Contraceptivos orais combinados (COCs) reduzem os níveis de androgênio. Em particular, os níveis sanguíneos de T, o andrógeno circulante mais potente nas mulheres, diminuem em até 50%. Três possíveis mecanismos podem ser responsabilizados por esse efeito:
supressão da síntese de andrógenos ovarianos;
aumento dos níveis de SHBG e
supressão da síntese de androgênio adrenal.
Cerca de 65-70% da testosterona (T) circulante é ligada e inativada pela globulina de ligação a hormônios sexuais (SHBG). A maioria dos 30% a 35% restantes está vinculada à albumina e apenas 0,5% a 3% representa a forma livre (T livre). Como a ligação de T à albumina é bastante fraca, os laboratórios consideram biodisponível tanto a T livre, quanto aquela ligada à albumina.
As concentrações muito baixas de T livre no sangue feminino (35-700 pmol/L ou 15 a 70 ng/L) são uma dificuldade adicional na obtenção de medições precisas. Portanto, o T livre é frequentemente calculado com base nas concentrações totais de T, SHBG e albumina.
Por que a testosterona baixa nas mulheres em uso de anticoncepcionais?
1o mecanismo
Para exercer seu efeito contraceptivo, os contraceptivos orais suprimem as gonadotrofinas. Baixos níveis de LH resultam em uma inibição da síntese de T dependente de LH pelas células da teca ovariana. Como a supressão de T já ocorre antes da queda dos níveis de LH, sugere-se que os esteroides contraceptivos possam ter um efeito inibitório direto na síntese de andrógenos ovarianos.
2o mecanismo
SHBG é uma proteína transportadora sintetizada pelo fígado. Sua síntese é estimulada por estrógenos e inibida por andrógenos. O componente estrogênico dos anticoncepcionais induz a produção hepática de SHBG de maneira dependente da dose, resultando em níveis sanguíneos circulantes elevados de SHBG. Consequentemente, mais T é ligado e inativado, resultando em níveis mais baixos de T livre e no índice de androgênio livre (que é uma medida de T biodisponível, ou seja, T livre e ligado à albumina). Este aumento de SHBG pode ser neutralizado pelo componente progestina do anticoncepcional. Assim, os contraceptivos orais que contêm progestina com atividade androgênica (como levonorgestrel) induzirão um aumento menos pronunciado da SHBG, enquanto que as progestinas com atividade anti-androgênica concomitante (como acetato de ciproterona) levarão a níveis mais altos de SHBG.
3o mecanismo
O terceiro mecanismo de ação que causa níveis mais baixos de andrógenos é o efeito inibitório dos anticoncepcionais na síntese de andrógenos adrenais. O mecanismo subjacente ainda não está estabelecido, mas foi sugerido que uma liberação reduzida do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e níveis aumentados de cortisol durante o uso do medicamento pode ser responsável pela redução das concentrações de androgênios suprarrenais.
Consequências da queda da testosterona em mulheres
A deficiência de T reduz o bem-estar e a qualidade de vida, gera alterações de humor (depressão, irritação, mau humor), perda de energia, distúrbios cognitivos, interferência no funcionamento sexual ideal, declínio da massa e força muscular e diminuição da densidade óssea (Zimmerman et al., 2014).
Piora do estado nutricional
O uso de anticoncepcionais orais aumenta o estresse oxidativo, reduz enzimas antioxidantes (GPx e GPr), eleva a inflamação (avaliada pela proteína C reativa ultra sensível e MDA) e depleta vários nutrientes como zinco, ácido fólico, selênio, magnésio, vitamina C, vitamina E, coenzima Q10 e vitamina B6. Vários desses micronutrientes são importantes para a produção de neurotransmissores, controlando emoções e compulsão alimentar.