Empresas como Coca-Cola, Pepsico, Kraft, Unilever, General Mills, Nestlé, Mars, Kellogg, Proctor & Gamble e Johnson & Johnson sempre patrocinaram pesquisas na área de nutrição. Já fui em congresso em que lobistas da pepsi estavam ali especificamente para rebater arrogantemente e agressivamente cientistas que mostravam dados correlacionando o consumo de refrigerantes com várias doenças.
Em 1965, essas corporações levantaram a hipótese de que alimentos ultraprocessados seriam melhores do que alimentos reais. As mães eram aconselhadas a não amamentar e fornecer fórmulas infantis "muito superiores". Gerações de crianças conviveram com o aumento da asma, da obesidade, de alergias evitáveis, de problemas intestinais...
Um alimento ultraprocessado é aquele produzido em massa (para enriquecer a indústria e não sua saúde. Costuma ser cheio de corantes e conservantes para que possam durar bastante e exportados para todo canto do planeta. Costumam ter muito menos fibras, ômega-3, vitaminas, minerais, antioxidantes, além de um excesso de aminoácidos, açúcar ou adoçante, emulsificantes, gorduras ruins, sal, frutose ou nitratos.
A coca-cola diet não salvou o mundo da obesidade. Os shakes para emagrecimento também não. Podemos sim consumir estes alimentos em momentos especiais, de festas, de viagens. Imagine mandar frutas e verduras frescas para uma região em guerra. Impossível. Aí entram os empacotados, enlatados e outros alimentos que duram muito. Há sim os momentos em que queremos tomar um sorvete, comer um chocolate. Mas no dia a dia não engane-se: estes alimentos não te deixarão no seu melhor.
Características principais da alimentação saudável e sustentável
Aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida do bebê.
Alimentação nutricionalmente adequada à base de plantas. A alimentação de base vegetal pode variar muito (não implica ser necessariamente vegetariana, mas adota quantidades reduzidas de produtos de origem animal.
Dieta que evita a exploração excessiva de recursos.
Ausência ou mínimo de patogenos, toxinas, contaminantes, antibióticos, hormônios, agrotóxicos e plásticos nos alimentos ou na sua produção.
Beber água limpa e segura, ao invés de refrigerantes, energéticos e sucos industrializados.
Reduzir drasticamente perdas e desperdício de alimentos.
Existem vários padrões alimentares saudáveis e sustentáveis
Alguns são veganos, outros são padrões alimentares flexitarianos (semelhante ao piscitariano, mas com produtos de origem animal em moderação), piscitariano (semelhante ao vegetariano, mas com pescado), vegetariano (com leites ou ovos)... Em todos, reinam as plantas. Os padrões alimentares de base vegetal convergentes com a sustentabilidade, como o Mediterrânico, Nórdico, e DASH são extensivamente associados a mais saúde e longevidade, menos mortalidade e risco de doenças não-transmissíveis (DNT).
É importante recordar que um padrão de alimentação de base vegetal não é obrigatoriamente saudável, como sucede quando se exagera em cereais refinados, batatas fritas, sal, óleos, bebidas ou produtos açucarados. Assim, as escolhas alimentares que fazemos podem ser saudáveis e sustentáveis, não saudáveis e sustentáveis, ou saudáveis, mas não sustentáveis. Por isso, é importante ter ajuda de nutricionista para evitar preocupações com eventuais défices nutricionais (por exemplo, de vitaminas B12 ou D, cálcio, ferro ou zinco), nomeadamente nos grupos de indivíduos mais vulneráveis.
Base da alimentação saudável e sustentável:
– A nível do planeta, tem baixo impacto ambiental, preserva a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas, e para tal, modifica a produção, tecnologia, distribuição e marketing nos sistemas alimentares, criando mecanismos de legislação e rotulagem, alinhados entre diferentes setores governamentais;
– A nível humano, promove saúde e bem-estar físico, mental e social; garante acessibilidade e segurança alimentares; respeita a aceitabilidade, cultura, culinária, gastronomia, e as formas tradicionais de produção e consumo de cada região; e tem custo adequado para todos.