Você está com medo da prova que irá fazer amanhã, do cachorro do vizinho, medo de envelhecer, medo de ser assaltado ou qualquer outro medo. O que você come no jantar? Brócolis ou pizza? Sopa de legumes ou bolo com recheio e cobertura de chocolate? Suco verde ou batata frita com refrigerante? Provavelmente comerá algo bem calórico para se encher de energia e sair correndo do cachorro, se for o caso. O cachorro é bem real mas inventamos tantos outros medos, vivemos projetando o que será de nós no futuro. Isso altera nossa fisiologia, a neurotransmissão e a fome. Vamos entender essa relação?
Cérebro e intestino estão ligados. Isso a gente já sabe (se não, leia aqui). Existe um tipo de célula específica no sistema gastroentérico, denominado célula L. Este tipo de célula enteroendócrinas produz e secreta vários polipeptídeos, principalmente no íleo (parte final do intestino delgado) e no cólon (intestino grosso). As células L têm funções em motilidade e secreção gastrointestinal, absorção, defesa imunológica local, proliferação celular e apetite.
As células L enteroendócrinas tem uma de suas extremidades no lúmen do intestino e a outra atingindo a lâmina própria intestinal. É eletricamente excitável e usa potenciais de ação para codificar e transmitir sinais e modular diretamente a secreção de 4 substâncias:
Peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) (Enteroglucagon) - estimula a secreção de insulina e inibe a secreção de glucagon, reduz a ingestão de energia e aumenta a saciedade.
Peptídeo tipo glucagon tipo 2 (GLP-2) (Enteroglucagon) - regula a motilidade gástrica, a secreção de ácido gástrico, o transporte intestinal de hexose e aumenta a função de barreira do epitélio intestinal.
Peptídeo YY (PYY) - modulador endócrino, retarda esvaziamento gástrico. Também está intimamente envolvido na secreção de insulina e na homeostase da glicose.
Oxintomodulina (OXM) - aumenta a saciedade, reduz a ingestão de alimentos, ajudando a controlar o peso corporal e a adiposidade.
Melhore a composição intestinal para modular células L, secreção de GLP-1 e reduzir compulsão alimentar
Meditar, praticar yoga, reduzir o estresse ajudam a melhorar a função intestinal. Por exemplo, ensaios clínicos controlados demonstram a eficácia da prática de yoga para o tratamento da depressão leve. Isto se dá justamente porque as técnicas relaxam e aumentam o GABA no cérebro em até 27% (Streeter et al., 2010). O aumento do GABA faz a ansiedade baixar (Craft e Perna, 2004), sendo uma ótima opção não medicamentosa para o tratamento da ansiedade e depressão leve.
Outra questão é cuidar do intestino. Algumas estratégias melhoram a composição intestinal e ajudam a aumentar GLP-1. A primeira coisa é adotar uma dieta bem rica em fibras. Grãos ricos em fibras (como quinoa), nozes e também fibras prebióticas modulam a composição intestinal. Gorduras boas (como abacate, ômega-3) e proteínas (iogurte, peixes, ovos, whey protein) também parecem influenciar positivamente a secreção de GLP-1, ajudar a reduzir compulsão alimentar, além do risco de diabetes. Por fim, podemos conversar na consulta sobre o uso de probióticos. Pesquisas preliminares sugerem que os mesmos podem aumentar os níveis de GLP-1 e melhorar a saúde como um todo.