Creatina: Mais do que Apenas Músculos

A creatina, frequentemente associada ao crescimento muscular, também tem um impacto significativo na saúde cerebral. Este artigo explora as pesquisas mais recentes sobre o papel da creatina no cérebro:

Bioenergética Cerebral

  • Reservatório de Energia: A creatina atua como um reservatório de energia no cérebro, essencial para o funcionamento ideal.

  • Fontes de Creatina Cerebral: Obtida por meio da dieta, produção no fígado e síntese limitada em células cerebrais.

  • Barreira Hematoencefálica: O transporte pela barreira hematoencefálica é crucial, mas limitado.

  • Fatores que Influenciam: Dieta, idade e síntese endógena desempenham papéis importantes nos níveis de creatina no cérebro.

Siglas: ADP: Adenosina difosfato, ATP: Adenosina trifosfato, CRT: Transportador de creatina, MtCK: Quinase de creatina mitocondrial, NMR: Ressonância magnética nuclear, PCr: Fosfocreatina Candow et al., 2023

A creatina alcança o citosol por meio dos transportadores de creatina (CRT) na barreira hematoencefálica, nos neurônios e nas células oligodendrócitas, contribuindo para a manutenção dos níveis de ATP glicolítico. A creatina entra nas mitocôndrias por meio das quinases de creatina mitocondrial (MtCKs) e converte ATP em PCr por meio da fosforilação oxidativa. ATP e PCr podem circular das mitocôndrias de volta ao citosol, regulando as demandas de energia, o que pode, por sua vez, melhorar o metabolismo energético do cérebro.

Função Cognitiva

  • Estudos em Animais: Resultados promissores na melhoria da memória e aprendizagem, com alguns efeitos específicos por sexo.

  • Estudos em Humanos: Resultados mistos em indivíduos saudáveis.

  • Estresse e Cognição: Pode beneficiar a cognição em situações de estresse, como privação de sono e fadiga mental.

Lesão Cerebral Traumática (LCT)

  • Neuroproteção: A creatina pode ajudar a reduzir os danos cerebrais e melhorar a recuperação.

  • Ensaios Clínicos: Algumas evidências sugerem benefícios na redução de sintomas pós-LCT em crianças.

A eficácia da creatina no tratamento dos sintomas de depressão e ansiedade também é promissora, mas são necessários ensaios clínicos que examinem os efeitos da creatina (independentemente de intervenções farmacológicas) nesses transtornos de humor antes que um consenso possa ser alcançado.

Como usar a creatina?

Você pode consumir alimentos de origem animal ou suplementar. A quantidade de creatina natural presente em alimentos como carne vermelha e frango é relativamente baixa. Para atingir 5 g de creatina apenas pela alimentação, você precisaria consumir quantidades bastante elevadas, como:

  • Carne vermelha crua: Aproximadamente 1 kg contém cerca de 4 a 5 g de creatina.

  • Frango cru: Aproximadamente 1,1 a 1,5 kg para obter 4 a 5 g de creatina.

Raras pessoas consomem esta quantidade de carne ou frango ao dia. Por isto, usa-se a suplementação. Para melhor efeito o uso deve ser crônico, em geral após 3 semanas, com dose de 3 a 5g ao dia (ou 0,07g/Kg). A creatina monohidratada com selo creapure são mais confiáveis. Exemplos de marcas:

A creatina pode ser misturada à água, sucos ou shakes proteicos e consumida em qualquer hora do dia. Após a mistura deve ser bebida imediatamente. Contudo, se demorar um pouco não há problema. A conversão da creatina em creatinina na água é um processo gradual, e sua taxa depende de vários fatores, como temperatura, nível de pH e concentração. Aqui estão algumas diretrizes gerais com base em pesquisas disponíveis:

1. Temperatura

- Em temperatura ambiente (cerca de 20-25°C ou 68-77°F), a creatina pode permanecer relativamente estável por várias horas a um dia antes de ocorrer uma conversão significativa em creatinina.

- Em temperaturas mais altas, a taxa de conversão aumenta, então deixar a creatina em água quente ou em um ambiente quente acelerará o processo.

2. Nível de pH

- A creatina é mais estável em ambientes ácidos (pH abaixo de 7). Em um pH de 3-4, a creatina é muito estável e pode durar dias sem uma conversão significativa.

- Em pH neutro (cerca de 7) e em temperatura ambiente, cerca de 10-20% da creatina pode se converter em creatinina ao longo de um dia.

Para uso prático, misturar a creatina pouco antes do consumo é ideal para minimizar qualquer possível degradação. Se você precisar prepará-la com antecedência, armazená-la na geladeira pode ajudar a retardar o processo de conversão em creatinina.

Existe também uma nova tecnologia (clonapure) que tem um efeito mais imediato. É uma mistura de creatina monohidratada, fosfocreatina e fosfato. A saturação celular é 20 vezes mais rápida que a creatina monohidratada.

O clonapure está disponível para manipulação. As doses diárias variam de 1,8g a 3,0g ao dia. Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Gliose e neuroinflamação

A gliose é uma forma de resposta celular do SNC, caracterizada pela proliferação excessiva de células gliais, especialmente astrócitos. Essas células gliais se multiplicam para tentar reparar o tecido danificado ou inflamar, e formam uma cicatriz glial, que pode isolar a área lesionada.

A neuroinflamação e a gliose estão intimamente relacionadas, sendo que a gliose é, em muitos casos, uma consequência de processos neuroinflamatórios.

Neuroinflamação

A neuroinflamação é a resposta inflamatória no sistema nervoso central (SNC), que ocorre em resposta a lesões, infecções, disbiose intestinal, toxinas, ou distúrbios autoimunes. Essa inflamação é mediada principalmente por células do SNC, como astrócitos, microglia e oligodendrócitos. Em condições normais, a neuroinflamação é uma resposta protetora que visa reparar danos e combater agentes patológicos. No entanto, quando essa resposta é exacerbada ou crônica, pode levar a danos neuronais e contribuir para o desenvolvimento de várias doenças neurológicas.

Neuroinflamação (Welcome, & Mastoraskis, 2021). Medicamentos e fitoquímicos podem ajudar a combater a neuroinflamação.

Causas da Gliose

A gliose pode ser uma consequência de vários tipos de dano neuronal, incluindo:

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC)

  • Esclerose Múltipla

  • Traumatismos cranianos

  • Doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson

  • Infecções do SNC

Relação entre Neuroinflamação e Gliose

A neuroinflamação é frequentemente um gatilho para a gliose. Quando ocorre uma inflamação no SNC, as células gliais (principalmente os astrócitos e a microglia) são ativadas para responder ao dano ou lesão. Essa ativação pode levar à:

  • Proliferação excessiva de astrócitos, formando uma cicatriz glial (gliose).

  • Liberação de substâncias inflamatórias, que podem danificar ainda mais os neurônios e criar um ambiente propenso à neurodegeneração.

  • Danos à barreira hematoencefálica e alterações no ambiente extracelular, que dificultam a recuperação do tecido cerebral.

Embora a gliose tenha a função de proteger e reparar o tecido neural, uma gliose crônica ou excessiva pode ser prejudicial, pois pode interferir na função neuronal e contribuir para o agravamento de doenças neurológicas.

Tratamento da Neuroinflamação e Gliose

Embora não haja tratamentos diretos para a gliose, o foco está em controlar a neuroinflamação e a condição subjacente que a causa. Algumas abordagens incluem:

  1. Medicamentos anti-inflamatórios:

    • Corticosteroides (em casos de inflamação aguda, como na esclerose múltipla) para reduzir a resposta inflamatória.

    • Imunomoduladores e imunossupressores em condições autoimunes como esclerose múltipla.

  2. Antioxidantes:

    • Substâncias que podem ajudar a reduzir o estresse oxidativo e a inflamação no cérebro.

    • Fitoquímicos como catequinas, ácido gálico, resveratrol, apigenina, ácido ferúlico, procianidinas, quercetina.

  3. Fármacos neuroprotetores:

    • Pesquisas estão sendo feitas para desenvolver medicamentos que possam proteger os neurônios e reduzir a gliose patológica associada a doenças neurodegenerativas.

  4. Terapias de reabilitação:

    • A fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional podem ajudar na recuperação funcional do sistema nervoso central em condições associadas a gliose e neuroinflamação.

  5. Estilo de vida saudável:

    • Dieta balanceada, exercícios físicos regulares e controle do estresse podem ajudar a reduzir os níveis de inflamação no cérebro e melhorar a saúde cerebral a longo prazo.

Dieta Cetogênica e Seus Efeitos no Cérebro

A dieta cetogênica tem sido estudada por seus efeitos no sistema nervoso, principalmente em relação a doenças neurológicas. Ela induz o estado de cetose, no qual o corpo queima gordura em vez de glicose como fonte primária de energia, produzindo corpos cetônicos (como o beta-hidroxibutirato, o principal combustível do cérebro nesse estado).

Alguns dos efeitos benéficos potenciais da dieta cetogênica no cérebro incluem:

  • Neuroproteção: Alguns estudos sugerem que a dieta cetogênica pode ter efeitos neuroprotetores, reduzindo o risco de lesões cerebrais e diminuindo a neuroinflamação.

  • Redução da inflamação: A dieta cetogênica pode ajudar a reduzir a inflamação no cérebro, um fator importante no desenvolvimento de gliose e em várias doenças neurológicas.

  • Estimulação da regeneração neuronal: Pesquisas indicam que a dieta cetogênica pode estimular a regeneração e proteção de neurônios, o que poderia reduzir o impacto da gliose.

Gliose e Dieta Cetogênica: Possíveis Conexões

Embora a pesquisa ainda esteja em andamento, há algumas maneiras pelas quais a dieta cetogênica pode influenciar a gliose:

  1. Redução da neuroinflamação: A neuroinflamação é um fator chave no desenvolvimento da gliose, e a dieta cetogênica tem demonstrado propriedades anti-inflamatórias. A redução da inflamação pode, teoricamente, diminuir a formação de gliose, especialmente em condições como esclerose múltipla, AVCs e lesões traumáticas cerebrais.

  2. Aumento de corpos cetônicos e neuroproteção: Os corpos cetônicos, especialmente o beta-hidroxibutirato, possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que podem proteger as células cerebrais contra danos, reduzindo a necessidade de uma resposta glial excessiva (gliose).

  3. Efeitos no metabolismo cerebral: A dieta cetogênica pode ajudar a melhorar o metabolismo cerebral em algumas condições neurodegenerativas. Isso pode ajudar a reduzir a quantidade de danos neuronais, o que, por sua vez, pode minimizar a ativação de células gliais e a formação de gliose.

  4. Possível papel na recuperação de lesões cerebrais: Em casos de lesões cerebrais ou AVCs, a dieta cetogênica pode acelerar a recuperação, reduzindo a inflamação e a formação de cicatrizes gliais excessivas. A neuroproteção proporcionada pela dieta pode reduzir o impacto de uma lesão e melhorar a função cerebral.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Importância da colina

A colina é uma vitamina essencial para todas as células. É necessária para a síntese de fosfatidilcolina e esfingomielina, que são os principais componentes da membrana plasmática. A colina também é um precursor do neurotransmissor acetilcolina e, por isso, existem transportadores (CTL) de colina por todo o sistema nervoso.

TRANSPORTADORES DE COLINA NA BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA - INAZU, 2019

A colina é doadora de betaína, que está envolvida em várias funções biológicas importantes, como metilação. Betaína também é substrato para DNA e histona metiltransferases, e é, portanto, necessária para o estabelecimento e manutenção do epigenoma.

A betaína está envolvida, por exemplo, na regulação da concentração de homocisteína no sangue. Assim, a adequada ingestão de colina pode beneficiar a saúde cardiovascular ao reduzir a homocisteína no sangue.

VIA METABÓLICA DA COLINA (CICLO DE KENNEDY) - INAZU, 2019

Deficiência de colina

A síntese de colina de novo em humanos não é suficiente para atender às necessidades metabólicas; portanto, a ingestão de colina da dieta é necessária. Boas fontes alimentares de colina incluem ovos, carne, aves, peixes, vegetais crucíferos, amendoim e laticínios.

A deficiência de colina causa deposição anormal de gordura no fígado, o que resulta em uma condição chamada doença hepática gordurosa não alcoólica. Em algumas pessoas, a deficiência de colina causa danos musculares. Variantes genéticas, sexo e estado hormonal influenciam as necessidades individuais e, portanto, a suscetibilidade à doença hepática gordurosa induzida por deficiência de colina.

Para adultos, a ingestão recomendada é de 425 miligramas (mg)/dia para mulheres e 550 mg/dia para homens. A necessidade de colina provavelmente aumenta durante a gravidez. As recomendações de ingestão alimentar aumentam durante a gravidez para 450 mg/dia e durante a lactação para 550 mg/dia.

Estudos em animais mostraram que a colina é essencial para o desenvolvimento ideal do cérebro e influencia a função cognitiva na vida adulta. No entanto, mais estudos em humanos são necessários para afirmar que a suplementação de colina durante a gravidez melhora o desempenho cognitivo na prole ou que a suplementação de colina ajuda a prevenir o declínio cognitivo em pessoas mais velhas.

Embora os resultados dos estudos de intervenção sejam mistos, algumas evidências sugerem que o tratamento com citicolina (um derivado da colina) pode ser útil para melhorar a função da retina em alguns pacientes com glaucoma. A citicolina também foi estudada como um tratamento potencial para limitar os danos neurológicos em pacientes que sofreram derrame ou lesão cerebral traumática.

CUIDADOS NA SUPLEMENTAÇÃO DE COLINA

O excesso de colina, associa-se a concentrações sanguíneas elevadas de trimetilamina N-óxido (TMAO) e associa-se a maior risco de eventos cardiovasculares em alguns estudos observacionais.

O consumo excessivo de colina tem sido associado à maior sudorese, odor corporal de peixe e efeitos colaterais gastrointestinais. O nível de ingestão superior tolerável (UL) para adultos é de 3.500 mg/dia.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/