Quando o revestimento do intestino é danificado e se torna muito poroso, partículas de alimentos mal digeridos e outras substâncias podem vazar e entrar na corrente sanguínea. Intestino permeável é o termo frequentemente utilizado para descrever este fenômeno.
As células que revestem o interior do intestino são dinâmicas. Elas se desprendem e são substituídos a cada quatro a sete dias. Essa rotatividade constante apresenta uma oportunidade para a formação de ‘buracos’ na barreira”. A barreira intestinal não é impenetrável e não deveria ser, precisa deixar passar carboidrato, proteína, lipídios, água, vitaminas, minerais. O problema é quando está permeável demais, deixando passar o que não deve.
Quando toxinas, PAMPS (padrões moleculares associados a patógenos) ou particulas de alimentos chegam à corrente sanguínea, o sistema imune é ativado, antes que tenhamos uma infecção e inflamação generalizada. Pessoas com um intestino que funciona mal podem ter mais inchaço, náuseas, cólicas, diarreia ou constipação. Além disso, a entrada de substâncias estranhas na corrente sanguínea pode causar sintomas sistêmicos como dores de cabeça, erupções cutâneas, fadiga, dores nas articulações, transtornos de humor, ansiedade e depressão, alterações comportamentais, confusão mental, artrite e alergias. Esses sintomas amplos podem dificultar a identificação do problema.
Fatores de risco para a hiperpermeabilidade intestinal
Qualquer pessoa pode desenvolver permeabilidade intestinal aumentada, embora existam algumas pessoas cuja genética torna o trato digestivo mais sensível. Doenças inflamatórias intestinais, sensibilidade ao glúten, doença celíaca, infecções gastrointestinais frequentes, síndrome do intestino irritável, dieta pobre em fibras, rica em açúcares e processados, uso excessivo de álcool, uso de anti-inflamatórios não esteroidais (como ibuprofeno) são todos fatores que aumentam o risco de hiperpermeabilidade intestinal. O prolema costuma ser maior em pessoas com autismo (36%) em comparação a pessoas neurotípicas (4,8%).
O aumento da permeabilidade intestinal tem sido associado a um risco aumentado de desenvolver várias outras condições autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, artrite, lúpus e diabetes. O intestino permeável também pode aumentar as chances de desenvolvimento de outras condições relacionadas ao crescimento excessivo de patógenos, como candidíase e outras infecções fúngicas, infecções bacterianas como gastrite por Helicobacter pylori. O intestino permeável também pode levar a deficiências nutricionais, predispondo a pessoa a outros problemas de saúde.
Como avaliar o que está acontecendo no intestino?
Um exame comumente utilizado para avaliar a hiperpermeabilidade intestinal é o nível de zonulina fecal. Falei deste exame neste outro artigo. Existe também a possibilidade de avaliação do nível de zonulina no sangue. Estes costumam ser significativamente maiores em pacientes com autismo e há correlação entre os níveis de zonulina e a gravidade do transtorno do espectro autista (Esnafoglu et al., 2017; Karagözlü, Daigiç, İşeri, 2021; Kara et al., 2021).
Lidando com a síndrome do intestino permeável
O tratamento da hiperpermeabilidade não é um medicamento, mas a mudança no estilo de vida. Alimentos que danificam o intestino devem ser removidos, assim como toxinas, estressores e medicamentos. Alimentos ultraprocessados e alérgenos serão substituídos por uma dieta muito mais natural. Exames de alergia e genéticos ajudam a guiar o nutricionista na decisão sobre a exclusão de laticínios, alimentos contendo glúten, açúcar etc.
Reinocular o intestino com bactérias boas, fibras prebióticas, substâncias pós-bióticas pode ajudar o processo de recuperação. Alguns suplementos como vitamina D, ômega-3, L-glutamina, arginina, vitaminas e minerais também podem ser usados. Manter boa hidratação e evitar álcool também melhora a qualidade do intestino. Falo do passo a passo do tratamento intestinal no curso online sobre o tratamento da disbiose.