Disrupção da barreira hematoencefálica no transtorno bipolar

A barreira hematoencefálica (BHE) é uma interface estrutural e funcional complexa que regula firmemente a troca de moléculas entre sangue e cérebro. É formada por células endoteliais, ligadas entre si por proteínas de junções estreitas e cercadas por pericitos e processos de pés astrogliais. Essa estrutura complexa impede que moléculas nocivas no sangue entrem no cérebro, ao mesmo tempo em que facilita a entrada de nutrientes essenciais e a remoção de resíduos. O BHE é essencial para o funcionamento saudável do cérebro e sua disrupção tem sido associada a doenças autoimunes e condições neurológicas comuns.

O aumento na permeabilidade da BHE pode ser inferido indiretamente, pela presença de albumina ou urato no líquido cefalorraquidiano. Estas moléculas deveriam estar no sangue e não no cérebro ou no fluido cerebroespinhal. Altos níveis desses marcadores são associados com maior declínio cognitivo, depressão, ideação suicida e transtornos de humor.

Causas da disrupção da barreira hematoencefálica

  • Inflamação sistêmica - associada a lesões na microvasculatura cerebral.

  • Disbiose intestinal - permite o vasamento de macromoléculas e PAMPs para a corrente sanguínea.

  • Lesões cranianas.

  • Estresse reduz a regulação da proteína de junção estreita claudina-5 e aumenta a passagem de IL-6 através da BHE.

  • Resistência insulínica e glicação também reduzem a expressão de claudina-5.

Disfunção da Barreira Hematoencefálica no transtorno bipolar

Pacientes com transtorno bipolar apresentam mais resistência insulínica cerebral, neuroinflamação e hiperpermeabilidade da BHE, agravando a disfunção neuronal, o envelhecimento cerebral e o comprometimento cognitivo em muitos pacientes.

Uma vez que a BHE é rompida, as células microgliais e astrocíticas do cérebro passam por uma transformação neuroinflamatória, envolvendo a ativação da via TGFβ e posterior secreção de citocinas. A cascata astrocítica do TGFβ resulta na redução do tamponamento do glutamato extracelular e na geração de novas sinapses excitatórias. Juntas, essas mudanças resultam em uma reorganização da rede neural, uma mudança que favorece a hiperexcitação e o dano neuronal mediado pelo glutamato.

Notavelmente, cada etapa da cascata neuroinflamatória pode contribuir para ainda mais para a disfunção da barreira hematoencefálica, criando um ciclo de feedback positivo auto-reforçado que também pode amplificar a disfunção neuronal subsequente.

As cascatas de sinalização neuroinflamatória também podem amplificar a desregulação circadiana em pacientes com transtorno bipolar, favorecendo a produção de quinurenina (e ácido quinolínico), redução de serotonina e melatonina. Essas vias demonstram a estreita interação entre a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), inflamação sistêmica, neuroinflamação e neuroprogressão do transtorno bipolar, com a BHE sendo a interface entre os processos/manifestações sistêmicos e do SNC.

Como proteger o cérebro de pessoas com transtorno bipolar?

Dado que a disfunção de barreira em pacientes bipolares pode ser agravada por inflamação sistêmica e resistência insulínica, indica-se uma dieta com restrição de carboidratos, às vezes cetogênicas, de características antiinflamatórias e suplementada com fibras prebióticas para uma boa microbiota intestinal. Escrevi neste outro artigo sobre a importância da modulação intestinal no transtorno bipolar. A resistência insulínica periférica pode ser estimada e monitorada pela equação HOMA-IR.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/