O papel da lactoferrina na saúde intestinal

A lactoferrina (LF) é uma glicoproteína com capacidade de ligação ao ferro, presente em fluidos corporais como o leite materno, e desempenha funções cruciais na absorção de ferro, modulação do sistema imunitário, atividade antimicrobiana e manutenção da integridade da mucosa intestinal.

1. Absorção Intestinal de Ferro

Os íons Fe2+ heme (da carne) entram no enterócito pela proteína transportadora de heme 1 (HCP-1). Os íons Fe3+ não heme precisam ser reduzidos a íons Fe2+ pela Dcytb, antes de serem transportados para dentro das células pelo transportador DMT-1. Outras vias que podem contribuir para a absorção de ferro incluem a captação de ferro mediada pelo receptor LF/LF.

A LF facilita a absorção de ferro no intestino, essencial para o desenvolvimento neurológico e imunológico, especialmente em recém-nascidos. Ao formar complexos com o ferro, a lactoferrina promove sua absorção eficiente e previne a proliferação de bactérias patogênicas que dependem do ferro para crescer.

Uma vez dentro da célula, os íons Fe62+ podem ser armazenados na ferritina ligadora de ferro ou liberados na circulação pelo transportador de ferroportina (FPN). Então, os íons Fe2+ podem ser oxidados a íons Fe3+ pela hefestina ou ceruloplasmina sérica, e o ferro pode ser transportado para os tecidos pela transferrina. A hepcidina hepática, como um regulador mestre do ferro, inibe a atividade da FPN e a liberação de ferro na circulação.

2. Crescimento, Maturação e Reparação Intestinal

A LF estimula a proliferação e diferenciação das células intestinais, promovendo o crescimento das vilosidades e a maturação da mucosa. Estudos indicam que a lactoferrina ativa células estaminais intestinais (Lgr5⁺) através da via de sinalização Wnt/Lrp5, acelerando a regeneração epitelial após lesões intestinais.

Altas concentrações de LF, obtidas no primeiro período de lactação no colostro, aumentam a proliferação celular intestinal com aumento na incorporação de timidina, enquanto baixas concentrações de lactoferrina no leite maduro estimulam a diferenciação intestinal, aumentando as atividades da sacarase e da lactase, bem como seu mRNA.

3. Modulação do Sistema Imunitário

A LF regula tanto a imunidade inata quanto a adaptativa. Ela modula a produção de citocinas pró-inflamatórias (como TNF-α, IL-6, IL-8) e promove a diferenciação de células T reguladoras, contribuindo para a homeostase imunológica intestinal. Além disso, a lactoferrina influencia a função de células dendríticas e macrófagos, promovendo um fenótipo tolerogénico.

4. Atividade Antimicrobiana e Interação com a Microbiota

A LF possui propriedades antimicrobianas, inibindo o crescimento de bactérias patogênicas ao sequestrar o ferro necessário para sua proliferação. Simultaneamente, ela favorece o crescimento de bactérias benéficas como Lactobacillus e Bifidobacterium, contribuindo para o equilíbrio da microbiota intestinal.

5. Proteção da Barreira Intestinal

A LF fortalece a barreira intestinal ao preservar as junções apertadas entre as células epiteliais, reduzindo a permeabilidade intestinal. Em modelos de doenças inflamatórias intestinais, a lactoferrina demonstrou restaurar a morfologia das junções celulares e diminuir a translocação bacteriana, protegendo contra inflamações e lesões. Em geral o uso recomendado é de 12 semanas.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O cérebro na menopausa

A menopausa provoca mudanças significativas no cérebro devido ao declínio acentuado dos níveis de estrogênio, um hormônio essencial para funções cognitivas e proteção neural. Essa diminuição está associada a sintomas como lapsos de memória, dificuldade de concentração, alterações de humor e sono insatisfatório, além de aumentar o risco de doenças neurodegenerativas como Alzheimer.

O estrogênio atua como neuroprotetor, regulando o metabolismo energético cerebral e protegendo o hipocampo, área responsável pela memória. Sua ausência pode causar neuroinflamação, estresse oxidativo e déficits energéticos no cérebro. Esses efeitos podem ser agravados por fatores como estilo de vida e estímulos cognitivos insuficientes.

Abordagens multidisciplinares, incluindo terapia hormonal e estímulos cognitivos, podem ajudar a mitigar os impactos da menopausa no cérebro, promovendo qualidade de vida e saúde cognitiva a longo prazo.

Os sintomas cognitivos mais comuns durante a menopausa incluem:

- Névoa mental: dificuldade de concentração, lapsos de memória e sensação de confusão.

- Perda de memória de curto prazo: dificuldade em lembrar palavras ou tarefas simples.

- Dificuldade na função executiva: problemas com planejamento, organização e multitarefas.

- Redução da velocidade de processamento: menor agilidade para raciocinar ou responder.

Esses sintomas estão relacionados à queda nos níveis de estrogênio, que afeta neurotransmissores e funções cerebrais. Embora incômodos, geralmente são temporários e podem ser amenizados com tratamentos como terapia hormonal e mudanças no estilo de vida.

Suplementos para o cérebro na menopausa

- Ômega 3 (DHA e EPA): Essencial para a saúde cerebral, melhora a memória e previne doenças neurodegenerativas.

  • Creatina: Auxilia na função cognitiva e no processamento cerebral, especialmente em mulheres na menopausa.

  • Fosfatidilserina: Mantém as conexões neurais saudáveis e reduz o estresse.

  • Vitaminas do complexo B: Melhoram a memória e reduzem danos cerebrais associados à homocisteína elevada.

  • Vitamina D: Contribui para a saúde cognitiva e previne declínio mental.

  • Coenzima Q10: Ajuda na produção de energia celular e combate fadiga mental.

  • Bacopa monnieri: Melhora da memória de curto e longo prazo, facilita a aquisição e retenção de novas informações, incluindo memória verbal e visual, promove a regeneração dos circuitos neuronais, aumentando a capacidade de adaptação do cérebro, protege os neurônios contra danos oxidativos e inflamações, melhora o foco e diminui sintomas como ansiedade, favorecendo o desempenho cognitivo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Lealdade sistêmica e Transtorno Dismórfico Corporal

Em muitas famílias, histórias aparentemente pequenas carregam o peso de gerações inteiras. Uma frase dita por um avô — ainda que marcada por doença ou distorção — pode ressoar na alma de uma pessoa, mesmo décadas depois, sem que ela compreenda por quê. Esse é o campo das lealdades sistêmicas invisíveis, que operam como vínculos profundos, quase inconscientes, entre membros de uma família, atravessando gerações e perpetuando padrões de dor, vergonha ou inadequação.

O caso da mulher que cresceu ouvindo do próprio pai que era “feia” e que, por isso, precisava estar sempre arrumada, é um exemplo claro dessa dinâmica. Embora hoje idosa e ciente da condição psiquiátrica do pai, que era esquizofrênico, ela permanece refém de uma imagem negativa de si mesma, sentindo-se envergonhada de mostrar sinais naturais da idade. A vergonha de usar bengala ou parecer "velha" na rua não é apenas vaidade, mas uma dor ancestral internalizada — uma distorção da própria percepção corporal enraizada na lealdade inconsciente a uma narrativa familiar dolorosa.

Influência Transgeracional e Transtorno Dismórfico Corporal

O transtorno dismórfico corporal é caracterizado por uma preocupação obsessiva com falhas imaginárias ou mínimas na aparência física. Em contextos familiares onde houve críticas, rejeição ou idealização excessiva da imagem, essas inseguranças podem ser amplificadas e internalizadas ao longo do tempo. Quando olhamos para essa condição vemos que ela pode ter raízes não apenas na história pessoal da pessoa, mas também na história dos seus antepassados — histórias de exclusão, humilhação, misoginia ou perfeccionismo.

A necessidade de pertencimento, a ordem (respeito à hierarquia e tempo de chegada) e o equilíbrio entre dar e receber são importantes em nossa formação. Quando alguém é excluído ou desrespeitado (por exemplo, chamada de feia repetidamente), há uma quebra nessas ordens. Muitas vezes, os descendentes carregam, inconscientemente, esse peso para "compensar" o que foi injusto, tentando reparar ou manter a conexão com aquele membro.

Essa é a lealdade sistêmica: o vínculo invisível que faz com que a neta permaneça ligada à dor da mãe, ou que até carregue a vergonha de uma exclusão vivida por sua mãe ou avó. Ela talvez também se arrume compulsivamente não por vaidade, mas por honrar uma exclusão ancestral, repetindo padrões que sente serem "naturais", mas que na verdade são herdados.

Caminhos para a Cura Sistêmica

É possível identificar e transformar essas dinâmicas. Ao colocar em cena representantes para os membros da família e para os sentimentos envolvidos (vergonha, exclusão, perfeição, aparência), revela-se o que está oculto: a dor que não foi reconhecida, o membro que foi injustamente julgado, o amor mal compreendido.

O trabalho psicoterapêutico permite que essa mulher, ou qualquer pessoa presa em um ciclo semelhante, possa dizer internamente: “Eu vejo a sua dor. Mas agora, eu escolho um novo caminho.” Reconhecendo que há algo que pertence ao passado e que não precisa mais ser carregado, a pessoa pode libertar-se das imagens distorcidas de si mesma e construir uma nova relação com o próprio corpo — baseada em amor, verdade e reconexão com a vida.

Tratamento do Transtorno de Imagem

O tratamento do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) envolve uma abordagem multidisciplinar, pois esse transtorno afeta tanto a percepção corporal quanto o funcionamento emocional e social da pessoa. Abaixo, explico as abordagens mais eficazes atualmente utilizadas:

1. Psicoterapia

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é o tratamento mais reconhecido para o TDC.

  • Reestruturação cognitiva: ajuda o paciente a identificar e questionar pensamentos distorcidos sobre sua aparência.

  • Exposição com prevenção de resposta: a pessoa é exposta gradualmente a situações temidas (ex: sair de casa sem maquiagem) sem realizar os rituais compensatórios (ex: se esconder, se arrumar excessivamente).

  • Treinamento de habilidades sociais: melhora da autoestima e enfrentamento da ansiedade social relacionada à imagem.

Outras abordagens psicoterapêuticas úteis:

  • Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

  • Terapias psicodinâmicas, especialmente em casos com traumas de infância.

  • Constelação Familiar Sistêmica, como abordagem complementar, ajuda a identificar dinâmicas inconscientes e lealdades familiares relacionadas à imagem corporal e autoestima.

2. Medicamentos (Farmacoterapia)

Medicamentos são especialmente indicados em casos moderados a graves, ou quando há comorbidades como depressão, ansiedade ou TOC.

  • ISRSs (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina) são os mais usados:

    • Fluoxetina, sertralina, escitalopram, fluvoxamina, etc.

  • Doses geralmente mais altas do que as utilizadas para depressão.

  • Efeitos podem levar 8–12 semanas para serem notados.

3. Intervenções Psicoeducativas

  • Informar o paciente (e a família, quando possível) sobre o transtorno é essencial.

  • Ajuda a desmistificar os sintomas e a reduzir o estigma e a vergonha.

  • Estimula adesão ao tratamento e previne recaídas.

4. Evitar Cirurgias Estéticas

  • Pessoas com TDC frequentemente buscam procedimentos estéticos, acreditando que resolverão seus problemas — mas isso tende a agravar o quadro.

  • Importante conscientizar sobre o ciclo de insatisfação que se mantém mesmo após intervenções estéticas.

5. Apoio Familiar e Terapia de Grupo

  • Participação da família pode ser fundamental, especialmente para adolescentes ou adultos jovens.

  • Terapias em grupo permitem que o paciente veja que não está sozinho — isso pode aliviar a vergonha e favorecer o enfrentamento do problema.

6. Cuidados Complementares

Embora não sejam tratamentos principais, abordagens como:

  • Mindfulness

  • Yoga e práticas corporais conscientes

  • Terapias artísticas (dança, arte, teatro)
    podem ajudar na reconexão com o corpo de forma saudável.

Duração e Prognóstico

O tratamento pode ser longo (meses ou anos), especialmente se o TDC for grave ou antigo. Mas, com adesão adequada e equipe especializada, há bons índices de melhora, embora recaídas sejam possíveis.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/