METABOLÔMICA: 5-HIDROXIINDOLEACETATO

A serotonina (5-hidroxitriptamina) é um neurotransmissor monoamina derivado do aminoácido l-triptofano por meio de uma via dependente de 2 enzimas (triptofano hidroxilase e 5-hidroxitroptofano descarboxilase).

Cerca de 10% da serotonina está localizada nos neurônios do sistema nervoso central. Os 90% restantes estão localizados nas células enterocromafins. As células enterocromafins (ECs) são um tipo especializado de células neuroendócrinas encontradas no trato gastrointestinal, principalmente no revestimento do intestino delgado e grosso. Elas desempenham um papel crucial na digestão e na regulação do sistema nervoso entérico.

Os tumores carcinoides, um subtipo de tumores neuroendócrinos (TNEs), principalmente do sistema digestório, podem secretar serotonina e outros mediadores bioativos. Em casos específicos, a avaliação do 5-HIAA (ácido 5-hidroxiindolacético) na urina de 24 horas ou no plasma é uma ferramenta importante no diagnóstico e monitoramento. O 5-HIAA é o principal metabólito da serotonina e serve como marcador indireto da secreção hormonal desses tumores (Corcuff et al., 2017).

A serotonina pode ser dosada em seu estado livre no plasma ou ligada em plaquetas. O 5HIAA também pode ser dosado no plasma, mas sua excreção diária na urina ainda é o ensaio mais classicamente recomendado (

Altos níveis de ácido 5-hidroxiindolacético na urina também podem estar altos em outras doenças, assim o acompanhamento médico para correto diagnóstico é fundamental. Seu médico irá investigar também:

- Deficiência da enzima descarboxilase de l-aminoácidos aromáticos, um distúrbio hereditário que afeta a maneira como os sinais são transmitidos entre certas células do sistema nervoso.)

- Doença celíaca (uma doença autoimune em que a ingestão de glúten leva a danos no intestino delgado)

- Deficiência de sepiapterina redutase (uma condição caracterizada por problemas de movimento)

Quais são os níveis normais de 5HIAA?

Os resultados normais são de 3 a 15 miligramas (mg) de 5-HIAA ao longo de 24 horas, sendo que as mulheres geralmente têm níveis mais baixos do que os homens.

Numerosas drogas afetam a excreção de 5-HIAA por diferentes mecanismos, incluindo aumento da síntese de serotonina, metabolismo e liberação e inibição da captação. Os seguintes medicamentos podem interferir nos resultados do 5-HIAA. A preparação adequada antes do teste é essencial. Restrições de medicação e dieta são necessárias para evitar resultados falso-positivos. Se clinicamente viável, interrompa os seguintes medicamentos pelo menos 48 horas antes da coleta da amostra.

  • Acetaminofeno (Tylenol ou versões genéricas)

  • Aspirina

  • Anti-histamínicos

  • Certos xaropes para tosse ou anti-histamínicos

  • Medicamentos para gripes e resfriados

  • Alguns antidepressivos

  • Alguns relaxantes musculares

Deve-se também evitar bebidas cafeinadas como chá e café ou alimentos cafeinados por 48 horas antes e durante a coleta de amostras. O consumo de certos alimentos que contêm serotonina também deve ser desencorajado antes do exame pois podem aumentar os níveis de 5-HIAA, incluindo abacaxi, ameixa, abacate, banana, berinjela, kiwi, queijo, nozes, tomates. O exercício extenuante também pode aumentar seus níveis de 5-HIAA.

O que significa se o resultado do 5-HIAA for baixo?

Baixo 5-HIAA indica produção inadequada de serotonina. Os sintomas incluem: constipação, depressão, fadiga, insônia, déficit de atenção e distúrbios comportamentais. Alimentos e medicamentos associados à diminuição dos resultados urinários do 5-HIAA incluem:

  • Aspirina

  • Clorpromazina

  • Corticotropina

  • Ácido dihidroxifenilacético

  • Álcool

  • Ácido gentísico

  • Ácido homogentísico

  • Derivados de hidrazina

  • Imipramina

  • Isocarboxazida

  • Cetoácidos

  • Levodopa

  • Inibidores da MAO

  • Metenamina

  • Metildopa

  • Perclorperazina

  • Fenotiazinas

  • Promazina

  • Prometazina

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Qual é a diferença entre neurotransmissor e neuromodulador?

Tanto neurotransmissores quanto neuromoduladores são substâncias químicas essenciais para a comunicação no sistema nervoso. No entanto, possuem algumas diferenças importantes em relação ao seu modo de ação e aos efeitos que produzem.

Neurotransmissores:

  • Ação direta e rápida: Os neurotransmissores são liberados diretamente na fenda sináptica, o espaço entre dois neurônios, e se ligam a receptores específicos na membrana do neurônio receptor. Essa ligação desencadeia uma resposta rápida e localizada, excitando ou inibindo o neurônio.

  • Efeitos localizados: A ação dos neurotransmissores é geralmente restrita à sinapse onde foram liberados, produzindo efeitos mais específicos e de curta duração.

  • Exemplos: Dopamina, serotonina, acetilcolina, GABA, que ligam-se diretamente a canais inônicos dependentes de ligantes e iniciam uma resposta rápida (menos de 1 milisegundo)

Neuromoduladores:

  • Ação indireta e mais lenta: Os neuromoduladores são liberados em áreas mais amplas do cérebro e podem se difundir por longas distâncias. Eles não se ligam apenas aos receptores pós-sinápticos, mas também podem ativar mensageiros secundários que vão agir em outros locais, como os terminais axônicos, causando mudanças de longa duração na atividade sináptica.

  • Efeitos difusos e de longa duração: A ação dos neuromoduladores é mais difusa e de longa duração, podendo modular a atividade de grandes redes neurais. Eles influenciam a sensibilidade dos neurônios a outros neurotransmissores, alterando o modo como eles respondem a estímulos. Memória e aprendizado envolvem mudanças em neurônios causados pela ação lenta e difusa de neuromoduladores.

  • Exemplos: Serotonina, dopamina, norepinefrina ligam-se à proteína G acoplada aos receptores e inicia uma resposta lenta (milisegundos a minuto)

Uma mesma substância pode atuar como neurotransmissor e neuromodulador

É importante notar que a mesma substância química pode atuar tanto como neurotransmissor quanto como neuromodulador, dependendo do contexto. Por exemplo, a serotonina, além de ser um neurotransmissor envolvido na regulação do humor, também atua como neuromodulador, modulando a atividade de diversas áreas do cérebro.

Por que ambos?

  • Neurotransmissor: A serotonina atua como mensageiro químico entre os neurônios, transmitindo sinais de forma rápida e direta. Essa função clássica de neurotransmissor permite a comunicação entre as células nervosas, influenciando diversos processos como o humor, o sono e o apetite.

  • Neuromodulador: Além de sua função de neurotransmissor, a serotonina também atua como neuromodulador, influenciando a atividade de grandes redes neurais. Ela se difunde por áreas mais amplas do cérebro e pode modular a sensibilidade dos neurônios a outros neurotransmissores. Essa ação mais lenta e difusa permite que a serotonina tenha efeitos mais duradouros e abrangentes.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Terapias metabólicas no tratamento da depressão

A depressão é um transtorno que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. O transtorno é complexo, difícil de estudar e compreender, sendo um dos maiores desafios da medicina e das neurociências. Podemos buscar a definição de depressão e os critérios diagnósticos no DSM-5. Mas o documento não mostra o sofrimento, a desesperança, os desafios dos transtornos mentais.

O relato acima é comum entre pacientes com depressão moderada a grave. Quando um relato desse chega ao consultório já é motivo de comemoração pois a falta de energia que acompanha a depressão faz com que muitas pessoas nem consigam buscar ajuda. E esta é fundamental. Uma equipe multiprofissional com minimamente psiquiatra, psicoterapeuta e nutricionista aumenta as chances de retomada da vida. Se você está ou conhece alguém que está com cinco ou mais destes sintomas nas últimas duas semanas, busque ajuda, por favor:

  1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias (o que significa? Tristeza, sensação de vazio ou desesperança)

  2. Acentuada diminuição do interesse (avolia) ou prazer (anedonia) em todas ou quase todas as atividades, na maior parte do dia, quase todos os dias

  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (pelo menos 5% de alteração de peso para cima ou para baixo no último mês)

  4. Insônia ou hipersonia (sono excessivo) quase todos os dias

  5. Agitação ou lentificação quase todos os dias

  6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias

  7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva inapropriada quase todos os dias

  8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias

  9. Pensamentos recorrentes de morte ou uma tentativa de suicídio ou plano de autoextermínio

Por que a depressão ocorre?

Envolvimento genético (contribuição de aproximadamente 35%), traços de personalidade predisponentes, adversidades (perda de emprego, insegurança financeira, doença crônica, problemas de saúde com risco de vida, exposição a violência, separação, luto) contribuem para a vulnerabilidade ao transtorno depressivo.

Mudanças neurobiológicas acabam ocorrendo no cérebro. Hoje, temos mais compreensão dos mecanismos moleculares conectados à depressão, particularmente neuroinflmação, resposta ao estresse, alterações na microbiota intestinal e na atividade do fator neurotrófico cerebral. Falo mais sobre o tema na minha plataforma de cursos https://t21.video.

Marcadores neurobiológicos conhecidos em estudos de imagem, como atrofia do hipocampo, redução de neurotransmissores, estresse oxidativo, resistência insulínica, disrupções da barreira hematoencefálica são outros fatores associados à piora dos sintomas da depressão, transtornos de humor, ansiedade e também bipolaridade.

Sem cuidados ou com cuidados insatisfatórios há neuroprogressão. Ou seja, o paciente tende a piorar e entrar em um estado crônico. A neuroprogressão está muito ligada aos fatores acima não tratados, incluindo a resistência insulínica cerebral.

Em 50% dos pacientes a medicação gera resposta em 2 a 3 semanas e a remissão dos sintomas chega com 4 a 8 semanas de tratamento, seguida de manutenção por 6 a 12 meses, dependendo do quadro. Contudo, recaídas e recorrências podem ocorrerem, especialmente se os fatores neurobiológicos não forem considerados.

Fases do tratamento da depressão (Kuper, 2005, in

A figura abaixo mostra a importância de tratamentos que vão além da medicação. Indica-se o acompanhamento de biomarcadores para inflamação (como PCR, TNFalfa, IL-6, IL-1beta), para resistência insulínica (HOMA-IR, insulina de jejum) e apoio do tratamento tradicional com novos tratamentos incluindo atividade física, dieta low carb de características antiinflamatórias ou cetogênica (a depender do caso), uso de diversos suplementos, que variam com a condição a ser tratada.

Neuroprogressão - mecanismos e tratamento (Calkin et al., 2022)

As terapias focadas na correção do metabolismo cerebral foram batizadas de terapias metabólicas, tema apaixonante que você pode conhecer na plataforma https://t21.video.

Consultas de nutrição: https://andreiatorres.com/consultoria

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/