Eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, genética e fertilidade

O eixo hipotálamo-hipófise-ovariano é um sistema endócrino fundamental para a regulação da fertilidade feminina. Ele envolve uma série de interações hormonais entre o hipotálamo, a hipófise (ou glândula pituitária) e os ovários, e é essencial para o desenvolvimento do óvulo, a ovulação e a manutenção do ciclo menstrual. Além disso, a genética desempenha um papel importante na regulação deste eixo e na fertilidade das mulheres.

1. Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano

O funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano envolve os seguintes passos:

  • Hipotálamo: O hipotálamo, localizado no cérebro, secreta o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que estimula a hipófise a liberar seus hormônios. A liberação do GnRH é pulsátil e segue um padrão específico para garantir a função reprodutiva.

  • Hipófise (Glândula Pituitária): A hipófise responde ao GnRH produzindo dois hormônios chave:

    • Hormônio folículo-estimulante (FSH): Estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos nos ovários.

    • Hormônio luteinizante (LH): Induz a ovulação, o processo em que o óvulo maduro é liberado do folículo ovariano.

  • Ovários: Os ovários respondem ao FSH e LH com a produção de hormônios sexuais femininos, como o estrógeno, a progesterona e a testosterona.

    • O estrógeno é responsável pela maturação dos folículos e pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias, enquanto a progesterona prepara o útero para uma possível gravidez após a ovulação. Quatro principais formas de estrogênio são encontrados em mamíferos: estrona (E1), estradiol (E2), estriol (E3) e estetrol (E4).

    • A progesterona também pode interferir na via do NF-kB para diminuir a resposta inflamatória ou induzir a transcrição de proteínas e fatores de crescimento que controlam a inflamação e promovem o reparo (Hall, & Klein, 2017).

A interação entre esses hormônios, em um ciclo menstrual de cerca de 28 dias, regula o ciclo reprodutivo feminino, desde a maturação do óvulo até a preparação do endométrio para a implantação de um embrião.

2. Genética e Fertilidade

A genética desempenha um papel crucial no controle do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, e as variações genéticas podem influenciar a fertilidade de diversas formas:

  • Genes relacionados à secreção de GnRH: Alterações genéticas que afetam a produção e liberação do GnRH podem resultar em distúrbios na liberação de FSH e LH, o que pode levar a problemas de ovulação e infertilidade.

  • Síndromes genéticas e anomalias cromossômicas:

    • Síndrome de Turner: Caracteriza-se pela falta parcial ou total de um cromossomo X, levando a falhas ovarianas prematuras e infertilidade.

    • Síndrome de Klinefelter: Embora afete homens, é importante em contextos de fertilidade, uma vez que pode levar a níveis anormais de hormônios sexuais.

    • Disfunções genéticas no cromossomo X podem afetar a função ovariana e, consequentemente, a fertilidade feminina.

  • Polimorfismos genéticos e resposta ovariana: Certos polimorfismos genéticos podem afetar a resposta do ovário a FSH e LH, alterando a qualidade dos óvulos e a reserva ovariana. Isso pode influenciar a fertilidade, especialmente com o avanço da idade.

  • Fertilidade e risco genético: Algumas condições genéticas podem aumentar a probabilidade de distúrbios reprodutivos, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que tem um forte componente genético, e pode afetar a produção hormonal, resultando em anovulação (ausência de ovulação) e dificuldades para engravidar.

  • Idade e genética: A qualidade dos óvulos diminui com a idade, em parte devido a alterações genéticas nos óvulos mais velhos. Essa diminuição é associada a um maior risco de doenças genéticas, como a síndrome de Down, em casos de gravidez tardia. Existem também variações genéticas, como MCM8 e MCM9 que contribuem para a menopausa precoce (Mirinezhad et al., 2021).

3. Distúrbios Comuns do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano e Fertilidade

Distúrbios hormonais ou genéticos ao longo deste eixo podem afetar a fertilidade, tais como:

  • Hipogonadismo hipogonadotrófico: Quando há uma falha na secreção de GnRH, resultando em baixos níveis de FSH e LH, o que impede a ovulação. Pode ser causado por fatores genéticos ou por distúrbios do hipotálamo.

  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP): Uma condição comum que envolve um desequilíbrio hormonal, afetando a ovulação, e tem uma forte ligação genética. Mulheres com SOP podem ter níveis elevados de andrógenos, impedindo a maturação normal dos óvulos.

  • Falência ovariana prematura: Quando os ovários param de funcionar antes dos 40 anos, frequentemente associada a distúrbios genéticos ou autoimunes.

4. Tratamentos para Distúrbios do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano

A manipulação do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano é fundamental para tratar problemas de fertilidade. Alguns tratamentos incluem:

  • Indução da ovulação: Em casos de anovulação, medicamentos como clomifeno ou gonadotrofinas podem ser usados para estimular a ovulação.

  • Terapia hormonal: Para mulheres com falência ovariana precoce ou com deficiência hormonal, a reposição de estrógenos ou progesterona pode ser necessária.

  • Tratamentos genéticos e diagnósticos: Para identificar e tratar problemas genéticos que afetam a fertilidade, como a fertilização in vitro (FIV) ou o diagnóstico genético pré-implantacional (PGT).

  • Nutrição: para a modulação de estradiol podemos usar alimentos como soja fermentada, linhaça, amêndoa, outras castanhas e sementes, abacate e suplementos, como ômega-3, vitamina D3, zinco, magnésio, vitamina E, selênio, cálcio, coenzima Q10, trevo vermelho, isoflavonas de soja. Para a modulação da progesterona podemos usar inhame, sementes de abóbora e amêndoas, abacate, azeite de oliva, aveia e suplementos como vitamina B6, colina, zinco, ômega-3, magnésio, vitex agnus castus.

Em resumo, o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano é central para a fertilidade feminina, e as condições genéticas podem afetar essa rede complexa, levando a dificuldades reprodutivas. A compreensão desse sistema e dos fatores genéticos associados é fundamental para diagnosticar e tratar problemas de fertilidade.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/