Uma geladeira cheia de vida

Grãos de kefir, kimchi, kombuchá, picles, iogurte… Alimentos cheios de probióticos, bactérias boas que nos dão saúde! Mas estas bactérias precisam ser alimentadas com fibras probióticas ou morrerão e não nos darão o beneficio esperado.

A Importância da Diversidade Alimentar

Manter uma alimentação diversificada e rica em fibras prebióticas é essencial para cultivar um microbioma intestinal saudável. Incorporar pelo menos 30 tipos de alimentos de origem vegetal por semana — como nozes, sementes, leguminosas, grãos integrais, frutas e vegetais, além de alimentos ricos em amido, como batatas e arroz — pode fortalecer o sistema imunológico, combater doenças relacionadas à idade e promover o controle do peso.

Por Que a Diversidade Alimentar é Crucial?

A diversidade alimentar promove uma comunidade rica de microrganismos no intestino, os quais desempenham papéis vitais:

  • Ótimo aporte de nutrientes

  • Digestão eficiente dos alimentos

  • Regulação do sistema imunológico

  • Produção de substâncias químicas que afetam o humor e o metabolismo

A maior variedade de micróbios intestinais resulta em um sistema imunológico mais robusto e em um metabolismo equilibrado.

Cardápio fácil para uma microbiota saudável

Café da manhã com kefir ou iogurte natural integral, frutas vermelhas e nozes. Curry de grão de bico no almoço. Peixe com legumes, azeite e ervas aromáticas no jantar, chá verde nos intervalos.

Estudos mostram que uma dieta diversificada e rica em alimentos fermentados também pode melhorar a saúde mental. Um microbioma saudável reduz a inflamação crônica, associada à depressão, e ajuda na produção de serotonina, substância essencial para o bem-estar.

O kefir, por exemplo, contém uma variedade de bactérias e leveduras benéficas que podem alterar a composição da microbiota intestinal, reduzindo a inflamação de baixo grau e melhorando a permeabilidade intestinal. Essas alterações podem contribuir para a prevenção e manejo de diversas condições de saúde, incluindo obesidade, diabetes mellitus, doenças hepáticas, distúrbios cardiovasculares, imunológicos e neurológicos. Além disso, o kefir pode influenciar diretamente o eixo intestino-cérebro, oferecendo uma estratégia potencial para a prevenção de doenças metabólicas.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutracêuticos e Inflamação: Benefícios, Estudos e Mecanismos

Os nutracêuticos, alimentos ou componentes alimentares com propriedades medicinais, têm sido amplamente estudados por seus benefícios à saúde. Além de prevenir e tratar doenças, eles frequentemente apresentam propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. No entanto, desafios como a baixa absorção de compostos isolados (como curcumina e resveratrol) têm levado a avanços na indústria farmacêutica para melhorar sua biodisponibilidade.

Inflamação e Suas Implicações na Saúde

A inflamação é uma resposta imunológica essencial para combater infecções e reparar lesões. No entanto, quando crônica, está associada a doenças como artrite, alergias, aterosclerose e câncer. Este processo envolve a liberação de citocinas pró-inflamatórias como IL-1β, IL-6 e TNF-α. Reduzir a superprodução desses mediadores inflamatórios é crucial para combater doenças inflamatórias.

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Ação dos Fitoquímicos no Controle da Inflamação

Compostos bioativos são substâncias presentes nos alimentos que, quando consumidos regularmente, possuem efeitos benéficos na saúde. Podem ter origem animal, vegetal, de fungos ou de bactérias. Os que tem origem vegetal são chamados fitoquímicos.

Os fitoquímicos, compostos bioativos derivados de plantas, possuem propriedades anti-inflamatórias significativas. Estes compostos atuam modulando processos inflamatórios e aliviando condições alérgicas, sendo destaque em diversas pesquisas científicas.

Os nutracêuticos são produtos derivados de alimentos que fornece benefícios à saúde, incluindo a prevenção e o tratamento de doenças. Podem conter compostos bioativos, incluindo fitoquímicos, mas é processado ou formulado para uso como suplemento ou medicamento.

Mecanismos de Ação dos Fitoquímicos

  1. Inibição de Mediadores Inflamatórios

    • Redução da produção de óxido nítrico (NO) pela enzima iNOS, sem prejudicar a função da eNOS.

    • Supressão da ciclooxigenase-2 (COX-2), envolvida em inflamações.

  2. Regulação de Vias Moleculares

    • Modulação da via do NF-kB, reduzindo a expressão de genes pró-inflamatórios (TNF-α, IL-1β).

    • Inibição de enzimas-chave como proteína quinase C.

  3. Propriedades Antialérgicas

    • Inibição da liberação de histamina, contribuindo para o alívio de alergias.

Alimentos importantes

  • Frutas Vermelhas: Extratos de morango e amora diminuíram citocinas pró-inflamatórias em células imunológicas.

  • Casca de Laranja: Suprimiu a expressão de iNOS e NF-kB em células inflamatórias.

  • Gengibre: Zerumbona, composto fenólico, reduziu NO e prostaglandinas.

  • Romã: Taninos e extratos da casca mostraram efeitos superiores à indometacina em modelos animais.

  • Feijões Coloridos: Compostos fenólicos em feijões pretos e pintos mostraram inibição significativa de mediadores inflamatórios.

  • Soja: Saponinas demonstraram reduzir marcadores inflamatórios como NO e TNF-α.

Fitoquímicos Relevantes

  1. Polifenóis: um grupo de fitoquímicos muito importante

    • Açaí: Compostos antioxidantes e anti-inflamatórios.

    • Sementes de Uva: Proantocianidinas reduziram PGE2 e NO em estudos celulares.

  2. Triterpenóides

    • Casca de Maçã: Compostos sugerem eficácia em doenças inflamatórias intestinais.

    • Casca de Pera: Atividade anti-inflamatória elevada devido à alta concentração de triterpenos.

  3. Galactolipídeos

    • Lipídios de plantas como vegetais crucíferos exibem potente atividade anti-inflamatória, modulando mediadores como COX-2 e iNOS.

  4. Peptídeos Bioativos: Extraídos de alimentos como farinha de soja, exibem inibição de COX-2 e citocinas pró-inflamatórias.

A incorporação de fitoquímicos na dieta ou por meio de suplementação de nutracêuticos pode ser uma estratégia eficaz para prevenir e tratar inflamações crônicas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Fitoterápicos na dor crônica

A dor está relacionada aos processos de algesia e analgesia, que envolvem, respectivamente, a percepção da dor e a sua modulação ou alívio.

  • Algesia é o processo pelo qual o corpo percebe a dor. Quando os receptores sensoriais chamados nociceptores detectam estímulos potencialmente prejudiciais, como lesões ou inflamação, eles enviam sinais ao sistema nervoso central, onde a dor é interpretada.

  • Analgesia, por outro lado, refere-se à diminuição ou supressão da dor. Isso pode ocorrer de várias maneiras, como através de medicamentos analgésicos (como analgésicos não opioides, opioides, ou anti-inflamatórios), terapias físicas ou até mesmo processos naturais do corpo, como a liberação de endorfinas, que têm efeito analgésico.

Portanto, a dor pode ser percebida (algesia) e controlada (analgesia), e ambos os processos são essenciais para entender como lidamos com o desconforto físico.

A utilização de fitoquímicos para fins medicinais, especialmente no tratamento da dor crônica, tem gerado um crescente interesse e investigação. Fitoquímicos são compostos bioativos encontrados em plantas que podem ter efeitos benéficos para a saúde, incluindo o controle da dor. Vários fitoquímicos, incluindo os canabinoides, têm demonstrado propriedades analgésicas, atuando de diferentes maneiras para aliviar a dor. A seguir, destaco alguns fitoquímicos conhecidos pelo seu potencial para o controle da dor:

1. Canabinoides

Os canabinoides são compostos encontrados principalmente na planta Cannabis sativa (maconha) e têm mostrado grande potencial para o controle da dor. Dois dos canabinoides mais estudados são:

  • Tetrahidrocanabinol (THC): É o principal composto psicoativo da cannabis. Ele se liga a receptores canabinoides no cérebro e no sistema nervoso periférico, o que pode ajudar a aliviar a dor crônica, particularmente em condições como dor neuropática e dor associada ao câncer.

  • Canabidiol (CBD): O CBD é outro canabinoide não psicoativo que tem ganhado atenção pelo seu potencial analgésico. Ele pode interagir com os receptores canabinoides e outros sistemas no corpo, como o sistema endocanabinoide e os receptores de serotonina, ajudando a reduzir a inflamação e aliviar a dor. O CBD é particularmente promissor no tratamento de dores relacionadas à ansiedade, dor muscular e condições inflamatórias.

Também há vários fitoquímicos capazes de auxiliar na modulação da dor crônica. Enxaqueca, fibromialgia, osteoartrite, dor neuropática associada a diabetes ou herpes, por exemplo, são dores capazes de serem moduladas com a fitoquímicos.

2. Curcumina

A curcumina, o principal fitoquímico presente no açafrão-da-terra (curcuma longa), tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas bem documentadas. Ela inibe a produção de várias substâncias inflamatórias no corpo, como as prostaglandinas, ajudando a reduzir a dor e a inflamação. A curcumina tem sido usada no controle de condições como artrite, dor muscular e até dores relacionadas ao câncer.

3. Capsaicina

A capsaicina é o composto responsável pelo sabor picante de pimentas, como a pimenta caiena. Quando aplicada topicamente, ela pode ajudar a reduzir a dor, especialmente em condições de dor neuropática, como a neuropatia diabética. A capsaicina atua ao diminuir os níveis de uma substância chamada substância P, que é envolvida na transmissão dos sinais de dor.

4. Gengibre

O gengibre contém compostos como gingeróis e shogaóis, que possuem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Ele pode ser eficaz no alívio da dor associada a condições como artrite, dores musculares e dores de cabeça. O gengibre também ajuda a melhorar a circulação sanguínea, o que pode ter um efeito positivo no controle da dor.

5. Alcaçuz (Glicirrizina)

O alcaçuz contém glicirrizina, que tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Além disso, a glicirrizina pode ajudar a reduzir a produção de substâncias inflamatórias, aliviando a dor em condições como artrite e outros distúrbios inflamatórios.

6. Ácido Rosmarínico (Alecrim)

O ácido rosmarínico, encontrado no alecrim e em outras plantas da família Lamiaceae, tem mostrado efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. Ele pode ser útil no controle da dor associada à inflamação, como dores musculares e articulares.

7. Harpagofito

O harpagofito (Harpagophytum procumbens), também conhecido como garra-do-diabo, é uma planta que contém compostos como harpagosídeos, que possuem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. O harpagofito é usado principalmente no tratamento de dores nas articulações e em distúrbios como a osteoartrite.

8. Valeriana

A valeriana (Valeriana officinalis) é uma planta frequentemente usada para aliviar a ansiedade, mas também possui efeitos analgésicos. Pode ser útil no alívio de dores relacionadas ao estresse, insônia ou tensões musculares.

9. Camomila (Matricaria chamomilla)

A camomila tem compostos como apigenina que possuem propriedades anti-inflamatórias e relaxantes. Ela pode ser útil no alívio de dores de cabeça, cólicas e dores musculares.

Mecanismos de Ação dos Fitoquímicos no Controle da Dor

Os fitoquímicos podem atuar em vários mecanismos para reduzir a dor:

  • Anti-inflamatórios: Muitos fitoquímicos, como curcumina e gengibre, atuam diretamente na redução da inflamação, que muitas vezes é a causa subjacente da dor.

  • Modulação do Sistema Nervoso: Os canabinoides (THC e CBD) e outros compostos como a capsaicina podem afetar os sistemas nervosos central e periférico, modulando a percepção da dor.

  • Ação sobre os Receptores de Dor: Alguns fitoquímicos, como a capsaicina, podem afetar diretamente os receptores envolvidos na transmissão da dor, reduzindo sua ativação.

  • Alívio da Tensão Muscular: Plantas como a valeriana e a camomila podem relaxar os músculos tensos e aliviar dores associadas ao estresse ou espasmos musculares.

Esses e outros fitoquímicos podem ser consumidos de diversas formas, como em cápsulas, chás, óleos essenciais ou cremes tópicos. No entanto, é importante lembrar que, embora muitos desses compostos tenham benefícios comprovados, sempre é recomendável consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento, especialmente em caso de condições crônicas ou interações com outros medicamentos.

Voltando ao Sistema Endocanabinoide e a Dor

O corpo humano possui um sistema endocanabinoide (SEC), que desempenha um papel crucial na regulação da dor. Este sistema é composto por:

Endocanabinoides: Substâncias produzidas pelo corpo, como a anandamida e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).

Receptores: CB1 e CB2, localizados em várias partes do corpo. O recetor CB1 é mais abundante no cérebro, enquanto o CB2 é encontrado principalmente nas células do sistema imunológico.

Enzimas: Responsáveis pela síntese e degradação dos endocanabinoides.

O SEC atua na modulação da dor de forma multifatorial e complexa. Os canabinoides podem inibir a liberação de neurotransmissores envolvidos na transmissão da dor, modular a excitabilidade neuronal, ativar vias inibitórias descendentes e reduzir a inflamação neural. Além disso, a interação dos canabinoides com outros recetores, como os opioides e serotoninérgicos, pode amplificar o efeito analgésico.

Como os Canabinoides Atuam na Dor Crónica

Os canabinoides atuam de diversas formas para aliviar a dor crónica:

Mecanismos Periféricos: Os recetores CB1 e CB2, presentes nos terminais nervosos e células imunes, controlam a transdução da dor. O 2-AG, por exemplo, reduz a inflamação e libera opioides endógenos.

Mecanismos Espinhais: Os canabinoides inibem a liberação de neurotransmissores na medula espinhal, através da ativação dos recetores CB1. Os receptores CB2 modulam respostas imunes centrais e aliviam a dor neuropática. A anandamida atua no início da dor, enquanto o 2-AG desempenha um papel na resolução da dor.

Mecanismos Supraespinhais: Os canabinoides inibem a transmissão da dor no tálamo e tronco cerebral, modificam a interpretação da dor no cérebro e ativam vias inibitórias descendentes. A anandamida pode ter um efeito bifásico, causando tanto alívio quanto aumento da dor dependendo da concentração.

Evidência Clínica e Tipos de Dor

A evidência clínica para o uso de canabinoides na dor crónica é limitada, embora promissora. Alguns estudos mostram benefícios em:

Dor Neuropática: Há evidências de que os canabinoides podem ser eficazes no alívio da dor neuropática, principalmente através da administração inalatória e sublingual. No entanto, os estudos apresentam limitações como amostras pequenas e heterogeneidade das intervenções. O NNT (Número Necessário para Tratar) varia entre 11 e 24, o que é considerado elevado quando comparado com outros fármaco0.

Dor Oncológica: Alguns estudos indicam que os canabinoides podem ser benéficos no tratamento da dor oncológica. No entanto, a evidência é menos robusta do que para a dor neuropática e mais estudos são necessários.

Dor Reumatológica e Visceral: Não há evidências de que os canabinoides sejam eficazes nestes tipos de dor.

Efeitos Adversos

Os efeitos adversos mais comuns estão associados a formulações com maior concentração de THC e incluem:

● Efeitos gastrointestinais

● Alterações nas funções cognitivas e motoras

O NNH (Número Necessário para Prejudicar) é de 6 para preparações de canabinoides em alguns estudos, o que é inferior ao de outros fármacos.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/