SCA3, ou Ataxia Espinocerebelar Tipo 3, é um distúrbio neurodegenerativo que afeta o movimento e a coordenação. Alguns estudos sugeriram que pode haver uma conexão entre SCA3 e o metabolismo glicolítico, que é o processo pelo qual a glicose é quebrada para produzir energia. Especificamente, propõe-se que anormalidades na via glicolítica possam contribuir para o desenvolvimento e a progressão da SCA3. No entanto, os mecanismos exatos pelos quais isso ocorre ainda não são completamente entendidos.
Há pesquisas em andamento sobre a relação entre SCA3 e o metabolismo glicolítico, com o objetivo de desenvolver novos tratamentos e intervenções para essa condição debilitante. Alguns possíveis alvos terapêuticos incluem enzimas e proteínas envolvidas na glicólise, que podem ser direcionadas com pequenas moléculas para ajudar a restaurar a função metabólica normal. Enquanto medicamentos não tornam-se disponíveis, a alternativas dietéticas devem ser consideradas.
Fisiopatologia da SCA3 e modulação dietética
A sirtuína 1 (SIRT1) parece estar reduzida no cérebro de portadores da doença. Sirtuínas são enzimas dependentes de NAD+ capazes de retardar o envelhecimento. A SIRT1 desempenha um papel neuroprotetor, diminui a atrofia muscular espinhal e bulbar. SIRT1 pode ser estimulada por resveratrol e restrição calórica.
Mas estudo de 2016 demonstrou que a restrição calórica resgata a transcrição e os níveis desta proteína associada à longevidade e à redução da neuroinflamação. O mesmo foi realizado em camundongos e mostrou melhorias na coordenação, trazendo novas hipóteses para intervenções e estudos em humanos (Cunha-Santos, et al., 2016). O resveratrol, é um pigmento roxo, com ações antiinflamatórias, capaz também de elevar a SIRT1, assim como o jejum (Mohar & Malik, 2013; Hayashida et al., 2010). Pode ser suplementado em altas doses. Marque uma consulta caso necessite de orientação.
Outro alvo é o neuropepídio Y (NPY), um modulador da comunicação entre o sistema nervoso e o sistema imune. O NPY também contribui para a neurogênese e atenua a neuroinflamação (Duarte-Neves, Almeida e Cavadas., 2016). Evidências recentes mostram que toda doença que cursa com elevado estresse oxidativo pode beneficiar-se do jejum. Este é o caso da doença de Machado-Joseph (Pacheco et al., 2013).
A dieta antiinflamatória também é fator essencial na redução da neuroinflamação. O consumo de nozes, por exemplo, vem sendo investigado, na modulação do estresse oxidativo no sistema nervoso. Nozes são ricas em fitoquímicos antiinflamatórios capazes de melhorar a sinalização nervosa, aumentar a neurogênese e sequestar agregados de proteínas tóxicas (Poulose, Miller e Shukitt-Hale, 2014).
O chá verde também vem sendo muito investigado pelos efeitos antioxidantes (catequinas neutralizam radicais livres e previnem a oxidação de lipídios nas membranas do cérebro), efeito quelante de metais pesados, capacidade de reduzir marcadores inflamatórios associados à neuroinflamação, reduzir a agregação de proteínas mal dobradas no cérebro e a neurotoxicidade, manter vasos do cérebro elásticos e saudáveis (Kakutani, Watanabe e Murayama, 2019).
Na clínica, os efeitos da dieta no combate ao estresse oxidativo e à neuroinflamação podem ser avaliados indiretamente, por meio de exames laboratoriais. Considera-se ideal: hemoglobina glicada abaixo de 5%, insulina de jejum abaixo de 5 µUI/mL, Homa-IR abaixo de 1,2, ácido úrico abaixo de 3,9 mg/dL, proteína C-reativa até 1 mg/L, relação apoB:apoa1 até 0,6.
Para atingir os valores acima alguns pacientes precisarão adotar uma dieta com características mais cetogênicas. Um estudo publicado em 2022 mostrou que a suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM) na quantidade de 18g ao dia, por 3 meses, melhorou a marcha e o equilíbrio de pacientes idosos. Isto foi devido ao metabolismo da glicose suprimido no córtex sensório-motor no cérebro. Além disso, ressonância magnética e PET com 18F-fluorodeociglicose também confirmaram o aumento da conectividade funcional do hemisfério cerebelar ipsilateral (Mutoh et al. 2022).
Basicamente, o cérebro estava funcionando melhor e isso se traduziu em melhor movimento físico. Os MCTs (triglicerídeos de cadeia média) são únicos em comparação com outras gorduras, pois são rapidamente convertidos em corpos cetônicos. As cetonas são pequenas moléculas solúveis em água que são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica. Eles fornecem mais energia por unidade de oxigênio e produzem menos resíduos metabólicos, daí sua reputação como um supercombustível para o cérebro.
Conforme envelhecemos o uso de glicose para o cérebro torna-se menos eficiente. Por isso, açúcares e carboidratos simples devem ser reduzidos e corpos cetônicos aumentados. Uma forma de estimular a produção de corpos cetônicos é pela dieta cetogênica suplementada com TCM.
Estudo publicado em 2018 investigou o potencial de uma dieta cetogênica para melhorar a função motora e cognitiva em um modelo de camundongo com SCA3. Os resultados sugeriram que a dieta cetogênica pode ter alguns benefícios terapêuticos para o tratamento da ataxia SCA3, embora sejam necessárias mais pesquisas em humanos para confirmar esses achados (Guyenet et al., 2018).
A dieta cetogênica restringe muito carboidratos e deve ser supervisionada por nutricionista, para que o paciente não desenvolva deficiências nutricionais. Além disso, a dieta cetogênica não substitui os demais tratamentos, incluindo medicações e fisioterapia.