O transtorno bipolar (TB) é uma condição mental debilitante, caracterizado por distúrbios do humor que compreendem períodos de mania, depressão e eutimia (equilíbrio do humor). A prevalência de TB ao longo da vida é de cerca de 5,5 a 7,8% na população geral.
Uma variedade de fatores genéticos, bioquímicos e ambientais parecem estar envolvidos na patogênese do TB. Atualmente, o diagnóstico depende do reconhecimento subjetivo dos sintomas clínicos. Infelizmente, métodos objetivos (como análises sanguíneas, urinárias ou de neurotransmissores) não encontram-se disponíveis. Contudo, grupos de pesquisa tem estudado biomarcadores que possam facilitar o diagnóstico e tratamento.
Dentre os biomarcadores encontram-se modificações de genes e da transcrição do RNA e moléculas produzidas durante o metabolismo alterado. A transcriptomica é o estudo do transcriptoma, ou seja, do conjunto completo de todas as moléculas de RNA (ácido ribonucléico) expressa em uma célula, tecido ou organismo.
A transcriptômica aborda todos os tipos de transcrições, incluindo RNAs mensageiros (mRNAs), microRNAs (miRNAs) e diferentes tipos de RNAs não codificadores longos (lncRNAs). Além disso, o estudo é voltado para tudo que envolve RNAs, níveis de transcrição e expressão, funções, localizações e degradação. Modificações na expressão de genes e transcrição do RNA são observadas no transtorno bipolar (Salvetat et al., 2022).
A metabolômica investiga principalmente as mudanças de produtos do metabolismo, pela análise de pequenas moléculas. Nos últimos anos, esta ciência tem evoluído na área psiquiátrica, com a análise do cérebro de pacientes que foram a óbito e também pela análise do líquido cefalorraquidiano de pacientes vivos com diagnóstico de transtornos psiquiátricos e neurológicos. Comparando-se aos valores de pessoas sem estes transtornos, resultados preliminares indicam aumento de ácido isocítrico em indivíduos com TB.
Contudo, dificilmente um único metabólito pode explicar uma doença complexa como a TB. Atualmente, análises mais robustas avaliam o metabolismo da glicina, serina e treonina e o metabolismo do piruvato, cuja alteração parece apresentar alta correlação com a depressão bipolar (Ren et al., 2020).
Por exemplo, o nível de lactato em TB parece significativamente aumentado em relação às pessoas controles saudáveis, enquanto a α-glicose foi diminuída, indicando que o metabolismo energético pode ser perturbado em pacientes com depressão bipolar. A glicose é a principal fonte de energia para o cérebro, enquanto o lactato é o produto final do metabolismo da glicose em condições anaeróbicas. Estas alterações sugerem um distúrbio do metabolismo energético no TB. A deficiência de energia pode estar relacionada aos sintomas depressivos mais comuns, como diminuição da atividade, fadiga física e diminuição da função cognitiva.
A atividade física intensa gera maior produção de lactato e nos pacientes com TB, isto pode ser um gatilho para episódios maníacos. Atividades físicas de intensidade leve a moderada (como caminhadas) e yoga devem ser prioridade. O excesso de lactato também está ligado problemas de fluxo sanguíneo e oxigenação. Por isto, também é comum que os pacientes tenham comorbidades como síndrome de raynald, taquicardia, fibromialgia, dificuldade de respiração, formigamento. Suplementos que podem ajudar neste caso incluem gingko biloba e ômega 3, com o intuito de melhorar o fluxo sanguíneo.
Além do fluxo sanguíneo alterado são muitas as questões a serem pesquisadas e tratadas no TB, como disfunção mitocondrial, estresse oxidativo aumentado, inflamação, disfunções neuroendócrinas, alterações do microbioma intestinal etc. Paineis genéticos mais amplos nos ajudam a entender as especificidades de cada paciente.
INTESTINO E TRANSTORNO BIPOLAR
O óxido de trimetilamina (TMAO) é outro metabólito estudado. Quando baixo indica disbiose intestinal. Evidências acumuladas sugerem que a diversidade da microbiota intestinal no TB está diminuída. Análises metabonômicas da urina também demonstram a relação entre a microbiota intestinal e comportamentos do tipo depressivo, mostrando a importância da modulação intestinal nestes pacientes.
LISTA DE ESPERA PARA O CURSO DE MODULAÇÃO DIETÉTICA NO TRANSTORNO BIPOLAR