Nutrição e fertilidade

Define-se infertilidade como a ausência de gravidez após 12 meses (para mulheres abaixo de 35 anos) ou 6 meses (para mulheres acima de 35 anos) de tentativas. É um problema de saúde pública, afetando cerca de 15% dos casais. A reserva ovariana diminui naturalmente a partir dos 35 anos, e o estilo de vida afeta a qualidade e quantidade de espermatozoides.

A principal causa de infertilidade é o estresse oxidativo, amplificado por álcool, tabagismo, cafeína em excesso, estresse, infecções, medicamentos, doenças como SOP e endometriose, e o processo de envelhecimento. A nutrição e um estilo de vida antioxidante podem combater esse estresse.

ALGUMAS CAUSAS DE INFERTILIDADE

  • Endometriose: Afeta 6 a 10% das mulheres em idade produtiva e tem caráter inflamatório crônico. A inflamação crônica pode induzir resistência à progesterona. Estratégias nutricionais incluem alimentos ricos em ômega-3, frutas cítricas e a redução de alimentos inflamatórios como frituras, doces, carnes vermelhas e processados. Saiba mais neste artigo completo sobre endometriose.

  • Síndrome do Ovário Policístico (SOP): O diagnóstico envolve hiperandrogenismo, disfunção ovulatória e ovários policísticos. Fatores ambientais como agentes intoxicantes, dieta, estresse mental e sedentarismo estão relacionados à sua manifestação. O chá verde e a metformina podem ajudar a melhorar a resistência à insulina e o equilíbrio de androgênios na SOP. A dieta deve ter baixo índice glicêmico e priorizar gorduras monoinsaturadas. O uso de anticoncepcionais mascara os sintomas, mas não trata a causa raiz. Suplementos como mio-inositol, ômega-3, vitamina D e picolinato de cromo são importantes. Saiba muito mais sobre SOP aqui.

  • Agrotóxicos: São disruptores endócrinos que impactam a saúde hormonal e podem ser encontrados em produtos industrializados. Incentivar o consumo de orgânicos é fundamental. Podem levar à queda de progesterona, um hormônio fundamental para a fertilidade.

  • Infertilidade Masculina: Também é afetada por fatores como álcool, tabaco, obesidade, excesso de cafeína e dieta. Vitaminas D e cálcio, além de antioxidantes (incluindo coenzima Q10), são cruciais. Leia sobre outras causas de infertilidade aqui.

O Papel da Nutrição na Fertilidade

A alimentação neutraliza radicais livres, modula níveis de glicose, fornece nutrientes para o desenvolvimento de óvulos e espermatozoides, apoia a implantação e a produção hormonal, e reduz o risco de aborto.

  • Coenzima Q10: Poderoso antioxidante, com dose mínima de 600 mg para otimizar a qualidade do óvulo e espermatozoides.

  • Ômega-3: Anti-inflamatório, aumenta a progesterona, taxas de ovulação e concepção, e diminui chances de aborto (doses em torno de 3 gramas).

  • Vitaminas do Complexo B: Essenciais para o desenvolvimento de folículos, embriogênese e fertilização. O metilfolato deve ser suplementado por pelo menos três meses antes da concepção para prevenir defeitos do tubo neural. Níveis ideais de vitamina B12 para fertilidade são mais altos (cerca de 700pg/mL) do que os valores de referência usuais.

A Dieta Mediterrânea é considerada a "dieta da fertilidade", promovendo equilíbrio hormonal e melhorando as chances de concepção. Gorduras poli-insaturadas (ômega-3) são benéficas, enquanto gorduras trans são prejudiciais. Dietas ricas em cereais, vegetais e frutas melhoram a qualidade do embrião.

Restrição calórica radical e consumo de álcool/cigarro são deletérios. O consumo de cafeína deve ser cauteloso, com uma dose de segurança de no máximo uma ou duas xícaras pequenas (100mg). Adoçantes artificiais e disruptores endócrinos (pesticidas, plásticos) também devem ser evitados ou minimizados. A nutrição tem um papel central na fertilidade, nutrindo trilhões de células diariamente. A infertilidade é um indicador de que a pessoa não está saudável de alguma forma.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Programação epigenética

A nutrição personalizada, que em 2014 era vista como a ciência do futuro, hoje faz parte do nosso presente e está cada vez mais acessível. Compreender a interação entre alimentos e a biologia humana é fundamental para intervenções nutricionais eficientes e individualizadas.

A genética identifica polimorfismos, enquanto a epigenética avalia o que está sendo expresso, mostrando o poder da nutrição em silenciar genes de não interesse e expressar genes de interesse. A influência genética na modulação dos genes é pequena (10-25%); o ambiente tem um impacto muito maior. Fatores como estresse, poluição, agrotóxicos e atividade física também modulam nossos genes.

A reprogramação epigenética consiste em estratégias para mudar o padrão de expressão dos genes, e não necessariamente exige um teste genético; uma boa anamnese e acompanhamento nutricional já permitem essa reprogramação, embora o teste genético encurte caminhos. A nutrição individualizada é essencial, pois não existem estratégias únicas (como low carb ou jejum intermitente) que funcionem para todos.

As células possuem vários mecanismos de reprogramação epigenética, como metilação, acetilação, ubiquitinação, fosforilação, condensação e relaxamento da cromatina. Estes mecanismos afetam a acessibilidade do gene, sem alterar a sequência do DNA.

Mecanismos epigenéticos (Gujral et al., 2020)

Alteração da regulação epigenética

Uma série de fatores ambientais, estilo de vida, estresse precoce e trauma podem influenciar o estabelecimento e a manutenção de marcas epigenéticas ao longo de gerações (muitas vezes conhecidas como memória epigenética).

Por exemplo, a metilação do DNA, um componente central da rede epigenética, é alterada em resposta a influências nutricionais. A deficiência de vitaminas, como B9 e B12 compromete o processo e aumenta o risco de doenças como diabetes tipo 2 e trombose. Podemos lançar mão destes conhecimentos para reprogramar a epigenética. Os protocolos podem ser divididos em fases:

  • Fase de ataque: Estratégias intensas para indivíduos com marcadores alterados, microbiota em desequilíbrio ou alimentação inadequada.

  • Fase de adaptação: Período para o paciente se adaptar e manter as mudanças.

  • Fase de manutenção: Fase mais tranquila, de seguimento, onde o paciente já compreendeu e sente os benefícios.

DIETA EPIGENÉTICA

Os nutrientes que regulam nosso genoma vêm dos alimentos. O consumo de uma dieta variada contribui para a regulação de genes que nos protegem contra doenças. Exemplos:

  • Radicchio (chicória vermelha) para o VKORC1

  • Cebolinha para o BMCOM1

  • Fibras para o ADRB2 e MC4R

  • Colina para SLC4A1

  • Quercetina da cebola para o NRF2

  • Licopeno do tomate para o BMO1

  • Limão siciliano para o SLC23A1

  • Cucumis sativus (pepino) para enzimas antioxidantes (CAT, SOD, GPX)

  • Azeite para MCP1 e SIRT1 e expressão de microRNAs

  • Vegetais verde escuros para o MTHF

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Tratamento nutricional da endometriose

A endometriose é caracterizada pela presença de tecido endometrial (camada interna do útero) fora da cavidade uterina. É uma doença inflamatória e um problema de saúde pública, afetando cerca de 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva, com alguns estudos indicando até 15%. Aproximadamente 190 milhões de mulheres vivem com endometriose globalmente. É uma doença estrogênio-dependente, o que significa que o estrogênio, um hormônio produzido no ovário, é responsável pela proliferação e manutenção da doença.

Por que a endometriose ocorre?

A teoria mais provável é a da menstruação retrógrada, onde o sangramento menstrual, em vez de sair pela vagina, retorna pelas trompas e se localiza em outros órgãos.

Os principais fenótipos são:

  • Endometrioma: implantes endometriais dentro do ovário.

  • Superficial ou Peritoneal: focos localizados na superfície do peritônio.

  • Profunda: infiltração de mais de 5 milímetros para dentro do peritônio. A adenomiose é uma condição semelhante, caracterizada pela presença de endométrio dentro do miométrio (camada intermediária do útero). A endometriose pode atingir vários locais como ovário, trompa, ligamento uterossacro (associada a dores sexuais como a dispareunia), bexiga, intestino (reto-sigmoide), cicatrizes e, mais raramente, pulmão.

Causas da Endometriose

É uma doença multifatorial e multicausal:

  • Genética: Polimorfismos genéticos e histórico familiar (mulheres com parentes de primeiro grau têm maior risco).

  • Imunológica e Inflamatória: Pessoas com endometriose apresentam marcadores inflamatórios elevados, indicando um estado de inflamação. Isso causa disfunção imunológica e produção de mais substâncias inflamatórias.

  • Fatores Ambientais e Dieta: Exposição a agrotóxicos, estresse, sedentarismo, álcool e tabagismo.

  • Hormonais: Principalmente desequilíbrio entre progesterona e estrogênio, com predominância estrogênica (aumento de estrogênio ou diminuição/resistência à progesterona), que leva à proliferação de novos focos de endometriose. Outra doença estrogênio-dependente é o câncer de mama.

Sintomas Comuns

Incluem dismenorreia (cólica intensa), dor pélvica crônica, dispareunia (dor na relação sexual), alterações intestinais (constipação, diarreia, dor ao evacuar, sensação de esvaziamento incompleto), alterações urinárias (dor ao urinar, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga) e infertilidade (20 a 50% das pacientes). É fundamental não normalizar cólicas menstruais fortes ou dores intensas, pois não é normal.

Diagnóstico

É frequentemente tardio, levando em média sete anos do início dos sintomas ao diagnóstico, com mulheres consultando cerca de 5 a 7 ginecologistas. Os métodos incluem:

  • Videolaparoscopia: Considerado o "padrão ouro", permite visualizar e remover pequenos focos.

  • Ressonância Magnética e Ultrassonografia Transvaginal: Menos invasivos, mas dependem de um profissional experiente e exigem preparo intestinal.

  • Clínica/sintomas comuns: TPM intensa (cólicas, irritabilidade, tristeza, alterações de humor), distensão abdominal, gases, dor abdominal, libido baixa.

Dieta como Fator de Risco

  • Alto consumo de gorduras saturadas (manteiga, carne gorda, produtos industrializados de origem animal) e gorduras trans (margarina, biscoitos amanteigados).

  • Baixo consumo de verduras e frutas (especialmente frutas cítricas que atuam na prevenção).

  • Alto consumo de carne vermelha em excesso, associado ao aumento de estrogênio.

  • Consumo excessivo de álcool, que aumenta o estrogênio e a inflamação.

  • Soja e Café: Estudos são conflitantes, mas o consumo excessivo pode não ser recomendado.

  • Baixo consumo de fibras e dietas ricas em produtos refinados, contribuindo para a disbiose intestinal.

Tratamento

É individualizado e envolve uma equipe multidisciplinar:

  • Fisioterapia Pélvica: Alivia dores nas relações sexuais, evacuação e micção.

  • Psicólogo: Psicoterapia.

  • Nutricionista: Dieta e alimentação adequada.

  • Médico: Tratamento hormonal, medicamentoso ou cirúrgico.

Como a Nutrição Ajuda?

A nutrição atua na prevenção, na causa (modulando o sistema imune e fatores hormonais), e nos sintomas (cólicas, dispareunia). É crucial uma abordagem holística, observando o corpo como um todo (cérebro, tireoide, estômago, fígado e, principalmente, intestino, onde a maioria das doenças começa).

Objetivos da Nutrição

  • Redução do estresse oxidativo (dieta antioxidante).

  • Redução da inflamação (dieta anti-inflamatória).

O que Incluir na Dieta

  • Alimentos orgânicos: Priorizar os mais consumidos para reduzir agrotóxicos.

  • Carnes brancas e magras, especialmente peixes (ricos em gorduras de boa qualidade).

  • Castanhas e sementes: Semente de girassol é importante para modulação da progesterona.

  • Frutas variadas, especialmente frutas vermelhas (antioxidantes).

  • Temperos naturais: Açafrão/cúrcuma (propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes).

  • Fibras e alimentos integrais (chia, aveia, arroz integral): Melhoram o funcionamento intestinal, facilitando a eliminação de estrogênio. O intestino deve funcionar diariamente.

  • Chás: Pelo menos três xícaras ao dia, sem açúcar ou adoçante.

    • Gengibre (anti-inflamatório)

    • Chá Verde (antioxidante)

    • Camomila (calmante).

  • Azeite: Boa fonte de gordura.

  • Verduras e Brássicas/Crucíferas: Brócolis, repolho, rabanete, couve (contêm glucosinolatos e isotiocianatos, compostos anti-inflamatórios que reduzem sintomas e progressão da doença).

  • Suplementos de acordo com a necessidade de cada paciente, como (analisar consumo e exames):

    • Ômega 3 (ver índice ômega-3)

    • Vitamina D - Valores abaixo de 45 ng/mL são considerados baixos para mulheres com endometriose e requerem atenção.

    • Minerais (cálcio, selênio, zinco, magnésio)

    • Vitaminas A, C, E e Complexo B

O que Evitar na Dieta

  • Alimentos com alto teor de agrotóxicos.

  • Alimentos com corantes e aromatizantes artificiais.

  • Alimentos altamente processados e industrializados (temperos industrializados).

  • Açúcar e alimentos refinados em excesso: Aumentam o estrogênio, facilitando a proliferação do endométrio.

  • Gorduras saturadas e trans (carne gordurosa, margarina, maionese, ketchup).

  • Excesso de café: No máximo uma a duas xícaras pequenas ao dia. Melhor usar café descafeinado.

  • Consumo excessivo de álcool: É inflamatório.

  • Carne vermelha em excesso.

Endometriose não é mimi, não é frescura, não é psicológica. As dores são reais e intensas, e não devem ser subestimadas. Às vezes a cirurgia é sim necessária:

Dieta após Cirurgia (Histerectomia/Retirada de Focos)

Mesmo após a retirada do útero ou focos de endometriose, é altamente recomendado manter a dieta anti-inflamatória e antioxidante (com muitas frutas, verduras, brócolis, couve, ômega 3, vitamina D, e chás), para diminuir marcadores inflamatórios e a quantidade de estrogênio, prevenindo o aparecimento de novos focos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/