. No caso de herança autossômica, pode ser dominante, recessiva, ou codominante, afetando homens e mulheres de forma igual.

As síndromes de Ehler-Danlos são doenças hereditárias raras do tecido conjuntivo que causam alta flexibilidade de articulações, pele e tecidos. O padrão de herança varia com o subtipo, mas a maioria dos tipos é herdada em um padrão autossômico dominante. Isso significa que basta uma cópia do gene mutado, herdada de um dos pais, para a doença se manifestar.

Quando a doença ou transtorno são mais complexos, fatores genéticos, epigenéticos e ambientais podem se somar. É o caso do autismo e da superdotação/altas habilidades que tem um padrão de herança multifatorial. A genética é muito importante, mas foge ao padrão de herança clássico (mendeliano). No padrão de herança multifatorial, as características apresentadas dependem de um conjunto de fatores genéticos associados a fatores ambientais.

O autismo, por exemplo, é altamente heterogêneo, com grande variação entre indivíduos. Há muitos genes candidatos (mais de 100 genes implicados, variação de número de cópias, variantes de novo, etc).
Na imagem a seguir vemos a representação de alguns cones. Cada cone é uma pessoa. Dentro do cone estão bolas coloridas, que simbolizam faotres de risco genéticos ou ambientais que podem contribuir para o desenvolvimento de um transtorno complexo, como o autismo.

Cada fator de risco adiciona certo volume ao cone. A linha tracejada no topo do cone é o limiar (threshold) para manifestação do transtorno. Se os fatores de risco ultrapassam a linha tracejada, a pessoa manifesta os sintomas. É como se o copo entornasse. Na imagem, o pai carrega algumas variantes, a mãe outras. Seus filhos 1 e 4 herdaram mais variantes e o copo transborda, com o desenvolvimento do autismo.

As crianças 2 e 3 herdaram variantes menores e não ultrapassaram o limite para o desenvolvimento do transtorno. Assim como no TEA, outros transtornos também resultam da combinação de muitos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. Diferentes indivíduos na mesma família podem carregar variantes semelhantes, mas só desenvolvem transtornos se a soma dos riscos ultrapassar determinado limiar. Isso ajuda a explicar:

- Penetrância incompleta (nem todos com mutações ou polimorfismos são afetados)
- Variabilidade fenotípica (irmãos com o mesmo gene podem ter trajetórias distintas).

Aprenda mais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Fitoterapia no Esporte

Nos últimos anos, a fitoterapia tem ganhado destaque como um complemento à medicina ocidental e tradicional, especialmente no contexto esportivo. Não se trata apenas de “remédios naturais”: há uma base científica crescente que comprova como algumas plantas podem otimizar desempenho, acelerar a recuperação e reduzir danos ao organismo.

No esporte, o objetivo não é substituir tratamentos convencionais, mas integrar estratégias seguras e individualizadas, ajudando atletas a alcançarem o máximo de desempenho e adaptação fisiológica.

Recuperação, Redução de Danos e Modulação Imunológica

Um dos grandes benefícios da fitoterapia no esporte é sua capacidade de auxiliar na recuperação muscular e reduzir a percepção de dor. Ao modular respostas inflamatórias e imunológicas, algumas plantas ajudam a minimizar a imunossupressão induzida por exercícios extenuantes, prevenindo infecções e complicações que podem prejudicar o treinamento.

Além disso, ao reduzir a necessidade de medicamentos alopáticos como analgésicos e anti-inflamatórios, a fitoterapia pode evitar que o uso crônico dessas substâncias iniba adaptações ao treino, como ganhos de força e hipertrofia.

Individualidade Biológica e Contexto Fisiológico

É importante lembrar que nem todas as estratégias funcionam da mesma forma para todos. Polimorfismos genéticos, estado de saúde, dieta e estresse influenciam a resposta individual aos fitoterápicos.

Por isso, entender como cada planta atua (mecanismo de ação) é tão crucial quanto saber se ela funciona. Esse conhecimento permite combinações sinérgicas e estratégias mais seguras e eficazes. Saiba mais no curso de fitoterapia online.

No esporte, o contexto é tudo: um atleta diabético, estressado ou com déficit nutricional pode responder de forma diferente às mesmas plantas utilizadas por outro indivíduo saudável.

A Pirâmide do Desempenho Esportivo

Podemos imaginar a fitoterapia como a camada complementar de uma pirâmide do desempenho:

  1. Base: dieta balanceada, que garante nutrientes essenciais.

  2. Meio: estratégias específicas de nutrição esportiva.

  3. Topo: fitoterapia, potencializando recuperação, desempenho e adaptações.

Aplicações Práticas da Fitoterapia no Esporte

1. Overtraining ou Síndrome do Descondicionamento Paradoxal

O overtraining — hoje chamado de síndrome do descondicionamento paradoxal — ocorre quando o corpo responde negativamente ao treinamento excessivo. Entre os sintomas estão: dor, ansiedade, perda de massa muscular e maior risco de lesões. Fatores como sono inadequado, dieta restritiva e estresse pioram esse quadro. Fitoterápicos podem modular o estresse e reduzir inflamação, apoiando a recuperação sem interferir negativamente nas adaptações ao treino.

2. Dor Articular e Osteoartrite

Plantas que demonstram analgesia e melhora da função articular:

  • Cúrcuma longa (açafrão-da-terra)

  • Boswellia serrata

  • Pinus pinaster (Picnogenol)

Outros exemplos incluem:

  • Gengibre (Zingiber officinale): reduz desconforto articular, com eficácia comparável ao ibuprofeno.

  • Camomila (Matricaria chamomilla): além de ansiolítica, diminui dores e melhora a função em osteoartrite, comparável ao diclofenaco e paracetamol.

3. Recuperação Muscular e DMIT (Dor Muscular de Início Tardio)

Algumas plantas ajudam a reduzir a DMIT e acelerar a recuperação muscular:

  • Gengibre: 2g/dia reduzem DMIT em 1–2 semanas; 4g/dia em 5 dias.

  • Açafrão, Canela, Chá Preto, Alho, Melancia, Camomila, Romã, Pimenta: reduzem fatores que causam DMIT.

  • Romã, Groselha, Aloysia citrodora (erva-cidreira): melhoram desempenho, recuperação e reduzem fadiga.

4. Imunomodulação e Prevenção de Infecções

Atletas submetidos a treinos extenuantes têm maior risco de infecções. Plantas que podem fortalecer a imunidade incluem:

  • Gengibre: diminui infecções do trato respiratório superior.

  • Pelargonium sidoides: aumenta IgA salivar e reduz incidência e intensidade de infecções.

  • Espirulina e Chlorella: melhoram respostas imunológicas pós-treino intenso.

5. Desempenho e Adaptações Metabólicas

Alguns fitoterápicos auxiliam em adaptações metabólicas e na manutenção do desempenho:

  • Feno-grego (Trigonella foenum-graecum): aumenta a glicogênese, útil para atletas com baixa ingestão de carboidratos.

  • Tribulus terrestris: reduz dano muscular e mantém IGF-1 em boxeadores exaustos.

  • Romã, Groselha, Cacau: promovem força, desempenho e recuperação muscular.

6. Função Cognitiva

Algumas plantas também impactam atenção, memória e humor:

  • Chá verde, maçã, cacau, groselha: estimulam fatores neurotróficos como BDNF.

  • Hortelã-pimenta (Mentha piperita): melhora atenção e humor, além de reduzir dor muscular.

Mitos e Cuidados

Fitoterápicos são produtos farmacológicos derivados de plantas. Podem interagir com medicamentos e apresentar toxicidade se usados de forma inadequada. Por exemplo, a dose de gengibre pode ter efeitos diferentes dependendo de ser uso agudo ou crônico, incluindo impactos sobre pressão arterial.

As estratégias de fitoterapia devem ser:

  • Periodizadas, ajustadas ao ciclo de treino e competição.

  • Individualizadas, considerando genética, dieta e estado de saúde.

  • Baseadas em farmacologia, para compreender interações e mecanismos de ação.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Fitoterapia na saúde mental

A fitoterapia tem se consolidado como uma prática integrativa valiosa para a saúde mental, atuando como aliada no tratamento de ansiedade, depressão, estresse e distúrbios do sono.

Desde 2006, a fitoterapia é reconhecida nas políticas públicas do Brasil como uma das 29 Práticas Integrativas e Complementares (PICs). Lembrando que:

  • Não substitui tratamentos médicos ou planos alimentares, mas os complementa.

  • Pode ser prescrita por nutricionistas, médicos e farmacêuticos.

  • Atua de forma sinérgica, fortalecendo a saúde física e mental do paciente.

Saúde Mental na Atualidade

A ansiedade, depressão e estresse estão em crescente aumento, intensificados por eventos como a pandemia. Sintomas frequentes na clínica incluem:

  • Apatia e desinteresse

  • Fadiga e distúrbios do sono

  • Alterações no comportamento alimentar (excesso ou falta de apetite)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda avaliação e apoio psicossocial, reforçando a importância de estratégias integrativas como a fitoterapia.

Como a Fitoterapia Atua na Saúde Mental

Plantas medicinais podem influenciar diferentes mecanismos neuroquímicos:

  • Dopaminérgicos – melhoram motivação e prazer

  • Serotoninérgicos – regulam humor e compulsão alimentar

    • Crocus sativus (açafrão verdadeiro), Garcinia cambogia, Griffonia simplicifolia (fornece 5-HTP)

    ⚠️ Atenção: não associar a SSRIs sem supervisão profissional.

  • GABAérgicos – promovem relaxamento e reduzem ansiedade

    • Melissa officinalis, Matricaria chamomilla, Passiflora incarnata

  • Modulação do cortisol – atua no estresse e equilíbrio hormonal (adaptógenos)

    • Rhodiola rosea, Withania somnifera (Ashwagandha), Magnolia officinalis

Essa diversidade permite personalizar intervenções para cada paciente.

Possibilidades de Prescrição

1. No Plano Alimentar

  • Uso de especiarias funcionais como cúrcuma e pimenta-do-reino.

2. Chás Medicinais

  • Preparações podem ser por infusão, decocção ou maceração.

  • É essencial conhecer: parte da planta, modo de preparo e quantidade correta.

  • Exemplos:

    • Rizoma de cúrcuma → decocção

    • Flores de hibisco → infusão

    • Alho → maceração (para compostos termolábeis)

3. Prescrição Magistral e Medicamentos Industrializados

Tipos de Fitoterapia

  1. Popular – Baseada em conhecimento tradicional, transmitido entre gerações.

  2. Tradicional – Sistemas médicos tradicionais, como Medicina Chinesa e Ayurvédica.

  3. Científica Ocidental – Valida eficácia e segurança através de estudos.

A ANVISA diferencia:

  • Medicamentos fitoterápicos: estudos de eficácia e segurança

  • Produtos tradicionais fitoterápicos: uso tradicional >30 anos, sem relatos de toxicidade

Plantas para Cognição

  • Bacopa monnieri – melhora função cognitiva, usada na Ayurveda

  • Astragalus membranaceus – anti-inflamatória e adaptogênica

  • Curcuma longa – anti-inflamatória e melhora sinapses cognitivas
    ⚠️ Evitar em pacientes com litíase biliar

Eixo Intestino-Cérebro e Microbiota

Mais de 90% da serotonina é produzida no intestino. Disbioses contribuem para ansiedade, depressão e inflamação.

Estratégia integrativa

  1. Limpeza intestinal (constipação crônica): heterosídeos antraquinônicos (Senna, Cáscara Sagrada) por 5-10 dias. Aloe vera não usar por períodos prolongados.

  2. Repopulação: lactobacilos (probióticos) e cogumelos medicinais.

Cogumelos funcionais

  • Agaricus blazei, Ganoderma lucidum, Hericium erinaceus, Agaricus bisporus

  • Benefícios: vitaminas, polissacarídeos, glutamina e modulação do cortisol

Fitoterapia emergente para ansiedade

  • Baicalina e baicaleína (Scutellaria baicalensis) → ansiolíticas, neuroprotetoras e anti-inflamatórias, atuam em GABA e eixo HPA.

Viabilidade farmacotécnica da associação

Tanto baicalina quanto baicaleína são viáveis farmacotécnicamente em formulações orais, desde que se considerem suas limitações de solubilidade e biodisponibilidade.

Mecanismos ansiolíticos descritos:

  • Modulação positiva do receptor GABA-A (sem sedação excessiva)

  • Ação anti-inflamatória (inibição de IL-1β, TNF-α, NF-κB)

  • Redução do eixo HPA (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal)

  • Potencial inibição de MAO (monoamina oxidase) – efeito antidepressivo leve

Estudos demonstram que a baicaleína pode apresentar efeito comparável ao diazepam, sem induzir dependência ou sedação acentuada (ref. *Zhou et al., 2018 – Neuropharmacology).

Compatibilidade farmacotécnica / Cuidados clínico-farmacotécnicos:

  • Evitar uso concomitante com benzodiazepínicos ou anticonvulsivantes sem acompanhamento médico.

  • Risco de sedação leve, especialmente em doses maiores ou em associação com outros fitoterápicos ansiolíticos (como Passiflora, Valeriana, L-teanina).

  • Segurança em gestantes/lactantes não estabelecida – evitar.

  • Potencial interação com medicamentos metabolizados por CYP3A4 e CYP1A2 (baicaleína é inibidora moderada).

Aprenda mais sobre fitoterapia aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/