Exercicio, mitocôndrias e microbiota

Quem se exercita mais, respira mais e produz mais radicais livres. Mas se adequadamente treinado e com dieta adequada, o corpo adapta-se. Os atletas têm duas fontes principais de radicais de oxigênio e nitrogênio: a cadeia de transporte de elétrons mitocondrial e as células epiteliais intestinais e seus neutrófilos.

Indivíduos mal treinados e atletas que treinam exageradamente correm maior risco de sofrer de estresse oxidativo. O excesso de radicais livres pode causar danos induzidos por radicais de oxigénio (ROS), aumentando as mutações no DNA, encurta o comprimento dos telômeros, altera a biogênese mitocondrial, aumenta o risco de lesões e acelera o envelhecimento.

A liberação excessiva de hormônios do estresse que os atletas supertreinados experimentam, bem como o aumento da captação de oxigênio corporal podem gerar espécies reativas de oxigênio (EROs) e espécies reativas de nitrogênio (ERNs) nos tecidos.

Além disso, a hiperpermeabilidade intestinal induzida pela isquemia (redução do fluxo sanguíneo e oxigenação local) pode induzir a translocação de lipopolissacarídeos bacterianos (LPS), uma cascata inflamatória e geração de mais e mais radicais livres.

A inflamação compromete o metabolismo da glicose nas mitocôndrias e produção elevada de ROS. Além disso, os patobiontes (ou seja, bactérias como Fusobacterium, Veillonella e Atopobium parvulum) podem produzir sulfeto de hidrogênio (H2S) e óxido de nitrogênio (NO), o que favorece a proliferação infecciosa e inflamação.

Atletas que realizam exercício com muito impacto podem ter células intestinais afetadas. Isto gera uma disfunção mitocondrial. Como as mitocôndrias participam na detecção de microrganismos infecciosos e danos celulares para ativar as respostas imunes inatas, a disfunção prejudica a proteção da barreira intestinal e resposta imune da mucosa. Isso facilita a entrada de antígenos bacterianos pelo epitélio, gerando uma resposta imune.

As mitocôndrias se replicam durante o exercício de resistência, de modo que o DNA mitocondrial pode acumular mutações que eventualmente comprometem suas funções essenciais, incluindo a homeostase intestinal.

A dieta variada é fundamental para a microbiota. Muita gente tem medo de consumir cereais. Contudo, os mesmos contém compostos bioativos que protegem mitocôndrias e favorecem um intestino muito mais saudável (Wang et al., 2021). Não restrinja sua dieta desnecessariamente. Cardápios monótonos geram menos prazer, reduzem a adesão à dieta, desnutrem e podem comprometer sua saúde.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/