Mitohormese

Mitohormese é um conceito relacionado ao processo biológico no qual o estresse celular leve ou moderado, especialmente o estresse mitocondrial, pode promover benefícios à saúde e à longevidade. Em vez de prejudicar a célula, o estresse controlado nas mitocôndrias (as "usinas de energia" da célula) pode ativar mecanismos de defesa que melhoram a função celular e aumentam a resistência ao envelhecimento e a doenças.

Como funciona a Mitohormese?

Bárcena, Mayoral, & Quirós, 2018

As mitocôndrias são responsáveis pela produção de energia na célula, mas também podem ser fontes de radicais livres (espécies reativas de oxigênio - ERROS) que causam danos ao longo do tempo. Quando as mitocôndrias enfrentam estresse leve (como o aumento temporário de radicais livres ou a redução da produção de energia), isso pode desencadear uma resposta adaptativa que melhora a eficiência das mitocôndrias e aumenta a resistência do organismo ao estresse futuro. Esse processo é conhecido como mitohormese.

Em essência, a mitohormese propõe que o estresse moderado, especialmente o que afeta as mitocôndrias, pode ser benéfico, assim como o conceito mais amplo de hormese, onde pequenas doses de um estressor podem resultar em efeitos positivos para a saúde.

Exemplos de Mitohormese:

  1. Exercício físico: A prática regular de exercício físico é um exemplo clássico de mitohormese. O exercício intenso causa estresse nas mitocôndrias das células musculares, aumentando a produção de radicais livres. Em resposta, as células ativam mecanismos de defesa, melhorando a função mitocondrial e aumentando a capacidade de resistência ao estresse e à fadiga. Com o tempo, isso leva a uma maior eficiência das mitocôndrias e uma melhor saúde geral.

  2. Restrição calórica: A restrição de calorias também pode desencadear mitohormese. A redução temporária da ingestão calórica provoca estresse nas mitocôndrias, levando à ativação de processos como a autofagia (processo de limpeza celular) e a melhoria da função mitocondrial, o que pode aumentar a longevidade e a resistência a doenças.

Efeitos Potenciais da Mitohormese:

  • Aumento da longevidade: A ativação dos mecanismos de defesa mitocondrial pode contribuir para o aumento da longevidade, já que melhora a saúde celular e reduz os danos ao DNA e às células ao longo do tempo.

  • Melhora da resistência ao estresse: O estresse leve e controlado pode ajudar o organismo a se tornar mais resistente a estressores maiores no futuro.

  • Prevenção de doenças: A ativação da resposta adaptativa das mitocôndrias pode ter efeitos protetores contra doenças associadas ao envelhecimento, como doenças neurodegenerativas (ex: Alzheimer) e doenças cardíacas.

Em resumo, a mitohormese sugere que, ao contrário de evitar completamente o estresse, uma dose controlada de estresse nas mitocôndrias pode ser benéfica, fortalecendo o organismo e promovendo uma saúde melhor e mais duradoura.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Senolíticos para driblar o envelhecimento

Os senolíticos são compostos que têm a capacidade de eliminar as células senescentes do corpo. As células senescentes são aquelas que pararam de se dividir, mas não morrem, e se acumulam nos tecidos ao longo do tempo, contribuindo para o envelhecimento e diversas doenças associadas à idade.

Essas células secretam substâncias inflamatórias que podem danificar as células vizinhas e promover um ambiente de inflamação crônica, que é um fator importante no desenvolvimento de doenças como artrite, diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

Os senolíticos atuam removendo essas células senescentes de maneira seletiva, o que pode melhorar a saúde geral, reduzir a inflamação e, possivelmente, aumentar a longevidade saudável. Alguns estudos preliminares mostraram que o uso de senolíticos pode ter efeitos positivos em modelos animais, e há um crescente interesse em sua aplicação para tratar o envelhecimento e suas doenças associadas em seres humanos.

Alguns dos senolíticos que foram estudados incluem:

  • Dasatinibe: Um medicamento usado no tratamento de certos tipos de câncer.

  • Quercetina: Um flavonoide encontrado em frutas e vegetais, conhecido por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

  • Fisetina: Outro flavonoide encontrado em diversas frutas, como morangos e maçãs.

  • Navitoclax: Um fármaco em pesquisa que também mostrou efeitos senolíticos.

Embora os estudos em humanos estejam em estágios iniciais, a pesquisa sobre senolíticos oferece uma abordagem promissora para combater os efeitos do envelhecimento e promover uma melhor qualidade de vida na terceira idade. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender completamente seus efeitos, doses e segurança a longo prazo.

Senolíticos naturais dos alimentos

Vimos que senolíticos naturais podem ser encontrados em alimentos, especialmente aqueles ricos em compostos como flavonoides e polifenóis. Esses compostos têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que ajudam a eliminar as células senescentes, promovendo a saúde e retardando o envelhecimento celular.

Aqui estão alguns alimentos e seus compostos que possuem propriedades senolíticas naturais:

1. Frutas ricas em flavonoides

  • Maçãs: Contêm quercetina, um flavonoide que tem mostrado potencial senolítico.

  • Morangos: São ricos em fisetina, outro flavonoide conhecido por suas propriedades senolíticas. A fisetina pode ajudar a eliminar células senescentes e reduzir a inflamação.

  • Uvas: Contêm resveratrol, um polifenol com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

  • Mirtilos: Também ricos em fisetina, além de antioxidantes que protegem as células contra danos oxidativos.

2. Vegetais e folhas verdes

  • Cebolas: Contêm quercetina, além de ser uma boa fonte de compostos anti-inflamatórios.

  • Brócolis e couve-flor: Contêm sulforafano, um composto que pode ajudar a eliminar células danificadas e reduzir processos inflamatórios.

  • Espinafre: Embora não seja tão potente quanto outros alimentos, tem compostos antioxidantes que podem contribuir para a saúde celular geral.

3. Chás e ervas

  • Chá verde: Contém epigalocatequina galato (EGCG), um potente antioxidante que pode ter efeitos senolíticos e reduzir a formação de células senescentes.

  • Ginseng: Possui compostos que ajudam a reduzir o envelhecimento celular e podem ter um efeito senolítico em algumas situações.

  • Curcumina (presente no açafrão-da-terra): A curcumina tem poderosas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, ajudando a combater o envelhecimento celular e promovendo a eliminação das células senescentes.

4. Especiarias

  • Pimenta caiena: Contém capsaicina, um composto que pode aumentar a produção de células saudáveis e reduzir a inflamação.

  • Canela: Tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que podem apoiar a saúde celular e reduzir o impacto das células senescentes.

5. Oleaginosas e sementes

  • Nozes: São ricas em antioxidantes, incluindo vitamina E, que podem reduzir o estresse oxidativo e ajudar a combater o envelhecimento celular.

  • Sementes de chia e linhaça: Contêm ácidos graxos ômega-3 que têm propriedades anti-inflamatórias e podem ajudar a proteger as células.

6. Outros alimentos

  • Tomates: Ricos em licopeno, um potente antioxidante que pode ajudar a combater o envelhecimento celular.

  • Alho: O alho contém compostos como a alicina, que possuem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, ajudando a eliminar células danificadas.

7. Frutos secos e óleo de oliva

  • O óleo de oliva extra-virgem é uma excelente fonte de antioxidantes, especialmente oleuropeína, que tem propriedades anti-inflamatórias e pode ajudar a reduzir os danos celulares.

  • Amêndoas e outras oleaginosas também são boas fontes de antioxidantes que podem ajudar na saúde celular.

Como esses alimentos atuam como senolíticos?

Esses alimentos contêm compostos bioativos que podem ativar vias celulares específicas responsáveis pela limpeza de células danificadas ou envelhecidas. Eles também ajudam a reduzir o estresse oxidativo e a inflamação crônica, dois fatores-chave no envelhecimento celular e no acúmulo de células senescentes. Não existem senolíticos em carnes, por isto, a alimentação precisa ser balanceada!

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Levodopa x Carbidopa

A produção de dopamina depende de precursores. Os aminoácidos penilalanina e tirosina, obtidos da dieta, são convertidos em L-dopa e depois em dopamina, com a participação de uma série de co-fatores. Pacientes com Parkinson possuem diminuição de dopamina, o que gera sintomas como tremores. Infelizmente, a dopamina não pode ser administrada diretamente pois não atravessa a barreira hematoecefálica. Assim, medicamentos como levodopa (L-Dopa) são utilizados.

A levodopa entra no sistema nervoso central (SNC) e ali pode ser convertida em dopamina pela enzima dopa descarboxilase, aliviando os sintomas motores do Parkinson. No entanto, grande parte da levodopa pode transformada em dopamina antes de atingir o cérebro. Isto pode gerar efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e queda da pressão arterial. Além disso, sem chegar ao cérebro o medicamento não alivia os sintomas do Parkinson.

Para evitar a conversão da levodopa em dopamina na periferia, administra-se a carbidopa ou benserazida (co-beneldopa), inibidores periféricos da enzima dopa descarboxilase. Sua função é impedir que a levodopa seja convertida em dopamina fora do cérebro. Isso permite que mais levodopa chegue ao SNC, aumentando sua eficácia e reduzindo os efeitos colaterais periféricos. Se estes medicamentos não forem administrados, apenas 1 a 3% da levodopa atinge o cérebro.

A carbidopa não atravessa a barreira hematoencefálica, então não interfere na conversão da levodopa em dopamina dentro do cérebro.

Em que horário a levodopa deve ser utilizada?

A levodopa deve ser utilizada preferencialmente pela manhã, em jejum. Ela é transportada para o cérebro por transportadores de aminoácidos grandes neutros (LAT-1), que também transportam aminoácidos presentes em proteínas da dieta, como a tirosina e a fenilalanina.

Assim, refeições, especialmente ricas em proteína, competem com a levodopa pelos mesmos transportadores no intestino e na barreira hematoencefálica. Isso pode reduzir a absorção e o transporte da levodopa para o cérebro, diminuindo sua eficácia.

Se o paciente for utilizar a medicação em outro horário é importante dar um intervalo de pelo menos 2 horas após o último consumo de alimentos fonte de proteína. É possível tomar levodopa com alimentos fonte de carboidratos (ex.: torradas ou biscoitos), se houver desconforto gástrico.

Farmacocinética da levodopa e metabolismo da levodopa (You et al., 2018).

Em resumo:

  • Levodopa é o medicamento principal que atua no cérebro.

  • Carbidopa potencializa o efeito da levodopa, reduzindo sua degradação periférica e os efeitos adversos.

  • No jejum, não há competição entre a levodopa e os aminoácidos das proteínas da dieta nos transportadores intestinais e no cérebro. Sem a interferência das proteínas, os níveis de levodopa no sangue são mais estáveis, garantindo um efeito terapêutico mais previsível.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/