A endometriose é caracterizada pela presença de tecido endometrial (camada interna do útero) fora da cavidade uterina. É uma doença inflamatória e um problema de saúde pública, afetando cerca de 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva, com alguns estudos indicando até 15%. Aproximadamente 190 milhões de mulheres vivem com endometriose globalmente. É uma doença estrogênio-dependente, o que significa que o estrogênio, um hormônio produzido no ovário, é responsável pela proliferação e manutenção da doença.
Por que a endometriose ocorre?
A teoria mais provável é a da menstruação retrógrada, onde o sangramento menstrual, em vez de sair pela vagina, retorna pelas trompas e se localiza em outros órgãos.
Os principais fenótipos são:
Endometrioma: implantes endometriais dentro do ovário.
Superficial ou Peritoneal: focos localizados na superfície do peritônio.
Profunda: infiltração de mais de 5 milímetros para dentro do peritônio. A adenomiose é uma condição semelhante, caracterizada pela presença de endométrio dentro do miométrio (camada intermediária do útero). A endometriose pode atingir vários locais como ovário, trompa, ligamento uterossacro (associada a dores sexuais como a dispareunia), bexiga, intestino (reto-sigmoide), cicatrizes e, mais raramente, pulmão.
Causas da Endometriose
É uma doença multifatorial e multicausal:
Genética: Polimorfismos genéticos e histórico familiar (mulheres com parentes de primeiro grau têm maior risco).
Imunológica e Inflamatória: Pessoas com endometriose apresentam marcadores inflamatórios elevados, indicando um estado de inflamação. Isso causa disfunção imunológica e produção de mais substâncias inflamatórias.
Fatores Ambientais e Dieta: Exposição a agrotóxicos, estresse, sedentarismo, álcool e tabagismo.
Hormonais: Principalmente desequilíbrio entre progesterona e estrogênio, com predominância estrogênica (aumento de estrogênio ou diminuição/resistência à progesterona), que leva à proliferação de novos focos de endometriose. Outra doença estrogênio-dependente é o câncer de mama.
Sintomas Comuns
Incluem dismenorreia (cólica intensa), dor pélvica crônica, dispareunia (dor na relação sexual), alterações intestinais (constipação, diarreia, dor ao evacuar, sensação de esvaziamento incompleto), alterações urinárias (dor ao urinar, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga) e infertilidade (20 a 50% das pacientes). É fundamental não normalizar cólicas menstruais fortes ou dores intensas, pois não é normal.
Diagnóstico
É frequentemente tardio, levando em média sete anos do início dos sintomas ao diagnóstico, com mulheres consultando cerca de 5 a 7 ginecologistas. Os métodos incluem:
Videolaparoscopia: Considerado o "padrão ouro", permite visualizar e remover pequenos focos.
Ressonância Magnética e Ultrassonografia Transvaginal: Menos invasivos, mas dependem de um profissional experiente e exigem preparo intestinal.
Clínica/sintomas comuns: TPM intensa (cólicas, irritabilidade, tristeza, alterações de humor), distensão abdominal, gases, dor abdominal, libido baixa.
Dieta como Fator de Risco
Alto consumo de gorduras saturadas (manteiga, carne gorda, produtos industrializados de origem animal) e gorduras trans (margarina, biscoitos amanteigados).
Baixo consumo de verduras e frutas (especialmente frutas cítricas que atuam na prevenção).
Alto consumo de carne vermelha em excesso, associado ao aumento de estrogênio.
Consumo excessivo de álcool, que aumenta o estrogênio e a inflamação.
Soja e Café: Estudos são conflitantes, mas o consumo excessivo pode não ser recomendado.
Baixo consumo de fibras e dietas ricas em produtos refinados, contribuindo para a disbiose intestinal.
Tratamento
É individualizado e envolve uma equipe multidisciplinar:
Fisioterapia Pélvica: Alivia dores nas relações sexuais, evacuação e micção.
Psicólogo: Psicoterapia.
Nutricionista: Dieta e alimentação adequada.
Médico: Tratamento hormonal, medicamentoso ou cirúrgico.
Como a Nutrição Ajuda?
A nutrição atua na prevenção, na causa (modulando o sistema imune e fatores hormonais), e nos sintomas (cólicas, dispareunia). É crucial uma abordagem holística, observando o corpo como um todo (cérebro, tireoide, estômago, fígado e, principalmente, intestino, onde a maioria das doenças começa).
Objetivos da Nutrição
Redução do estresse oxidativo (dieta antioxidante).
Redução da inflamação (dieta anti-inflamatória).
É interessante fazer exame genético (como HLAs para glúten), metabolômico, metagenômico (para avaliar microbiota)
O que Incluir na Dieta
Alimentos orgânicos: Priorizar os mais consumidos para reduzir agrotóxicos.
Carnes brancas e magras, especialmente peixes (ricos em gorduras de boa qualidade).
Castanhas e sementes: Semente de girassol é importante para modulação da progesterona.
Frutas variadas, especialmente frutas vermelhas (antioxidantes).
Temperos naturais: Açafrão/cúrcuma (propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes).
Fibras e alimentos integrais (chia, aveia, arroz integral): Melhoram o funcionamento intestinal, facilitando a eliminação de estrogênio. O intestino deve funcionar diariamente.
Chás: Pelo menos três xícaras ao dia, sem açúcar ou adoçante.
Gengibre (anti-inflamatório)
Chá Verde (antioxidante)
Camomila (calmante).
Azeite: Boa fonte de gordura.
Verduras e Brássicas/Crucíferas: Brócolis, repolho, rabanete, couve (contêm glucosinolatos e isotiocianatos, compostos anti-inflamatórios que reduzem sintomas e progressão da doença).
Suplementos de acordo com a necessidade de cada paciente, como (analisar consumo e exames):
Ômega 3 (ver índice ômega-3)
Vitamina D - Valores abaixo de 45 ng/mL são considerados baixos para mulheres com endometriose e requerem atenção.
Minerais (cálcio, selênio, zinco, magnésio)
Vitaminas A, C, E e Complexo B
O que Evitar na Dieta
Alimentos com alto teor de agrotóxicos.
Alimentos com corantes e aromatizantes artificiais.
Alimentos altamente processados e industrializados (temperos industrializados).
Açúcar e alimentos refinados em excesso: Aumentam o estrogênio, facilitando a proliferação do endométrio.
Gorduras saturadas e trans (carne gordurosa, margarina, maionese, ketchup).
Excesso de café: No máximo uma a duas xícaras pequenas ao dia. Melhor usar café descafeinado.
Consumo excessivo de álcool: É inflamatório.
Carne vermelha em excesso.
Endometriose não é mimi, não é frescura, não é psicológica. As dores são reais e intensas, e não devem ser subestimadas. Às vezes a cirurgia é sim necessária:
Dieta após Cirurgia (Histerectomia/Retirada de Focos)
Mesmo após a retirada do útero ou focos de endometriose, é altamente recomendado manter a dieta anti-inflamatória e antioxidante (com muitas frutas, verduras, brócolis, couve, ômega 3, vitamina D, e chás), para diminuir marcadores inflamatórios e a quantidade de estrogênio, prevenindo o aparecimento de novos focos.
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