Modulação intestinal para redução do peso e melhoria do humor

Melhorando o intestino, melhoramos o cérebro. E existem muitas formas de fazer isto como o uso de polifenóis e de probióticos. Em um estudo uma mistura de probióticos sobre dois desfechos principais: adiposidade abdominal (acúmulo de gordura na região abdominal) e estado antioxidante (a capacidade do organismo de neutralizar o estresse oxidativo).

Mulheres com excesso de peso ou obesidade receberam Simfort, uma mistura probiótica (Lactobacillus acidophilus e casei; Lactococcus lactis; Bifidobacterium bifidum e lactis; ( n = 21) ou placebo (n = 22) durante 8 semanas. Ambos os grupos receberam também uma prescrição dietética.

A composição corporal foi avaliada por antropometria e absorciometria de raios X de dupla energia. Foram analisados ​​o perfil lipídico, o produto de acumulação lipídica, os ácidos gordos plasmáticos, o lipopolissacárido, a interleucina-6, a interleucina-10, o fator de necrose tumoral-α, a adiponectina e as atividades das enzimas antioxidantes.

Em comparação com o grupo de intervenção dietética, o grupo de intervenção dietética + mistura de probióticos apresentou uma maior redução da circunferência da cintura (-3,40% vs. -5,48%, P = 0,03), relação cintura -altura (-3,27% vs. -5,00%, P = 0,02), índice de conicidade (-2,43% vs. -4,09% P = 0,03) e ácidos gordos polinsaturados plasmáticos (5,65% vs. -18,63%, P = 0,04) e um aumento da atividade da glutationa peroxidase (-16,67% vs. 15,62%, P < 0,01).

A suplementação de uma mistura probiótica reduziu a adiposidade abdominal e aumentou a atividade das enzimas antioxidantes de forma mais eficaz do que uma intervenção dietética isolada (Gomes et al., 2017).

Como a suplementação de probióticos melhora a saúde metabólica?

O microbioma intestinal influencia a homeostase energética e a inflamação. Algumas bactérias intestinais ajudam a reduzir a permeabilidade intestinal, diminuindo inflamações crônicas e aumentando a sensibilidade à insulina.

Ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) produzidos pelas bactérias a partir da fermentação de fibras têm papel crucial no controle de peso, inibindo o acúmulo de gordura. Em indivíduos com obesidade, os níveis de AGCC costumam estar reduzidos devido a alterações no microbioma.

Bactérias boas também beneficiam-se de compostos bioativos. Metabólitos derivados do triptofano e bactérias específicas regulam a inflamação e o metabolismo em tecidos adiposos.

Na obesidade, há uma produção excessiva de citocinas inflamatórias pelos adipócitos. Estas citocinas atravessam a barreira hemato encefálica e chegam até o cérebro provocando ativação da micróglia ( o sistema imune do cérebro).

A ativação da micróglia provoca redução da produção de serotonina e aumento dos níveis de glutamato no cérebro, aumentando as chances de alterações de humor, sono, fadiga, percepção de dor, além de alterações cognitivas.

Estudos mostram que a suplementação de resveratrol e de curcumina melhoram a composição da microbiota e conferem neuroproteção. A curcumina também altera a razão de bactérias benéficas/patogênicas, com aumento da abundância de bifidobacterias e lactobacilos e reduzindo enterobactérias, enterococos e outras bactérias com perfil mais inflamatório (Di Meo et al., 2019).

O cérebro inflamado (neuroinflammaging) é caracterizado por uma regulação negativa do sistema vitagênico, de regeneração e reparo celular (Hsp 70, γ-GCS, HO-1, Trx e Sirt1) e da atividade do Nfr2 com a consequente regulação positiva da ativação do NF-κB. O aumento da ativação do NF-κB, também através dos recetores semelhantes a ferramentas 4 (TLR4), induz, por sua vez, o aumento de fatores pró-inflamatórios, como o TNFα, IL1b, IL6, COX2 e iNOS. O desequilíbrio entre as moléculas anti-(IL10) e pró-inflamatórias leva a um aumento da inflamação, estabelecendo-se um círculo vicioso que favorece a neuroinflamação.

Efeitos neuroprotetores da curcumina (Scuto et al., 2019).

A curcumina é neuroprotetora pois induz a sobre-regulação do sistema vitagênico e do Nrf2, inibindo a ativação do NF-κB e, em seguida, quebrando o círculo vicioso da doença neurodegenerativa. Assim, polifenois como a curcumina possui efeito no intestino e direto cerebral.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

CURCUMINA E O CÉREBRO

Os curcuminoides também tem um impacto no cérebro. A curcumina é o principal curcuminoide (60-70%) do rhizoma de Curcuma longa. É um polifenol com diversas propriedades bioativas.

A curcumina ao ser metabolizada no corpo produz vários metabólitos, mostrados na figura abaixo. Por conta da transformação da curcumina nestes metabólitos, a biodisponibilidade cai. Quando unimos curcumina com piperina a glucoronidação hepática e intestinal é reduzida, menos metabólitos são produzidos e a biodisponibilidade da curcumina aumenta.

A curcumina é um dos curcuminoides do açafrão que protegem o LDL-c contra a oxidação, reduzindo o risco de aterosclerose. Em um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo feito com 227 participantes diagnosticados com diabetes tipo 2, foi demonstrado que a suplementação crônica do extrato de cúrcuma por 1 ano, reduziu de forma significativa a velocidade da onda de pulso, o padrão-ouro para avaliar aumento da rigidez arterial (Yaikwawong et al., 2024).

Também foi demonstrado que a suplementação com extrato de cúrcuma reduziu biomarcadores de risco cardiometabólico, incluindo níveis de hemoglobina glicada, LDL e LDL pequena, densa e de baixa. Proteína C-reativa de alta sensibilidade, interleucina-1 beta, interleucina-6, fator de necrose tumoral alfa, glicemia em jejum e HOMA-IR também foram significativamente menores no grupo da curcumina. As doses utilizadas no estudo foram de 6 cápsulas por dia, em que cada cápsula continha 250 mg de curcuminoides, ou seja, 1500 mg de curcuminoides ao dia.

Sua capacidade antioxidante e anti-inflamatória é crucial para o tratamento de diversas doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, câncer, doenças autoimunes e neurodegenerativas. Estudos pré-clínicos têm mostrado que a curcumina pode desempenhar um papel importante na proteção do sistema nervoso, ajudando a tratar doenças como Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla e até mesmo traumatismos cerebrais. No entanto, a absorção limitada e a baixa solubilidade em água dificultam sua eficácia terapêutica. Diversas estratégias, como o uso de adjuvantes, nanomateriais e complexos de fosfolipídios com curcumina, estão sendo estudadas para superar essas limitações.

A Nanoentrega como Estratégia Promissora

Existem abordagens para melhorar a biodisponibilidade e a eficácia da curcumina como o desenvolvimento de sistemas de nanoentrega. Exossomos, vesículas de tamanho nano produzidas pelas células, têm sido investigados como sistemas eficazes de entrega de curcumina, especialmente para doenças do sistema nervoso central (SNC), devido à sua biocompatibilidade e capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (BBB).

Nanocápsulas possuem um núcleo onde o fármaco é confinado por uma membrana polimérica, enquanto as nanossferas têm o fármaco distribuído uniformemente na matriz. Além disso, a encapsulação de curcumina em nano-carregadores como lipossomos e nanopartículas tem mostrado eficácia superior à da curcumina livre, aumentando sua estabilidade e tempo de meia-vida, além de protegê-la da degradação enzimática e por pH.

Uma das técnicas promissoras é a dispersão sólida amorfa (ASD), que aumenta a dissolução de compostos insolúveis em água, melhorando a bioatividade da curcumina. Estudos mostraram que formas de curcumina em ASD aumentaram a citotoxicidade e a permeabilidade das células de glioblastoma U87, além de serem 19 vezes mais eficientes em termos de biodisponibilidade em comparação com a curcumina pura.

Eficiência da Nanoencapsulação da Curcumina na Superação da Barreira Hematoencefálica (BBB)

A barreira hematoencefálica (BBB) é um desafio significativo para a entrega de medicamentos ao sistema nervoso central (SNC), uma vez que impede a passagem de muitas substâncias. No entanto, a utilização de nanoportadores tem se mostrado uma estratégia eficaz para contornar essa limitação. As nanopartículas com tamanho inferior a 200 nm e carga positiva atravessam a BBB mais facilmente. Além disso, a modificação das superfícies das nanopartículas com ligantes específicos, como proteínas que se ligam a receptores de transferrina ou albumina, aumenta a eficácia da entrega de medicamentos.

Estudos indicam que as nanopartículas podem atravessar a BBB por diferentes mecanismos, como transcitoses mediadas por receptores ou adsorção, facilitando a entrega de fármacos no cérebro. A modificação de nanopartículas com peptídeos penetrantes celulares (CPPs) tem mostrado resultados promissores para melhorar a eficiência da superação da BBB.

Estudos mostram que a curcumina encapsulada em nanopartículas pode reduzir danos neuronais e combater o estresse oxidativo, um fator crítico no avanço dessas doenças. Por exemplo, um estudo com curcumina encapsulada em lactoferrina modificada, utilizando nanopartículas de 100 nm, demonstrou eficácia na redução do estresse oxidativo e da formação de placas de β-amiloide, associadas à doença de Alzheimer. Outro estudo com nanopartículas de PLGA-PEG modificadas com o peptídeo B6 mostrou redução significativa na formação de depósitos de β-amiloide no hipocampo.

Além disso, nanopartículas lipossômicas de curcumina, como o Lipocurc, têm mostrado um efeito epigenético promissor no tratamento de Parkinson, inibindo a metilação do DNA e melhorando o desempenho motor em modelos animais de PD. Essas evidências sugerem que a curcumina nanoencapsulada pode ser uma ferramenta eficaz na modulação de doenças neurodegenerativas, oferecendo novas possibilidades terapêuticas para condições do SNC.

Eficácia da Curcumina Nanoencapsulada no Tratamento de Glioblastoma

Diversos estudos indicam o uso da curcumina como adjuvante no tratamento de Glioblastoma Multiforme (GBM). Modelos experimentais com diferentes tipos de células de GBM (HSR-GBM11, JHH-GBM14, hU251MG, U87MG, GL261, F98, C6, N2a) tratadas com curcumina nanoencapsulada apresentaram resultados positivos, como maior eficácia na entrada das células por endocitose, aumento da apoptose, indução de autophagy, bloqueio do ciclo celular na fase G2/M, e redução da proliferação celular e formação de neurossferas tumorais. Esses efeitos foram significativamente mais eficazes do que a curcumina livre.

Uma abordagem interessante envolveu nanopartículas biodegradáveis conjugadas com anticorpos para melhorar a eficiência fotodinâmica da curcumina em células de glioblastoma. Essa técnica demonstrou resultados eficazes, promovendo a liberação da curcumina, a internalização celular, e a indução de citotoxicidade e fototoxicidade.

Outro estudo mostrou que 80 mg de curcumina encapsulada em nano micelas foi capaz de suprimir o crescimento celular da linhagem U373, modulando as vias de sinalização Wnt e NF-κB, levando à parada do ciclo celular na fase G2/M e induzindo morte celular.

Além disso, a curcumina dendrossomal (DNC) inibiu a proliferação celular em U87MG de forma dependente do tempo e da dose. Quando administrada juntamente com a sobre-expressão de p53, houve um aumento na apoptose celular.

Em um estudo clínico com 13 pacientes com glioblastoma, a administração oral de curcuminoides nanoencapsulados (70 mg de curcumina) mostrou que a curcumina foi absorvida pelas células tumorais e pode influenciar o metabolismo energético intratumoral.

O uso de curcumina nanoencapsulada, como as nanopartículas C-LNCs de 196 nm, resultou em uma diminuição maior do tamanho do tumor cerebral e aumento da sobrevida em modelos murinos. Outras formas de curcumina, como curcumina linkada a anticorpos ou curcumina fitossomal, mostraram uma taxa de remissão completa em 60% dos modelos de glioblastoma.

Finalmente, a curcumina encapsulada em matrizes de polissacarídeos, como o ácido hialurônico e a quitosana, demonstrou boa penetração pela barreira hematoencefálica (BHE) e eficácia no tratamento de células de glioma C6.

Exossomos como Sistema Inovador de Liberação para Curcumina

Exossomos (EXOs), pequenas vesículas naturais de tamanho entre 30 e 150 nm, têm atraído atenção devido ao seu grande potencial de direcionamento celular, biocompatibilidade, capacidade de penetrar barreiras biológicas e promover a comunicação intercelular. Eles podem ser isolados de líquidos corporais como sangue e fluido cerebroespinhal e têm aplicações terapêuticas, incluindo na entrega de compostos bioativos como a curcumina.

Os exossomos podem ser carregados com curcumina de maneira ativa ou passiva. A carga ativa, que pode ser realizada por sonicação, extrusão, eletroporação ou ciclos de congelação-descongelamento, aumenta a eficiência de carga dos exossomos. No entanto, esse processo pode comprometer algumas das características naturais dos exossomos, como suas propriedades de direcionamento.

Exossomos encapsulados com curcumina demonstraram melhorar a solubilidade, estabilidade e biodisponibilidade do composto. Isso é particularmente relevante, uma vez que a curcumina é uma molécula hidrofóbica e sua incorporação em exossomos facilita a absorção celular.

Estudos recentes mostraram que exossomos encapsulados com curcumina têm efeitos terapêuticos tanto in vitro quanto in vivo, incluindo propriedades anticancerígenas, anti-inflamatórias e de proteção cerebral. Em modelos de inflamação cerebral induzida por LPS e em encefalomielite autoimune, a administração nasal de exossomos com curcumina reduziu a ativação de células microgliais inflamatórias. Além disso, exossomos de curcumina ajudaram na recuperação de lesões cerebrais induzidas por derrame em camundongos diabéticos tipo 1, promovendo a sobrevivência neuronal e restaurando a função cognitiva.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Regulação epigenética do glioma de alto grau

Os gliomas de alto grau (particularmente o glioblastoma, o tipo mais agressivo e comum de glioma) apresentam um prognóstico desfavorável, com altas taxas de recorrência e resistência ao tratamento. Embora a abordagem terapêutica convencional, incluindo cirurgia, radioterapia e quimioterapia, tenha melhorado, a taxa de sobrevida a longo prazo continua sendo limitada.

Sua interação complexa com o sistema imunológico, conhecida como simbiose tumor-imune, desempenha um papel crítico na progressão tumoral e resistência à terapia. A regulação epigenética, incluindo metilação do DNA, modificações de histonas e atividade de RNA não codificantes, influencia profundamente essa interação tumor-imune, moldando o microambiente tumoral (TME), modulando a evasão imune e regulando vias inflamatórias pró-tumorais.

Nos últimos anos, o estudo da epigenética, ou seja, as modificações herdáveis na expressão gênica sem alteração da sequência de DNA, tem se mostrado uma área promissora para entender a biologia do glioma e identificar biomarcadores prognósticos. Uma assinatura epigenética neural prognóstica envolve a identificação de modificações epigenéticas específicas associadas a características malignas do tumor e a previsão do comportamento da doença, como a resposta ao tratamento e a sobrevida do paciente.

Simbiose Tumor-Imune no Glioma

As células de glioma e as células imunes interagem em uma relação dinâmica, na qual os gliomas exploram o sistema imunológico para apoiar seu crescimento e sobrevivência. As principais características dessa simbiose incluem:

  • Supressão Imune: Os gliomas suprimem a imunidade anti-tumoral induzindo células T reguladoras (Tregs), expressando moléculas de pontos de controle imunológico (como PD-L1) e recrutando células supressoras derivadas de mieloide (MDSCs).

  • Microambiente Inflamatório: A inflamação crônica mediada por macrófagos associados ao tumor (TAMs) e microglia promove invasão, angiogênese e resistência ao tratamento nos gliomas.

  • Interação Metabólica: Os gliomas moldam o ambiente metabólico para inibir respostas imunes citotóxicas (por exemplo, via produção de lactato e depleção de arginina).

As modificações epigenéticas regulam muitos desses processos, alterando a expressão de genes envolvidos nas respostas imunes e inflamação.

Mecanismos Epigenéticos na Regulação Tumor-Sistema imune

a. Metilação do DNA

  • Gene MGMT: A metilação do gene MGMT (O-6-methylguanine-DNA methyltransferase) é um dos biomarcadores epigenéticos mais bem estudados em glioma. Pacientes com metilação do promotor de MGMT têm maior resposta à temozolomida, uma quimioterapia comum para glioblastomas.

  • Os gliomas frequentemente exibem hipermetilação nas regiões promotoras de genes críticos para a apresentação de antígenos e ativação imune, como os genes HLA classe I.

  • Silenciamento de Antígenos Tumorais: A metilação aberrante pode suprimir antígenos tumorais associados (TAAs), reduzindo o reconhecimento pelas células T citotóxicas (CTLs).

  • Metilação de Genes de Pontos de Controle Imunológicos: A regulação epigenética pode modular a expressão de PD-L1, promovendo a evasão imune ao inibir a ativação das células T.

b. Modificações de Histonas

  • A acetilação e metilação das histonas regulam a acessibilidade da cromatina para genes envolvidos nas respostas imunes.

  • Os gliomas superexpressam desacetilases de histonas (HDACs), o que suprime genes associados à inflamação e ativação imunológica. Inibidores de HDAC (HDACis) demonstraram aumentar a expressão de citocinas pró-inflamatórias, revertendo a supressão imune.

c. RNAs Não Codificantes (ncRNAs)

  • MicroRNAs (miRNAs): Os miRNAs desregulados no glioma, como miR-155 e miR-21, modulam vias de sinalização imunológica. Por exemplo:

    • miR-21 promove a polarização M2 dos TAMs, levando a um microambiente imunossupressor.

    • miR-155 está envolvido na ativação de células T, mas também pode contribuir para inflamação crônica.

  • Longos RNAs Não Codificantes (lncRNAs): LncRNAs como MALAT1 e HOTAIR têm sido implicados na evasão imune ao modular a produção de citocinas e a infiltração de células T.

Fatores Epigenéticos na Evasão Imune no Glioma

a. Regulação de Pontos de Controle Imunológicos

  • Upregulação de PD-L1: Mecanismos epigenéticos, como modificações de histonas e metilação do DNA, regulam a expressão de PD-L1, permitindo que os gliomas escapem da vigilância imunológica.

  • Via CTLA-4: MiRNAs desregulados, como miR-34a, influenciam a supressão mediada por CTLA-4.

b. Polarização de TAMs

  • Fatores epigenéticos induzem a polarização dos TAMs para um fenótipo tipo M2, que é pró-tumorigênico e imunossupressor.

  • HDACs e ncRNAs demonstraram regular os perfis de citocinas que promovem essa polarização.

c. Sinalização de Citocinas e Quimiocinas

  • A regulação epigenética de citocinas (como IL-10 e TGF-β) e quimiocinas (como CCL2) influencia o recrutamento e a função das células imunes, fomentando um microambiente supressor.

Estratégias Terapêuticas Baseadas em Epigenética

As terapias epigenéticas visam reprogramar a simbiose tumor-imune no glioma para restaurar a imunidade anti-tumoral e melhorar a eficácia dos tratamentos existentes.

a. Inibidores de Metiltransferase do DNA (DNMTis)

  • Inibidores de DNMT, como decitabina, podem desmetilar promotores de genes imunes, restaurando a expressão de antígenos tumorais e melhorando o reconhecimento imune.

b. Inibidores de Desacetilase de Histonas (HDACis)

  • Inibidores de HDAC, como vorinostat, demonstraram:

    • Aumentar a expressão de citocinas pró-inflamatórias.

    • Reprogramar os TAMs para um fenótipo M1 (anti-tumorigênico).

    • Melhorar a infiltração e atividade das células T.

c. Terapias Baseadas em miRNA

  • A modulação dos miRNAs desregulados usando miméticos ou inibidores pode restaurar o equilíbrio imunológico. Por exemplo:

    • Miméticos de miR-155 aumentam as respostas imunes anti-tumorais.

    • Inibidores de miR-21 reduzem a polarização imunossupressora dos TAMs.

d. Terapias Combinadas

  • Combinar terapias epigenéticas com inibidores de pontos de controle imunológico (como anti-PD-1/PD-L1) pode potencializar as respostas imunes.

  • A modulação epigenética também pode sensibilizar os gliomas para terapias com células T CAR e outras imunoterapias.

A Importância da Assinatura Epigenética Prognóstica

Uma assinatura epigenética prognóstica em glioma de alto grau pode fornecer informações valiosas sobre:

  • Classificação do Tumor: Permite uma classificação mais refinada dos gliomas, além das características histológicas tradicionais, ajudando a distinguir subtipos moleculares com diferentes comportamentos clínicos.

  • Previsão da Sobrevida: Padrões epigenéticos podem ser usados para prever a sobrevida global e a sobrevida livre de progressão, auxiliando na decisão terapêutica.

  • Resposta ao Tratamento: Identificar padrões epigenéticos associados à resistência a terapias convencionais, como a quimioterapia (por exemplo, temozolomida), pode ajudar a personalizar o tratamento e melhorar os resultados do paciente.

A assinatura epigenética pode fornecer uma classificação molecular mais precisa dos gliomas de alto grau, superando a limitação das classificações histológicas. Isso pode ajudar a identificar subgrupos de pacientes com características biológicas distintas e prognósticos diferentes.

b. Previsão de Resposta ao Tratamento

  • Com base nas assinaturas epigenéticas, os pacientes podem ser classificados quanto à sua probabilidade de responder a tratamentos específicos, como quimioterapia, terapia direcionada e imunoterapia.

c. Terapias Personalizadas

  • A modulação epigenética, como o uso de inibidores de DNMT (inibidores de metiltransferase de DNA) e HDACs, pode ser uma abordagem para reverter modificações epigenéticas desfavoráveis e melhorar a resposta ao tratamento.

Desafios e Perspectivas Futuras

a. Validação em Ensaios Clínicos

  • Embora várias assinaturas epigenéticas tenham sido propostas, sua validação em ensaios clínicos é essencial para garantir sua utilidade na prática clínica.

b. Abordagens Terapêuticas Epigenéticas

  • O desenvolvimento de terapias baseadas em epigenética, como inibidores de DNMT ou HDAC, oferece uma oportunidade de tratar gliomas de alto grau de maneira mais eficaz, reprogramando o microambiente tumoral e restaurando a expressão gênica normal.

c. Integração com Outras Tecnologias

  • A combinação de assinaturas epigenéticas com outras tecnologias, como sequenciamento genético e análise de células únicas, permitirá uma compreensão mais profunda da biologia dos gliomas e ajudará no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes (Drexler et al., 2024).

Dieta cetogênica e assinatura epigenética do glioma

A relação entre a dieta cetogênica e a assinatura epigenética do glioma é um tema emergente na pesquisa científica, que envolve tanto os efeitos metabólicos da dieta quanto os mecanismos moleculares de regulação da expressão gênica, particularmente no contexto do câncer cerebral.

A dieta cetogênica é uma dieta de baixo carboidrato e alta gordura, que induz o corpo a entrar em um estado metabólico chamado cetose. Nesse estado, o corpo queima gordura como principal fonte de energia, em vez de carboidratos, produzindo corpos cetônicos como fontes de energia alternativas. Além de ser usada para o controle de epilepsia, especialmente em crianças, a dieta cetogênica tem mostrado potencial em outras condições, incluindo alguns tipos de câncer. No caso do glioma a dieta cetogênica tem atraído interesse por várias razões:

  • Metabolismo do Glioma: Gliomas, como muitos tipos de câncer, apresentam alterações no metabolismo celular. Eles frequentemente têm uma alta demanda de glicose, pois a glicose é crucial para seu rápido crescimento e proliferação. A dieta cetogênica, ao reduzir a disponibilidade de glicose e aumentar a produção de corpos cetônicos, poderia potencialmente reduzir a capacidade de crescimento do tumor.

  • Efeitos Anti-inflamatórios e Antioxidantes: A dieta cetogênica pode reduzir a inflamação e o estresse oxidativo, que são frequentemente associados ao crescimento tumoral e à progressão do glioma.

Embora a pesquisa sobre o efeito direto da dieta cetogênica na assinatura epigenética dos gliomas ainda esteja em estágios iniciais, há várias vias pelas quais a dieta cetogênica pode influenciar processos epigenéticos no câncer:

  • Alteração na Disponibilidade de Metabólitos: A mudança na disponibilidade de glicose e corpos cetônicos pode impactar os níveis de metabolitos celulares que, por sua vez, afetam enzimas responsáveis por modificações epigenéticas. Por exemplo, os corpos cetônicos podem atuar como reguladores da atividade de enzimas responsáveis pela acetilação de histonas.

  • Redução da Inflamação: A dieta cetogênica pode reduzir a inflamação sistêmica e a inflamação no microambiente tumoral, o que pode influenciar a expressão de genes que controlam a proliferação celular e a diferenciação.

  • Alterações na Metilação do DNA: Algumas pesquisas indicam que a dieta cetogênica pode afetar os padrões de metilação do DNA, modulando a expressão de genes relacionados à resposta ao estresse e à sobrevivência celular.

A relação entre dieta cetogênica e assinatura epigenética no glioma é um campo promissor de pesquisa, mas ainda há muito a ser descoberto. A dieta pode influenciar os mecanismos epigenéticos que regulam o comportamento das células tumorais, podendo potencialmente ser usada como uma estratégia complementar no tratamento de gliomas. No entanto, mais estudos clínicos e experimentais são necessários para confirmar esses efeitos e entender melhor como a dieta cetogênica pode ser integrada ao tratamento do glioma, considerando os mecanismos moleculares envolvidos.

Eficácia da Curcumina Nanoencapsulada no Tratamento de Glioblastoma

Diversos estudos indicam o uso da curcumina como adjuvante no tratamento de Glioblastoma Multiforme (GBM). Modelos experimentais com diferentes tipos de células de GBM (HSR-GBM11, JHH-GBM14, hU251MG, U87MG, GL261, F98, C6, N2a) tratadas com curcumina nanoencapsulada apresentaram resultados positivos, como maior eficácia na entrada das células por endocitose, aumento da apoptose, indução de autophagy, bloqueio do ciclo celular na fase G2/M, e redução da proliferação celular e formação de neurossferas tumorais. Esses efeitos foram significativamente mais eficazes do que a curcumina livre.

Uma abordagem interessante envolveu nanopartículas biodegradáveis conjugadas com anticorpos para melhorar a eficiência fotodinâmica da curcumina em células de glioblastoma. Essa técnica demonstrou resultados eficazes, promovendo a liberação da curcumina, a internalização celular, e a indução de citotoxicidade e fototoxicidade.

Outro estudo mostrou que 80 mg de curcumina encapsulada em nano micelas foi capaz de suprimir o crescimento celular da linhagem U373, modulando as vias de sinalização Wnt e NF-κB, levando à parada do ciclo celular na fase G2/M e induzindo morte celular.

Além disso, a curcumina dendrossomal (DNC) inibiu a proliferação celular em U87MG de forma dependente do tempo e da dose. Quando administrada juntamente com a sobre-expressão de p53, houve um aumento na apoptose celular.

Em um estudo clínico com 13 pacientes com glioblastoma, a administração oral de curcuminoides nanoencapsulados (70 mg de curcumina) mostrou que a curcumina foi absorvida pelas células tumorais e pode influenciar o metabolismo energético intratumoral.

O uso de curcumina nanoencapsulada, como as nanopartículas C-LNCs de 196 nm, resultou em uma diminuição maior do tamanho do tumor cerebral e aumento da sobrevida em modelos murinos. Outras formas de curcumina, como curcumina linkada a anticorpos ou curcumina fitossomal, mostraram uma taxa de remissão completa em 60% dos modelos de glioblastoma.

Finalmente, a curcumina encapsulada em matrizes de polissacarídeos, como o ácido hialurônico e a quitosana, demonstrou boa penetração pela barreira hematoencefálica (BHE) e eficácia no tratamento de células de glioma C6.

Evidências mostram que a curcumina, ao atuar sobre as modificações epigenéticas, pode aumentar a eficácia de outros tratamentos anticancerígenos, como a quimioterapia e a radioterapia.

  • Em modelos de glioma, a curcumina foi capaz de modificar a metilação do gene p16INK4a, um importante gene supressor de tumor.

  • A curcumina demonstrou eficácia na regulação de miRNAs como miR-34a, que está envolvido no controle da apoptose e da senescência celular.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/