Estrogênio + microbioma: conheça o estroboloma

A função do trato digestivo é essencial para o funcionamento adequado de quase todos os sistemas biológicos do corpo. A conexão entre intestino e sistema endócrino feminino é tão forte que há um termo para descrever o impacto nos níveis de estrogênio: o estroboloma.

O ESTROBOLOMA E O METABOLISMO DO ESTROGÊNIO

Os insights que levaram à compreensão atual do estroboloma datam de 1985, quando foi descoberto que cepas bacterianas específicas podiam produzir uma enzima chamada beta-glucuronidase, que desconjugaria os estrogênios, tornando-os disponíveis para serem reabsorvidos no intestino e de volta à circulação.

Os estrogênios passam por várias etapas para serem metabolizados e excretados pelo corpo. Primeiro, os estrogênios primários (estrona, estradiol e estriol) são hidroxilados pelo CYP 450 no fígado nos metabólitos 2-OH, 4-OH e 16-OH (e outros). Esses metabólitos passam por metabolismo adicional com as ações de metilação, glucuronidação e sulfonação em sua forma conjugada. Nesse ponto, os estrogênios conjugados são "empacotados" e podem então viajar pela bile para os intestinos para excreção.

Estudos de estrogênios injetados e radioativamente marcados em mulheres mostraram que aproximadamente 65% do estradiol injetado, 48% da estrona injetada e 23% do estriol injetado são recuperados na bile (o que significa que caem nos intestinos). No entanto, apenas 10-15% dos estrogênios injetados são encontrados (em suas formas conjugadas) nas fezes, sugerindo que quantidades significativas de estrogênios foram desconjugadas e reabsorvidas no trato intestinal.

Essa observação leva à questão do que acontece com os estrogênios restantes e por quê? A resposta está no estroboloma, a coleção de micróbios no intestino que são capazes de metabolizar e modular a quantidade de estrogênio circulante no corpo. Uma maneira pela qual isso ocorre é por meio da produção de beta-glucuronidase por micróbios no intestino.

BETA-GLUCURONIDASE

A beta-glucuronidase desempenha um papel importante no metabolismo. Além do estrogênio, a beta-glucuronidase também hidrolisa resíduos de aminoácidos de outros compostos, incluindo medicamentos como sulfato de heparina e até mesmo a própria bilirrubina do corpo, permitindo que seja reabsorvida.

Mais de 60 gêneros de micróbios intestinais podem produzir beta-glucuronidase, incluindo gêneros importantes como Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterococcus e outros. Também é provável que a conexão microbioma intestinal-hormonal vá além da beta-glucuronidase, com evidências mostrando que a microbiota intestinal pode influenciar o equilíbrio do estrogênio por meio de outras vias enzimáticas.

No trato gastrointestinal humano, os genes mais importantes que codificam a beta-glucuronidase são chamados de genes GUS. Cerca de 112 genes GUS foram identificados e tendem a ser expressos em quatro filos bacterianos principais, incluindo Bacteroidetes, Firmicutes, Verrucomicrobia e Proteobacteria. Níveis clinicamente apropriados de beta-glucuronidase ainda não foram estabelecidos.

O excessso de beta-glucuronidase, especialmente no intestino pode gerar:

  • Recirculação de toxinas e hormônios, como estrogênio, aumentando sintomas da TPM, risco de endometriose, miomas e cânceres hormônio-dependentes, como mama e endométrio.

  • Sobrecarga hepática, com sintomas como fadiga crônica, dores de cabeça, alterações de humor e irritabilidade.

  • Pele e olhos amarelados.

  • Interferência no metabolismo de fármacos.

Já falei do excesso de beta-glucuronidase, causas e tratamentos neste outro texto.

O ESTROBOLOMA E O RISCO DE DOENÇAS

Vimos que, por meio do estroboloma, o microbioma intestinal pode impactar diretamente a carga vitalícia de estrogênio de uma mulher e também pode influenciar diretamente o risco de doença. Pesquisadores têm avaliado o papel do estroboloma em várias condições com influência conhecida do estrogênio, incluindo cânceres responsivos ao estrogênio e endometriose.

Tanto os estrogênios endógenos quanto os exógenos (como os xenoestrogênios) requerem metabolismo e excreção. Se o estroboloma favorece a recirculação do estrogênio e, portanto, uma carga total de estrogênio maior, isso muda o ambiente hormonal das mulheres de uma forma que vai além da estimulação direta dos receptores de estrogênio. O aumento do estrogênio total também pode causar alterações na função do sistema imunológico e pode impactar ainda mais o microbioma intestinal.

O estroboloma também é reconhecido por sua provável importância na proteção da saúde cardiovascular em mulheres na pós-menopausa. Em um estudo publicado em junho de 2022, indivíduos participantes do Hispanic Community Health Study/Study of Latinos (uma população com alto risco cardiometabólico) foram submetidos a sequenciamento metagenômico de shotgun de fezes. Os resultados foram interessantes. O microbioma de mulheres na pós-menopausa parecia mais semelhante ao dos homens do que às mulheres na pré-menopausa e essas alterações no microbioma intestinal foram associadas ao risco cardiometabólico adverso em mulheres na pós-menopausa (Peters et al., 2022).

MELHORANDO O ESTROBOLOMA

Ao coletar o histórico do paciente para preocupações relacionadas a hormônios, a avaliação da função gastrointestinal e possíveis fatores de risco para disbiose devem ser incluídos. Isso inclui o histórico de uso de antibióticos, histórico de obesidade ou diabetes tipo 2 e a tradicional "dieta ocidental" de alimentos com baixo teor de fibras, alto teor de gordura e alto teor de carboidratos (entre muitos outros).

O indican urinário, um novo ácido orgânico incluído em alguns painéis DUTCH, demonstrou ser um marcador confiável para disbiose intestinal. Dados de amostras do teste DUTCH em mulheres na pós-menopausa e em homens mostraram uma associação pequena, mas estatisticamente significativa, entre níveis elevados de indican urinário (sugerindo disbiose) e níveis de estradiol, reforçando a afirmação de que a disbiose intestinal é um fator importante nos níveis de estrogênio circulante.

O indican é o resultado da decomposição do triptofano intestinal, estando normalmente presente em traços na urina. Sua absorção intestinal é maior na presença de obstipação ou aumento da putrefação intestinal. Assim, o indican tem seu nível aumentado em enterites, na obstrução intestinal, no íleo paralítico e nasneoplasias gastrintestinais. O indican também apresenta-se elevado em quadros de decomposição bacteriana de proteínas corpóreas, como septicemias e gangrenas.

Em caso de disbiose, procede-se à modulação intestinal, com uso de prebióticos, probióticos e simbióticos são indicados para equilibrar a atividade da beta-glucuronidase, juntamente com uma dieta rica em fibras, rica em diversos fitonutrientes e alimentos fermentados.

Se beta-glucoronidase nas fezes estiver alta (maior que 2.486U/mL) podemos suplementar cálcio D-glucarato para desativar a enzima. O cálcio-d-glucarato também pode ajudar a bloquear a beta-glucuronidase, reduzindo a desconjugação de estrogênios e apoiando a excreção adequada de metabólitos de estrogênio, e é uma abordagem razoável de suplemento dietético. A dosagem normalmente varia de 500 a 1000 mg por dia.

Ao melhorar o metabolismo do estrogênio com estilo de vida e suplementação, certifique-se de considerar o impacto potencial do estroboloma na recirculação. Somente quando todo o metabolismo do estrogênio e as vias de excreção forem abordados, você poderá restaurar o equilíbrio e a função ideais do estrogênio.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Diferença entre cariótipo, exoma e microarray

Cariótipo, microarray e exoma são três diferentes tipos de testes genéticos usados para detectar alterações no DNA. Cada um tem um nível de precisão e capacidade de identificar diferentes tipos de variações genéticas. Aqui está uma explicação detalhada de cada exame e suas diferenças:

1. Cariótipo:

  • O que é: O cariótipo é uma análise microscópica dos cromossomos inteiros. Ele examina o número e a estrutura dos cromossomos para detectar grandes alterações.

  • O que detecta:

    • Aneuploidias (alterações no número de cromossomos, como a Síndrome de Down, que tem um cromossomo 21 extra).

    • Deleções ou duplicações grandes (quando falta ou há cópias extras de grandes partes dos cromossomos).

    • Translocações (quando há trocas de material entre cromossomos).

    • Inversões e inserções cromossômicas.

  • Limitações:

    • O cariótipo não detecta pequenas mutações ou alterações de pequeno tamanho (como mutações em genes individuais ou pequenas deleções/duplicações).

    • É menos preciso para mutações moleculares e não vê alterações menores que 5 a 10 megabases.

  • Usado para: Diagnóstico de síndromes cromossômicas grandes, abortos recorrentes, e condições como síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter e leucemias.

2. Microarray (CMA - Análise de Microarranjo Cromossômico):

  • O que é: O microarray é um exame molecular que detecta pequenas alterações no DNA. Ele examina o genoma em busca de variações no número de cópias (CNVs - Copy Number Variations) de segmentos de DNA, como deleções ou duplicações.

  • O que detecta:

    • Microdeleções e microduplicações (perda ou ganho de pequenas partes do DNA).

    • Alterações no número de cópias de segmentos de genes ou cromossomos (CNVs).

  • Limitações:

    • O microarray não detecta mutações pontuais (alterações em um único nucleotídeo) ou rearranjos cromossômicos equilibrados (como translocações que não envolvem perda ou ganho de material genético).

    • Não detecta mutações em regiões não codificantes do DNA, ou seja, fora dos genes.

  • Usado para: Diagnóstico de deficiência intelectual, autismo, malformações congênitas, ou casos onde o cariótipo não encontra alterações, mas ainda há suspeita de doenças genéticas. É mais preciso que o cariótipo para síndromes genéticas sutis, como Síndrome de DiGeorge ou Síndrome de Williams.

3. Exoma:

  • O que é: O sequenciamento do exoma analisa todas as regiões codificantes dos genes (ou seja, os exons, que compõem cerca de 1-2% do genoma humano, mas contêm a maioria das mutações que causam doenças genéticas).

  • O que detecta:

    • Mutações pontuais (alterações em uma única base do DNA).

    • Pequenas inserções e deleções (indels).

    • Pode identificar algumas CNVs, dependendo do tipo de análise feita.

  • Limitações:

    • O exoma não analisa as regiões não codificantes do genoma (intronas ou regiões reguladoras), que também podem conter mutações relevantes.

    • Não detecta alterações cromossômicas grandes (para isso, o cariótipo ou o microarray são mais indicados).

    • Não detecta todas as CNVs de maneira tão abrangente quanto o microarray.

  • Usado para: Diagnóstico de doenças genéticas que envolvem mutações nos genes, como doenças monogênicas (ex.: fibrose cística, síndrome de Marfan, distrofias musculares). É especialmente útil quando outras análises, como cariótipo ou microarray, não encontram a causa da doença.

Conclusão:

  • Cariótipo: Ideal para detectar grandes alterações cromossômicas e aneuploidias. Usado em diagnóstico de síndromes cromossômicas e cânceres hematológicos.

  • Microarray: Excelente para detectar pequenas deleções e duplicações (CNVs), especialmente em pacientes com distúrbios do desenvolvimento, deficiência intelectual, ou síndromes genéticas sutis.

  • Exoma: É o exame mais detalhado para identificar mutações pontuais e pequenas alterações nos genes. Útil para diagnósticos de doenças genéticas causadas por mutações em genes específicos.

Esses testes são frequentemente complementares, e a escolha do teste depende da suspeita clínica e do tipo de alteração genética que se espera encontrar.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Magnésio e sono

O magnésio desempenha um papel fundamental na promoção do sono, pois está envolvido em várias funções corporais que ajudam a regular o ciclo do sono e promover o relaxamento. Aqui estão alguns dos principais motivos pelos quais o magnésio é benéfico para o sono:

1. Relaxamento Muscular e Redução do Estresse

O magnésio ajuda a relaxar os músculos, facilitando a transição para um estado mais calmo e propenso ao sono. Ele regula os níveis de neurotransmissores como o GABA (ácido gama-aminobutírico), que é um neurotransmissor inibidor responsável por acalmar o sistema nervoso. Quando o GABA está em níveis adequados, o corpo e a mente relaxam, facilitando o adormecimento.

2. Regulação do Ciclo Circadiano

O magnésio ajuda a manter o ritmo circadiano (ciclo de sono-vigília). Níveis adequados de magnésio podem ajudar o corpo a regular seus ciclos naturais de sono, permitindo que você durma melhor à noite e se sinta mais acordado durante o dia.

3. Redução da Insônia e Melhora na Qualidade do Sono

Estudos mostram que o magnésio pode ajudar a combater a insônia, especialmente em pessoas mais velhas ou com níveis mais baixos de magnésio. O magnésio melhora a qualidade do sono, reduzindo despertares noturnos e aumentando a profundidade e a duração do sono.

4. Redução da Ansiedade e Estresse

O magnésio pode atuar como um ansiolítico natural. Ao diminuir a atividade dos neurotransmissores excitatórios, como o glutamato, e aumentar a atividade dos inibitórios, como o GABA, ele ajuda a reduzir a ansiedade e o estresse, que são fatores que muitas vezes interferem no sono.

5. Melhora na Síndrome das Pernas Inquietas

A síndrome das pernas inquietas é uma condição que afeta o sono, caracterizada por sensações desconfortáveis nas pernas e uma vontade incontrolável de movê-las. O magnésio, por ajudar a relaxar os músculos, pode reduzir os sintomas dessa síndrome, melhorando a qualidade do sono.

6. Redução de Câimbras Noturnas

Muitas pessoas sofrem de câimbras musculares durante a noite, o que pode interromper o sono. O magnésio desempenha um papel importante na função muscular e pode ajudar a prevenir câimbras noturnas, promovendo um sono mais contínuo e reparador.

Como o Magnésio Funciona para o Sono?

- Níveis de Melatonina: O magnésio auxilia na produção de melatonina, o hormônio que regula o ciclo do sono.

- Equilíbrio de Cálcio: Ele também equilibra os níveis de cálcio no corpo, que é necessário para a função adequada dos músculos e nervos, ajudando a evitar espasmos musculares durante o sono.

Qual o Melhor Tipo de Magnésio para o Sono?

O magnésio glicinato e o magnésio inositol são formas diferentes de suplementos de magnésio, mas têm efeitos distintos, especialmente no que diz respeito ao sono. Aqui está uma explicação das diferenças:

Magnésio Glicinato: magnésio ligado à glicina, um aminoácido que tem efeitos calmantes no cérebro. Ajuda a relaxar os músculos e os nervos, enquanto a glicina promove o relaxamento e pode reduzir a ansiedade.

É conhecido por melhorar a qualidade do sono, ajudar com a insônia e facilitar o adormecimento. Pessoas com distúrbios do sono ou que experimentam estresse ou ansiedade costumam se beneficiar dessa forma. A dose inicial magnésio glicinato costuma ser de 200mg, 30 minutos a 1 hora antes de dormir.

Magnésio Inositol: combina magnésio com **inositol, um composto semelhante ao açúcar (também chamado de vitamina B8) que desempenha um papel importante na sinalização celular e na regulação do humor.

O magnésio inositol também pode ajudar no sono, mas age mais por meio de seus efeitos na regulação do humor e no estresse. O inositol é conhecido por ter propriedades ansiolíticas (anti-ansiedade) e pode ajudar a regular a serotonina, o que indiretamente apoia o sono, melhorando o bem-estar mental geral e reduzindo pensamentos acelerados ou mente hiperativa antes de dormir.

Essa forma pode ser mais útil para pessoas cujos problemas de sono estão relacionados ao estresse, ansiedade ou depressão leve. Ela ajuda a acalmar a mente e pode melhorar o sono ao longo do tempo, especialmente se a regulação do humor for um fator chave.

Geralmente recomenda-se uma dose de 200 mg a 350 mg de magnésio por dia, juntamente com 1 a 2 gramas (1.000 a 2.000 mg) de inositol, como nesta fórmula.

Precisa de ajuda? Marque aqui a sua consulta de nutrição online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/