Autofagia cerebral para prevenção da demência

Existem vários tipos de demência, sendo a forma mais comum a doença de Alzheimer. A demência caracteriza-se por um declínio no pensamento (cognição) somada a um declínio na capacidade de realizar atividades cotidianas, como as atividades domésticas, as rotinas de trabalho ou mesmo o uso dos meios de transporte. Tem início na idade adulta e além de afetar a memória pode gerar dificuldades na organização de informações, linguagem, raciocínio lógico ou matemático, percepção ou julgamento.

Quando um indivíduo sofre de demência, os neurologistas determinam se é Alzheimer pela presença de placas amilóides e emaranhados neurofibrilares no cérebro. As placas consistem em um acúmulo de peptídeos amilóides e os emaranhados são compostos principalmente por uma proteína chamada TAU. No entanto, cerca de 20 por cento dos indivíduos com placas não desenvolvem demência, então parece que estes são um sintoma, mas não uma causa da doença.

Pesquisas mostram diferentes tipos (isômeros) de TAU no cérebro das pessoas com e sem demência (Hubbard et al., 2022). Pessoas que possuem TAU alterada no cérebro precisam estimular a autofagia, que é justamente o processo natural de eliminação de proteínas defeituosas. A capacidade de autofagia diminui com a idade mas pode ser estimulada por meio de jejum, atividade física, sono de qualidade, consumo de antioxidantes como resveratrol, curcumina, EGCG presentes nas uvas roxas, no açafrão e no cá verde.

As células cerebrais são altamente dependentes do processo de autofagia para proteção dos neurônios e prevenção de doenças neurodegenerativas. Além de destruir células velhas e gastas, o processo de autofagia também remove bactérias e vírus, descarta proteínas mal dobradas, quebrando-as em aminoácidos e reciclando-os.

Uma proteína mal dobrada é aquela que se tornou defeituosa e deformada. Algumas proteínas mal dobradas começam a se agrupar em agregados. Os neurônios são altamente suscetíveis à agregação de proteínas, o que é uma indicação de morte do neurônio. Emaranhados de TAU e placas Aβ são exemplos dessas proteínas rebeldes e são características da doença de Alzheimer.

Simplesmente evitar lanches desnecessários entre as refeições e comer apenas quando estiver com fome, é o suficiente para imitar os padrões alimentares de seus ancestrais ancestrais e desencadear a autofagia. Um longo jejum noturno, começando com uma refeição no início da noite e terminando com um café da manhã tardio ou almoço, é uma forma eficiente e (para a maioria das pessoas) administrável de jejum.

Genética pode alterar capacidade de autofagia

Autofagia é o processo de degradação e limpeza de detritos inertes da célula. É um processo extremamente importante e apresenta muitas funções, entre elas mediar a degradação lisossomal e a depuração de bactérias intracelulares.

O comprometimento da autofagia leva ao acúmulo anormal de "lixo" celular que acabará afetando o organismo, aumentando o risco de doenças neurológicas e imunológicas, Diabetes Melitus tipo 2 e doença gordurosa não alcóolica do fígado (esteatose hepática), por exemplo.

O gene ATG16L1 codifica uma proteína que é um componente vital de um complexo protéico necessário para a autofagia. Vários estudos demonstraram que NOD2 interage com ATG16L1 e que a expressão de variantes associadas a doença de Chron interrompe a associação entre essas proteínas, prejudicando a eliminação bacteriana e a apresentação de antígenos.

O alelo G do polimorfismo rs2241880 ou rs10210302 do ATG16L1 aumenta a suscetibilidade à clivagem da caspase-3 e reduz sua função, aumentando o risco de doença de Chron. Neste caso, sugere-se o consumo adequado de curcumina, inositol, catequinas, resveratrol, cafeína, jejum intermitente de 12 a 15 horas e restrição calórica, mediante orientação de nutricionista. É interessante também monitorar níveis de glicose, insulina e hemoglobina glicada.

Por que o jejum faz bem ao cérebro?

O hormônio insulina é a chave para a autofagia. A insulina é liberada pelo pâncreas quando os alimentos, principalmente carboidratos, entram no estômago. Cereais e outros grãos amiláceos, pão, massas, doces, arroz, batatas e lanches doces e salgados contém carboidratos. Quando você produz insulina após consumir estes alimentos, a autofagia é interrompida. Mas quando você jejua, a produção de insulina é interrompida e o processo de limpeza começa. Com isso, a agregação de proteína neuronal é reduzida e a espessura da bainha de mielina (capa protetora que envolve neurônios) é aumentada.

O jejum também ajuda a aumentar os níveis de uma substância chamada “fator neurotrófico derivado do cérebro” (BDNF). Em humanos, o BDNF protege os neurônios ao fortalecer a resistência dos neurônios contra danos. O BDNF também fortalece as sinapses. Uma sinapse é a estrutura entre os nervos, por meio da qual as mensagens são transmitidas.

Baixos níveis de BDNF estão associados a vários distúrbios neurológicos, incluindo depressão maior, epilepsia, doença de Alzheimer, autismo e esquizofrenia. Quando for comer, coma a coisa certa. Os mirtilos e outras berries, o cacau do chocolate, o chá verde, o azeite, as especiarias, como a pimenta-do-reino e a cúrcuma são alguns dos alimentos cujos flavonóides aumentam o BDNF.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/