O Papel da Microbiota Intestinal em Transtornos Mentais e os Efeitos Protetores dos Componentes Alimentares

A conexão entre a microbiota intestinal e a saúde mental tem sido cada vez mais estudada, revelando que o equilíbrio das bactérias intestinais desempenha um papel crucial na regulação do humor e na prevenção de transtornos mentais como ansiedade e depressão. Este campo, conhecido como eixo intestino-cérebro, destaca como alterações na composição das bactérias intestinais podem influenciar diretamente a função cerebral.

Como a Microbiota Intestinal Afeta o Cérebro?

A microbiota intestinal interage com o sistema nervoso central por meio de várias vias, incluindo:

  • Produção de Neurotransmissores: Algumas bactérias produzem compostos como serotonina e ácido gama-aminobutírico (GABA), que impactam o humor e o comportamento.

  • Modulação do Sistema Imunológico: Um intestino desequilibrado pode aumentar a inflamação, que está associada a transtornos mentais.

  • Comunicação Via Nervos: O nervo vago atua como um "canal de comunicação" direto entre o intestino e o cérebro.

Relação com Transtornos Mentais

Estudos indicam que um desequilíbrio na microbiota (disbiose) pode agravar condições como ansiedade, depressão, esquizofrenia e até Alzheimer. Pessoas com esses transtornos frequentemente apresentam uma microbiota menos diversificada ou inflamada.

O Papel dos Alimentos na Saúde Mental

Componentes alimentares têm mostrado efeitos protetores sobre a microbiota e, consequentemente, na saúde mental:

  • Probióticos: Alimentos fermentados, como iogurte e kefir, ajudam a enriquecer a microbiota com bactérias benéficas.

  • Prebióticos: Fibras presentes em frutas, vegetais e grãos inteiros alimentam essas bactérias.

  • Ácidos Graxos Ômega-3: Encontrados em peixes gordurosos, ajudam a reduzir a inflamação cerebral e intestinal.

  • Polifenóis: Antioxidantes de alimentos como chá verde, cacau e frutas vermelhas favorecem o equilíbrio bacteriano.

  • Dieta Mediterrânea: Rica em alimentos integrais, fibras e gorduras saudáveis, é associada a menores riscos de depressão.

Estes compostos podem alterar positivamente a microbiota tendo efeitos positivos no tratamento de transtornos neurológicos e psiquiátricos (Xiong et al., 2023):

Assim, manter uma microbiota intestinal saudável por meio de uma dieta equilibrada e rica em alimentos funcionais pode ser uma estratégia promissora para prevenir e tratar transtornos mentais. A ciência continua a explorar essa fascinante conexão, reforçando a importância de cuidar tanto do corpo quanto da mente através da nutrição. Aprenda mais sobre a conexão nutrição-intestino-cérebro na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Hipóteses causais para a depressão

A depressão é um transtorno complexo com múltiplas causas, e ao longo dos anos, diversas teorias surgiram para explicar seus mecanismos. Uma das mais conhecidas e estudadas é a hipótese monoaminérgica.

1) A Hipótese Monoaminérgica: Um Desequilíbrio Químico?

A hipótese monoaminérgica sugere que a depressão está associada a um desequilíbrio nos níveis de neurotransmissores, substâncias químicas que transmitem sinais entre as células nervosas no cérebro. Os neurotransmissores em questão são as monoaminas, como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina.

Como essa teoria surgiu?

  • Descoberta dos antidepressivos: A descoberta de que medicamentos que aumentavam os níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina eram eficazes no tratamento da depressão e de que medicamentos que reduzem estes neurotransmissores pioram os sintomas, fortaleceu essa hipótese.

  • Modelo simplificado: A ideia de que um simples desequilíbrio químico poderia explicar um transtorno complexo como a depressão era atraente e fácil de entender. A hipótese não explica o porque de alguns pacientes levarem um tempo longo (2 a 4 semanas) para começarem a melhorar. Também não explica a causa de 1/3 dos pacientes não entrarem em remissão.

A hipótese monoaminérgica foi importante pois foi a base para o desenvolvimento de medicamentos. A hipótese monoaminérgica impulsionou a pesquisa e o desenvolvimento de antidepressivos que atuam nos níveis desses neurotransmissores.Embora não seja a única explicação, a teoria contribuiu para uma melhor compreensão dos processos biológicos envolvidos na depressão.

2) A hipótese associada ao estresse

Eventos de vida estressantes, padrões de pensamento negativos e traumas podem desencadear ou agravar a depressão, assim como fatores sociais e ambientais, incluindo isolamento social, abusos, condições socioeconômicas adversas também são fatores de risco.

Estudos mostraram alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) em pacientes deprimidos, incluindo níveis estatisticamente mais elevados de cortisol e e hormônio liberador de corticotropina (CRH), sem que tenham uma doença primária adrenal. Esta característica ainda hoje é considerada o mecanismo principal para os pacientes que tem muitos relapsos no tratamento.

3) Hipótese neuroplástica

Seja por questões genéticas, seja por alterações epigenéticas ocorridas em fases importantes para o neurodesenvolvimento, demonstrou-se que pacientes com depressão apresentam mais alterações estruturais no sistema nervoso central, especialmente no hipocampo e córtex pré-frontal, além de redução da neurogênese (alteração frequente de genes que codificam BDNF), gerando remodelamento inadequado de redes neurais e da neuroplasticidade.

3) Hipótese glutamatérgica

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central. Tem um papel na modulação da plasticidade sináptica e regulação de respostas emocionais ao estresse. Só que o excesso de glutamato pode até matar neurônios. Por isso, este neurotransmissor é mantido em segurança dentro de vesículas.

Um neurônio saudável libera glutamato apenas quando precisa transmitir uma mensagem e imediatamente suga o mensageiro de volta para dentro. Um mecanismo de bombeamento inteligente garante que a quantidade de glutamato seja mantida em níveis ótimos. Quando um neurônio detecta a presença de glutamato em excesso na vizinhança – o espaço extracelular – aciona bombas especiais na sua membrana e suga o glutamato excessivo de volta para dentro da célula.

Se o cérebro sofre danos, glutamato demais pode escapulir. Isto acontece, por exemplo, no derrame, traumatismo craniano e também em outros transtornos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Neste caso, o glutamato inunda o cérebro, gerando hiperexcitabilidade e redução no número de sinapses.

3) Hipótese metabólica

Inflamação, resistência insulínica e alterações do microbioma são algumas das mais recentes hipóteses para alterações comportamentais. Lipopolissacarídeos bacterianos (LPS) podem induzir anedonia. Há envolvimento de citocinas pró-inflamatórias (IL-1b, IL-6, TNF-alfa, PCR). A via da kinurenina pode também estar alterada, facilitando o aumento de glutamato e aumentando o risco de processos neurogenerativos, uma vez que o glutamato antagoniza receptores NMDA e nicotínicos tipo a7.

É importante ressaltar que:

  • Cada caso é único: As causas da depressão podem variar de pessoa para pessoa.

  • O tratamento da depressão geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar: A combinação de medicamentos, psicoterapia, atividade física, nutrição adequada e outras intervenções pode ser eficaz no tratamento da depressão.

Se você está passando por um período prolongado de tristeza ou desânimo, é fundamental buscar ajuda profissional. Aprenda mais sobre o tema na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Efeitos positivos e riscos do uso do 5-HTP

A serotonina é produzida a partir de triptofano em reação dependente da enzima triptofano hidroxilase que converte triptofano em 5-hidroxitroptofano (5-HTP). Este é convertido em serotonina através da enzima L-aminoácido descarboxilase. A serotonina é posteriormente degradada em ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA) pela monoamina oxidase.

5-HTP E DEPRESSÃO

Deficiências no aminoácido triptofano (precursor do 5-HTP) estão correlacionadas com a depressão. A diminuição dos níveis de triptofano no corpo pode vir de vários meios, mas é provavelmente causada por uma dieta carente do aminoácido ou pela regulação positiva de enzimas (mais notavelmente indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO) e triptofano 2,3 -dioxigenase (TDO)) que degradam o triptofano ou o direcionam para vias que não são a síntese de serotonina, causando uma deficiência relativa. Essas enzimas também podem ser reguladas positivamente em estados de inflamação crônica (Taylor, & Feng, 1991).

No caso da depressão é melhor suplementar 5-HTP do que triptofano pois este pode ser desviado para a produção de niacina ou construção de proteínas, enquanto o 5-HTP tem como único destino a síntese de serotonina. O 5-HTP também atravessa facilmente a barreira hematoencefálica.

A atividade da triptofano hidroxilase também pode ser ainda mais regulada negativamente em casos de deficiência de magnésio ou vitamina B6, estresse ou níveis excessivos de triptofano. A suplementação de 5-HTP é usada para aumentar os níveis de serotonina no corpo e demonstrou ser eficaz no tratamento de doenças como a depressão. Também demonstrou eficácia na regulação do sono e do apetite.

Um estudo comparando a eficácia do 5-HTP com a fluvoxamina descobriu que o 5-HTP teve um desempenho tão bom quanto a fluvoxamina em termos de efeitos antidepressivos (Rondanelli et al., 2009). Um estudo que envolveu participantes com distúrbios do sono usando uma combinação de aminoácidos de 5-HTP e GABA, juntamente com outros ingredientes, observou uma diminuição no tempo que os participantes levavam para adormecer, bem como melhorias na duração e qualidade geral do sono (Birdsall, 1988).

Uma dose típica de 5-HTP está na faixa de 300-500 mg, tomada uma vez ao dia ou em doses divididas. Doses mais baixas também podem ser eficazes, embora geralmente quando combinadas com outras substâncias. A combinação de e GABA e 5-HTP (entre outros ingredientes, como valeriana e polifenóis de cacau) diminui o tempo necessário para adormecer, com melhorias concomitantes na duração e qualidade do sono, conforme avaliado pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) (Shell et al., 2010).

O 5-HTP também pode desempenhar um papel na perda de peso (8 mg/kg), pois tende a gerar aumento da saciedade após a suplementação. Um estudo observou que a ingestão de alimentos foi reduzida de uma média de 2.903 kcal para 1.819 kcal (62% da linha de base). Os efeitos de perda de peso foram observados com 750 mg de 5-HTP durante 2 semanas em diabéticos com sobrepeso e durante 12 semanas em pessoas obesas que receberam 900 mg de 5-HTP diariamente (Cangiano et al., 1998; Cangiano et al., 1992). Com o objetivo de reduzir a ingestão de alimentos, o 5-HTP deve ser tomado durante as refeições, pois aumenta a saciedade proveniente da ingestão de alimentos (em vez de reduzir o apetite/fome).

Quais são as principais desvantagens do 5-HTP?

Não foram observados relatórios de toxicidade com doses iguais ou inferiores a 50 mg/kg de peso corporal. No entanto, doses de 100-200 mg/kg de peso corporal foram associadas à síndrome serotoninérgica em animais de laboratório quando administradas isoladamente. A síndrome serotoninérgica é uma condição grave causada por altos níveis de serotonina no organismo. Não há relatos de toxicidade em doses normais, e deve-se observar que a síndrome da serotonina causada pela suplementação de 5-HTP não foi observada em humanos, quando usada isolada. Contudo, a suplementação de 5-HTP não é recomendada com medicamentos neurológicos ou psiquiátricos prescritos para fins antidepressivos ou outros fins cognitivos, a menos que seja autorizado por um médico. Isto é mais importante para o uso de inibidores de recaptação de serotonina, pois a combinação com 5-HTP pode levar à síndrome serotoninérgica, que é potencialmente letal.

Algumas pessoas sentem-se mais agitadas com o uso do 5-HTP. Uma hipótese é que bactérias do intestino estejam transformando a substância em aminas biogênicas que exercem efeito adrenérgico/noradrenérgico e, portanto, geram maior estimulação. Assim, é importante corrigir a disbiose antes de pensar no 5-HTP via oral. Outra sugestão é baixar a dose em 50% e subir aos poucos conforme o intestino melhora. Uma terceira alternativa seria o uso da via sublingual. (VO). Podemos ainda trocar o 5-HTP isolado pela planta Griffonia simplicifolia, de onde o 5-HTP é frequentemente extraído. A Griffonia pode ser uma opção com menor risco de efeitos adversos, devido ao seu teor menos concentrado de 5-HTP e presença de compostos naturais que podem moderar sua ação. Uma última opção é o uso do 5-HTP via sublingual.

Algumas pessoas podem não ter melhorias da depressão com o uso do 5-HTP. Isto porque a baixa de serotonina não é o único fator que explica o problema. Além de alterações de genes como o do receptor para serotonina (5-HT1A) alguns pacientes podem ter outras alterações genéticas como de transportador de serotonina (5-HTTLPR), BDNF e receptores glicocorticoides. Além disso, existe uma forte influência epigenética na depressão e muitos fatores metabólicos que devem ser corrigidos. Falo mais deste tema neste outro post e na plataforma https://t21.video.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/