Deficiência e excesso de cobalamina (vitamina B12)

A B12 (cobalamina) é uma vitamina hidrossolúvel obtida a partir de alimentos como carnes, ovos e laticínios. Do total consumido por onívoros (cerca de 2,4 μg de vitamina B12 por dia), apenas 50 a 60% são absorvidos. Esta absorção depende da saúde gástrica, intestinal e da capacidade de produção de transportadores (transcobalamina 1, 2 e 3).

Cbl = cobalamina. HC = Haptocorrina ou transcobalamina 1. IF = fator intrínseco

Ao atravessar a borda em escova intestinal, a vitamina B12 dissocia-se do FI e entra na circulação onde se liga à transcobalamina II ou novamente à haptocorrina. A transcobalamina II e a haptocorrina são responsáveis pela entrega de cobalamina aos tecidos periféricos e ao fígado, respectivamente. Após o transporte para os tecidos periféricos, a vitamina B12 livre é gerada e utilizada no ciclo do 1-carbono. Junto com a vitamina B9 (metilfolato), recicla homocisteína em metionina. Outra reação dependente de vitamina B12 é a conversão de metilmalonil CoA em succinil CoA pela metilmalonil CoA mutase, dentro da mitocôndria.

DEFICIÊNCIA DE COBALAMINA

Após a absorção, grandes quantidades de vitamina B12 são armazenadas no fígado; conseqüentemente, qualquer redução na ingestão de vitamina B12 pode levar de 5 a 10 anos para se manifestar clinicamente. Mesmo assim, nos estudos mundiais a deficiência de cobalamina atinge entre 4 e 20% da população.

A deficiência pode ser causada pela destruição autoimune das células parientais do estômgao, responsáveis pela produção do fator intrínseco. Contudo, as causas mais comuns são desnutrição, envelhecimento (com hipocloridria), uso de antiácidos, gastrectomia, uso de metformina ou antihistamínicos-H2, baixa ingestão de B12 (como nos veganos), SIBO, doença celíaca, doença de Crohn e consumo excessivo de álcool.

Os critérios diagnósticos para deficiência incluem cobalamina sérica <148 pmol/l (200 ng/l) na presença de sinais e sintomas e/ou índices hematológicos de deficiência de vitamina B12, ou uma cobalamina sérica <148 pmol/l em conjunto com homocisteína sérica elevada (especialmente acima de 15 μmol/l) ou ácido metilmalônico (MMA) elevado (acima de 0,27 μmol/l).

Níveis de cobalamina falsamente baixos podem ocorrer na deficiência de folato, deficiência de haptocorrina, mieloma múltiplo e terapia contraceptiva oral.

A falta de vitamina B12 é caracterizada por efeitos hematológicos e neurológicos, variando de manifestações mais leves, como fadiga e parestesia (sensação de formigamento) a características graves, como depressão, delírio, psicose, pancitopenia (redução de células sanguíneas) e degeneração da medula espinhal.

O tratamento padrão ouro para a deficiência é a administração de cobalamina intramuscular. Para aqueles sem envolvimento neurológico, o esquema usual é hidroxocobalamina 1 mg em dias alternados por duas semanas, seguido de injeções trimestrais de hidroxocobalamina 1 mg. Este regime deve ser administrado por toda a vida se a causa for a anemia perniciosa.

Se a deficiência for devida a outra causa, o tratamento deve continuar até que seja observada uma melhora sustentada nos índices hematológicos. Investigações gastroenterológicas são necessárias se houver suspeita de má absorção, câncer gástrico doença de Crohn ou doença celíaca.

Frequentemente, o manejo das condições subjacentes, como o fornecimento de antibióticos para supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO) e a interrupção dos medicamentos desencadeantes, podem ser úteis.

A melhora duradoura nos níveis séricos de cobalamina também é observada após a administração diária de 2.000 μg via oral, por 4 meses. Embora a via oral não seja adequada para o tratamento da anemia perniciosa, a mesma pode ser considerada uma opção para manutenção (a partir de 50 mcg) ou correção da deficiência assintomática de vitamina B12.

EXCESSO DE COBALAMINA

Níveis séricos elevados de vitamina B12 são um achado comum (valores variando de 350 a 1.200 pmol/l), com prevalência de até 14% em pacientes hospitalizados e até 50% em idosos pacientes internados.

Uma elevação nos níveis séricos de vitamina B12 pode resultar do aumento da ingestão oral ou parenteral, diminuição da captação pelo fígado ou rim, maior liberação pelos hepatócitos, aumento da síntese de transcobalaminas por hepatócitos ou granulócitos. Além disso, distúrbios hepáticos e hematológicos e outras doenças malignas podem causar um nível elevado de B12 como uma característica reativa (como uma proteína de fase aguda). Tenho dois artigos anteriores aqui no blog sobre excesso de B12 (post 1, post 2)

Na última década, tem havido interesse significativo no uso de cobalamina como marcador de mortalidade, pois estudos demonstraram uma associação entre altos níveis de vitamina B12 e mortalidade em pacientes idosos hospitalizados, bem como naqueles internados em terapia intensiva. Indica-se que a causa do excesso seja sempre investigada.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/